Capítulo 136
2660palavras
2023-02-07 09:46
Não precisei dar muitas explicações. Quando percebi, todos se espalharam, indo para lados diferentes, procurando-a, enquanto a chamavam pelo nome. Anon pegou a arma imediatamente e vi ele e Heitor saindo apressados para fora do apartamento, com o revolver em punho.
Fui à antessala e nem vestígio dela. Não sei explicar exatamente o que senti naquele momento, além de um medo avassalador.
Se eu disser que não imaginei Breno e Anya com a minha bebê estaria mentindo. Foi a primeira coisa que veio à cabeça. E depois Daniel. E só de pensar o que eles poderiam fazer com a minha pequena, em posse dela por minutos que fosse, me trazia sentimentos insuportáveis.
- Procurem aqui embaixo que vou subir. – Avisei, indo para a escadaria.
- Ela não deve ter subido... Não teria como. – Ben falou.
- Nem saído para fora do apartamento, ainda assim Heitor e Anon foram atrás dela fora do prédio. Nada é impossível de acontecer comigo ou qualquer pessoa que se relaciona com a minha pessoa. – Subi rapidamente, de dois em dois degraus.
Entrei no quarto dela e estava vazio:
- Maria... – segui chamando – É a mamãe... Onde você se meteu, meu amor?
Até debaixo do berço eu olhei e nem sinal dela. O quarto de Ben não tinha nenhum bebê engatinhando. No banheiro também não. O de Nicolete estava vazio. No meu e de Heitor era quase impossível ela estar em algum lugar escondido, pois tudo ali era bem otimizado e minimalista em questão de móveis e utensílios de decoração. O banheiro estava completamente vazio.
Assim que abri a porta e parei no corredor novamente, ouvi eles chamando pelo nome dela do andar de baixo. Deus, teriam tirado minha filha de dentro de casa sem sequer vermos? Que tipo de família éramos... Esquecemos de cuidar a menina na própria festa dela. Jamais eu me perdoaria por isso. Mas se entraram no apartamento... Por onde foi, a não ser pela porta?
Virei e vi a porta de vidro, que dava acesso à cobertura, onde tinha a piscina termina e o ofurô. Além de só abrir com a digital, ela estava com trava de segurança atualmente. Ali era impossível Maria Lua acessar. Me dirigi novamente para a escada, parando no portão de vidro inquebrável, também tornando impossível qualquer possibilidade de queda de crianças.
Num impulso, voltei e fui até o final de corredor. Abri a portão de segurança, com a trava e em seguida coloquei meu dedo no leitor de digital. Assim que a porta se abriu, fui até o ofurô.
E então ouvi o grito de Maria Lua, a alguns centímetros da piscina, menos de um metro de distância da borda. Fiquei imóvel, aturdida, amedrontada.
Celine estava do lado oposto da piscina, agachada, sorrindo, com os braços abertos, chamando-a com as mãos na sua direção.
Maria Lua seguiu, um gritinho e um sorriso radiante, engatinhando rapidamente.
- Não! – Foi a única coisa que consegui gritar antes de sair correndo.
Me joguei na piscina ao mesmo tempo que minha filha caiu. A única coisa que esqueci é que eu não sabia nadar. Ainda assim, num esforço sobre-humano, consegui ir até o fundo, pegando minha pequena, que movia o corpo incontrolavelmente em busca de ar.
Por sorte os led’s de dentro da piscina ficavam automaticamente ligados quando estava escuro, o que facilitou encontrá-la. Eu já não aguentei segurar mais o ar e engoli água enquanto tentava subir à superfície, sentindo entrar também pelas minhas narinas.
Jamais conseguiria entender como os meus movimentos foram tão certeiros e consegui trazê-la comigo até a escada. Sentei-me no primeiro degrau que ficava fora da água e levantei-a, ouvindo o choro desesperado.
Eu poderia ficar acabada com o choro de sentimento e dor que ela emitia. Mas não... Ela estava viva e só aquilo que importava naquele momento.
Senti uma dor insuportável dentro da minha face, nariz, garganta, testa... A visão meio turva...
- A mamãe está aqui! – Apertei-a junto do meu peito e fiquei ali, com os pés dentro da água morna, até que ela se acalmasse e o choro diminuísse.
