Capítulo 137
2269palavras
2023-02-07 09:46
Fui contida por Heitor e Sebastian novamente.
- Vamos. – Allan disse ao médico, enquanto levavam Celine para fora do apartamento, na maca, tentando contê-la.
- Eu vou com ela. – Milena olhou para Sebastian.

- Tem certeza? – Sebastian perguntou, sem se mover de seu lugar – Ela tentou matar Maria Lua, uma criança de um ano. Ela matou o meu irmão ou irmã... Ela deve ter sido a responsável pela morte do nosso filho, enquanto fazia você sofrer, relembrando todos os dias os problemas pelos quais passamos. Acha mesmo que ela merece a sua presença junto dela? Ainda crê que ela seja inocente, mesmo depois de tudo que Bárbara disse?
Milena ficou apreensiva, com a bolsa no ombro, sem saber se ia ou ficava.
- Não é questão de escolha, Milena – ele continuou – Não estou pedindo que fique comigo e não vá com ela. Só estou relembrando tudo que ela já lhe fez.
- Eu... Eu... – ela nos olhou, confusa, até tomar uma decisão – Preciso me certificar de que ela vai estar bem. Assim que tudo estiver resolvido, eu volto.
Ficamos em silêncio enquanto ela se dirigia à porta. Antes de sair, Milena perguntou:
- Você... Me aceitará de volta quando eu voltar?

- Sempre, Milena. Como eu disse, não é uma questão de escolha entre mim ou sua mãe. Sempre ficaremos juntos, meu amor.
Ela saiu e fechou a porta. Mandy desceu as escadas vagarosamente. Olhei-a e em seguida fui na direção dela, recebendo um forte abraço:
- Vó, me desculpe por tudo. Sequer consegui lhe dar atenção.
- Eu fui ajudar Ben – ela explicou – Quer descansar uns dias no sítio?

- Não... Não posso ficar longe de Heitor, Maria... Ben... Sebastian.
- Querida, estou com medo de tudo isso. Especialmente por Maria Lua.
- Vou redobrar a segurança, Mandy. – Heitor garantiu.
- Ainda mais? – Sebastian questionou.
- O que quer que eu faça além disso, Sebastian?
- Acho que vocês precisam dar um tempo, Heitor. Talvez Mandy tenha razão e viajar fosse uma boa alternativa. Estariam seguros por um tempo.
- Eu não posso viajar agora. E a North B.? E a Babilônia?
- Tem que ver quais são as suas prioridades agora, querido. – Mandy tocou o ombro de Heitor.
- Não temos como sair de Noriah Norte neste momento. Em breve os advogados entrarão com o pedido de guarda de Maria Lua. Precisamos estar perto.
Anon apareceu e disse:
- Tudo copiado, senhor. Temos todas as imagens que provam que ela tentou fazer a pequena cair na piscina.
- Vamos para a delegacia então – Heitor me olhou – Temos que andar um passo a frente dela. Quando ela pensar em denunciar, já estará com uma denúncia contra ela. Anon, retire as câmeras que estão voltadas para a escada.
- Só tem uma, senhor.
- Destrua, por favor. Não deixe vestígios.
- Sim, senhor.
- Isso depois de nos levar até a Delegacia. Não estou em condições de dirigir.
- Eu vou embora... Já está tarde – Mandy deu um beijo na minha testa – Por favor, me mantenha informada de tudo. E caso queiram passar um tempo no sítio, estarei pronta para recebê-los.
- É perto demais daqui, Mandy. Qualquer um os acharia lá. Eles precisariam ir para mais longe. – Sebastian sugeriu.
- Itália? – Heitor arqueou a sobrancelha, com um meio sorriso irônico.
- Por que não?
- Não... Não agora. Eu já disse, por enquanto não. – Reiterei minha decisão.
Ficamos um bom tempo na Delegacia. Cheguei à conclusão de que a festa de Maria Lua foi simplesmente um caos. Mas eu deveria ser grata por ela estar viva, pois por pouco não terminou em morte.
Estávamos saindo da Delegacia quando o carro de Allan Casanova estacionou. Anon 2 ajudou-o a descer, colocando-o na cadeira de rodas. Ambos vieram acompanhados de Milena.
- O que fazem aqui? – Heitor perguntou.
- Vim depor – Allan me olhou firmemente – Vou falar tudo que eu vi.
Senti meu coração ficar apertado. Claro que se a história de que eu tinha derrubado Celine de propósito chegasse ao Delegado, eu teria que alegar legítima defesa. Mas estava claro que ela quis afogar Maria Lua. Qual mãe seria capaz de calar-se frente àquilo?
- Como pode fazer isso, pai? – Heitor balançou a cabeça – Você duvida de Bárbara? Há provas de que realmente Celine tentou matar... Eu repito: “matar” a minha filha de um ano de idade.
