Capítulo 138
2315palavras
2023-02-07 09:47
Heitor pegou o telefone da minha mão. Fiquei imóvel. Não sei se tinha mais forças para lutar contra tudo que estava acontecendo. Aquilo parecia um pesadelo sem fim.
Peguei o telefone de volta das mãos de Heitor, sem ouvir o que ele tinha dito ou deixá-lo terminar:
- É mentira, Daniel! Você não é o pai dela. Eu apresentei você e Salma e lembro muito bem disso. Trabalhavam no mesmo lugar, mas só se conheciam de vista. E Salma estava grávida quando você foi pela primeira vez no nosso apartamento.
- Eu transei com ela antes, Babi. Numa noite em que ela saiu da Babilônia tão bêbada que não lembrava sequer do próprio nome. Ela pouco se importava com preservativo. Gostava de ser fodida de qualquer jeito...
- Mentiroso! – gritei - O que quer agora? Dinheiro? Bens? Para você e Anya e Breno?
- Tenho DNA em mãos, Babi. E se vocês leram os diários, saberão que Salma transou comigo, pois ela menciona.
- Por que você não teria dito isso antes, caso isso fosse verdade? Por que só agora?
- Porque eu não queria porra nenhuma de filho. E também não tinha passado pela minha cabeça essa loucura toda.
- Mas Salma deixava claro que o bebê era de Heitor.
- Eu transei com ela antes, Babi. Maria Lua é minha.
- Você... Nem se parece com ela. – Aleguei, sem saber o que falar naquele momento.
- Jura? Ela é a cara de Heitor e não é filha dele. – Deu uma risada debochada do outro lado da linha – Podem fazer mais exames de DNA, inclusive em laboratórios diferentes, só para terem certeza.
- Quanto você quer?
- Nada. Eu quero a minha filha. E vou tirá-la de você, linda e gostosa Babi.
- O que ganha com isso? Eu sei que você não quer a menina, Daniel. Só se importa com dinheiro.
- Não mais. Quero minha filha e ponto final. Sei que vocês entraram com o pedido de guarda. E eu vou apresentar os documentos que provam que Maria é minha filha e de Salma.
- Eu... Nós podemos pagar. O que você quiser.
- Vocês não foram muito bondosos comigo, Babi. Então não quero mais negociar. Sou um homem honesto. Tudo que quero é viver em paz com minha filha. – Falou enquanto ria.
Heitor pegou o telefone da minha mão e desligou. Olhei-o, sentindo meu coração bater fortemente, sem saber o que dizer. Minhas pernas estavam trêmulas.
- Chega disto, Bárbara! Vamos deixar o juiz decidir. Daniel pode estar blefando. Qualquer um pode ser o pai biológico de Maria Lua. Mas sabemos que nós somos os verdadeiros pais dela, meu amor. Nada tirará esta criança de nós. Eu prometo.
- E se ele for o pai, Heitor? Agora ele não quer mais nem dinheiro...
- E não há mesmo como seguir dando dinheiro pela nossa filha para sempre, como se ela fosse uma mercadoria, algo que alugássemos para ter. Chega, Bárbara. Vamos enfrentar.
Encarei Heitor, sem saber se deveria ou não dizer o que estava pensando naquele momento.
- Eu vou matar Daniel, Bárbara. Nem que seja a última coisa que faça. Ainda mais agora, que o desgraçado me impediu de fazer amor com minha esposa na inauguração da nossa casa. Nada pode me deixar mais puto que isso: acabarem com nosso tesão, desclassificada.
- Heitor... Não acredito que esteja preocupado com isso.
- Estou... Porque sinceramente, não me preocupo com a questão de Maria Lua. Ninguém vai tirá-la de nós. Daniel está mentindo... Nos testando. Estou tranquilo quanto a tudo.
- Heitor, se Daniel for o pai, estamos fodidos.
- E se não for ele e estiver mentindo? Não acredito nele... Principalmente por não querer dinheiro desta vez.
Olhei para o interior da casa maravilhosa. A sala enorme, com pé direito alto, bem iluminada, com vidros por todos os lados, deixando o sol entrar diretamente em todo ambiente. Adiante, uma sala um pouco menor, com uma sala de jantar, rodeada de espelhos.
- Esta casa tem fim? – Perguntei, arqueando a sobrancelha.
- Se você quiser, sim. Se não quiser, não terá. – Ele enlaçou meu corpo, levando-me na sua direção.
Levantei o rosto e olhei no verde intenso dos seus olhos:
- Ei, desclassificado! Vamos... Viajar? – Pedi.
- Viajar? Para... O apartamento? – Ele arqueou a sobrancelha, divertidamente.
- Não... – Abaixei a cabeça.
- Porra, eu sabia que não era isso que você se referia. Quer mesmo fugir?
- Não considere como uma fuga. Uma viagem... De lua de mel.
- Com a filha? – Ele enrugou a testa.
