Capítulo 131
2629palavras
2023-02-07 09:43
Creio que não tenha durado muito tempo aquela perseguição, mas pareceu uma eternidade. E não lembro de ter sentido tanto medo na vida, nem mesmo quando procurava por Jardel, batendo de frente com traficantes e prostitutas.
Anon realmente era um ótimo motorista. E além de dirigir com habilidade, não deixando que o carro se aproximasse de nós, ainda atirou na direção dele.
Heitor seguiu sobre mim, abraçando-me como se pudesse me proteger. Na verdade, ele estava me protegendo... Com seu próprio corpo.

Fui uma mulher que viveu praticamente uma década abrindo mão de mim mesma e pensando nos outros: Jardel, a mãe dele, os irmãos... E não tinha espaço para pensar no que “eu” queria. Ou coragem para jogar tudo para o alto e ser eu mesma. Protegi quem nunca mereceu... E jamais alguém pensou em mim.
Saber que Heitor Casanova abria mão da própria vida em nome da minha era algo que não cabia dentro de mim. Eu merecia aquilo? Se ele levasse um tiro por minha causa, eu não seria capaz de sobreviver... Nem com a culpa, nem sem a presença dele na minha vida.
Cinco minutos e Anon parou de correr feito louco. Senti o carro diminuir a velocidade e suavizar nas curvas:
- Chegou reforço – disse Anon – Segurança privada, senhor. Estamos todos fora de perigo a partir de agora.
Heitor saiu de cima de mim e ajudou-me a levantar, sentando novamente ao seu lado. Olhou nos meus olhos e perguntou:
- Você está bem?

Assenti com a cabeça, incapaz de dizer qualquer palavra. E não tenho certeza se era pelo medo ou pela demonstração de amor e proteção que ele havia me dado naqueles minutos atrás.
- Ben, pode levantar. – Anon disse.
- Nem pensar – Ben falou, com a voz fraca.
Não o vi no banco. E acho que o único lugar que ele poderia estar naquele momento era sentado no chão.

Meu coração parecia querer saltar para fora do peito. Peguei a mão de Heitor e apertei-a, sentindo-a trêmula.
- Não pare até chegarmos dentro do prédio, Anon. Só lá estaremos em segurança. – Ele ordenou com firmeza, mesmo eu sabendo o quanto estava nervoso naquele momento.
- Sim, senhor.
O trajeto da Babilônia até a casa de Heitor era curto. E nem dava para entender como tudo aquilo aconteceu em tão pouco tempo.
Assim que a Mercedes parou no estacionamento privativo do prédio onde residia Heitor Casanova, os demais carros que nos acompanhavam também estacionaram e todos desembarcamos ao mesmo tempo.
Não contei, mas creio que tinha mais de dez seguranças, todos vestidos iguais, de ternos pretos e armados fortemente. Achei que Anon iria até eles, mas primeiro abriu a porta do carona e retirou Ben do carro, apavorado.
- Está tudo bem agora, Ben – garantiu – Estamos seguros aqui.
- Caralho, eu estou tremendo feito uma vara verde. – Ben confessou.
- Vão os dois para casa, imediatamente. – Heitor ordenou para mim e Ben.
Peguei a mão de Ben e fomos para o elevador rapidamente. Antes da porta se fechar, pude ver Anon e Heitor indo em direção aos homens que os esperavam.
- O que foi isso, amiga? – Ben perguntou.
- Eu... Não faço ideia. Mas tive muito, muito medo.
- Parece coisa de filme... Foi muito louco. Acho que vou ter um ataque cardíaco de tão forte que meu coração está batendo.
- Acha que pode ter sido... Algo relacionado com a bebê?
- Anya e Breno? – Perguntou.
- Sim.
- Não teriam cacife para isso.
- E... Será que Heitor tem algum desafeto? Cindy recalcada, por exemplo?
- Não sei... Só ele deve saber. Mas Cindy não teria tempo hábil para planejar isso tudo.
Abrimos a porta e entramos no apartamento. As luzes acenderam automaticamente.
- Eu... Queria muito conversar – falei para Ben – Mas no momento só quero tomar um banho e descansar.
