Capítulo 13
1134palavras
2023-01-13 00:37
- Você vai casar – disse James calmamente, sentando-se na cama.
Ela sentou-se do lado dele.
- Vou – reafirmou ela.
Ele a encarou, e Cristina não gosto muito da expressão azeda dele. Porque, pelo menos entre eles, cuja espécie de relacionamento (entre muitas aspas) não tinha muitas complicações, a reação a uma notícia como aquela não podia parecer mais incômoda.
Não devia ser assim. Não era como se James vivesse na ilusão de que Cristina jamais se casaria e continuaria sendo apenas sua amante para sempre. Não. Ele sabia que em algum momento - talvez não tão cedo, mas em alguma hora - ela subiria ao altar com Maurício.
Não devia doer.
- Quando vai ser o casamento? – perguntou ele, muito diplomático.
- Maio.
Fez-se silêncio enquanto Cristina se preparava para o próximo movimento. Movimento ousado.
- Você quer ir? – perguntou ela meio tímida.
James ficou pensando sobre isso.
- Você quer que eu vá?
Cristina não sabia exatamente o que responder. Porque, ao mesmo tempo em que sim, ela queria, temia confusão se ele fosse.
Mas ela não conseguiu resistir.
- Quero sim – respondeu ela, mal acreditando no que dissera.
- Quem serão os padrinhos?
- Do meu lado, Bárbara – e Cristina não gostou do sorriso dele quando ouviu aquele nome – e o namorado dela. Do lado dele, Miguel e Olga.
E Cristina pensou novamente na piada de gosto terrível que era aquilo tudo. Ela se casaria, e dois homens que mais desejava no mundo estariam na mesma igreja, sendo que um deles estaria bem perto dela, bem ali no altar, abençoando seu casamento exatamente como Cristina abençoara o dele não tanto tempo antes, sabe-se lá com quais pensamentos na cabeça.
Aliás, Cristina começava a se preocupar com isso. Pensamentos. Sabe-se lá o que pensaria quando entrasse na igreja com seu pai. Conseguiria prosseguir, de verdade?
Um segundo depois, afastou aquilo. Claro que conseguiria. Estava botando ambos, tanto James como Miguel, numa estatura que não era de jeito nenhum a deles.
Era assim que Cristina gostava de pensar, claro. Porque ela não sabia o que pensaria na hora decisiva, dali a alguns meses. E pensar em momentos decisivos costumava ser muito perigoso.
- Imagino o quanto você deve ter adorado – comentou James – sua cunhada querida sendo sua madrinha de casamento.
Cristina deu de ombros, depois se levantou, colocou as calcinhas e enfiou a blusa.
- Não me importa, realmente – disse ela, sendo sincera – Nem minha parenta ela é.
Só quem vai importar é quem vai estar ao lado dela, falou uma vozinha sardônica na sua mente, que Cristina se apressou a calar.
James, que ficara intrigado com a última sentença de Cristina, colocou sua cueca às pressas e a seguiu para fora do quarto.
- Não é sua parenta, Cristina? – questionou ele, meio zombeteiro.
- Não – afirmou ela, segura, enquanto se dirigia para a cozinha – O que você tem na geladeira? Sua irmã andou cozinhando para você?
- Não nos últimos tempos – respondeu ele numa meia culpa, apoiando-se no portal da cozinha e a observando explorar sua geladeira só com uma blusa parcialmente aberta e calcinha – Mas tem comida chinesa.
Cristina deu um suspiro conformado e abriu a geladeira.
- Você quer? – perguntou enquanto agarrava a caixinha.
- Pode ser – respondeu ele, aparentemente absorvido em outros assuntos.
Cristina jogou o resto da comida – que era realmente só um restinho – em dois pratos e colocou-os, um de cada vez, no microondas. Quando ele deu o bip final, ela distribuiu os pratos na mesinha, pegou os talheres e, finalmente, ambos começaram a comer. Cristina com muito mais vontade do que James.
De repente, ela sentiu algo macio se esfregar nas suas pernas e quase pulou uns dois metros de susto. James riu dela.
- É só a Anne – disse ele, acariciando levemente a bichana com a mão esquerda.
Assim que seu dono parou com os carinhos, Anne, uma gatinha loira e gorda, pulou na terceira e última cadeira ao redor da mesa, e ali ficou, vigiando-os bem com aqueles olhinhos de safira.
- Posso fazer uma pergunta? – questionou Cristina, acometida de súbita curiosidade.
- Já fez, na verdade.
- Porque colocou o nome de Anne na sua gata? – perguntou Cristina, ignorando a última frase.
James pousou seus talheres no prato.
- Na verdade, eu tinha que contar mesmo para você.
Cristina sentiu uma grande revelação chegando.
- O quê? – questionou, curiosa.
Ele fez uma pausa antes de começar.
- Conhece a monarquia inglesa?
- Um pouco. Adoro o príncipe William.
James deu uma risadinha zombeteira.
- Imaginei. De qualquer forma, já ouviu falar de Henry VIII?
- O matador de esposas?
- Sim. Sua única filha legítima que se casou não teve filhos, mas isso não aconteceu com os filhos de suas amantes.
Cristina se endireitou. Ainda não estava entendendo onde ele queria chegar.
- Certo, e daí?
- Um deles foi Henry Carey, seu filho por Mary Boleyn.
- Conheço esse sobrenome – disse ela, tentando se lembrar.
- Anne Boleyn, a segunda esposa dele. Mãe de Elizabeth I.
- Ah, sim, isso. Mas por que você está me contando isso?
James deu um sorriso presunçoso.
- Para você saber que está dormindo com um príncipe.
Cristina ergueu as sobrancelhas.
- Você está me sacaneando.
- Não. Minha mãe é uma Carey.
Cristina apoiou a cabeça na mão direita enquanto assimilava tudo.
- Vocês têm uma linhagem oficial e tal? Podem provar que são descendentes do matador?
O sorriso dele vacilou pela primeira vez.
- Não, mas...
- Então é mentira – decidiu ela, voltando a comer.
- Não é mentira - insistiu ele – Temos provas.
- Que seriam?
- Joias de Anne Boleyn.
Foi quando a história ficou ainda mais desacreditada para Cristina.
- Elas não deviam estar com a Coroa?
- Não eram joias reais, eram pessoais. Passaram de Anne para Mary, e depois para a esposa de Henry Carey, e então...
- Entendi, mas, olha, acho que isso não é verdade. Carey deve ser tipo um Souza inglês.
James fez uma careta e levantou da mesa, pegando o prato dela e botando na pia.
- Mas, enfim, você batizou sua gata de Anne em homenagem a uma tia-tatatatatatataavó?
- Sim.
- Coitada da rainha. Sua gata é uma nojenta. E, desculpa, mas eu acho que você é um pseudo-príncipe.
James a olhou criticamente.
- E quem seria você para falar? Cristina, a pseudo-noiva.
Cristina se inflou de indignação.
- E por que seria?
- O vestido branco não simboliza a virgindade?
Cristina relaxou e começou a rir. Era verdade.
Só para sublinhar a hilaridade da coisa, menos de cinco minutos depois eles estavam na cama de novo.