Retirei o laço que estava grudado nuns poucos fios encharcados dos cabelos dela. Passei os dedos nos pingos de água dos olhinhos, sentindo meu coração se acalmar ao me deparar com as duas esmeraldas vivas, olhando dentro da minha íris.
Estávamos molhadas e acabadas psicologicamente. Na minha cabeça passava mil coisas ao mesmo tempo. Dentre elas matar Celine Casanova.
Com dificuldade, o corpo parecendo pesar o dobro do que realmente pesava, como se o carregar fosse uma dificuldade sem igual, ainda mais com o os quase onze quilos da minha bebê, levantei e subi o degrau molhado e escorregadio.
Estava um pouco tonta e minha cabeça doía, creio que já do nervosismo de quando dei falta dela, imaginando que pudesse estar em perigo. E sim, ela estava com alguém que foi convidado para a festa... E que quis matá-la.
Abri a porta com dificuldade, a água escorrendo pelos nossos corpos ensopados, meu sapato de salto alto ecoando no piso brilhante.
Vi Celine descendo as escadas lentamente. Conseguia ver parte do corpo dela ainda nos primeiros degraus.
- Sua vagabunda! – Gritei tão alto que nem sei como consegui, visto que minha garganta estava doendo insuportavelmente.
Ela parou imediatamente, os olhos arregalados, o semblante sério e amedrontado.
Fui até ela, com Maria nos braços, começando a tremer de frio ou medo.
Parei no topo da escada, com todos os olhares sobre nós. Neste momento a porta se abriu e Anon e Heitor entraram. Meus olhos encontraram os dele e percebi o desespero em seu semblante, mudando ao ver nossa filha em segurança no meu colo.
- Como você consegue ser tão cruel? Ela é só uma criança. – Falei, olhando diretamente nos olhos dela.
- Eu... Não sei do que você está falando. – Se fez de desentendida, virando de costas para mim e seguindo sua descida.
Num ímpeto de raiva, desci atrás dela e empurrei-a pelas costas, vendo-a desequilibrar-se e rolar escada abaixo, degrau por degrau, sob os olhares incrédulos das pessoas no andar debaixo.
O silêncio foi absoluto até que o som do corpo dela ecoou no chão, após descer o último degrau. Ela ficou desfalecida, os olhos fechados, o corpo completamente amolecido.
Não consegui me mover. Se eu tivesse uma arma naquele momento, teria atirado nela, para matar. E a intenção quando a joguei não foi diferente. Não foi para assustar. Realmente queria que ela sofresse e morresse, como tentou fazer com minha filha.
Alguns acudiram Celine.
- Chamem uma ambulância... – Ouvi, sem me dar conta de quem era, não reconhecendo a voz.
Heitor retirou Maria Lua dos meus braços, me balançando pelo ombro:
- Bárbara! Responda, por favor!
Eu seguia olhando para o nada, sem entender direito tudo que estava acontecendo.
Heitor entregou nossa filha para alguém e pegou-me no colo, levando-me para o nosso quarto e me colocando sobre a cama. Abriu o zíper do vestido, retirando-o rapidamente, mesmo com a dificuldade em deslizar pelo corpo úmido. Os sapatos foram jogados longe e ele me livrou da lingerie em segundos.
Meu corpo tremia e ele colocou uma coberta sobre mim.
- Como ela está? – Sebastian entrou no quarto.
Eu os ouvia nitidamente, mas não conseguia responder.
- Por Deus, Bárbara... O que houve? – Sebastian implorou, a voz embargada.
- Ela não sabe nadar... Deve ter se afogado. – Heitor explicou.
Pisquei os olhos repetidas vezes, sentindo o corpo voltar a ficar quente. Nicolete entrou trazendo uma xícara fumegante numa bandeja:
- Vamos beber um chá, querida. Precisa se aquecer. É calmante. E não se preocupe, tudo vai ficar bem. A víbora está viva.
Ela me ajudou a sentar, enquanto Heitor cobriu meu corpo com uma manta fina, evitando expor minha nudez. Tomei o chá e senti o aquecimento interno.