- Com a filha. – Confirmei.
- Vai ter tudo que de fato existe numa lua de mel? – Perguntou, ironicamente.
- Não sei a que ser refere, desclassificado. Mas passa na minha cabeça algumas orgias... Sexo sem tempo para acabar... Umas boas chupadas – olhei na direção do seu pau – E talvez a tentativa de fazer outro filho – a voz saiu mais baixa nesta parte.
Ele pegou o telefone do bolso e fez uma ligação:
- Anon, mande preparar o jato imediatamente. Avise Nicolete para preparar as malas dela e Maria Lua. Estamos partindo.
Anon falou algo do outro lado, que não identifiquei.
- Destino desconhecido. – Heitor respondeu, desligando o telefone.
Nos olhamos um tempo, sem dizer nada. Até que quebrei o gelo:
- Eu... Preciso sair um pouco deste fogo cruzado e do medo que me assola por aqui.
- E eu faço qualquer coisa por uma chupada sua, Bárbara Casanova. – Confessou.
- Essa chupada vai sair cara, desclassificado – Sorri – Mas prometo que será perfeita.
- E alguma até hoje não saiu cara? – ele riu divertidamente – Quer olhar o resto da casa ou deixamos para a volta?
- Para a volta. Trazemos Malu e Nicolete junto, para explorarmos tudo em grupo. – Sugeri.
- Explorar? Eu paguei milhões por esta casa para você fazer dela um safári?
Saímos e ele fechou a porta. Enquanto nos dirigíamos até o Maserati, perguntei:
- Este jato é o mesmo que usou com a loira do pau do meio, Barbie das Trevas, ladra de...
Ele parou e colocou a mão sobre meus lábios, não me deixando continuar:
- Não é o mesmo, desclassificada! Troquei por um maior. E adivinhe?
- O que?
- Tem cabine privativa.
- Cabine privativa? O que é isso?
- Eu vou lhe mostrar, não se preocupe. Aliás, nós dois vamos lhe apresentar. – Ele sorriu e olhou em direção ao próprio pau.
- Como você consegue ser tão safado?
Ele me puxou pela cintura:
- Como você consegue ser tão persuasiva?
- É meu jeitinho meigo.
Ele gargalhou e pôs os lábios no meu pescoço, dando um leve chupão finalizado com uma lambida com a língua quente:
- Você me tem nas suas mãos, Bárbara! E eu nem sei como consegui ficar assim, tão entregue a você.
- E você tem meu coração, Heitor Casanova, desclassificado mor, o homem que fez ter sentimentos muito, mas muito profundos... – Beijei sua boca, tentando não me preocupar com mais nada.
Sim, porque uma hora eu teria que parar de pensar no pior. E por hora, sair de Noriah Norte era a melhor saída.
Assim que chegamos no apartamento, encontramos uma Nicolete confusa e atrapalhada, descendo uma mala pelas escadas:
- Que bom que vocês avisam com antecedência sobre viagens. Eu tinha entendido que não haveria lua de mel...
- Não haveria. Mas enfim, eu tenho uma esposa que gosta de me surpreender... – Heitor explicou.
Ouvimos a campainha. A empregada foi abrir a porta. Paramos olhando em direção à porta.
Sebastian entrou ao mesmo tempo que Ben descia com Maria Lua.
Todos ficamos atônitos vendo meu irmão com um filhote de gato cinza claro nos braços, trazendo como se fosse um bebê.
- Eu tinha entendido que você se mudaria para o mesmo condomínio que nós porque queria ter cachorros – Heitor arqueou a sobrancelha – Mas gatinhos são mais a sua cara – debochou – Ainda mais com laço vermelho no pescoço.
- Malu, olha o que o titio trouxe. – Sebastian abaixou-se, mostrando o gato para ela.
Maria começou a remexer-se no colo de Ben, que desceu quase correndo as escadas, o mais rápido que podia. Assim que chegaram ao final do último degrau, ele soltou-a.
Ela andou a passos curtos e precisos até a direção de Sebastian, gargalhando. Quando viu o gato, pegou-o imediatamente, de qualquer jeito, deixando cair.
Sebastian juntou e colocou-o junto dela novamente, fazendo-a acariciar o animal:
- É um presente para você. Toda criança precisa de um animal de estimação.
- Um gato? Não... Eu sou alérgico a gatos – Heitor disse firmemente – Se você acha que toda criança precisa de um animal de estimação, por que não comprou um peixe?
- Porque um peixe não tem graça.
- Claro que tem. Eu já tive um peixe.
- Aposto que daqueles que nadam solitários numa bola de vidro. Devia ser laranja, acertei? E morreu porque você esqueceu de alimentar.
- Não! Morreu de velho – Nicolete falou – Mas ele nem sequer se importava com o peixe – Ela veio em direção ao gato, abaixando-se a acariciando.
