Capítulo 132
2600palavras
2023-02-07 09:44
Levantei imediatamente, sentindo o coração já batendo mais forte e o ar parecer faltar nos meus pulmões. Heitor pegou minha mão e disse:
- Sente-se, Bárbara. Acalme-se, por favor, ou não vou deixar Sebastian terminar de falar. – Olhou na direção do meu irmão.
- Faça o que ele disse. – Sebastian pediu, puxando uma cadeira, sem cerimônia, e sentando entre mim e Heitor.

- Por favor, Nic, leve Maria Lua. Não quero que ela ouça. – Heitor pediu seriamente.
Nicolete levantou e pegou a bebê do colo de Allan e saiu imediatamente.
- Quando? – Heitor perguntou.
- Ontem à noite. Me abordaram quando eu saía do prédio.
- Este prédio? – Perguntei.
- Sim. – Ele confirmou.

- Mas como o encontraram aqui? – Ben perguntou, confuso.
- Não sei. Interceptaram o carro, quase se jogando na frente. Inicialmente eu e Milena acreditamos que pudesse ser um assalto. Mas eles começaram a gritar o nome de Maria Lua... Então... Imaginei que fosse eles.
- Caralho! – Ben levantou, aturdido.
- Por que procuraram “você”? – Heitor perguntou, confuso.

- Porque o “meu nome” está na certidão. Eles acreditam que sou o pai de Maria Lua.
- Acha que eles podem estar envolvidos no que houve ontem? – Perguntei a Heitor.
- Não tem como saber. Imaginei que fossem amadores...
- O que houve ontem à noite? – Sebastian questionou.
- Além de a Babilônia estar em todos os veículos de comunicação? – Allan falou, ironicamente.
- Como assim? – Heitor arqueou a sobrancelha, confuso.
- Não abriu seu celular hoje? Por que acha que vim até aqui esta hora? – Perguntou Allan.
- O que está acontecendo? – Heitor insistiu.
- Eu que pergunto o que está acontecendo, Heitor. Você deu celulares novos e caríssimos para todos que estiveram na Babilônia ontem? Passes grátis, bebida liberada? O que está havendo? Você ficou louco, é isso?
- A Babilônia é minha e eu faço dela o que quiser – ele foi enfático – Se veio aqui cobrar satisfações do “meu negócio”, perdeu seu tempo.
- Calma, gente! Vamos conversar civilizadamente – Ben sugeriu – Eu fui culpado, senhor... Allan – corrigiu-se a tempo – Estou na administração da Babilônia agora e decidi isso por minha conta e risco.
- Não, eu fui a culpada, Allan. Dancei no poste de pole dance e Heitor me retirou do palco... Algumas pessoas filmaram e ele ficou puto... E tentou proteger a minha imagem.
- Você o que? – Sebastian me olhou – Não acredito que fez isso. Acha que se estas fotos ou filmagens se espalharem vai ficar como com relação à guarda da criança futuramente?
- Eu... Não pensei nisso. – Confessei, baixando os olhos, envergonhada.
- Nem foi esta a questão, Sebastian – Heitor disse, levantando, passando as mãos nos cabelos, nervoso – Eu não quero expor Bárbara e Maria Lua na mídia. Seria muita invasão de privacidade na vida das duas. Não quero isso para elas. Já basta eu passar por este inferno. Mandei que Ben e Anon pegassem todos os celulares e acabassem com a possibilidade de as imagens fervilharem em segundos. Mandei fechar na mesma hora o local.
- Depois sofremos um ataque armado – Ben explicou – E se não fosse a Mercedes ser blindada, vocês estariam neste momento velando nossos corpos... Ou cremando.
- Um ataque? – Allan olhou imediatamente para Sebastian – Se seu pai ainda estivesse vivo, eu apostaria nele.
Sebastian levantou, furioso:
- O que está insinuando, Allan?
- Que sua família é criminosa.
- Por Deus, Allan, eu também sou uma Perrone, por mais que odeie este nome. Sebastian é meu irmão... Estamos aqui falando de Maria Lua e eu creio que esta criança tenha uma importância enorme na vida de todos nós.
