Capítulo 18
854palavras
2023-01-14 06:28
Um mês se passara, e nada do presente de Cristina por parte de James.
- E o meu presente? – insistiu ela um dia, rolando mais para perto dele na cama – Acho que já fiz por merecer, não?
James abriu os olhos.
- Ah – fez ele, como se não achasse o negócio importante, ou talvez como se não achasse que Cristina merecesse – É verdade. Vou pegar. Sente-se e feche os olhos.
Meio intrigada, Cristina obedeceu. Não houve o rangido habitual da cama indicando que alguém se levantara, mas houve o ruído de uma gaveta abrindo e fechando. Aparentemente, James guardara seu presente aquele tempo todo na cômoda, esperando sei lá o quê para dá-lo. Desgraçado.
Ele pegou na mão direita dela, e Cristina não conseguiu resistir a entreabrir os olhos.
- Feche os olhos – repetiu ele, um tanto mandão, antes que Cristina pudesse ver qualquer coisa.
Ela fechou-os novamente de má vontade. Então, sentiu-o deslizando algo pelo dedo indicador dela.
Abriu os olhos. Eles se arregalaram quase no mesmo instante.
Era um anel de ouro. Mas não um simples anel de ouro. Tinha algo que parecia muito um rubi no meio.
- Gostou?
Ela ergueu os olhos para James.
- É claro que gostei – disse ela, inclinando-se para abraçá-lo – Obrigada pela consideração. Deve ter sido uma grana.
Ele sorriu e balançou a cabeça, negando.
- Não. Era da minha família. Da minha mãe, sendo mais específico. Lembra-se das joias de família? Então.
Cristina perdeu o ar e ergueu a mão para ver melhor o anel que teria sido de Anne Boleyn. Agora estava um passo mais próxima da realeza.
- Você não precisava ter roubado uma joia da sua mãe para me dar – disse ela, subitamente mais admirada – E é um tesouro histórico.
Ele riu.
- Quem garante que esse foi mesmo um anel de uma rainha consorte da Inglaterra? Além disso, minha mãe guarda tantos tesouros históricos que não dará por falta de um simples anel. E, se der, posso dizer que o peguei. Um dia provavelmente seria meu de qualquer forma.
Ela assentiu e observou melhor a joia. Um rubi.
- Porque escolheu isso? – perguntou ela, francamente curiosa.
Ele deu de ombros.
- É uma joia. Sei que você gosta tanto de coisas brilhantes como uma gatinha.
Ela fez uma careta frente a comparação.
- Certo, mas porque um rubi?
James juntou as mãos e começou a tamborilar os dedos entre si.
- Vários motivos. Um, porque o rubi é a pedra preciosa símbolo das mulheres virtuosas, segundo a Bíblia. E tanto você é quanto Anne Boleyn foi uma mulher virtuosíssima.
Ela ignorou o sarcasmo.
- Mas você disse vários motivos.
- Também é porque o rubi é a segunda pedra preciosa mais valiosa...
- Apenas atrás do diamante – completou Cristina.
- Precisamente. E há certa analogia nisso. Eu, como o segundo homem mais importante da sua vida, espero, dei a segunda pedra mais preciosa. Seu marido deu a mais valiosa, como seu primeiro homem.
- E Miguel? – provocou ela.
- Ele não precisa dar nada. Creio que ele é hors-concours no seu coração.
Ela não respondeu nada. Pensava nos possíveis significados das coisas que ele dissera.
- Uma última pergunta: porque colocou o anel no meu dedo indicador?
Ele rolou os olhos.
- Você quer saber de tudo mesmo – observou ele, conformado - Algumas coisas são aleatórias, Cristina. Não precisa existir significado em tudo.
- Mas existe – teimou ela, firme em sua convicção que existia um motivo por trás de cada ato humano.
- Certo, então – suspirou ele, e fez uma pausa, pensando – No casamento judaico – começou – o dedo da aliança é o indicador. Satisfeita?
Ela arregalou os olhos.
- James, você é judeu? – perguntou para não ter que perguntar outra coisa.
- Não, minha família é anglicana. Por que?
Ela ficou em silêncio inquieto, sem coragem para falar.
- Ah – fez ele, entendendo e sorrindo para ela – Não, não quero casar com você. Até porque te tornaria bígama, e isso é crime no Brasil. Só falei do casamento judeu para te mostrar como o fato de eu ter colocado o anel no seu dedo indicador não tem significado nenhum.
Ela assentiu. Pelo menos isso não tinha significado nenhum.
Porque outras coisas...
Eu, como o segundo homem mais importante da sua vida, espero, dei a segunda pedra mais preciosa.
Pensando em retrospectiva, fora uma frase um tanto triste. E ainda tinha aquele negócio do ciúme dele em relação à Cristina e Bruno, o monitor.
Antes que pudesse impedir, ela se lembrou do dia do seu casamento, de uma parte de sua conversa com Miguel. Agora, parecia uma vida antes.
Você perguntou porque James é meu amante, e não você. Vou responder melhor. Não é só porque ele não é meu cunhado. É porque eu tenho certeza que ele não me ama.
Ela engoliu em seco, pensativa.
É porque eu tenho certeza que ele não me ama, pensou de novo, ouvindo sua própria voz cheia de certeza.
Agora não tinha mais tanta.