Capítulo 123
2194palavras
2023-02-07 09:38
Heitor abriu a porta colocando o polegar no sensor, dizendo:
- Ainda hoje mandarei a equipe de segurança vir fazer a inserção da sua digital no sistema do apartamento.
- Jura? Vou botar meu dedo e as portas abrirão automaticamente, assim como você faz? – Empolguei-me.

- Sim – Ele sorriu divertidamente, enquanto Anon entrava com as malas.
Parei na entrada do apartamento, gigantesco, luxuoso, o sonho de consumo de qualquer pessoa normal. Mas um péssimo lugar para criar uma criança, pelos muitos perigos de acidentes domésticos que oferecia.
Nicolete veio na minha direção, com um sorriso acolhedor. Deu-me um beijo no rosto e olhou Maria Lua, com os olhinhos verdes esmeralda abertos, atenta à tudo à sua volta.
- Eu não acredito que esta princesa voltou – ela parecia feliz – Elas... Vão ficar? – Perguntou para Heitor.
- Sim... Para... Sempre? – Ele me olhou, usando o “sempre” como pergunta.
- “Sempre” é uma palavra estranha – me ouvi falando – Embora depois que o conheci, ela passou a ter um significado diferente. Mas... – olhei para Nicolete e mostrei meus dedos – Ficar “para sempre” requer algo reluzente neste dedo – estiquei o anelar, debochadamente – Mereço, afinal, já venho com um brinde valiosíssimo. – Toquei o nariz de Maria Lua, que sorriu, derretendo meu coração.

Eu não sei se alguma vez na vida eu não me derreteria com o sorriso sem dentes daquela criaturinha que era dona de todo o meu coração, meu corpo e minha alma.
- Eu... Posso pegá-la? – Nicolete pediu, ansiosa, os braços já abertos na minha direção.
- Ela precisa mamar.
- Eu posso fazer a mamadeira.

