Capítulo 134
2200palavras
2023-02-07 09:45
- Não acredito que vocês ainda fazem isso!
- Se fazíamos em elevadores públicos, acha que deixaríamos um privativo passar em branco? E quer saber? Amo ser fodida por ele no elevador.
- Há gosto para tudo, não é mesmo? Só espero que tudo se revolva de uma vez. Nosso raio de sol já está fazendo um ano e estamos na mesma situação. Tenho tanto medo de arrancarem ela de nós.

- Os advogados disseram que Anya e Breno certamente não ganharão a guarda dela na justiça, em função das chantagens e extorsões. Afinal, eu, Sebastian e Heitor demos dinheiro e temos provas, como as transferências bancárias e cheques.
- Vocês finalmente vão entrar com o pedido de guarda?
- Sim. Na próxima segunda-feira.
- Por que esperar uma semana?
- Bem... Heitor soube que Anya e Breno estavam pelas redondezas novamente.
- E o que tem isso a ver com a espera?

- Ele e Allan decidiram dar uma lição neles.
- Você não me contou nada... Nem Anon... – Ele ficou surpreso.
- Heitor preferiu não usar Anon desta vez, já que todos sabem que é guarda-costas dele... Então, usou outras pessoas.
- O que fizeram com os desclassificados?

- Simularam um assalto com agressão. Roubaram o pouco que eles tinham, inclusive celulares e... Bem... – Fiquei um pouco sem jeito de concluir.
- Não mataram, não é mesmo?
- Allan foi contrário a mim e Heitor. Ele acha que se eles morressem agora, poderiam relacionar isso conosco, pois o pedido de guarda entraria praticamente junto e seria muita coincidência.
- Desgraçados... Nunca desejei a morte de ninguém, nem mesmo da noiva de Tony. Mas de Anya e Breno... Ah, se eu pudesse, os matava com as próprias mãos.
- E Tony? – Arqueei a sobrancelha.
- Eu... Bem, não iria lhe contar, mas...
- O que mais pensou em não me contar, Ben? Pelo que percebi, há muita coisa que não sei nos últimos tempos.
- Também não me contou que está envolvida em planos maquiavélicos que podem levar à morte de pessoas. Por isso faço questão de contar tudo, dona Babi Novaes, antes que eu esteja na sua boca em reunião secretas com os Casanova, que mais parecem mafiosos do que homens respeitáveis. Tipo, não gostam de alguém, mandam matar? Caralho, ainda bem que Heitor não odiou você por muito tempo, não é mesmo?
- Me sinto um pouco má planejando matar ou dar uma boa surra nas pessoas... – sorri – Mas eu gosto. Acho que definitivamente não vou para o céu. Estou ansiosa pelo dia que nos reuniremos para decidir o futuro de Daniel.
- Neste eu quero estar junto, por favor. – Ele juntou as mãos, em prece, implorando.
- Vou pensar no seu caso... Se me contar de Tony.
- Ok... – suspirou – Ele me ligou semana passada.
- O que ele queria? Que homem idiota. Só para lembrá-lo que ele existe?
- Exatamente. Veio com a conversa de que estava com saudade e sentia minha falta.
- Desclassificado... Vou planejar a morte dele.
- Não precisa, minha linda. Eu o matei com palavras. Disse que não estava com saudades, que finalmente encontrei alguém que me assumia e valorizava e enfim, me sentia feliz. Completei com um “foi bom enquanto durou, mas você não segurou a onda”. E como sempre amei a frase de Heitor, também aproveitei ela: “Tony, eu me joguei de cabeça nesta relação e você só molhou os pés”.
Comecei a rir:
- Não acredito que falou isso.
- Foi o fim. Não creio que ele vá me ligar novamente. E se fizer isso, não vou atender. Eu gostei dele. Foi importante para mim fazer parte da descoberta de Tony enquanto atraído por outro homem, bem como a primeira experiência sexual neste sentido. Mas não quero mais viver de migalhas, como já fizemos, amiga. Merecemos o mundo.
- E o temos, não é mesmo? – Falei, vendo Heitor descer as escadas, sentindo seu cheiro de perfume importado de longe, os cabelos bem penteados, o odor de banho tomado e homem perfeito.
A campainha tocou e a empregada foi atender. Levantei e arrumei meu vestido:
- Ok, primeiro convidado.
- Ansiosa como anfitriã na sua primeira festa de aniversário do raio de sol?
- Sim... Mas lembro que ainda tem muitas pela frente e... Fico ainda mais ansiosa. – Confessei.
- Tomou seu remédio hoje?
- Claro. Sem ele eu não vivo.