- Temos tempo para conversar depois, Babi. Eu só quero tomar um banho, tentar dormir e acordar amanhã e você dizer que foi um pesadelo. Odeio armas e violência.
- Sim... Por isso se envolveu com Anon – ironizei – Ele sempre está armado e eu vi o que ele fez com Daniel. Ele é bem violento, se quer saber.
- Se mandado, sim. É pago para isso. Senão ele é um fofo... Gentil, educado, sensível, carinhoso...
Sorri e abracei Ben:
- Jamais imaginei você e Anon um casal... Mas quer saber? Estou feliz. Sempre gostei de Anon, desde que ele me jogou para fora da Babilônia viramos melhores amigos.
- Melhores amigos? Não, Babi, só eu sou seu melhor amigo. Porque Salma se foi, então restou nós dois. Não há espaço para uma terceira pessoa... Ninguém assumirá o lugar dela.
- Eu sei, Ben. Foi só um modo de falar.
Subimos juntos as escadas e mesmo sem falarmos o nosso destino, nos dirigimos ao mesmo lugar: o quarto de Maria Lua. Sorrimos, nos olhando, quando percebemos que nossa prioridade era a mesma.
Abri a porta e fomos diretamente ao berço. Ela dormia como um anjo, a boca fazendo um biquinho, viradinha de lado, os braços para fora da coberta. Cobri-a e coloquei o dedo nas narinas, para me certificar de que ela estava respirando.
- Por que sempre faz isso? – Ben cochichou.
- Não sei... – sorri – Mas acho que sempre vou fazer. – Respondi no mesmo tom de voz.
Aumentei o volume da babá eletrônica e saímos do quarto. Dei um beijo em Ben e lhe desejei boa noite. Depois fui para o quarto de Heitor. Liguei a hidromassagem e retirei minha roupa, entrando antes mesmo de a água cobrir o fundo.
Assim que a água chegou ao nível máximo, parou de encher e ficou somente os jatos de água morna circulando, relaxando meu corpo. Deitei a cabeça na almofada confortável em couro e fechei os olhos, tentando me tranquilizar e esquecer o que tinha acontecido.
Passou mais de meia hora até Heitor chegar. Olhei-o e percebi seu semblante preocupado.
- Vem comigo! – Falei, na certeza de que faria qualquer coisa para tranquilizá-lo e deixá-lo relaxado.
Ele retirou a camisa, desafivelou a cinta e retirou a calça, ficando nu. Em seguida, entrou na água morna. Sentei atrás dele, trazendo seu corpo para junto do meu. Heitor deitou a cabeça em meu peito e enrosquei as pernas nele, enquanto alisava seu peito sob a água.
- Eu... Sinto muito. – Ele disse.
- Sente muito o que, Heitor?
- Por ter colocado você em risco.
- Já sabe quem fez isto?
- Não.
- Então não há como ter certeza se foi algum desafeto seu... Ou meu.
- Qual seria seu desafeto? – Perguntou, sem olhar na minha direção.
- Pensei em... Os avós de Maria Lua... Ou mesmo... Daniel ou Cindy.
- Daniel não teria ressuscitado.
- Tem certeza de que ele morreu?
- Anon disse tê-lo deixado desmaiado, completamente quebrado, num matagal, longe de tudo. Eu duvido que ele tenha conseguido sair de lá.
- Algum dia você já sofreu algum tipo de atentado?
- Não. É a primeira vez.
- Eu não tenho certeza, Heitor, mas creio que isso tudo que aconteceu não foi planejado para você. Tem a ver com a nossa menina.
- Que porra... Eles procuraram nas câmeras, mas por enquanto nada concreto. O carro saiu do nada. Não estava estacionado onde as câmeras da Babilônia poderiam captar.
- E se procurarem nas câmeras das ruas próximas?
- Claro que faremos isso. Mas vai levar um tempo. Tinha duas pessoas dentro do automóvel.
- Placas?
- Sem visibilidade... Certamente alteradas.
- Nenhum dos carros conseguiu segui-los?
