Capítulo 124
2349palavras
2023-02-07 09:38
- Talvez... Um pouquinho. – Ele confessou.
Pensei que Heitor fosse me largar, mas não. Até que Sebastian e Milena subissem, ele permaneceu agarrado a mim, como que para mostrar a Sebastian que estávamos juntos. E sinceramente, não entendo muito bem o que se passava pela cabeça dele com relação àquilo.
Claro que poderíamos esperar em qualquer lugar. Mas fiquei à porta, o que fez com que Heitor acabasse fazendo o mesmo.
Pareceu uma eternidade até meu irmão chegar. Mas assim que a porta se abriu, me grudei a ele, recebendo um abraço paralelo de Milena.
Sebastian me afastou e olhou nos meus olhos:
- Está tudo bem?
Assenti, com a cabeça.
Ele olhou meu pescoço com as marcas da noite anterior e arregalou os olhos:
- Deus! O aquele desgraçado fez em você? – Tocou o local, enrubescendo de raiva.
- Poderia ter sido pior... Eu nem estar aqui agora, por exemplo. Mas... Heitor resolveu tudo e me salvou. – Olhei na direção de Heitor, tentando fazer com que já começasse certa simpatia entre os dois.
- Poderia não ter acontecido, caso Heitor não tivesse escorraçado você daqui sem ouvir a verdade antes. – Sebastian encarou o CEO.
- Você não pode falar sobre o que não sabe. É fácil apontar o dedo e julgar... Afinal, você só falsificou uma certidão de nascimento... E seu nome aparece como pai na outra.
- Eu nem sabia disso quando aconteceu. Ben colocou o meu nome lá. E só falsifiquei a outra porque Bárbara implorou. Tentei fazer para ajudar. Mas você? Ah, olhe para ela! Poderia ter morrido por culpa sua.
- Parou! – alterei a voz, furiosa – Olhem tudo que passei há poucas horas atrás. Uma discussão em nada ajudaria aqui. Precisamos sentar e pensar, só isso.
- Babi tem razão – Milena concordou – Hora de agirmos como adultos... E sentarmos para resolver e não apontar o dedo uns na cara dos outros para julgamentos. Sabem que isso não vai dar certo. Se voltarmos ao passado agora, nada do presente será resolvido e tampouco o futuro de Maria Lua.
- Eu entendo que sim, é preciso que vocês dois, ou talvez os três – olhei para Milena – Sentem e conversem sobre o que houve. Mas agora não é o momento. E vocês sabem disso.
Os dois se olharam, ainda ansiosos por uma discussão, mas não prosseguiram.
- Vamos sentar. – Convidou Heitor, andando na frente, em direção à sala.
Todos o acompanharam.
- Eu... Vou levar a pequena para o quarto – avisou Nicolete – Aproveito para já ir resolvendo algumas questões da decoração do quarto. Posso, Babi?
- Claro.
Assim que sentamos, meu telefone tocou.
- Ben?
- Oi, Babi. Eu cheguei aqui no apartamento. Está tudo uma bagunça... E estou completamente confuso. Onde você está com nosso raio de sol?
- Estou no apartamento de Heitor.
- Ok, estou tentando processar tudo. Mas preciso vê-la, minha amiga, tocá-la e ter certeza de que está tudo bem.
- Vou pedir para Anon buscá-lo... Traga as malas, por favor.
- As malas? Ok. Vou esperar aqui, tentando não surtar.
- E eu vou esperar aqui... Completamente louca para lhe dar um abraço. – Meus olhos ficaram marejados.
Ouvir Ben e saber que em breve ele estaria comigo novamente me fez ficar ansiosa e o coração se encher de alegria e amor.
Em pouco tempo, colocamos Sebastian e Milena a par de tudo que havia acontecido. A primeira pergunta de Sebastian, depois de ouvir tudo, foi:
- Mas você vai pelo menos fazer o DNA, não é mesmo?
- Sim. Está agendado para agora à tardinha – Heitor explicou – Mas não sou o pai de Maria Lua.
- E se for? – Sebastian o confrontou.
- Não sou. – Heitor repetiu, com certeza.
Demorando menos do que o previsto, Ben apareceu, com um Anon atrás, completamente atordoado, carregando suas malas. Imagino o quanto Ben deve ter conversado no caminho.
Sorri ao ver meu amigo novamente. O meu porto seguro esteve longe quando tudo aconteceu. E agora estava comigo. E o fato de vê-lo já me dava coragem para enfrentar qualquer coisa, porque sabia que, independente de como acontecesse tudo, ele não largaria a minha mão.
Corri até Ben e pulei no seu colo, recebendo um abraço tão forte quanto o que eu lhe dava. Ele beijou meu rosto repetidas vezes e disse, afastando o rosto do meu:
- Me desculpe... Eu não deveria ter ido.
- Não tem que se desculpar. Você fez o que era para ter feito e sabe disto.
