Capítulo 146
2379palavras
2023-02-07 09:50
Assim que descemos os degraus da escada lateral, a cerimônia ainda rolando, fomos para a área externa.
Qual não foi minha surpresa ao deparar-me com Anya e Breno conversando com Nic, enquanto Maria Lua estava no colo dela, com Be no colo.
Corri até eles, quase caindo com os saltos finos afundando na grama fofa.

Parei no meio deles e Nic, impedindo-os de verem minha filha:
- O que vocês estão fazendo aqui? – Perguntei, sentindo a raiva ficar incontida dentro de mim.
- Nós... Só viemos ver a menina. – Anya disse.
- Vocês não podem vê-la. Ela é nossa filha. – Heitor falou firmemente – Se voltarem a se aproximar, vou pedir uma medida protetiva contra vocês.
- Realmente só queríamos ver a menina. Afinal, não queremos ter o mesmo fim que Daniel. – Breno disse.
- Não entendi... – Me fiz de desentendida.

- Acha mesmo que acreditamos que Daniel sumiu ou foi embora? Ele simplesmente desapareceu do país.
- Não sabemos sobre ele – falei – E nem quero saber.
- Bem, ao contrário de minha esposa, eu sei o que aconteceu com ele. E sinceramente, me agradaria muito mostrar-lhes com detalhes como foram os últimos momentos dele. A começar por você. – Ele tocou com força o peito de Breno, fazendo-o dar um passo para trás.
Anon 2 veio rapidamente na nossa direção, com a mão dentro do casaco, deixando claro que estava armado. Allan tentava vir o mais rápido possível.

- Isso não vai acabar nunca? Ganhamos judicialmente. E vocês jamais poderão mudar a decisão do juiz. – Falei.
- Estamos procurando provas de que você abusou de sua enteada. – Heitor olhou firmemente para Breno. – Não vou sossegar até botá-lo na cadeira, seu psicopata pedófilo. Sequer olhe na direção da minha menina ou sou capaz de acabar com você aqui mesmo, seu verme filho da puta.
- Filho da puta! – Malu repetiu, fazendo-nos olhar para ela.
Que porra! Só faltava essa. Malu aprender palavrão.
- Não pode repetir isso... É feio, ok? – Nic disse – Agora diga aos titios que vão embora de uma vez porque Malu precisa descansar um pouco.
- Vão embora! – ela disse com cara feia, estreitando os olhos, enrugando a testa.
- Como ela se parece com Salma... – Anya deu um sorriso.
- Anya, vá embora, por favor. – Pedi – Quando ela crescer, saberá sobre Salma... E sentirá orgulho da mãe biológica. Mas sabe que isso não acontecerá com relação a vocês, não é mesmo? Sempre deixarei bem claro o quanto nos chantagearam e foram filhos da puta conosco.
- Eu... Posso pelo menos dar um abraço nela? Só isso... Prometo nunca mais me aproximar. – Anya olhou para mim.
- O que vocês faziam aqui? – Perguntei, curiosa – Pensaram em conseguir mais dinheiro às nossas custas?
- Na verdade, não. Estamos morando num apartamento próximo. Enquanto andávamos, vimos a menina... E as iniciais de Heitor Casanova na placa dos carros... E eu quis conhece-la... Só isso.
Ela levantou as sacolas que tinha nas mãos e percebi que devia estar voltando do mercado ou algo do tipo, visto que estavam cheias de mantimentos.
Fui um pouco para o lado e disse:
- Pode tentar abraça-la... Se ela aceitar, tudo bem.
Anya deu as sacolas para Breno e se aproximou de Malu, que ainda segurava o gato no colo. Elas estavam na mesma altura.
- Posso lhe dar um abraço? – Anya perguntou para ela.
Ela abriu os braços, me surpreendendo. Eis uma coisa que ela não gostava: conversar ou ser simpática com estranhos.
Anya a abraçou e quando tentou sair, Malu grudou os cabelos dela, não soltando. A mulher tentou retirar os dedinhos da nossa menina, que enrolava cada vez mais os fios, agora com as duas mãozinhas. Ela começou a pedir ajuda, tentando se desvencilhar. Fui até elas e enrolei meus dedos do outro lado, puxando com força, enquanto fingia tentar ajudar.
Depois de um tempo e muitos fios arrancados, Nicolete conseguiu salvar Anya, enquanto as minhas mãos e as da minha filha estavam cheias de fios avermelhados e mau cuidados. Comecei a retirar os fios enrolados nos meus dedos.
Anya encarou Maria Lua, que falou, com o nariz empinado:
- Filho da puta!
Desta vez eu não chamei a atenção dela. A menina era muito esperta e aos dois anos já sabia quem eram os “filhos da puta” da vida.
E foi assim que Anya e Breno viraram as costas e saíram definitivamente das nossas vidas.
Eu tinha ficado muito agitada. Meu coração batia forte. Ainda tinha um fio de cabelo de Anya enrolado no meu dedo, o último. Olhei para ele e senti meu estômago embrulhar.