- Chamou a segurança privada, Heitor? Por que eles não estavam lá com Anon, como deveriam fazer? – Allan questionou.
- Porque nunca estiveram... Jamais houve algum atentado contra mim. A segurança privada é justo para emergências. Já fizeram registro na Polícia. Mandei blindar o Maserati e pedi que Bárbara não saia com Maria Lua por enquanto, até descobrirmos o que houve de fato.
- Eu quero saber o que Anya e Breno queriam com você, Sebastian. – Ben perguntou e todos olhamos na direção dele.
- Dinheiro.
- Dinheiro? – Allan perguntou, confuso.
- Sim, dinheiro do pai de Maria Lua, supostamente eu, para que não me perturbem com relação à menina e não denunciem Bárbara contra o que para mim não ficou claro.
- Como assim denunciar Bárbara? – Heitor perguntou, confuso.
- Eu não tenho certeza... Fiquei nervoso. Você não tem ideia de como eles são... Parecem ladrões... Mas creio que acham que eu e Babi estamos juntos, criando a menina.
- O que você fez, Sebastian? – Perguntei.
- Paguei.
- Pagou? – Ben perguntou, furioso – Eles já pegaram dinheiro de Bárbara, que Mandy deu. Isso não vai parar nunca? Vocês têm noção de que se continuarem a pagar esta gente, isso será um ciclo vicioso?
- Eu acho que temos que entrar com o pedido de guarda. – Falei, não tendo absoluta certeza se era o melhor a fazer naquele momento.
- E se mandarmos matá-los? – Allan sugeriu – Acidentalmente um caminhão desgovernado passa por cima deles. Ou levam tiros saindo de casa. Podemos também simular um assalto à casa, seguido de morte... Latrocínio.
- Falou o homem que detesta violência. E que diz que a minha família é criminosa. – Sebastian riu debochadamente, não segurando a fúria.
- Por Deus, chega desta briga, porra! – Gritei.
Heitor veio até mim e me abraçou:
- Acalme-se, Bárbara.
- Heitor, se eu perder Maria Lua, acho que morro.
- Nada vai tirar a menina de nós, Bárbara. Não importa o que eu tenha que fazer, Maria Lua será registrada como uma Casanova. Somos a família dela e ela a nossa.
- Eu faço qualquer coisa pela minha neta. – Allan garantiu.
- A parte boa é que eles ainda acham que Sebastian é o pai – Ben falou – Enquanto isso, sabem que tirar a guarda é impossível, pois o senhor Perrone é um homem íntegro, rico e conhecido. Ninguém transferiria a guarda do “pai” para os avós, que só de olhar na cara dá para saber que não são pessoas confiáveis. Ficarão a usar a história de Bárbara para pegar dinheiro. Mas não sabemos o que exatamente eles querem ou sabem.
- Eu dei um cheque com uma boa quantia. Fiquei nervoso e tudo que queria era que eles sumissem e não voltassem mais – Sebastian disse – Mas depois me arrependi. Porque deveria ter dito que não daria e pronto, porque a menina era minha.
- A questão é que mais cedo ou mais tarde, Bárbara e Heitor terão que entrar com o pedido na justiça. Eles não vão descansar... Quererão mais e mais, sobreviver do dinheiro dos Perrone para sempre. – Allan falou.
- Enquanto o nome de Sebastian estiver na certidão, estamos seguros. – Ben disse.
- Mais alguém sabe que Sebastian não é o pai? – Heitor me perguntou.
- Eu... Achava que conhecia Salma, até ler os diários dela. Depois de toda forma que ela usou para engravidar, já não tenho mais certeza de nada sobre minha amiga. Mas a única pessoa que tenho certeza que sabe a verdade é Daniel.
- Este desgraçado está morto.
- Não ouvimos falar nada sobre isso, Heitor. Como podemos ter certeza?
- Eu vou mandar Anon imediatamente ir até lá e verificar.
- Mas isso faz tempo... – lembrei – E a ordem que você deu não foi “matar”.
- Anon não é um homem de fazer as coisas pela metade.