- Eu tinha que estar com vocês duas.
- Não... Fez o certo e não se culpe. O que importa é que agora está aqui... E não vou deixá-lo se afastar, nunca mais. Só se for para casar. Daí eu permito. Tirando isso, onde eu for, você estará.
Ele me deu um beijo novamente e soltou-me, olhando para todos:
- Bom dia, boa tarde e boa noite, porque sinceramente, não tenho noção de que horas são. Mas a primeira coisa que preciso fazer neste momento e afofar a minha filha ou vou morrer de tanta saudade.
- Ela está lá em cima... Com Nic. Subindo as escadas, a última porta à direita.
Ele olhou para a escadaria e disse:
- Quem coloca uma escada de vidro?
- Um solteiro com vasectomia que até então só se importava com bom gosto e qualidade, sem imaginar que uma criança iria aparecer do nada e virar sua vida de cabeça para baixo? – Heitor arqueou a sobrancelha.
- Ah, já estou vendo um escorrega, em formato de tubo aqui ao lado. Imagina, gente, seria perfeito! – Ben foi andando em direção à escadaria.
Olhei para Heitor, que permaneceu sério, confuso, tentando provavelmente saber o que se passava na cabeça de duas mães desmiolas, cheias de ideias absurdas e ao mesmo tempo nada de grana para pôr em prática.
Ben subiu e quando chegou no topo, ainda continuou:
- Por Deus, é preciso providenciar uma proteção aqui imediatamente.
Heitor não disse nada, só retorceu o nariz, segurando as palavras. Eu sorri. Sim, eu Ben éramos alma gêmeas, separadas no nascimento.
Esperamos Ben voltar para continuar a conversa. Assim que ele chegou, o colocamos a par de tudo, com detalhes que até então ele não sabia.
- Eu li isso no diário... E lembro de ter dito a você, Babi: que havia tido muitos homens, antes de Heitor. Depois, pelo que ela deu a entender, foi só Daniel. – Ben falou.
- Eu não lembro disso, Ben. Mas sim, sabíamos que Salma tinha vários parceiros.
- Isso quer dizer... Que o pai de Maria Lua pode ser qualquer pessoa? Como vamos saber? – Heitor perguntou, confuso.
- Não tem como fazer DNA em tantas pessoas assim – Ben falou – A maioria dos nomes ela nem mencionava, não sei se por não saber ou por não haver importância alguma na vida dela. Mas sim, Salma tinha certeza de que era Heitor o pai. Mas certamente ela se enganou.
- Se antes ela transou com meio mundo sem preservativo e quando chegou na minha vez usou camisinha furada de propósito... Certamente não engravidaria de mim. Ela era louca ou o quê? – Heitor perguntou.
- Eu não diria louca... Talvez “burra” fosse a palavra certa. – Sebastian falou seriamente.
- Quem planeja o golpe da barriga de uma maneira tão fria e calculista? – Milena perguntou mais para si mesma do que procurando respostas, com o olhar ao longe.
- Salma foi tudo que vocês estão falando, ok. Mas não estamos aqui para julgá-la, gente. Vamos lembrar que estamos com Maria Lua e eu posso apostar que todos nós nos preocupamos com a bebê e queremos o bem dela mais do que qualquer coisa. Certamente com o exame de Heitor dando negativo para paternidade, não encontraremos o verdadeiro pai. É praticamente impossível. – Falei.
- Podemos tentar encontrar algumas imagens nas câmeras de segurança da Babilônia. – Heitor sugeriu.
- É possível? – Perguntei.
- Sim... Podemos encontrá-la e pelas datas ver se conhecemos alguém que a esteja acompanhando.
- Geralmente os lances dela não ocorriam ali. Talvez o que peguem sejam pessoas que ela somente conheceu ali e nada mais – Ben falou – A não ser que haja imagens da saída também... Tipo, se ela entrou no carro com a pessoa, o que subentende que possam ter ido a um Motel transar.
- Claro que há... Entrada, saída, em todos os lugares. Poucas vezes acionei as imagens, mas são muito claras e nítidas... Perfeitas, na verdade.
- Para que você usou? – Ben perguntou, com todos os olhares voltados para ele – Só por curiosidade. Me pego pensando porque um homem tão ocupado perderia tempo olhando câmeras de segurança da sua própria boate?
- Eu vi você... – Heitor apontou para Ben – Beijando-a – Apontou para mim – E não foi um beijo entre amigos.
- Eu na Babilônia? Só fui lá uma vez. – Justifiquei.
- E na única vez, bebeu três chopes e beijou ele na boca. – Olhou para Ben.
Milena deu uma gargalhada, atraindo a atenção.
- O que houve, meu bem? – Sebastian perguntou – O que achou tão engraçado?
- Heitor... Puxando imagens... Tentando encontrar Bárbara... E a ver, bem... Beijando Ben. Posso perguntar o que você sentiu?