Suspirei e comecei a chorar, copiosamente, com tristeza, sentindo as lágrimas quentes e generosas caírem pela minha face ruborizada.
Heitor sentou ao meu lado e abraçou-me. Senti seu corpo no meu e a segurança voltar novamente. Ele não questionou o que houve ou o motivo pelo qual fiz aquilo. Simplesmente me abraçou, demonstrando estar do meu lado.
Levantei a cabeça, repousando o queixo no ombro dele e estendi minha mão na direção de Sebastian, que sentou na cama e pegou-a, enlaçando os dedos nos meus.
- Está tudo bem... Pare de chorar que passou... – Sebastian disse, olhando nos meus olhos.
- Deixe-a chorar... Ela precisa botar para fora os sentimentos... – Nicolete disse firmemente, deixando claro sua experiência.
Não sei quanto tempo fiquei ali, na mesma posição, sem ser questionada, apenas sentindo o coração do meu noivo junto do meu e seus braços fortes me amparando, assim como a mão gentil do meu irmão, com a certeza de que podia contar com eles, não importava o motivo que fosse.
Soltei a mão de Sebastian, limpei as lágrimas e me senti um pouco melhor, voltando a mim mesma.
Heitor me deu um beijo no rosto e retirou o próprio casaco, jogando-o longe.
- Onde está Maria? – Perguntei, preocupada.
- Ela está com Ben e Anon. Ele foi trocá-la. – Nicolete avisou.
- Celine tentou matar Maria... – balancei a cabeça, aturdida, relembrando da cena, tentando não deixar as lágrimas voltarem – Ela estava com a nossa filha, Heitor. Levou-a para a cobertura... E chamou-a para dentro da água... Maria foi e caiu e...
- Eu... Não acredito que esta doida fez isso... – Sebastian levantou imediatamente, furioso.
- Não acredita? – Perguntei, confusa.
Ele suspirou:
- Modo de falar, Babi. Eu sei que ela é capaz de qualquer coisa. Não esqueça que ela fez a minha mãe perder o bebê. Além de tudo o possível para me separar de Milena.
- Bárbara... Você que retirou Malu da água? – Heitor olhou nos meus olhos.
- Sim... E eu nem sei como...
- Ela não sabe nadar – Heitor repetiu para Sebastian – Tem noção que as duas poderiam ter morrido?
- Eu não matei Celine? – Perguntei, tentando levantar da cama, contida por Heitor.
- Não... Ela abriu os olhos – disse Nicolete – Viva está... Mas creio que bem, não.
- Então eu vou matar de novo – fiz menção de levantar, contida novamente por Heitor e Sebastian - Eu preciso ir até lá... Saber o motivo que ela tanto odeia a nossa filha... Ela é só uma criança, Heitor.
- Acho melhor deixá-la ir, Heitor. Esta situação precisa ser finalizada e Celine pagar pelo que fez.
- Não quero que Bárbara fique nervosa. Ela estava em estado de choque... Acalmou-se agora. Não podemos expô-la novamente a uma situação desta.
- Eu quero falar com ela, Heitor... Por favor. – Implorei.
- Vamos, precisamos saber o que aconteceu de fato. Celine precisa se explicar para todos e quero saber como ela ficou. Porque ainda pode tentar incriminar Babi. – Sebastian disse firmemente.
- Eu... Vou pegar uma roupa para ela. Poderia nos deixar a sós, por favor? – Heitor se dirigiu ao armário, abrindo em busca de roupas secas para mim.
Sebastian me deu um beijo na testa e saiu, fechando a porta, junto de Nicolete.
Heitor me ajudou a pôr uma roupa e antes de sairmos pela porta, parei na frente dele, levantando o rosto na sua direção:
- O inimigo mora dentro da nossa própria casa...
- Vamos eliminar o inimigo, Bárbara! Celine mexeu com a única coisa que importa na minha vida: você e Maria Lua.
Enlaçamos nossas mãos e assim que saímos na porta, Anon abriu a porta do quarto de Malu.
- Como ela está? – Perguntei.
- Ben deu um banho quente nela e colocou o pijama. Ela ganhou uma mamadeira de leite quente e ouviu uma historinha. Está quase dormindo, ouvindo You Are my Sunshine. Maria Lua está bem, senhora Bongiove. – Garantiu.
