Capítulo 130
2312palavras
2023-02-07 09:43
Cindy veio na minha direção, preparada para me agredir. Mas Heitor foi rápido e me retirou de seu colo, colocando-me atrás dele, com seu corpo na frente do meu, para proteger-me.
- Sua vadia ridícula. – Ela gritou.
Heitor pegou os pulsos dela e disse, entredentes:

- Desculpe-se agora pelo que disse.
- Eu? Nem morta.
- Agora! – ele gritou – Ela é minha mulher e ninguém vai tratá-la deste jeito, entendeu? Muito menos dentro da “minha” Babilônia.
- Você mesmo já a tratou pior, Thor. – Ela debochou.
- Eu não a conhecia. Peça perdão, ou vou acabar com sua fama e fortuna. E não estou blefando, Cindy.
Ela o encarou e ficou séria. Talvez tenha se amedrontado de ele realmente cumprir a promessa.

- Desculpe – ela me olhou – Por tê-la chamado de vadia e ridícula.
Virei o rosto na direção dela:
- Me desculpe por ter colocado o laxante no seu drinque.
- De verdade... Desculpe – ela encarou-me – Porque a chamei de vadia ridícula, mas pensei inúmeras outras coisas, como vagabunda de quinta, prostituta de motel barato, alpinista social...

- Desculpo, do fundo do meu coração. Porque eu também poderia só ter colocado laxante no seu copo, mas também cuspi duas vezes... E mandei Heitor retirar o seu belo poste do quarto dele, colocando no lugar uma poltrona enorme, onde eu sento de pernas abertas para ele me...
Heitor virou-se e colocou a mão na minha boca:
- Você não precisa descer ao nível dela, Bárbara.
- Eu sei... Me desculpe, Heitor – beijei seus dedos, antes de retirá-los da minha boca, onde ele tentava conter minhas palavras – De verdade. Vá... Assine o que precisa. Vou me trocar e espero você aqui.
- Não saia em hipótese alguma, ok? Volto em dez minutos, no máximo.
- Estarei aqui... Afinal, eu ainda nem gozei. – Sorri.
- Safada... – Ele balançou a cabeça e saiu, com uma Cindy, que me lançou um último olhar maquiavélico e raivoso e o seguiu, completamente aturdida.
Não me importei de ele ir com a camisa completamente aberta, o peito aparecendo. Eu já não tinha mais dúvidas dos sentimentos dele, tampouco de sua fidelidade no nosso relacionamento.
Desci até um dos camarins e coloquei meu vestido de volta. Saber que Cindy Connor deixaria a Babilônia me fez respirar aliviada. Heitor me amava e agora havia provado isso de uma vez. Porque tudo que eu pedi, desde sempre, foi ela fora. Eu sabia que enquanto ela estivesse entre nós, teríamos problemas.
De nossos tantos problemas, pelo menos um estava resolvido agora.
Esperei por Heitor sentada em sua cadeira, no escritório, enquanto remexia na papelada sobre a mesa, dentre contratos de funcionários e informes de rendimentos.
Ele abriu a porta e me encarou:
- Vejo uma nova CEO?
Levantei imediatamente:
- Não! Vê só uma mulher curiosa... Demais. – Fui na sua direção e passei os braços sobre seus ombros, enlaçando-o pelo pescoço.
- Quero fodê-la agora... Na minha mesa.
- Jura? – debochei – Pode ser em casa? Estamos aqui há um bom tempo. É a primeira vez que deixo Maria Lua sozinha. A última vez que fiz isso foi quando... Encontrei as duas vagabas no seu apartamento. Preciso me acostumar a ficar longe dela ainda. No momento estou morrendo de saudades do nosso raio de sol.
- Ok... Também estou aqui há muito tempo. E poderia dizer que não tenho pressa de voltar, porque você está aqui comigo. Mas já não é de hoje que o voltar para casa não é só por você... Mas por ela também. – Confessou.
- Ela é a coisa mais perfeita do mundo, não acha?
- Acho – ele deu um beijo no meu pescoço – E é nossa... Totalmente nossa a desclassificadinha.
- Ah, não diga isso!
- Acho que já faz um tempo que este “desclassificado” não tem mais o mesmo sentido, não é mesmo?
- Sim... – sorri.
- Agora vamos. A Babilônia já fechou e estamos somente nós aqui.
- Vamos... E em casa prometo compensá-lo. Pode ser na mesa, se quiser.
- Da cozinha? – Ele arqueou a sobrancelha, divertidamente. – Ou prefere na de jantar?
- O que acha de comprarmos uma mesa inquebrável de vidro, como aquela do seu escritório da North B?
- E colocarmos aonde?
- Qualquer lugar... Secreto e seguro.
Seguimos pelo corredor, de mãos dadas, conversando sem parar. Assim que abrimos a porta que dava para o interior da Babilônia, ficamos imóveis a observar Anon e Ben num beijo de tirar o fôlego. Passei o dedo nos olhos, apertando-os, para ter certeza se realmente eu estava vendo Anon com as mãos na bunda de Ben.