- Vou falar tudo que vi, Heitor – Allan continuou, calmamente – E o que vi foi Celine se desequilibrando e culpando Bárbara por algo que ela não fez.
Olhei na direção dele novamente, não sabendo o que dizer.
- Vi a mesma coisa – Milena completou – Ninguém vai duvidar de todos nós. Será a palavra dela contra a nossa.
Sebastian foi até a noiva, abraçando-a. Percebi o quanto ele estava orgulhoso da atitude de Milena, de enfim dar um ponto final nas maldades da própria mãe.
- Os advogados disseram que não há risco de Bárbara ser presa, já que haveria como alegar que foi sem intenção ou mesmo legítima defesa. Poderia até confessar a questão da raiva que sentiu quando viu a filha na piscina, visto que tudo ficou bem nítido nas imagens, a respeito do que Celine fez. Mas ainda assim, isso traria problemas futuramente no pedido de guarda. – Heitor explicou.
- Não há mais problemas, então. Celine fez tudo para incriminar Babi, como todos percebemos. E inventou uma mentira. – Allan sorriu na minha direção, parecendo cansado.
Toquei a mão dele e abaixei-me, ficando próxima:
- Obrigada, Allan.
- Eu... Vou voltar a ficar com ela um tempo no Hospital, até que a liberem. E depois... – ele olhou para Heitor e em seguida para Milena – Depois vou mandá-la embora da mansão.
- Como assim? – Heitor perguntou.
- Se ela tentou matar uma criança de um ano, o que não passa pela sua cabeça fazer com um velho com o pé na cova?
- Ela não seria capaz de tanto, Allan. – Milena disse.
- Sabemos que sim, meu amor – Sebastian falou – E se realmente ela for mandada embora da mansão, se preparem. Vamos conhecer a ira de Celine Casanova... Neste caso, vocês, porque eu já vi tudo que ela é capaz de fazer.
- Ela não quebrou a perna... Foi só uma luxação. A mão sim... Fora alguns hematomas, ela vai ficar bem. – Milena observou.
- Que pena! – Lamentei, sinceramente.
Depois levantei e respirei fundo:
- Foi uma noite cheia... E diferente de tudo que planejamos. Acho que não sou muito boa em organizar festas... – Sorri, tentando quebrar o clima de tensão.
Todos sorriram, tentando me animar.
- Vamos para casa, Bárbara. Quero me certificar de que Malu está bem. – Heitor passou os braços sobre meus ombros.
Nos despedimos e embarcamos em nossos carros. Assim que sentei no banco traseiro da Mercedes, retirei os calçados e deitei a cabeça no ombro de Heitor.
- Me lembre de não comemorar mais o aniversário da nossa filha com festa. – Ele sorriu tristemente.
- Na verdade, não foi a festa... Foi “a convidada”. E eu não queria fazer isso, quis deixá-la de fora desde o início...
- Vou ouvir você da próxima vez, meu amor. – Ele me puxou para ainda mais próximo dele.
- Acha que tudo vai dar certo quanto ao processo de guarda?
- Sim, eu tenho certeza. Temos os melhores advogados. Não há motivos para não nos deixarem legalmente responsáveis por ela.
- Espero que este pai não apareça.
- Estou confiante de que não vai aparecer, Bárbara. E se aparecer, sou capaz de falsificar todos os exames de DNA possíveis.
- Sabe que não podemos fazer isso... – apertei o nariz dele, sorrindo. – Aliás, falando em DNA, quando foi que você reverteu a vasectomia?
- Numa das viagens de negócios – Ele explicou – É um procedimento tão simples quanto a vasectomia, acredite.
- Fez em outro país, então... Não em Noriah Norte?
- Fiz aqui e depois viajei.
- Fez uma cirurgia e foi viajar para longe de mim? Por que tudo isso? E... Era um segredo?
- Não exatamente... Mas ficar perto de você sem querer... – ele olhou pelo retrovisor, observando Anon e depois disse no meu ouvido – Fodê-la... É impossível.
Senti meu corpo ferver, mesmo com todo nervosismo e stress anterior. Quando ele falava no meu ouvido eu ficava simplesmente rendida.
- Quero um bebê, Bárbara... Meu e seu.
- E Maria?
- Vai ser promovida à irmã mais velha.
- Acho que vou ser uma grávida manhosa. – Alertei.
- E eu o marido mais babão do mundo.
- Mais do que um pai babão?
- Talvez... – Ele me deu um beijo nos lábios.
- Eu... Não quero festa de casamento – falei de repente – Estamos numa situação em que tudo é arriscado demais. Parece que o mundo está contra nós.
- Por mim o que você quiser, está perfeito. Só quero distância da imprensa.
