Capítulo 12
945palavras
2023-01-10 21:58
Teresa ia chorar. Teresa com certeza ia chorar em menos de cinco segundos.
Foi mais rápido do que Cristina imaginava. Em três ela já desabara num aguaceiro que poderia muito bem inundar a cidade inteira. Inspirou profundamente e, depois do que não poderia ter sido mais do que meio segundo, esmagou Cristina e Maurício num abraço tão apertado que fez as cabeças de ambos se chocarem.
- Vocês vão se casar! – exclamou ela, rindo e chorando ao mesmo tempo – Se casar!
Foi nesse momento comovente, com Teresa chorando, rindo e os sufocando, que Miguel e Olga entraram com Yuri Alexei a tiracolo.
- Oi, m... – começou ele, mas parou assim que reparou na cena.
- Olá, Miguel – cumprimentou ela, finalmente libertando Cristina e Maurício para respirarem novamente – Tenho ótimas notícias.
- Mesmo? – perguntou ele meio ausente, olhando para a parte mais bela da anatomia de Cristina. Ao seu lado direito, com Yuri Alexei nos braços, Olga sorria para ela de forma um tanto peculiar.
- Maurício e Cristina vão se casar! – exclamou ela para os dois.
A expressão de ambos mudou tão abruptamente que foi quase engraçada. Miguel levantou os olhos dos peitos de Cristina para seu rosto com uma expressão que ela jamais vira desenhada em seu rosto. Parecia muito com decepção. E Olga... bem, com ela Cristina quase riu. Era o próprio desenho da fúria controlada.
Alheio a tudo isso, Yuri brincava com os cabelos negros, longos e lisos de sua mamãe.
- Quando foi? – perguntou Miguel, parecendo ter que engolir algo particularmente amargo, ao mesmo tempo em que dava um sorriso meio forçado.
- Ontem – respondeu Maurício, sorridente e alheio como seu sobrinho, mas no caso sem ter ideia que, pouco antes de pedir Cristina em casamento, Miguel e ela haviam trocado uns amassos na cozinha.
- Meus parabéns – desejou Miguel num tom parecido com o que desejaria a morte de Maurício. Porque ele sabia. Aquele anel de ouro no dedo anelar direito de Cristina a colocava um pouco mais longe da cama dele.
- Parabéns – desejou Olga, que por sua vez parecia estar sendo obrigada a engolir uma pedra.
Teresa não percebeu nada disso. Virou-se novamente para Cristina e Maurício.
- Estou tão feliz por vocês – disse ela, um pouco mais controlada – Vão se unir da forma certa. Nada de libertinagens nem filhos antes do casamento. Vai ser tudo decente.
Ai, ai, ai. Se aquilo não fora uma prova definitiva que Teresa não gostava de Olga, Cristina não era uma mulher gostosa. Olga tentou ficar impassível, mas era óbvio que fora atingida. Sua sogra, em outras palavras, a chamara de puta. Se fosse com ela, Cristina, mesmo o fato sendo provavelmente verdade, ela teria pulado em cima da vaca com toda sua fúria e arranhado todo aquele rosto cheio de botox e liftings.
- Quando vai ser? – perguntou Olga, diplomática.
- Maio – respondeu Cristina, sucinta.
Olga não fez nenhuma expressão. Só murmurou:
- Claro, mês das noivas.
E a conversa das duas acabou por ali. Por enquanto.
Teresa bateu palmas.
- Acho que merecemos um almoço especial em família. Maristela!
Maristela era a empregada do final de semana. Quando Teresa falava de almoço especial em família, obviamente não fazia qualquer indicação à presença de seu marido, o homem que Cristina só vira oito vezes na vida e que, mesmo na porra de um domingo, não ia para casa. Ela só podia imaginar que ele trabalhava tanto que devia dormir no escritório.
Então eles almoçaram. Um almoço onde a voz de Teresa foi a predominante. Depois da sobremesa, as atenções de todos se voltaram para Yuri, que estava balbuciando suas primeiras palavras e recebendo auxílio de todos para balbuciar mais algumas.
Todos, exceto Cristina, que foi para a varanda olhar a paisagem ensolarada e sentir o vento nos seus cabelos naquele dia glorioso. Achava que merecia aquele momento.
- Meus parabéns – disse uma voz feminina bem distinta.
Cristina virou-se e encarou Olga, sem surpresa e sem dizer nada.
- Não sei como você conseguiu convencê-lo a isto – prosseguiu ela, chegando mais perto – Você só esqueceu que eu ainda tenho o vídeo.
- Tem mesmo?
O sorriso de leve triunfo que se instalara nos lábios de Olga começou a desabar. Murchar lindamente.
- Óbvio que tenho – afirmou ela, mas sem a segurança anterior na voz.
- Aconselho você a checar.
Os olhos de Olga se estreitaram perigosamente.
- É impossível você ter entrado no meu apartamento e os apagado.
- Impossível? Mesmo? Obviamente você não me conhece.
Olga respirou fundo e apertou as unhas contra as palmas das mãos.
- Cristina, as fechaduras do meu apartamento são invioláveis.
- Eu não violei seu apartamento.
Olga meio que arregalou os olhos.
- Como então? – desafiou-a.
- Alguém da sua família pode ter descuidado das chaves – sugeriu ela, dissimulada – Existem tantos chaveiros por aqui. Não seria difícil sumir por dez minutos e fazer cópias.
- Então, onde estavam as cópias das fotos? – questionou ela, sem desistir.
Cristina riu zombeteira.
- Nos lugares evidentes de sempre: na câmera e no computador. Sequer havia uma terceira cópia. Sua criminosa primária.
Olga ficou evidentemente chocada, mas se recuperou.
- Ainda posso contar para Maurício o que aconteceu de verdade – jogou ela como última tentativa.
- E você acha que eu deixei alguma brecha para que você fizesse isso?
Olga fez uma cara de incompreensão furiosa. Então, saiu batendo os pés.
Cristina, muito calma, virou-se novamente, apoiando-se nas grades para admirar a paisagem e apreciar o vento no seu rosto.
Estava no topo do mundo.