- Ah, não mesmo! – Ben disse imediatamente, fazendo todos os olhares caírem sobre ele – Estou falando... De matar pessoas... Tipo: ele não mata só um pouquinho... Mata... Matado. – Ele ficou completamente confuso.
Discutimos mais de uma hora e não chegamos à nenhuma conclusão do que fazer. A única certeza por enquanto era aguardar eles aparecerem novamente e fortalecer a segurança de Maria Lua.
No dia que Maria Lua estava fazendo sete meses, no final do dia teve febre de 38,5 graus.
- Precisamos levá-la à Pediatra, Heitor. – Falei, percebendo que ela estava abatida e chorosa.
- Ok, vamos. Vou mandar Anon chamar a segurança e ligarei para a doutora nos esperar na Clínica.
Quase dois meses e eu não havia saído para nenhum lugar com Maria Lua. A sorte é que Nicolete sempre estava comigo e as visitas de Mandy estavam cada vez mais frequentes.
Enquanto eu trocava a fralda dela e Nicolete preparava a bolsa com roupas e pertences dela, Heitor entrou no quarto:
- A doutora está num congresso. Só retorna na próxima semana. Me indicou um hospital que fica próximo e que é de confiança. Vai ligar e pedir para um Pediatra que é amigo dela nos esperar.
- Ótimo. – Peguei Maria no colo, cobrindo-a com uma mantinha leve enquanto ela reclamava com choro.
Fomos na Mercedes e um carro com guarda-costas armados nos escoltou na frente e outro atrás. Depois da tentativa de assalto ou assassinato, nada mais fugia dos olhos de Heitor, principalmente com relação à segurança de todos.
O hospital era infantil e realmente assim que entramos na recepção, já havia um médico à espera de nossa filha. Depois de examinada, o médico pediu um exame de sangue. Enquanto isso, precisaríamos aguardar sair o resultado.
Heitor que a segurou para retirarem o sangue do bracinho. Assistir uma agulha perfurá-la me fez chorar copiosamente. Virei-me de costas, para não assistir, só ouvindo o choro incontrolável e de dor dela. Quando vi os enfermeiros saírem, ambos tocando meu ombro, parecendo entender o meu sentimento, voltei-me para eles novamente.
Heitor já estava com ela no colo, a cabecinha deitada em seu ombro. Percebi os olhos dele avermelhados. Certamente havia chorado também.
- Acalme-se, meu amor! Papai promete que isso não vai acontecer novamente, ok? – Ele disse enquanto alisava os cabelos dela.
Suspirei e abracei-os, sentindo meu coração se partir:
- Espero que não seja nada grave.
- Não há de ser. Ela é forte, não é mesmo? – Ele olhou para Maria e respirou fundo, suspirando, nervoso.
- Vocês podem voltar para a recepção e aguardar lá. – Avisou a enfermeira – Assim que o resultado estiver pronto, chamamos vocês e estarão liberados.
- Obrigada. – Falei, enquanto me dirigia com o dedo entre a mãozinha dela, que o segurava, ainda no colo de Heitor.
A sala de espera era ampla e arejada. Os móveis todos brancos, inclusive as poltronas. Uma TV de tamanho grande estava ligada com desenho animado e bem colorido, que chamou imediatamente a atenção de Maria Lua, que parou de chorar.
Sentamos nas poltronas e Heitor me entregou ela, com os olhinhos vidrados na tela, já mais calma.
Olhei o braço gordinho com o adesivo e disse:
- Isso doeu mais em mim do que nela.
- Não, pode ter certeza de que doeu mais nela. Enquanto enfiavam a agulha ela olhava para mim. E se achar que fui conivente? Porra, vou ficar em maus lençóis... E cair no conceito dela.
- Ela deve saber que foi para o bem... Que jamais a faríamos sofrer. Maria sabe o quanto a amamos, não é mesmo? – Falei enquanto ela olhava na nossa direção e abria um sorriso, com dois dentes salientes na parte de baixo da gengiva.
Como num pesadelo, vi Anya e Breno entrando na sala de espera. Fiquei imóvel, sentindo o coração acelerar. Pisquei os olhos repetidas vezes, na esperança de estar imaginando coisas. Mas não, realmente estavam ali.