- Só quero Ben, seu pai, meu irmão, minha avó... Anon... – Olhei pra ele pelo retrovisor.
- Resumindo, todos que estavam presentes hoje, menos Celine. – Heitor riu.
- Isso mesmo. – Confirmei.
Na segunda-feira os advogados entraram com o pedido de adoção de Maria Lua. Na semana seguinte, eu e Heitor casamos, numa cerimônia simples no Cartório local, diferente de tudo que se imagina para um CEO poderoso e dono de um império. Se eu me arrependi? Não, de forma alguma.
Eu só tinha dois amigos, que valiam mais do que tudo na minha vida. Salma se foi, então sobrou Ben. Eu não sei se ele era como um irmão, porque talvez se tivéssemos o mesmo sangue não seríamos tão ligados. E vê-lo presente naquele momento importante da minha vida, ao meu lado, como sempre, era algo que não tinha preço. Ele viu minha dor, meu sofrimento, a forma como me anulei por oito anos. E agora via minha redenção, a volta por cima, a mulher forte que me tornei e que enfim encontrou o amor, do qual tanto fugiu por dois longos anos.
Usei um vestido branco simples, de marca conhecida. Elegante, mas nada chamativo. Heitor? Ah, eu nunca o vi sem estar perfeito e elegante, a não ser quando estava nu, que seguia perfeito, só não tão elegante.
Depois do casamento, e um almoço em família, sem lua de mel, pelo menos até estarmos seguros com o futuro da nossa filha, Heitor me levou para conhecer a casa que comprou para nós.
Assim que chegamos na entrada do condomínio de luxo, fiquei completamente maravilhada. Nunca tinha visto um lugar tão perfeito para morar. A segurança era realmente prioridade, pois para acessar o interior do local, tivemos que passar por três guaritas diferentes.
O Maserati seguiu pela rua adornada de flores e árvores nas laterais, seguindo a velocidade máxima permitida de 30 km/h.
Não tinha como decidir qual das casas era mais linda. Eram mansões, enormes, perfeitas, daquelas que só se via em filmes. O apartamento de Heitor ficava localizado num dos prédios mais caros de Noriah Norte. Mas aquele condomínio ultrapassava os limites da riqueza e do poder.
Assim que ele estacionou em frente à casa térrea, branca, com um gramado verdejante e um jardim cheio de flores coloridas, com um pergolado em madeira de lei, coberto de um tecido de voil branco esvoaçante ao vento e um pequeno parquinho, com escorrega, balanços e uma casinha em madeira, perfeitamente colocada numa pequena árvore, eu vi que aquela não era só uma casa. Era o nosso lar, finalmente, com a nossa cara.
- Confesso que o parquinho acabou com a vista... – ele observou, ainda dentro do carro – Mas ainda assim, sei que em breve Maria vai aproveitar cada brinquedo. Então não me importei muito com a estética.
- Em breve? Vai aproveitar é assim que nos mudarmos. – Abri a porta do carro ansiosa, sem esperá-lo descer.
Nos dirigimos pelo caminho íngreme de pedras brancas, cercado de palmeiras, enquanto eu admirava cada detalhe, sem conseguir dizer uma palavra. A casa ficava alguns metros acima do nível da calçada.
Senti os dedos dele enlaçarem os meus e olhei na sua direção:
- Seria ruim eu querer fazer a nossa lua de mel aqui e agora?
- Acho que não, senhora Casanova.
- Ei, Bongiove. – Brinquei.
- Nem pensar, desclassificada.
Assim que ele abriu a porta, pegou-me em seu colo. Comecei a rir enquanto ele acessou o interior, decorado lindamente:
- Bem-vinda, esposa.
Segurei-me nele com meus braços envolvendo seu pescoço. Nos encaramos e olhei sua boca, carnuda, convidativa, que me fazia ver estrelas com um simples toque.
- É pecado desejar o marido ardentemente, desclassificado?
- É pecado não desejar, senhora Casanova.
Toquei os lábios dele levemente com os meus, em seguida sendo devorada por ele, as línguas ansiosas pela dança perfeita e sincronizada que só juntas conseguiam fazer.
Meu telefone tocou.
- Não atende. – Ele pediu, segurando meu lábio inferior entre seus dentes, ainda no seu colo.
- E se... Aconteceu algo com Malu? – Sorri, sentindo-o soltar a pele macia da minha boca.
Heitor desceu-me de seu colo e peguei o celular na bolsa. Era um número desconhecido.
- Alô.
- Oi, Babi. Aqui quem fala é o pai de Maria Lua.
Senti meu coração acelerar e a respiração ficar fraca, reconhecendo a voz:
- Daniel?
- Acertou... Vou assumir a minha filha, judicialmente. Você está fodida!