Heitor pigarreou e os dois se largaram imediatamente, completamente envergonhados. Ben estava com as bochechas rosadas e Anon parecia com falta de ar.
- Eu... Eu... – Ben tentou encontrar algo para dizer.
- Pelo menos não dê um tapa na cara do meu segurança ou uma joelhada no meio das pernas, fingindo que não querida. – Debochou Heitor.
- Senhor Casanova, com mil perdões... – Anon falou, ofegante.
- O fato de não haver mais ninguém aqui me deixa mais tranquilo – Heitor disse – Significa que trabalharam bem e deixaram o prazer para depois da tarefa que eu havia lhes dado.
Fui até Anon e olhei para cima, encarando-o:
- “Mil perdões”... Eu ouvi você dizer isso. Por que está pedindo perdão, Anon?
- Por... Por... Estar fazendo isso... Em horário de trabalho?
- Espero que seja isso mesmo. Porque vou ser bem sincera com você. Se fizer meu amigo sofrer, perde não só a minha amizade, mas o trabalho também. E posso apostar que nunca mais encontrará emprego aqui em Noriah Norte, entendeu?
- Ah, eu não preciso disso, Babi. Que vergonha! – Ben colocou as mãos na frente do rosto.
- Devo... Pedi-lo em casamento imediatamente, senhora Bongiove?
- Para o seu bem, sim. Agora a verdade: é casado?
- Não. – Ele enrugou a testa.
- É homossexual?
- Bissexual, na verdade.
- Por que nunca me disse?
- Porque a senhora nunca me perguntou.
- Não perguntei porque este não é o tipo de pergunta que se faz assim, de forma tão direta.
- Mas... A senhora está fazendo neste momento.
- Ah, caralho, faz algo, Thorzinho. – Ben implorou. – Ela está acabando comigo.
Heitor cruzou os braços e sorriu, levantando os ombros:
- Esta é a minha mulher!
Ben me puxou, afastando-me de Anon.
- Nós estamos nos conhecendo, Babi. – Explicou.
- Conhecendo... Agora ou há mais tempo?
- Mais tempo. – Anon explicou.
Olhei na direção dele e depois para Ben:
- Eu sabia que tinha alguém... Tinha certeza.
- Eu... Fiquei um pouco constrangido de contar. Thorzinho poderia não curtir muito... Afinal, é o segurança dele.
- “Eu” não curtir? Ele é só o meu segurança. Nunca nutri um amor platônico por ele.
- Fico feliz com esta parte – Ben suspirou – Tenho permissão, então? – Olhou para Thor.
- Permissão? Você não é Maria Lua para eu lhe dar permissão, Ben. Vai fundo... Ou melhor... Que ele vá. – Sorriu, ironicamente.
Ben olhou para Anon:
- Estou fodido, Anonzinho.
- Ainda não, Ben. – Anon disse, debochado.
- Ah, porra, eu não tenho tempo para vocês dois – Heitor disse, pegando minha mão – Vamos, os dois, agora.
Seguimos por um corredor que eu não conhecia e Ben e Heitor foram atrás de nós. Saímos numa enorme garagem, onde estava o carro que eu e Ben viemos e o Maserati.
- E agora? Vamos em qual deles? – Perguntei.
- Acho mais seguro no Mercedes, senhor. – Falou Anon.
- Ok, vamos todos no Mercedes. – Heitor concordou.
Entramos no carro e Ben sentou na frente.
- Já estão tão íntimos assim? – Perguntei.
- Está com ciúmes, meu amor? – Heitor puxou-me para perto dele.
- Eu... Eu...
- Diga, Babi. – Ben virou para trás, me encarando.
- Claro que estou com ciúmes, porra. Eu amo Ben... Muito. Ele é importante para mim. E sei o quanto ele merece alguém legal e que o faça feliz. Só nós dois sabemos o quanto ele sofreu e não quero isso de novo. Porque ele só merece coisas boas.
- Eu não vou fazê-lo sofrer, senhora Bongiove. – Anon falou, olhando-me pelo retrovisor.
- Não mesmo. Anonzinho é um gentleman. – Ben sorriu na direção dele.
- Anonzinho... – Heitor riu – Poderia dar a partida e nos levar para casa, por favor? E já vou avisando, não quero você dormindo no meu apartamento. Não vamos misturar negócios e prazer.
- Falou o homem que nunca fez isso. – Ben olhou-o.
- Eu... – Heitor ficou sem palavras.
- Só quis dizer... Não se preocupe, Thor. – Ben começou a rir.
- Aliás, Ben, Cindy está indo embora. Ela ainda não vendeu o apartamento dela no prédio. Por que você não compra?
Ben gargalhou, não conseguindo parar.
- Não entendo o que falei de tão engraçado. – Heitor ficou confuso.
