Capítulo 22
878palavras
2023-01-20 05:22
O nome dela era Leila Rehbein. Ela era uma loiríssima pós-graduanda em História com grandes olhos verdes.
Cristina a odiava. Não porque Leila Rehbein tivesse feito algo contra ela alguma vez na vida. Não. Provavelmente, ela sequer pousara os belos olhos nela.
O fato era: Leila Rehbein estava flertando com James. E James estava flertando com Leila Rehbein.
Depois que a mulher aparecera como um furacão na faculdade, atraindo todos os olhares masculinos, inclusive o que era mais caro a Cristina, ela tentava se convencer, de forma um tanto malsucedida, de que não estava com ciúmes. Ela e James jamais haviam estado juntos na forma convencional da coisa, e o tempo que estavam separados indicava que provavelmente não estariam mesmo nunca mais. Portanto, o que ela sentia certamente era algum sentimento tardio de posse.
Cristina ficou algumas semanas usando esse discurso como uma espécie de escudo mental. Porém, nenhum sentimento de posse explicava aquela sensação azeda e assassina na boca do estômago toda vez que via os dois juntos. Ou, pior, quando Leila punha alguma de suas mãos manicuradas em James. Então, Cristina abandonou o escudo mental de desculpas que havia construído e assumiu: estava com um puta ciúme, sim. Queria se livrar de Leila Rehbein, pegar James de volta, arrastá-lo para a cama mais próxima e não deixá-lo sair até que tivesse resolvido sua carência, nessa ordem. Cristina, naquele dia de maio de 2015, era uma mulher muito perigosa porque estava necessitada. E isso, para ela, uma mulher altamente sexualizada, se assemelhava ao Apocalipse.
Foi por isso que decidiu que Leila Rehbein teria que morrer.
Infelizmente para ela, Cristina não conseguiu.
Ela nem quebrou a perna.
Cristina estava jogada ao pé da escadaria de forma muito cuidadosa, como se tivesse caído e se machucado de verdade, e não apenas simulado tudo aquilo. Do seu lado, encontrava-se Leila Rehbein, choramingando e esfregando um pé machucado. Depois de esperar um tempo adequado, Cristina se levantou, ajeitou a roupa, murmurou desculpas e já ia sair, sentindo-se frustrada por não ter matado a loira falsa. Foi quando James barrou seu caminho.
Os dois se encararam por um segundo.
- Vá socorrer sua namoradinha – sibilou Cristina, pulando a parte do oi, e tentou passar por ele, mas foi impedida.
Ela ergueu a cabeça e encontrou o olhar dele novamente. James ergueu as sobrancelhas.
- Leila tem um marido – observou ele - E é fiel. Diferente de algumas mulheres que já conheci.
Cristina estreitou os olhos com a farpa, mas não respondeu. Nada poderia competir com a verdade. James, então, pôs os dedos suavemente ao redor do seu braço e começou a arrastá-la na direção oposta da massa de gente que se apressava para as aulas.
Só quando já estavam na metade do caminho que Cristina percebeu onde ele a estava levando. Era o cantinho do elevador dos fundos, ou, como Cristina o apelidara carinhosamente, Cantinho da DR, fazendo referência às vezes que eles já haviam discutido ali.
Ele só a soltou quando já estavam lá.
- O que você estava pensando?
Cristina o encarou com ar sonso e não disse nada.
James a fuzilou com o olhar.
- Você jogou a Leila da escada. E não me diga que foi acidente, porque, conhecendo você, não foi.
- Você nunca me conheceu, James.
Ele se aproximou dela com um ar um tanto perigoso e malicioso.
- Claro que já conheci. Muitas e muitas vezes. Como você sabe.
Cristina bateu nele. Um segundo depois de tê-lo feito, perguntou-se o porquê. Era verdade mesmo, afinal. Pelo menos da forma bíblica.
- Por que – começou ele com voz muito incrédula – exatamente você me deu um tapa?
Cristina parou um tempo para pensar.
- Porque você é um filho da puta – concluiu finalmente – Essa foi por tudo.
- Por tudo o que, Cristina? Nunca fiz nada para você.
- Claro que fez. E Leila Rehbein?
James abriu a boca para falar alguma coisa, mas mudou de ideia no meio do caminho e deu um lento sorriso satisfeito.
- Está com ciúmes, Cristina?
Ela não conseguiu se controlar e ruborizou.
- Claro que não.
Ele pareceu duvidar seriamente.
Porque uma coisa era saber, ter agora a total consciência que sim, estava com ciúmes. Outra, totalmente distinta, era confessar isso para James.
- De qualquer forma, você não tem razão nenhuma para ter ciúmes. É minha ex-amante.
Cristina não conseguiu se conter.
- Interessante você me chamar de ex-amante se nunca comunicou a mim que nós terminamos.
James deu uma gargalhada absolutamente abominável.
- Precisava? Não nos encontramos há meses. Além disso, não sei bem se se pode terminar algo que sequer começou.
Cristina o estapeou novamente. Dessa vez, do lado esquerdo.
- Por que essa agora? – questionou ele, agora irritado de verdade.
- Porque você é um nojento.
James rolou os olhos.
- Mulheres – falou com um suspiro, e prosseguiu – Sorte sua que eu não bato em garotas, Cristina, porque senão...
- Senão o quê? – desafiou ela – Me batia de volta? Ah, francamente. É para babacas assim que existe a lei Maria da Penha.
E com essa última frase de efeito, saiu com estilo da discussão. E ainda deixou James com os dois lados do rosto avermelhados.