Anon entrou. Era a primeira vez que eu o via usando calça jeans e camiseta, sem aquele terno preto impecável, que era sua marca registrada.
Nicolete trouxe Maria Lua, colocando-a no chão e ela ensaiou alguns passinhos na minha direção, enquanto sorria lindamente.
Cinco passos sozinha e amparei, erguendo-a junto de mim.
- Vamos cumprimentar, Anon, Malu?
Ela olhou para Anon por um longo tempo, parecendo não reconhecer nosso segurança particular.
- Diga olá para Anon. – Insisti.
Ela seguiu olhando para ele e negou com o dedinho, escondendo-se no meu peito.
- Certo que ela não está reconhecendo Anon. Nem eu reconheci. – Heitor cumprimentou-o, com um aperto de mão:
- Bem-vindo, Anon. Hoje como convidado e não como meu funcionário. Fique à vontade. Logo Malu reconhecerá você.
Ben pegou Maria Lua do meu colo e puxou a mão de Anon, indo com ambos para outra sala.
- Malu? – olhei para Heitor, zombeteiramente – Não era você o homem contrário a apelidos?
- Malu faz eu não agir por mim mesmo, nem de acordo com meus preceitos. – Ele me puxou para si.
Senti o cheiro familiar e enlacei meus braços em sua nuca:
- Trouxe colherinhas, desclassificado?
- Muitas... Todas. – Tomou meus lábios docemente.
Ficamos abraçados um tempo e suspirei, confessando:
- Ainda não estou feliz em receber Celine.
- Eu sei, meu amor. Mas faça um esforço. Ela não vem aqui há tantos meses. É o aniversário de Malu. Meu pai ficaria feliz se vocês pelo menos tentassem se dar bem.
- Allan não faz questão nenhuma, Heitor.
- Mas é a esposa dele. Eu mesmo passei por cima de algumas situações que não gostei para deixar tudo em paz. Além do mais, Milena também vai vir e você sabe o quanto ela quer este reencontro e a tentativa do perdão da mãe.
- Estou aceitando isso só por Milena, Heitor. Embora eu ache que ela não precise do perdão da mãe. Não entendo o fato de Milena se achar culpada de algo que não fez errado.
- Você sabe toda a situação que envolve os Perrone e os Casanova, Bárbara.
- Os Perrone? Eu sou uma Perrone, Heitor. Não esqueça disto.
- Como se fosse possível esquecer qualquer coisa sobre você.
A campainha tocou. Sabíamos que era Allan e Celine, Sebastian e Milena ou Mandy. Afinal, estes eram os convidados para a festa.
Para minha sorte, era meu irmão e Milena.
Nos cumprimentamos e Milena olhou ao redor:
- Onde está a aniversariante para eu apertar as bochechas?
- Está com Ben e Anon, na outra sala. – Falei.
- E... Minha mãe?
- Ainda não chegou. – Não contive minha cara de insatisfação.
- Obrigada por aceitar a presença dela. Sei que não foi fácil para você. Mas para mim, muito importante.
A abracei e disse:
- Tudo bem, Milena. Estou fazendo isso por você.
- Tolerar Celine Casanova é difícil... Mas creio que hoje seja necessário. Afinal, Milena está contando com este perdão... Sem sentido. – Sebastian completou.
- Vamos sentar, por favor. – Heitor convidou.
Nos dirigimos para a sala principal, sentando-nos próximos. Anon e Ben voltaram com Maria Lua.
- Se nota que são Perrone’s – Milena observou, enquanto nos olhava – Não só pela aparência, mas por todos os trejeitos. – Sorriu.
- E por não gostarmos da sua mãe também? – Sebastian provocou.
- Sei que ela é um pouco difícil, mas é minha mãe. Não quero ficar de mal com ela para o resto da vida. – Milena justificou.
- E estamos fazendo isso por você, meu amor! – Sebastian explicou.
Maria Lua logo tomou a atenção de todos, ensaiando os primeiros passos. Alguns petiscos foram servidos e bebidas.
Mandy chegou, seguida de Celine e Allan Casanova. Todos disputavam nosso pequeno raio de sol, exceto a madrasta má de Heitor.
Sebastian se aproximou de mim, com um copo de uísque na mão e falou, enquanto olhava o movimento das pessoas dentro do apartamento:
- A presença dela faz o clima não ficar descontraído e feliz.
- Infelizmente – concordei – Fiz isso porque gosto muito de Milena. Realmente ela não havia pisado os pés aqui desde que vim morar com Heitor.
- Você a convidou?
- Claro que não. Heitor se encarregou desta parte.
- Suporto esta gente por você.
