Capítulo 20
1143palavras
2023-01-17 06:21
Poucos dias depois, Cristina teve que contar para James. Seu lado fofoqueira simplesmente não resistiu em espalhar mais um derrota de Olga. Além de deixar bem claro para James como Bárbara era uma puta interesseira, para evitar que ele voltasse a sequer pensar em botar as patinhas nela novamente.
O pensamento que ela própria provavelmente também era uma puta interesseira sequer passou pela cabecinha de Cristina.
- Mas que interessante – murmurou ele, entediado, quando sua nova monitora terminara a narrativa.
Sim, nova monitora. Bruno, o monitor, terminara a faculdade, e Cristina tivera que pegar o lugar dele a qualquer custo. Pedira infernalmente a James, e ele, apesar de ter repetido várias vezes que ela pagaria um preço por aquele favor, acabara cedendo.
- Interessante? – murmurou ela de volta – Acabo de contar a maior novidade das últimas semanas e você diz interessante?
- Sim – disse ele simplesmente de volta – Não foi uma surpresa. Bárbara é bem capaz de fazer algo assim. É igual a você.
Cristina se recostou em sua cadeira novamente, insatisfeita, e prestou atenção brevemente no filme.
- Não ache que vou me esquecer do que você me deve – disse ele baixinho.
Cristina virou a cabeça para ele.
- O quê? – perguntou, meio aérea.
- Não te promovi a monitora à toa. Principalmente com tantos candidatos superiores a você.
- Mas você poderia escolher qualquer um que quisesse.
- Exatamente. É por isso que você me deve algo.
Cristina lembrou-se daquele elevador, daquele dia que os dois tinham se beijado pela primeira vez, quando dissera algo bem parecido.
- Espero que não seja um troço muito kinky – desejou ela bem baixinho.
James deu uma risadinha, atraindo alguns olhares curiosos.
- Não se preocupe – a tranquilizou, parecendo rir internamente com uma piada secreta – Não é tão horrível assim.
-
- Eu queria tanto um netinho – disse Teresa de repente, suspirante.
Olga olhou para a sogra com expressão intrigada.
- Você tem um neto – apontou de forma óbvia, indicando o pirralho que via televisão a poucos metros delas.
Teresa a encarou com uma expressão um tantinho fria.
- Eu sei – falou ela, impaciente – Mas Yuri já é um garotinho. Perdi meu bebê.
Foi quando ela olhou para Cristina.
- Você poderia me dar um netinho – sugeriu ela, piscando os olhinhos.
Cristina sorriu, controlando o horror que nascia em grandes jorros dentro dela.
- Gostaria de terminar minha faculdade antes – explicou ela de forma muito educada, sacando a melhor desculpa que lhe ocorreu no momento.
Teresa sacudiu a cabeça.
- Para quê? – perguntou ela, erguendo as sobrancelhas – Não que você precise trabalhar ou algo parecido.
- Questão de autossatisfação – respondeu ela, meio desesperada para se justificar.
Teresa a encarou. Obviamente ela não entendia. Pelo que Cristina sabia, ela jamais fizera ensino superior ou trabalhara na vida.
- Mas por que – começou ela, sem desistir – tanta pressa de terminar?
Cristina franziu a testa, pensando em como sair daquela. Ela não tinha pressa nenhuma de terminar a faculdade. Estava atrasada, inclusive. Ela apenas se blindava naquela desculpa para não ter filhos ainda. Seria inevitável, sabia, mas, enquanto ela pudesse atrasar, o faria. Possivelmente até estar quase na menopausa.
- Gosto da faculdade – finalmente disse ela, sem achar desculpa melhor.
Olga sorriu torto.
- Sei que gosta – disse ela maldosamente, obviamente pensando em James.
Cristina lançou-lhe um olhar matador.
Teresa, alheia a piadas internas, resolveu não desistir do tópico.
- Maurício gosta de crianças – tentou ela, sugestiva – Ele ficaria muito feliz, tenho certeza.
Cristina suspirou.
- Eu sei – respondeu, cansada – Mas ele entende. E também quer estudar mais antes.
- Mas ele é homem – disse Teresa – É diferente. Não precisa parar de estudar.
Olga, a sabidamente feminista do clã, lançou um olhar crítico na direção da sogra.
- Eu não parei de estudar depois que tive Yuri – observou, meio irritada no subtom da voz – Nenhuma mulher precisa parar.
Teresa devolveu-lhe o olhar aborrecido.
- E eu lhe disse o que pensava disso na época! Um menino tão pequeno sozinho. Não é natural.
As duas se encararam por dois segundos. Então, Olga engoliu em seco a resposta feia que seu gênio russo devia estava pensando em dar.
- Sua opinião – disse ela, optando por algo mais diplomático. Evidentemente estava trabalhando melhor em seu budismo.
Teresa virou-se para Cristina novamente.
- Pense no que eu disse – insistiu – Eu adoraria um netinho. Na verdade, uma netinha. Sempre quis uma menina. Quando soube que estava grávida de gêmeos, queria um casal, mas Deus não quis. Mas agora posso ter uma menina como neta. Por que não faz isso por mim, Cristina?
Ela ficou sem ter o que responder, enquanto Olga variava o olho de uma para outra com expressão indecifrável.
Sim, porque ela não fazia aquilo? Seria uma forma de firmar posição para sempre, principalmente se tivesse uma menina. Além de ser uma garantia de pensão em eventual divórcio.
Parecia perfeito. E era perfeito. Mas Cristina não conseguia.
Excetuando-se breves momentos piegas, ela jamais se imaginara como mãe. Bebês eram lindos até começarem a chorar, quando Cristina os devolvia para a mãe. Se ela tivesse seu próprio bebê, não poderia fazer isso. Teria que aguentar o trambolho sozinha.
E ainda havia uma questão mais prática, muito prosaica, uma coisa simples:
Como garantir que o pai do bebê fosse Maurício?
Cristina engoliu em seco, sentindo-se mal só de pensar, e considerou suas opções em tal cenário. Ela poderia abandonar James. Ou então não abandonar, só continuar tomando precauções com ele enquanto fazia suas tentativas com seu marido. Mas um acidente poderia acontecer. E se engravidasse, e tivesse acontecido o pior... como explicar o nascimento de uma criança evidentemente bastarda?
Não ia. Simples. Maurício era otário, mas podia muito bem tirar conclusões óbvias, e seria o que aconteceria se Cristina desse à luz um bebê ruivo. E nem adiantaria mandar aquela conversa de genes recessivos. Seria quase ofensivo à inteligência de qualquer um. Não teria jeito mesmo. Seria divórcio instantâneo. Ele não perdoaria uma traição dela uma segunda vez, principalmente uma tão ostensiva.
Não, não. Simplesmente não valia a pena. A família de James perdera seu dinheiro quase uma geração antes, e ele se sustentava com seu suado dinheirinho. E era um professor, pelo amor de Deus. Bonito o quanto quisesse, mas não mudava os fatos. E ela ia se arriscar a perder um marido rico para ir se juntar com um professor?
Não, obrigada.
- Desculpe, Teresa – declarou ela finalmente – mas acho que você terá que esperar.
Teresa fez a sua cara patenteada de madame que odiava ser contrariada. Paciência. Se agradar à sua sogra significasse ter que tentar engravidar, Cristina teria que deixar a mulher decepcionada.