Capítulo 26
712palavras
2023-01-24 05:07
Cristina soube, desde que tomara a decisão de tentar se reconciliar com James, que não poderia tentar ser muito sutil. Se fosse, ele, como o peculiar macho ferido que era, ia simplesmente ignorá-la. O que seria um retrocesso, já que Leila Rehbein servira, ao menos, para que eles gritassem um com o outro.
Por outro lado, ela também não poderia ser agressiva demais. Um ato mais brusco com alguém do signo de Virgem poderia tornar tudo mais difícil – e, agora, Cristina sabia porque o processo de conquista fora tão terrivelmente árduo.
Então, tudo dependia de um equilíbrio delicado entre essas duas forças na sua abordagem, racionalizou ela enquanto, encostada numa parede esperava pelo fim da aula dele. Faltavam 15 minutos para o fim oficial.
Quando faltavam 11, os alunos começaram a sair. Cristina continuou esperando mais alguns minutos, então deu uma olhadinha discreta pela porta aberta. A última aluna arrumava suas coisas para sair. James, como sempre, estava tentando enfiar meio quilo de papéis bolsa adentro. Ela sempre se perguntara o que tanto ele lia.
A garota saiu, passando por Cristina sem prestar atenção nela. Ela respirou fundo e entrou, fechando a porta atrás de si.
James ergueu os olhos da bolsa que acabara de fechar.
- Ah, você – murmurou ele, já em estado de atenção.
Cristina ergueu as mãos num sinal universal de paz e se aproximou.
- Precisamos conversar.
- Não sei mais o que temos a conversar – replicou ele, rancoroso.
Cristina suspirou e se aproximou mais alguns passos dele, abaixando as mãos.
- Você vai continuar magoado só porque joguei uma caixinha em você?
- A caixa com as cinzas do meu pai – sublinhou ele – E eu avisei.
- Que seja. Você tinha me mandado limpar a sua casa. Me tratou como a sua empregada. Na verdade, teve sorte que foi só isso.
- Tive sorte que me livrei de você, Cristina.
Ela engoliu em seco, sentindo sua abordagem pacífica e sutil escoando pelo ralo abaixo, e decidiu tentar outra técnica. Se aproximou mais alguns passos. Faltava agora um metro, talvez um metro e meio, para chegar até ele.
- Eu não me lembro de ouvir você reclamando demais.
- Então você é surda – devolveu ele bruscamente, pegando sua bolsa – Não foram poucas as vezes que...
Em duas passadas largas, Cristina acabou com a distância que os separava e o beijou. Ouviu um ruído bem distinto de baque quando a bolsa dele caiu no chão. Então, ele a afastou.
Mas nem tanto. Foi quando ela viu que ainda tinha chance.
- Quero você – disse ela baixinho – Sei que também sente minha falta.
James desviou o olhar.
- O que importa não é tanto isso – começou, e ela sentiu que ia ser enrolada - Você é casada.
- E desde quando você se importa? – perguntou, impaciente.
- Talvez desde quando soube que cometer adultério com uma mulher casada é pecado mortal. Estou colocando minha alma em perigo se cometer o mesmo erro novamente.
Cristina olhou para cima com leve ironia, pensando se ele estava falando mesmo sério ou estava usando aquilo só como desculpa. Pela proximidade deles, era desculpa. Era o orgulho besta atacando novamente, agora sobre outro disfarce.
- Anglicanos – suspirou e então acrescentou – Estou separada.
- Bem, tecnicamente, segundo a Igreja Cat...
Cristina o puxou para si e o beijou de novo. Dessa vez, ele acabou correspondendo. Quando se separaram, ela se controlou para não respirar em grandes sorvos. Estava quase sem fôlego. Sentira mais falta dele do que imaginara anteriormente.
Foi então que ela disse o inimaginável.
- Por favor – pediu com dificuldade, e sentiu um pouco a surpresa dele – Quero você.
Ele a olhou com cuidado, evidentemente pesando os prós e os contras, segurando-a pelos braços. Depois de alguns minutos de conflito interior, ele decidiu.
- Vamos – declarou, e pegou a bolsa, enquanto puxava pela mão para irem embora. Ambos saíram da sala e desceram as escadas tão rápido que sequer perceberam quando cruzaram com uma bela loira oxigenada vinda da direção oposta.
Ela, porém, percebeu. Depois de hesitar alguns instantes, desceu as escadas e foi atrás do casal. No caminho, pegou o celular e digitou um número, sorrindo vingativamente.