- Não... Quando chegaram já tinha sumido. Mas há marcas de balas na Mercedes.
- Meu Deus... Uma bala poderia ter nos acertado.
- Pouco provável. O carro é blindado. Mas nunca passei por isso, então não sabia exatamente qual o risco.
- Você se jogou sobre mim, para me proteger.
Heitor virou-se na minha direção, fazendo a água balançar e escorrer pela banheira, molhando o chão:
- Quando é que você vai acreditar que eu sou capaz de qualquer coisa por você?
- Eu acredito em você! – encarei-o – Obrigada... Por me amar.
- Não deve me agradecer por amá-la, Bárbara – ele passou o dedo pelos meus lábios – Você é o ar que eu respiro, a minha vida.
- Não importa quanto tempo eu viva, jamais será o suficiente para poder agradecer a Deus por ter colocado você na minha vida, desclassificado. Nunca imaginei sentir por alguém o que sinto por você.
Heitor recostou-se na outra extremidade da banheira, me puxando para seu colo, de frente. Cruzei as pernas no quadril dele e enlacei os braços ao redor do seu pescoço, tomando seus lábios num beijo onde a minha língua entrou na sua boca, com sentimento de posse, de fúria, de paixão, exigindo dele a mesma intensidade. Senti o membro enrijecido e me movi na sua direção, deixando cada centímetro me preencher, ouvindo um gemido dele, abafado pela minha boca.
A ideia não era fazer sexo. Estávamos nervosos e assustados. Mas ficar nua com ele e não o ter dentro de mim era praticamente impossível. Meu corpo não permitia aquilo, porque o desejava intensamente.
As mãos de Heitor alcançaram minha bunda, que ele apertou com força, enquanto eu me movimentava sobre seu pau, a água da banheira jorrando pelo chão, o desejo sendo sentido em cada centímetro do meu ser.
Arqueei o corpo para trás, ainda com as mãos na nuca dele, que alcançou com seus lábios meu seio enrijecido, chupando docemente. Gemi, passando as unhas nos seus ombros, arranhando levemente.
A boca dele começou a ficar mais exigente e senti uma leve dor enquanto ele me chupava. Os dedos entraram na minha pele sensível da bunda e pressenti que eu gozaria a qualquer momento. Quando ele me puxou com força, entrando ainda mais, sem deixar meu seio, deitei a cabeça até submergir a metade na água, gozando enquanto meus olhos se fechavam e uma explosão de luzes me guiavam para o paraíso.
Heitor levantou e segui sentada. Pegou seu pau, a ponto de explodir, e começou a bater no meu rosto, em seguida jorrando seu esperma quente sobre ele. Seus gemidos faziam eu ficar completamente insana. Espalhei com as mãos seu gozo pelo meu rosto antes de mergulhar na água morna, sentindo o corpo como se tivesse um timer de bomba prestes a explodir.
- Você planejou isso, desclassificada? – Ele perguntou.
- Não... Juro que não. Só queria que você relaxasse, meu amor.
- Relaxei... E gozei. Você está me deixando completamente louco.
- Não quero que enjoe de mim... Nunca.
- Isso jamais vai acontecer. – Ele garantiu.
Fomos para o chuveiro juntos e mesmo não planejando de novo, transamos mais uma vez antes de irmos para a cama, deitando completamente nus.
Os braços dele me envolveram ternamente e ele disse:
- Mandei blindar o Maserati.
Levantei o rosto e o olhei:
- Acha necessário?
- Não quero que você e Maria Lua saiam daqui até sabermos mais sobre o que houve realmente.
- Tudo bem.
- A segurança de vocês duas é prioridade.
- E... Você?
- Eu preciso seguir com minhas atividades. Não posso deixar a North B. e preciso ficar um tempo com Ben na Babilônia, já que ele não sabe nada sobre aquele lugar. Não vou dar a ele a parte de administração financeira... Só social. Quero que ele organize os shows, eventos, convites, marketing.
- E a parte financeira e administrativa?
- Vou fazer de casa.
- Agora que Cindy não está mais no rol de funcionários... Eu não me importo que vá até lá. Não quero tirar de você o que mais gosta, que é estar na sua boate.
