Capítulo 31
982palavras
2023-01-28 05:11
Enquanto Maurício estava na rua, Cristina bebeu tanta água que achou que fosse explodir de tanto líquido. A única coisa que aconteceu, porém, foi ter que correr desesperada para o banheiro da suíte assim que seu marido chegou, sem esquecer, é claro, de arrancar o teste de gravidez das mãos dele antes, para garantir que todo o esforço não fosse à toa.
Maurício estava perto da porta quando ela saiu cinco minutos depois.
- E então? – perguntou ele, tirando Cristina de uma inquietante sensação de déjà vu falso, uma vez que nada havia de sobrenatural de achar que já vira a cena de um homem ansioso na porta do banheiro, à espera da confirmação ou não de uma notícia com potencial para mudar uma vida.
Cristina ergueu o teste. Dessa vez, duas linhazinhas.
- Estou grávida – disse, e caiu no choro.
Maurício a abraçou e ela afundou o rosto na dobra do ombro com o pescoço dele, já soluçando.
- Não chore, querida – pediu ele – Isso é uma noticia maravilhosa.
Ela continuou chorando, mesmo quando ele a puxou para que se sentasse na cama.
- Se for ou não for meu – começou Maurício, tirando uns fios de cabelo rubro que estavam grudados no rosto dela – não vai fazer diferença.
Cristina ficou tão chocada que parou de chorar. Ergueu lentamente os olhos para encará-lo.
- O quê?
- Eu cuido de você – declarou ele com firmeza – Não me importa se essa criança vai ter a minha genética ou não. Eu quero uma família com você, Cristina.
Cristina ficou mais chocada ainda. Ela achara que a sacada de Maurício que a deixara mais estupefata seria para sempre o pedido de casamento depois que ela confessara uma traição. Mas aquilo mudara. Agora era a declaração dele que assumiria o bebê que ela estava esperando sem se importar quem era o pai, ele ou o amante, que não por coincidência também era o mesmo homem com quem Cristina o traíra anteriormente.
Maurício era mesmo inacreditável.
- E ele?
- Não precisa saber.
Cristina ficou calada por um tempo.
- Mas como não faz diferença? – questionou, por fim – Quando você souber, vai...
- Não vou saber – parou e então sorriu, pensativo - Tenho certeza que o bebê vai se parecer muito com você. Não vai fazer diferença de quem veio o material paterno.
Cristina não conseguia acreditar que alguém tão altruísta pudesse existir, e disse isso para Maurício. Ele não mudou de expressão.
- Como eu poderia ser egoísta hoje, Cristina? – questionou, a abraçando e deslizando a mão direita para a barriga dela - Hoje é véspera de Natal, afinal. E esse é o meu melhor presente de todos os tempos.
-
Eram nove da noite quando eles subiram para a cobertura. Quando entraram, Teresa olhou sua nora recém-reabilitada com a neutralidade de quem ainda não decidiu bem como agir. Limitou-se, então, a fazer um breve aceno com a cabeça para ela antes de ir abraçar Maurício.
Foi quando ela viu Olga. Estava sentada no sofá com seu filho, e, quando percebeu sua presença, sua expressão foi de espanto e incredulidade combinados. Um segundo depois, Miguel surgiu da cozinha. Aparentemente, andara assaltando as rabanadas. Presenteou Cristina com um sorriso brilhante.
- Feliz Natal – desejou.
Sua mãe se virou com um olhar crítico.
- Não é meia noite ainda, Miguel.
Ele deu de ombros.
- Mas já temos o sentimento de união, não temos?
Maurício sorriu amarelo, evidentemente discordando.
- Tivemos uma novidade maravilhosa hoje – comunicou ela, triunfante, tirando Yuri do colo da mãe e levantando Olga pela mão – Agora que Cristina retornou à família, acho que deveria contar, Olga.
Olga deu um sorriso particularmente presunçoso e pôs as mãos na barriga. Antes mesmo que ela abrisse a boca, Cristina já sabia.
- Estou grávida – anunciou.
- Parabéns – desejou Maurício, enquanto trocava um breve olhar divertido com Cristina.
- E você, Cristina – começou Teresa, aparentemente decidindo assumir uma atitude desafiante - não tem nada a dizer?
Cristina sorriu. Tinha sim.
- Eu também estou – declarou.
Várias coisas aconteceram nesse momento. Um, que Teresa desmaiou. Dois, que Olga arregalou os olhos. Três, que... bem, Miguel não fez nada especial. Só ficou fitando Cristina com expressão cuidadosamente vazia.
Quando Maurício conseguiu reanimar Teresa e a ergueu, ela esqueceu toda a sua atitude desafiante anterior com Cristina e a encarou quase como se ela fosse Deus.
- Oh, querida – disse com os olhos brilhando, pegando Cristina pelo braço e levando-a para o sofá, onde acabou perto de Olga – Quando soube disso?
- Hoje de manhã.
Teresa se endireitou e olhou as duas mulheres sentadas com admiração.
- É porque é Natal – sentenciou, sorrindo, e se afastou para falar com Maurício, deixando Cristina e Olga sozinhas.
- Como você fez isso? – perguntou Olga assim que a sogra se afastou.
- Assim como você, suponho – respondeu Cristina, desmanchando seu sorriso puxa-saco – Até onde sei, só há uma forma de reproduzir naturalmente na espécie humana.
Olga mandou-lhe um olhar irritado. Depois, se esforçou e conseguiu suavizá-lo.
- É, mas para você deve ter sido mais fácil – sugeriu – Você andou tendo muito esperma à disposição.
Cristina sorriu desafiadora para ela.
- O bebê é de Maurício – afirmou.
- E o...
- O bebê é de Maurício, Olga, e não me importo com o que você diga.
Olga não falou nada por um minuto inteiro.
- Como você o conseguiu de volta? – perguntou, indignada – Como, depois de tudo aquilo?
Cristina sorriu ainda mais, feliz com a irritação de Olga. Todo o plano cuidadoso dela para separá-la de Maurício apenas servira para uni-los ainda mais.
- Ele me ama – declarou – E eu o amo.
Naquela noite de véspera do Natal de 2015, era a verdade.