- Eu? Nada, claro que nada. – Heitor ficou confuso.
- Quando você fez isso, Heitor? – Perguntei seriamente.
- Um dia depois... De você ter invadido meu andar. – Os olhos dele penetraram nos meus. – Dentro da Babilônia.
- Então... Você... Se interessou por mim na primeira vez que me viu? – Senti meu coração em chamas, querendo me trair, indo parar nas mãos dele.
- Não... Só queria ver... De onde você tinha saído.
- Da pista de dança, baby – Ben olhou para Heitor divertidamente. – Aliás, acho que aquele foi nosso último beijo de língua, Babi.
- Não foi de língua. – Comecei a rir.
- Nem será mais... Nem de língua, nem sem língua. – Heitor me puxou para perto dele, demarcando seu espaço.
Começamos a rir, mas ele pareceu não achar graça.
- Nunca achei que você fosse tão possessivo. – Milena observou.
- Nunca achei que alguém pudesse me fazer ficar tão vulnerável e descontrolado. – Ele me olhou, sorrindo com o canto dos lábios, daquele jeito que me deixava completamente derretida.
- Porra, espero que você tenha um arsenal de colherinhas nesta casa, Heitor Casanova, ou corre o risco de não encontrarmos Bárbara sólida por um bom tempo.
- Já entendo muito bem as porras das colheres – Heitor disse – Ainda assim, sem beijos na boca com minha mulher.
- Ok, chefe... Ou seria cunhado? Quem sabe amigo? Pai da minha filha? – Ben debochou.
- “Pai da minha filha”? Nem pensar nesta hipótese. – Desesperou-se.
- Eu vou entrar com pedido de adoção. – Falei seriamente, interrompendo as brincadeiras.
Todos me olharam atentamente.
- Não posso ficar empurrando esta situação. Quanto mais rápido resolver tudo, melhor.
- Vou acionar os meus advogados, Bárbara. Amanhã conversamos melhor com eles e vemos como proceder.
- E a questão das certidões? – Milena perguntou.
- A falsa eu consegui na Itália. Babi não chegou a usá-la. Então vamos jogá-la fora e ponto final, como se nunca tivesse existido. Ela é única e não há cópias. Ninguém além de nós saberá. – Disse Sebastian.
- E a outra? – Milena arqueou a sobrancelha.
- Anya e Breno acham que Sebastian é o pai. E se seguirmos um pouco com isso, para ganharmos tempo enquanto resolvermos a questão judicial? – Ben sugeriu.
- Chega de mentiras, Ben. Acho que ficou bem claro que isso não é a solução. Fomos longe demais fazendo porras para tudo que é lado. – Falei.
- Entrar na justiça e apresentar uma mentira? Isso não dará certo. – Heitor reiterou minha opinião.
- E se... Bem, se os avós quiserem a menina? – Milena indagou.
- Eles não querem Maria Lua. Eles querem dinheiro. – Expliquei.
- Mas no momento que souberem que Heitor não é o pai, nem Sebastian... Ainda assim quereriam a guarda? – Ela questionou.
- Não os conheço pessoalmente, mas confesso que quero muito – Ben disse – Sim, não querem a menina, só o dinheiro. Mas sabem que Babi daria qualquer coisa para ficar com Maria Lua. Então, de um jeito ou de outro, eles estão com a faca e o queijo na mão. Ameaçarão até conseguirem o que querem.
- Dinheiro não é o problema – Heitor falou calmamente – Tenho muito e lhes dou o que querem.
- E vai viver assim para sempre? Sustentando um bando de criminosos, golpistas, chantagistas e abusadores? – Sebastian perguntou – Entendo a situação de Babi e o seu desespero em ajudar, Heitor. Mas este tipo de gente não se contenta com nada... Isso não haverá fim. Vão querer mais e mais... Até você não aguentar mais.
- Ele tem razão. – Olhei para Heitor – Tudo que querem é dinheiro. Mas os pagaremos para sempre, com medo? Não há como...
- Nós vamos esperar – Heitor disse – Por enquanto, você lhes deu uma boa quantia. Por hora, vão desaparecer. Iniciaremos com o DNA. Amanhã, reunião com os advogados. E depois vemos como tudo vai se encaminhando.
- Acho boa a ideia – Sebastian disse – Não nos precipitarmos, como oferecer dinheiro antes que peçam. Sequer sabemos onde estão. Você está segura aqui, Babi. Então por um bom tempo eles não encontrarão você. Eu e Milena estaremos no prédio e certamente saberemos se aparecerem por lá. E eles não sabem quem somos, mas nós sabemos quem eles são.
- No prédio sem elevador. – Heitor debochou, rindo.
- Por pouco tempo. – Sebastian revidou.
- Vai mandar colocarem um elevador que funciona?
- Não, vou me mudar. Estamos pensando em vir para este prédio, não é mesmo, amor? – Olhou para Milena.
- Você está louco? – Heitor levantou.