Os dois sentaram-se na nossa frente. A porta de vidro da sala estava fechada e o local era privativo, então não havia mais ninguém ali além de nós.
Heitor olhou-os, certamente sem saber quem eram. Anya seguia com seu rabo de cavalo mal feito com os fios cor de fogo caindo quebradiços pelos ombros. Breno, por sua vez, embora melhor arrumado, estava com o pescoço ornamentado de correntes chamativas, parecendo ouro.
- Olá, Babi! Você é difícil de ser encontrada. – Anya falou, sorrindo debochadamente.
Heitor olhou na minha direção e certamente percebeu quem eles eram.
- O que vocês querem? – Ele perguntou, pegando o celular.
- É melhor largar este celular, senhor Casanova. – Breno disse – Viemos em paz, só para conversar. O ideal seria que este papo fosse na sua casa, ou quem sabe na empresa... Mas certamente não nos receberiam, não é mesmo? Por isso tivemos que esperar um bom tempo para nos encontramos todos e jogarmos um jogo... Limpo.
- Vocês não jogam limpo. – Eu falei.
- E você joga, Babi? – Anya questionou.
- Mais do que vocês.
- Sem rodeio, Babi. Não faremos nenhum mal a vocês. Mas queremos deixar algumas coisas bem claras. – Breno foi enfático.
- Ela é... A cara de Salma – Anya sorriu para Maria Lua, batendo palmas, fazendo-a imitá-la na mesma hora – Mas tem os olhos dele – Olhou diretamente par Heitor – Parecem pai e filha.
Deus, o que ela estava tentando dizer? Teria lido os diários?
- O que vocês querem, afinal? – Heitor foi direto.
- Daniel nos contou que Sebastian Perrone não é o pai da nossa neta. Então... Ela nos pertence, por direito. – Anya disse sem rodeios.
Senti meu coração se quebrar em mil pedaços e o medo tomar conta de mim. Não poderia deixá-los levarem a minha filha. Eu seria capaz de matá-los antes de entregá-la a eles.
Heitor pegou minha mão firmemente e disse:
- Ela não pertence a vocês. Ela é nossa... É minha filha. E posso fazer um DNA se vocês assim preferirem.
Olhei na direção dele, sabendo que estava blefando, mas entendendo onde queria chegar.
Breno escorou-se no encosto da poltrona confortável, esticando as pernas e rindo debochadamente:
- Não, Casanova. Você não é o pai da menina. Mas nós sabemos quem é.
Heitor ficou calado, talvez sem saber o que dizer naquele momento. Eu não acreditei no que ouvi. Como eles sabiam? Os diários não diziam... Salma acreditava que Heitor era o pai de Maria Lua. Ela não mencionou a hipótese de ser outra pessoa.
- Quanto vocês querem? – Heitor foi direto.
- Que bom que você sabe que ela tem um preço – Breno falou – Vamos discutir isso civilizadamente, de homem para homem.
- Você não é um homem... É um animal, um abusador de meninas inocentes, um verme que sobrevive de chantagem. Eu vou pagar o que vocês quiserem, mas tenham certeza de que vou transformar a vida de vocês num inferno depois disso.
- Então não devemos pedir dinheiro, Breno – Anya olhou para o marido – Creio que o melhor a fazer seja entregar a menina ao pai... Ou dizer que não sabemos quem ele é e ficarmos com a guarda. Já falamos com uma advogada e temos maiores chances de ganharmos a menina do que vocês.
- Nem vocês sabem quem é o pai. Estão jogando... – Heitor falou.
- Nós sabemos. Mas não vamos contar. A questão é que ele não quer a menina. Então resta a nós, avós, ficarmos com o fardo. Mas como somos bonzinhos, podemos dividir o fardo com vocês. Porque fraldas, comida e roupas para uma criança desta idade é muito caro. Olha o quanto ela cresceu.
- Façam o preço e eu pago. – Heitor disse firmemente.
Os dois se entreolharam e sorriram satisfeitos.