- E eu o sobrenome Perrone por você. Então estamos quites. – Empurrei-o com meu corpo, divertidamente.
- Acha que Daniel vai aparecer um dia?
- Não acho. Tenho certeza.
- E... Ele pode ser o pai?
- Eu creio que não. Salma não o conhecia. Eu os apresentei, mesmo eles trabalhando no mesmo lugar.
O garçom passou e peguei uma taça de Champagne.
- Talvez eu esteja sendo neurótica. Ela não seria tão inteligente para se unir a ele. E com qual objetivo? Ela não lucraria nada com isso. Você e Milena já estão morando juntos e ela não vai conseguir mudar isso.
- Não gosto dela. E se Milena quiser vê-la, não será na nossa casa e ela sabe disto. Esta mulher fez minha mãe perder o bebê. Ela é capaz de tudo.
- Eu não duvido. Mas tudo que envolva dinheiro. Neste caso, Maria Lua não lhe oferece risco, já que Celine não tem nenhum tipo de envolvimento financeiro com Heitor.
- Vamos ficar de olhos bem abertos nela, Babi.
Olhei para Allan, que sorria brincando com Maria Lua. Estava visivelmente mais magro e abatido. E eu temia o dia que ele partisse.
- Não entendo como ele, um homem tão gentil e bondoso, foi se envolver com ela. – Falei.
Sebastian gargalhou sarcasticamente:
- Ele gentil e bondoso? Crápula, ordinário. É isso que ele é. Quer saber, acho que os dois se merecem.
- Bebendo uísque, “cunhado” – Heitor me enlaçou por trás – Não se importa que eu o chame assim, não é mesmo? E me diga, por que não prova um vinho Casanova? Posso apostar que irá se surpreender.
- Então, “cunhado”... Só bebo coisas de qualidade. Seu vinho de quinta não tem espaço na minha adega, tampouco no meu estômago.
- Ah, acho lindo o amor entre vocês dois! – Ironizei – Principalmente hoje, num dia tão especial para todos nós. Tolerância, perdão... Palavras mágicas.
Maria Lua seguia chamando a atenção de todos, com seus passinhos. Exceto de Celine, que fazia questão de olhar para tudo, menos para minha filha.
- Ela precisa de mais espaço. O apartamento além de não ter área externa, limita muito as ações dela. – Heitor observou.
Arqueei a sobrancelha, confusa:
- Andou lendo sobre bebês?
- Não... Mas pesquisei sobre casas com área externa com gramados, onde ela pode correr e cair sem machucar-se, com quadras poliesportivas e piscinas infantis. Podem inclusive ser térreas, o que as tornam ambientes muito mais seguros. E o melhor, em condomínios fechados, com segurança 24 horas.
Desvencilhei-me de seus braços e olhei na sua direção:
- Como assim?
- Acho que posso ter comprado uma casa para nós... Junto do presente que está chegando para ela. – Sorriu enigmaticamente.
- Uma casa? Eu... Isso é sério? – Perguntei, surpresa e ao mesmo tempo sentindo meu coração acelerar.
O que passou pela minha cabeça na mesma hora foi: Eu mereço este desclassificado, Deus? Afinal, é muito mais do que eu pedi. Ele não só assumiu uma criança achando que era minha filha, sem sequer querer saber a verdade. Quanto tempo escondi dele a verdade, por medo antecipado do que poderia acontecer, por culpá-lo de algo que ele sequer sabia que estava havendo. Como pude ser tão idiota? Quanto tempo perdido, de amor, de carinho, de cumplicidade, de sexo perfeito...
- Ei, está aqui, desclassificada? – Heitor me fez voltar do fundo da minha mente.
O abracei com força e disse:
- Obrigada... Por se importar tanto assim conosco.
- Como não me importar? A desclassificada e a desclassificadinha são a minha vida e sabe disto.
- Nunca pensei ouvir isso de você – Sebastian observou – Estou até pensando em fazer um vinho especial e rotular... Com aquela ideia que você roubou da minha irmã, de personalizar os rótulos, lembra?
- Sebastian, quanta insensibilidade. – Reclamei.
- Jura? – Sebastian começou a rir – Sabem que andei pensando... Morar num prédio sem elevador era inadmissível, mas este aqui é muito grande para mim e Milena... Sei lá, acho tão impessoal. Morar num condomínio dá a possibilidade de ter até um cachorro. Tive um cachorro quando era criança... Meu sonho é ter outro – ele sorveu o restante do uísque do copo de uma vez e nos encarou – Concordo. Vamos nos mudar de novo, cunhado!
- Você está brincando, não é mesmo? – Heitor falou entredentes.