- Esta gente me dá nojo. – Heitor disse.
- Concordo. – Falei ao mesmo tempo que virei de costas e vomitei, não conseguindo controlar o enjoo causado pelo fio do cabelo da desclassificada.
A questão é... Eu continuei vomitando, por um mísero fio de cabelo.
Heitor segurou meus cabelos, perguntando nervosamente:
- Meu amor... Está tudo bem?
- Eles me dão nojo... Muito, mas muito nojo... – Limpei a boca, tentando respirar fundo e olhar para o céu, esquecendo a situação de minutos atrás. – Heitor... Olhe para mim... Estou rasgada e vomitada. É o casamento de Ben...
Maria Lua olhou para mim e começou a gargalhar, pondo a mãozinha na boca, remexendo-se, da forma como sabia que achávamos engraçado.
- Está rindo de mim, é, sua safada? – Toquei a barriga dela, ainda no colo de Nicolete.
Malu ficou séria e apontou o dedo para o lado:
- Vovô...
Olhamos imediatamente para Allan, que estava com a cabeça pendida para frente, parecendo morto.
- Allan... – Corri na direção dele, segurando seu rosto entre minhas mãos.
Ele abriu os olhos e falou, com a voz fraca:
- Não me sinto bem... Preciso descansar um pouco. Você literalmente me mata, Bárbara! – Ele deu um meio sorriso.
- Vamos leva-lo ao hospital. – Heitor foi imediatamente para o carro, guiando-o na nossa direção.
- Eu não quero... – Allan reclamou.
Anon 2 estacionou o carro ao lado do de Heitor e disse:
- Senhor, é melhor irmos no automóvel dele. É todo ajustado ao seu conforto.
- Ok, pode ser. – Heitor falou, nervosamente.
- Nic, leve Malu para dentro da igreja. Não sai mais de lá, em hipótese alguma. Fique com Mandy e nos representem na recepção após o casamento, por favor. Diga a Ben o que houve. Não voltaremos até estar tudo bem.
- Não se preocupe, Babi, cuidarei de tudo por aqui.
- Não saia de perto de Anon, por favor.
- Mas é o casamento dele, Babi.
- Não importa, sempre junto dele. – Reiterei.
Sentei ao lado de Allan no carro e Heitor foi na frente, junto de Anon 2.
- Já vou avisar o médico dele. – Heitor falou, pegando o celular e fazendo a ligação.
- Não precisa... Não adianta mais. Eu não quero ficar num quarto de hospital. Minha hora chegou, Heitor.
Peguei a mão de Allan e disse:
- Você não pode falar assim. Nós precisamos de você, Casavelha.
Ele gargalhou, com dificuldade:
- Só você para me fazer rir, Babi...
- Eu sempre vou estar aqui, Allan... Sempre. Eu amo você. – Deitei minha cabeça no ombro dele.
- Ah, Babi, se você soubesse o quanto isso me faz bem... Ouvir que você me ama – a mão dele alisou meus cabelos – Sou tão grato por Deus ter colocado a filha de Bia no meu caminho. – Ele recostou a cabeça no encosto do banco. A respiração estava espaçada e parecia que puxava o ar com dificuldade.
Segui ali, com a cabeça deitada no peito dele, ouvindo seu coração bater, o corpo quente, a pele áspera. Ele havia emagrecido visivelmente nas últimas semanas.
- Sabe o que eu acho? Que fiquei na prorrogação... Cada dia a mais do que o previsto é foi lucro.
- Não fale assim, Casavelha. – Brinquei.
- Vi minha neta chegar aos quase dois anos... Meu filho conhecer a mulher que o fez mudar completamente, o que eu achava que nunca iria acontecer... – ele tossiu com um pouco de dificuldade. – E agora sei que um Casanova está se formando aqui dentro – ele colocou a mão na minha barriga.
Levantei a cabeça e o encarei. Os olhos verdes dele realmente estavam cansados. Fiquei confusa com as palavras dele. Toquei meu ventre, imaginando se aquilo poderia ser verdade.
Deus, estou tão cercada de amor! Você realmente colocou um bebezinho, fruto do meu amor com Heitor aqui dentro?
Senti as lágrimas escorrerem grossas pelo meu rosto. Eu viveria tudo de novo, segundo por segundo, cada lágrima derramada, cada dor sofrida, cada suspiro de angústia, desde o momento que pisei meus pés na Babilônia, entrando pela porta dos fundos, usando um cartão emprestado de minha melhor amiga, Salma. Conhecer Heitor Casanova foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida.
POV HEITOR
Ouvi perfeitamente as palavras de meu pai: “E agora sei que um Casanova está se formando aqui dentro”. Não consegui prestar atenção em mais nada. Era como se aquela frase ficasse ecoando na minha cabeça. Bárbara estava grávida? Mas... Será que ela contou ao meu pai antes de contar para mim?
Olhei para trás e vi que ela estava com a cabeça deitada no ombro dele. A cara do velho estava péssima. Eu sempre achei que estaria preparado para quando aquele momento chegasse. Mas agora já não tinha certeza.