- Desde que você e Maria apareceram na minha vida, nada é mais importante do que estar com vocês. Sinceramente, nunca achei que alguma coisa fosse ser mais importante para mim do que Babilônia. No entanto, vocês duas chegaram para me provar que são para mim.
- Heitor, acho que somos uma família!
- Uma família um pouco diferente... – ele sorriu – Mas quem disse que com Bárbara Novaes algo seria normal?
- Não existe normal, desclassificado. – Toquei a ponta do nariz dele, como fazia com Maria Lua.
Ele virou-se para o lado oposto e surpreendentemente pegou minha mão, prendendo na cabeceira da cama com a algema, já familiar. Olhei para trás e falei:
- Amor, juro que quero muito transar novamente, mas não sei se consigo. Precisamos dormir. Maria Lua acorda cedo...
Ele não disse nada. Me encarou um tempo e depois virou-se novamente para o lado, pegando algo na gaveta. Percebi o anel entrando no meu dedo anelar, com a pedra brilhante enorme em forma de solitário, cravejada com minúsculas pedrinhas ao redor do aro. Brilhava tanto que chegava a ofuscar a visão. Meu coração começou a intensificar as batidas e eu não consegui pronunciar as palavras que queria, pois morriam na minha garganta.
- As algemas é para evitar que diga não e fuja...
Fiquei um tempo ainda a observar, até que o encarei e consegui dizer:
- Eu jamais fugiria do que mais desejo no mundo: você.
- Você será minha esposa, Bárbara Novaes Casanova.
- Eu serei. Mas agora... Poderia me desprender para eu poder apreciar o meu anel?
Ele riu e pegou a pequena chave, abrindo as algemas. Coloquei o dedo na frente dos meus olhos:
- Eu nunca vi algo brilhar tanto na vida. – Observei.
- Escolhi o que tinha de mais caro na loja...
- Eu não quero ser responsável pela sua falência, CEO. – Sorri.
- É a responsável pela minha mudança, o meu amadurecimento e todo amor que existe dentro de mim.
- Serei a melhor esposa que você poderia ter, eu juro. Eu... Talvez não possa lhe dar filhos biológicos, como sei que pensou em ter nos últimos tempos. Ainda assim...
Ele colocou o dedo sobre meus lábios:
- Você já me deu a nossa filha. Eu não quero nada mais. Só pensei em ter filhos biológicos por serem “nossos”... Meus e seus. Quando fiz a vasectomia, nunca havia passado pela minha cabeça esta hipótese... Mas então apareceu você... E mudou tudo.
- Eu amo você, Heitor. – O apertei entre meus braços.
Acordamos na manhã seguinte abraçados. Eu não me importava mais se amanheceria na cama dele ou não. E não foi pelo anel. Eu já estava decidida antes disso de que não ocuparia mais outro lugar naquela casa a não ser ao lado dele.
Estávamos reunidos à mesa, durante o café da manhã, contando para Nicolete o que havia acontecido quando a campainha tocou. A empregada atendeu e Allan entrou, conduzido por Anon 2.
- Desde quando se toma café da manhã nesta casa? – ele perguntou, indo até Maria Lua e retirando-a do carrinho, sendo recebido com um gritinho seguido de um belo sorriso com um dente exposto – Deixá-la sozinha num carrinho é um crime. Vou processar seu pai – olhou para o próprio filho – Ops, desculpe por dizer “pai”.
- Tudo bem, Casavelha... Digo, desculpe... Allan, pode chamá-lo de pai. Ele já aceitou. – Ben falou.
- Se me chamar de Casavelha de novo, vai sentir como é andar numa cadeira de rodas. – Allan olhou na direção dele.
- Desculpe... Mil vezes. – Ben pediu, preocupado.
A campainha tocou novamente. Nos olhamos, surpresos. Observei no relógio que era oito horas da manhã, num sábado, e estávamos recebendo visita novamente?
E lá estava Sebastian.
- Bom dia! – ele olhou para mim – Temos um problema.
- Que problema? – Perguntei imediatamente.
- Anya e Breno me procuraram.