- Fez o enterro do seu peixe? – Sebastian perguntou seriamente.
- Claro que não! Era só um peixe, porra!
- Não fale palavrões na frente da pequena, Heitor – Sebastian criticou – Eu enterrei meu peixe no fundo do quintal. Meu cachorro desenterrou e comeu. Foi horrível.
- Meu Deus, que tipo de pessoa você é? – Heitor ficou pasmo.
- Ele tem alergia a gatos? – Olhei para Nicolete preocupada.
- Quando era criança, tinha. Por isso só teve um peixe, que viveu quase uma década eu acho. Não tenho certeza se ainda ele é...
Heitor espirrou e logo disse:
- Foi o gato. Leve de volta.
Maria Lua veio até nós e levantou o gato pelo rabo na direção de Heitor:
- Papai... Meu. – Falou, sorrindo.
Ele se derreteu antes do gato cair e correr na direção dele, tentando subir pela sua calça, puxando um fio do tecido na mesma hora.
- Devo providenciar colherinhas, Thorzinho? – Ben perguntou debochadamente.
- Não... Providencie uma faca, Ben. Eu vou matar Sebastian.
O gato saiu correndo e Malu gritando feliz atrás dele.
- Ah, Heitor, ela ficou feliz. – Falei.
- É um gato! Eu sou alérgico. – Ele espirrou de novo.
- Se é só espirros está de boa, Thorzinho – Ben bateu nas costas dele – Aposto que ele vai adorar andar de jatinho particular.
- Jatinho particular? – Sebastian olhou para as malas – Onde vocês vão?
- Por que quer saber? Vai junto? – Heitor foi sarcástico.
- Sempre pensei em viajar para um lugar qualquer... Onde vamos mesmo?
- Sem destino.
- Este mesmo. Meu sonho conhecer este lugar.
- Isso é uma fuga, não é mesmo? Vocês podem deixar o país? E a certidão de Malu? – Ben perguntou.
- Daniel disse que é o pai de Maria Lua – falei – Isso aconteceu hoje, a menos de uma hora atrás.
- Como assim? Isso... É possível? – Ben ficou confuso.
- Eu acho que não. Ele está blefando. – Heitor deu sua opinião.
- E se não estiver? Ele deixou claro que era só fazer o DNA quantas vezes quisesse.
- Eu mesmo falei isso para Breno e Anya, lembra-se? – Heitor disse, tranquilamente, parecendo que aquele assunto não lhe preocupava de forma alguma.
- E vocês vão para onde? – Sebastian perguntou – Tem todo o processo de guarda tramitando.
- Liguei no caminho para os advogados e qualquer coisa vamos alegar que foi viagem de lua de mel. Como o voo é particular, podemos burlar a questão da certidão da nossa filha. Estaremos aqui em breve, antes de darem o veredicto.
- E a North B... A Babilônia? Você sempre alegou que não queria deixar... – Ben questionou.
- Você vai cuidar da Babilônia, Ben. Sei que fará isso com o mesmo amor que eu tenho àquele lugar.
- Jura, Thorzinho? Eu... Até me emocionei agora. – Ben abraçou-o, fascinado com a confiança que Heitor depositava nele.
- E a North B.? – perguntei – Já pensou nisso?
- Sim. Sebastian fica na North B.
- Como? – Eu e Sebastian perguntamos ao mesmo tempo.
- Me diga que aceita, “querido cunhado”.
- Só pode estar brincando!
- Eu não brincaria com algo tão sério quanto a North Bárbara. – Heitor disse.
- North Beatriz. – Ben lembrou.
- Agora é minha oficialmente. Então é North Bárbara.
- Ah, não importa, Heitor. Afinal, é North B. E... E você quer deixar tudo que tem nas mãos de meu irmão?
Aquela pergunta não era uma crítica. Pelo contrário... Eu estava completamente maravilhada com a atitude dela. Quando eu pensava que nada mais vindo daquele homem pudesse me surpreender, ele vinha e me provava que sim, que podia surpreender-me o tempo todo.
- Eu não faria isso. – Sebastian disse.
- Por mim. – Pedi, com as mãos juntas, em prece.
- Isso... É jogo sujo, Babi.
- Você me deve isso, “cunhado” – Heitor espirrou – Trouxe um gato para dentro da minha casa.
- Aliás, vou ver se ele ainda está vivo. – Ben saiu procurando Maria Lua.
- Eu cuido da North B., Heitor. Em troca, vocês viajam para minhas terras. Quero que Bárbara conheça o lugar onde nasci e me criei... E que poderíamos ter vivido juntos. É parte dela... Mesmo que não queira, tem sangue Perrone, Babi. – Olhou na minha direção.
- Eu aceito, Sebastian. – Falei imediatamente.
Eu só queria partir de Noriah Norte o mais rápido possível, pois Daniel tinha me deixado completamente assustada com a possibilidade de ser pai de Maria Lua.