Ele gostava dela, talvez por lhe trazer lembranças de sua mãe. Eu poderia criticar o fato de ele não mentir que Beatriz Novaes tinha sido a única mulher que ele amou, desmerecendo minha mãe. Mas hoje eu era a porra de um homem que sabia que aquela droga chamada AMOR vinha do nada e se apossava da gente como se fosse um câncer.
Bárbara estava realmente com as formas mais arredondadas nos últimos tempos. E vomitou do nada há minutos atrás. Sim, eram sintomas de gravidez. Nunca usávamos preservativos e a menstruação dela era irregular. Mas sabendo de todos os problemas que ela havia passado em função da endometriose e a cirurgia, a possível gravidez não era algo tão fácil. Ainda tinha a questão da reversão da vasectomia, que...
- Senhor, está tudo bem? – Senti Otávio batendo levemente no meu braço, a porta do carro aberta e meu pai já na maca.
- Sim, sim... – Balancei a cabeça, confuso. Eu havia pensado demais.
Os enfermeiros levaram meu pai. Fiquei parado na recepção, sem saber exatamente como agir. Bárbara me abraçou e deitou a cabeça no meu peito. Alisei os cabelos lisos dela e retirei novamente meu casaco, colocando sobre ela.
Eu nunca me considerei um homem ciumento. Mas isso não se aplicava a ela. Só de pensar que algum homem pudesse deseja-la, eu tinha vontade de matar.
Lembrei que eu havia comprado dois ingressos para o show do Bon Jovi em Noriah Sul, que teria no próximo mês. E já tinha pedido para Ben ligar para a assessora dele e marcar uma visita direto no camarim, onde ele receberia só ela. Eu faria uma surpresa. Mas agora, com a possibilidade de ela estar grávida, não tinha certeza se era viável a viagem. Teríamos que falar com o médico.
- Você está bem? – Ela olhou na minha direção, ainda com os braços envolvendo meu corpo.
- Você... Está grávida? – Não contive a pergunta.
- Eu... Eu acho que não. – Ela enrugou a testa, realmente confusa.
- Mas... Eu ouvi quando meu pai falou.
- Ele imagina que eu esteja, acho... Talvez pelo enjoo...
- E... O que você acha?
- Não tinha pensado nisso... Até ele dizer.
- Sua menstruação está atrasada?
- Você sabe que eu não cuido isso... É completamente irregular. Mas... Talvez eu não tenha menstruado no mês que passou.
- Quando vamos fazer o exame?
- Quer que eu busque o teste na farmácia daqui do hospital? – Ela me largou, envolvendo a barriga com os próprios braços.
- Não, deixe que eu busco. Fique aqui com Otávio.
Enquanto ela não fizesse a porra do teste, eu não me daria por satisfeito. Sequer conseguia pensar em outra coisa a não ser na possibilidade de ela ter um filho meu dentro de si.
Eu era a porra de um homem que nunca desejou ser pai. Até conhecer Maria Lua e Bárbara. Era como se elas trouxessem tudo de que fugi a vida inteira.
Comprei 3 testes. Se um desse negativo, tínhamos mais dois.
Voltei para a recepção e perguntei:
- E então... Alguma notícia?
- Ainda não. – Ela respondeu, sentada na poltrona, com as pernas de fora, completamente tampada com meu blazer. – Liguei para Nic e está tudo certo com elas. Mandy vai para nossa casa até chegarmos.
Entreguei-lhe a sacola, que ela abriu:
- Três testes? – Arqueou a sobrancelha. – Por que três?
- Só para termos certeza.
- Que porra, Heitor! Quer que eu faça três xixis aqui no hospital? – Ela levantou.
- Funciona assim? – Perguntei, impressionado.
- Sim. – Ela saiu andando.
- Ei, onde você vai? – Perguntei.
- Fazer xixi nesta coisa. Já volto.
Porra, será que eu estava preparado para o resultado, independente de qual fosse?
Sentei no sofá. Otávio estava lendo uma revista. Levantei. Olhei no relógio. Sentei novamente.
- Senhor, está tudo bem?
- Eu... Acho que bem está... – Falei. – Talvez Bárbara esteja grávida. – Me ouvi dizendo.
- Senhor, acalme-se. Deixe esta ansiedade para o parto.
O médico chegou e disse:
- Boa noite, senhor Casanova – estendeu a mão na minha direção – Tivemos que levar seu pai para a Terapia Intensiva. Não há mais muito que fazer. Gostaria de vê-lo? Não tenho certeza de quanto tempo ele ainda tem...
- Mas... Ele estava bem há menos de uma hora atrás. – Me ouvi dizendo.
- Não, ele não estava bem. E sabia disso. Não quis seguir com o tratamento. Eu disse que a viagem não era recomendada. Distante, cansativa e estressante. Mas desde quando Allan Casanova ouve alguém?
- Nunca ouve. – Falei, seguindo até a Unidade de Terapia Intensiva.