Senti meu coração acalmar-se imediatamente.
- Mas acho que alguém não vai ficar tão bem, não é mesmo, senhor? – Ele olhou para Heitor.
- Sem formalidades, por favor, Anon. Já me conhece o suficiente para saber que acabaremos com ela, não é mesmo?
- Sim.
- E não vai ser da forma como foi com Daniel.
- Vamos matá-la, senhor?
- Não... Fazê-la apodrecer na cadeia. Pegue imediatamente as imagens das câmeras da cobertura.
- Sim, senhor. – Anon desceu rapidamente.
- Onde ele vai? – Perguntei, confusa, sem saber onde ficavam as imagens das câmeras.
- Fazer o que eu mandei.
Heitor puxou-me pela mão e descemos. Celine estava sendo atendida por dois homens uniformizados de jalecos brancos, que a colocavam numa maca. Percebi que ela estava consciente, embora o semblante de dor tomasse conta de seu rosto.
Allan estava com a cadeira de rodas próxima dela e Milena segurava a mão da mãe, enquanto Sebastian estava mais afastado, observando tudo com um copo cheio de uísque na mão.
- Sua assassina... – Celine olhou na minha direção – Você tentou me matar. Eu sempre soube que você era louca, doente...
Milena olhou na minha direção e Allan também. Eu não consegui identificar os sentimentos deles naquele momento. Mas segui ali, com meus cabelos úmidos, sem pentear, sabendo que a festa de comemoração do aniversário da minha filha tinha acaba e a raiva por aquela mulher ainda queimando dentro de mim.
- Você é a única assassina aqui. Tentou matar a minha filha. Como é capaz de vir à minha casa e tentar acabar com a vida de uma bebê no dia de sua festa de aniversário? Você é doente, Celine.
- Como ela está? – Heitor perguntou a um dos homens.
- Sou o médico – o outro respondeu – Ela provavelmente quebrou a perna direita e a mão também. Mas se caiu da altura que disse... Poderia ter sido muito pior. Faremos exames para verificar se não houve nenhuma outra fratura e analisar os órgãos internos, se sofreram alguma alteração ou perfuração em função da queda.
- Espero que sim... Que tenha quebrado também o pescoço e os órgãos internos estejam todos comprometidos. – Falei entredentes.
- Bárbara! – Milena chamou minha atenção.
- Assassina! Sua mãe é uma assassina!
- Vou denunciá-la à Polícia, Bárbara. Você tentou me matar e todos aqui são testemunhas disso. – Celine falou.
- Somos? – Sebastian se pronunciou, ironicamente – Eu não vi nada do que você está falando, Celine – sorveu o líquido do copo todo de uma vez.
- Quando eu cheguei você já estava no chão, Celine. Eu não vi Bárbara empurrar você – Heitor seguiu o discurso de Sebastian.
- Talvez você tenha se desequilibrado e caiu sozinha. – Nicolete completou.
- Cale a boca, serviçal. Ninguém pediu sua opinião – ela levantou a cabeça na direção de Nicolete, ainda deitada na maca – Meu marido e minha filha viram tudo e isso basta. Você vai para cadeia, Bárbara Novaes.
- Perrone. – Sebastian acrescentou.
- Bárbara Novaes Perrone Casanova – Heitor reiterou – Vamos nos casar em dias. Certamente quando Bárbara for depor, já será também uma Casanova, Celine. Iremos com todos os advogados da North B. E junto levarei as imagens das câmeras de segurança da cobertura, onde três delas são só voltadas para a piscina. Neste momento Anon está analisando os vídeos e copiando as imagens. Então, se você não tem nada a ver com a imagem da minha esposa e filha completamente encharcadas no topo da escada, não tem nada a temer. Mas se foi a responsável por colocá-las dentro da água, você está fodida... Até o fim dos seus dias.
- Câmeras? Que câmeras? – ela perguntou, confusa – Aposto que agora farão montagens para me incriminar, em nome desta insana, louca, que é Bárbara. O que fez com todos, afinal? Feitiçaria? Ou a vagabunda deu também para o irmão, meu marido e comeu a minha filha?
Fui na direção dela novamente, pronta para matá-la de vez.