- Thorzinho... Nunca ouvi uma piada tão engraçada. Eu? Comprando um apartamento naquele prédio? Acha que eu sou um CEO ou algo do tipo? Até pouco tempo atrás eu era comentarista de moda de uma revista falida, que ninguém lia. Contava as moedas para pagar a parte de Babi no aluguel. Nem trabalhando a vida inteira eu conseguiria pagar aquilo.
- Mas agora você pode, afinal, vai gerenciar a Babilônia.
Um silêncio pairou entre nós.
- Vou? – Ben olhou na direção dele, enquanto cruzei com os olhos de Anon no retrovisor, que se desconcentrava rapidamente do trânsito.
- Eu disse que você deveria esvaziar a Babilônia e não deixar ninguém levar os celulares. Você esvaziou... E os celulares? O que fez?
- Ofertei por cada aparelho um de última geração, na mesma proporção do que a pessoa tinha. Ainda dei de brinde um mês de entrada grátis, com bebida liberada.
- Porra, eu vou mesmo falir – Heitor olhou na minha direção – Mas prefiro ficar pobre a alguém olhar a sua bunda, Bárbara.
- Minha bunda nem vale tanto assim. – Arqueei a sobrancelha.
- Ah, vale... Pra mim vale muito, desclassificada.
- Porque você não sabe o que é ser pobre... E subir quatro andares de escada – Comecei a rir – Se falir, é o que vai lhe restar: o nosso apê, no prédio sem elevador.
- Subo... Desde que sua bunda continue sendo só minha... Suas fotos se disseminariam em segundos, por todo o mundo.
- Não acha que está exagerando um pouco, Thorzinho? Foi tudo tão rápido. Não sei se Babi ficou cinco minutos lá em cima.
- Ela é minha e de ninguém mais.
- Isso é autoritarismo, egocentrismo e egoísmo. Teria também uma pitada de machismo? – Ben falou.
- Eu gosto – confessei, puxando a gravata de Heitor, trazendo-o na minha direção, enquanto dava um beijo em seus lábios.
- Sua camisa está rasgada? – Ben olhou para Heitor.
- Só agora que você viu o que sua amiga fez comigo? – Heitor riu.
- Não quero nem imaginar o que ela fez. Mas voltando ao assunto principal... Eu vou mesmo gerenciar a Babilônia?
- Alguém recusou a sua oferta de deixar o aparelho celular? – Heitor olhou seriamente para Ben.
- Cheguei a conclusão que ninguém que frequenta a Babilônia é burro. Tive um probleminha só... Um único ser insistente que não queria fazer a troca.
- E o que fez? – Perguntei.
- Anonzinho resolveu. – Ben sorriu para Anon.
- O que você fez, Anon?
- Mostrei minha arma debaixo do casaco. – Ele disse, orgulhoso.
- Então... Tivemos cem porcento de adesão. – Ben confirmou.
- Temos um novo gerente da Babilônia. A partir de agora.
Bati palmas, alegre, feliz. Eu sempre achei que Ben era a pessoa ideal para tocar a Babilônia.
- Vamos vir mais vezes, não é mesmo, Heitor? – perguntei – Gostei muito daquele corredor.
- E eu mais ainda. – Ele pegou minhas pernas, colocando-as para cima do seu colo, enquanto alisava a parte que desnuda pela fenda do vestido.
- Ainda assim, o apartamento sairia fora do meu orçamento. – Ben continuou, pensativo.
- Ah, Ben, deixa de chatice. Eu dou o apartamento para você. Se dei para Cindy, por que não daria pra você?
- Thorzinho, você gosta muito de dar coisas para as pessoas. Vai falir.
- Não vou... Nem em sonho – ele garantiu – Está tudo sob controle.
- Senhor Casanova, não querendo atrapalhar vocês, mas tem um carro nos seguindo desde que saímos da Babilônia – Anon falou – Isso não parece bom.
Heitor virou para trás e fiz o mesmo movimento.
- Não consigo ver nada dentro do carro – Heitor observou – Tem certeza, Anon?
- 99% que estamos sendo seguidos, senhor.
- Ah, meu Deus, vamos morrer. Que porra! Devo começar a gritar? – Ben falou, preocupado.
- Acalme-se, Ben – Anon tocou a perna dele – Ligue para o número que tenho registrado como SOS, por favor – entregou o próprio celular para Ben – É a empresa contratada de segurança privada.
Neste instante o carro que estava alguns metros atrás, aumentou a velocidade e tentou emparelhar ao lado de Anon, que acelerou, ficando claro que realmente estávamos sendo seguidos.
Senti meu coração bater mais forte e apertei a mão de Heitor, amedrontada. Ouvimos estouros ensurdecedores, que imaginei serem tiros.
Heitor se jogou sobre mim, fazendo-me deitar sobre o banco. Ben começou a gritar histericamente.
Senti o peso do corpo de Heitor sobre o meu, o coração dele batendo tão forte e o encarei, na penumbra, o carro iluminado somente pelas luzes dos postes, em alta velocidade:
- Amo você. – Foi a única coisa que consegui dizer.