- Mas... Tem a quantidade de leite... De água...
- Bárbara, eu posso aprender. Eu só quero ajudar. Não vou tomá-la de você, não se preocupe.
Heitor tocou meu ombro e falou:
- Nicolete é como se fosse a minha mãe, Bárbara. Ela vai tratar você e a menina com todo carinho, cuidado e dedicação.
- Não a chame de “menina”, Heitor. Pelo menos o nome dela você pode dizer: Maria Lua. – Critiquei.
- Eu... Vou tentar. Mas entenda, tudo é novo para mim também. Jamais imaginei uma criança no meu apartamento.
Entreguei Maria Lua para Nicolete, que a aconchegou ao seu peito, enquanto a menina reclamou.
- Ela já gosta de ficar mais em pé quando acorda. Acho que não se acha mais um bebê.
- Estou para dizer que nunca vi criança tão linda na vida.
- Eu concordo. Ela é perfeita.
- Senhor, vou buscar o restante da bagagem que ficou no carro. – Anon disse.
- Eu tenho mais coisas para buscar em casa. Precisamos fazer isso durante a semana, Anon. – Falei.
- O que seria? – Heitor perguntou.
- Roupas, calçados...
- Compre tudo novo.
- Não é necessário.
- Não quero que volte, Bárbara. E se encontrar aquelas pessoas novamente?
- Eu acho que eles me encontrarão onde quer que eu esteja, Heitor.
- Bárbara, entenda que não precisa economizar em nada. Quero que vá a lojas caras, que compre roupas de qualidade, para você e a garo... Maria Lua.
- Não vou abusar da sua hospitalidade, desclassificado. Ben pode pegar para mim, se não quer que eu volte lá.
- Eu... Vou mostrar-lhes os quartos, Bárbara. – Nicolete disse.
- Eu... Nossa, é tanta informação nesta casa, tantas coisas acontecendo em tão pouco tempo que estou tendo uma pane mental.
Heitor gargalhou e me puxou em direção a si, abraçando-me e em seguida dando um beijo no meu rosto:
- Acho que esta pane é permanente... Nesta cabecinha.
- É isso que acha de mim?
- Não... Eu acho você perfeita, mesmo com a pane mental. – Me apertou levemente.
Envolvi meus braços no pescoço dele, enquanto Anon saiu e Nicolete foi andando com Maria Lua para outro cômodo.
- Obrigada, mais uma vez. Eu preciso muito da sua proteção para Maria Lua. Sua influência e popularidade em Noriah Norte será essencial caso precisarmos abrir um processo pelo guarda.
- Farei tudo que estiver ao meu alcance, Bárbara. Iniciaremos com o DNA, ainda hoje.
- E se você for o pai? – Perguntei, esperançosa.
- Eu não sou, meu amor... Tenho certeza disso.
- Poderíamos... Comprar um teste de DNA? Falso?
- E iniciar uma nova mentira? Hora de curar esta pane no cérebro, desclassificada. Não aprendeu que a mentira não dá certo?
- Fiquei envergonhada agora – confessei – Obrigada por me fazer ver além do que a minha visão deturpada permite.
- Heitor, acho que você precisa de um banho – Nicolete disse, firmemente – Bárbara, venha conhecer os quartos.
- Precisamos providenciar outro quarto para o Ben, Nicolete. Ele é amigo de Bárbara.
- Mais alguém ainda vem? – Nicolete perguntou.
- Não... Acho que só eu, Ben e Maria Lua. – Respondi, fingindo não ter notado o sarcasmo.
- Vou tomar um banho – Heitor me soltou de seus braços – Mas estarei esperando-a no banheiro. – Cochichou no meu ouvido.
Senti o sangue subir à minha face enquanto Nicolete nos observava. Heitor riu e subiu.
- Antes ela precisa da mamadeira. – Expliquei.
- Bárbara, vamos contratar uma ou duas babás. – Heitor disse do alto da escadaria.
- Não! – Eu e Nicolete dissemos ao mesmo tempo.
Nós duas nos olhamos e começamos a rir.
- Eu... Não quero que outras a cuidem. Não quero perder nada do crescimento e desenvolvimento dela. Cada dia é uma novidade... Cada sorriso acaba comigo. Quero encontrar o primeiro dentinho, estar acompanhando o início dos passos, acolhê-la quando chorar à noite com medo, brincar enquanto troco suas fraldas...
- Entendo, Bárbara – Nicolete me olhou profundamente – E eu vou ajudá-la. Então, não precisamos de uma terceira pessoa, não é mesmo? Quando precisar sair, eu a cuidarei, então saberá que ela está segura. Acho que vou trocar meu quarto para o andar superior. Preferia ficar aqui no de baixo, embora Heitor nunca tenha gostado muito da minha decisão. Mas enfim, não vou mentir... Houve um tempo atrás que o quarto dele era um desfile de mulheres diferentes a cada dia. E isso me incomodava. Mas... Tem mais de um ano que as coisas mudaram por aqui – ela sorriu – E eu sei o motivo. Desculpe a forma como a tratei naquela noite. Eu...
- Eu entendo, Nic. Não precisa se desculpar. Eu faria a mesma coisa se fosse o meu filho. Hoje entendo o amor materno como algo inexplicável.
- Eu sei do que está falando, Bárbara.
- Pode me chamar de Babi. Eu gosto que só ele me chame de Bárbara. – Sorri.
- Ok – ela riu – Sem rodeios, não é mesmo? Gosto disso.
- Então, se quer ajudar, é o seguinte: de água são 75 ml, por 30 segundos no micro-ondas. Duas colheres do leite. Ela não toma até o fim. Deixa sempre uma provinha para o anjo protetor dela, creio eu. Então, não insista. Ela precisa arrotar... Eu acho que isso é uma superstição, mas se não a levantar depois da mamada, ela vomita um pouco.
- Não, não é superstição. – Nicolete enrugou a testa.
- Não?
- Não.
- Eu achei que era. Enfim, você prepara o leite enquanto eu observo se você consegue fazer.
Ela gargalhou:
- Babi, eu sei fazer mamadeira. Não se preocupe.
Embora ela tenha dito aquilo, acompanhei-a até a cozinha e a vi preparando o leite e depois dando para Maria Lua. Ok, ela tinha jeito. No final, o bico emborrachado foi empurrado com a ponta da língua pequenina, sendo recusado. Sorri, orgulhosa da minha sabedoria com relação à minha filha:
- Eu disse.
Peguei-a dos braços de Nicolete e disse:
- Vamos conhecer o quarto de Maria Lua?
Subimos as escadas e ela me encaminhou até a última porta do corredor, próxima da porta de vidro que dava para o local da piscina.
- Aqui não é perigoso? – Perguntei.
- Por hora, não. Mas vamos ter que fazer algumas adaptações, para segurança da bebê.
Ela abriu a porta, mostrando-me o enorme quarto, com o sol batendo de frente, iluminando naturalmente, a visão da cidade do alto era magnífica.
- Isso é... Perfeito. – Abri a cortina, vendo tudo dali.
- Certamente Heitor já deve ter chamado uma decoradora para providenciar a mudança do quarto. Quer participar da escolha dos detalhes ou posso fazer isso?
- Eu... – olhei para ela, os olhos brilhando de tanta empolgação – Acho que podemos fazer isso juntas. O que acha?
- Eu acho perfeito! – Ela concordou.
A cama de casal não me agradou:
- Acha que conseguimos um berço em breve?
- Claro, ainda hoje. Por aqui tudo é muito rápido... Mais do que você possa imaginar.
- Imagino sim.
Continuei com Maria Lua no colo e ela abriu outra porta:
- Que acha de seu amigo ficar com este quarto?
Era um outro dormitório gigantesco de casal, quase de frente ao quarto de Maria Lua. Porra, Ben ficaria enlouquecido com o ambiente.
- Sim, acho que ele não irá se opor a este quarto. – Tentei fingir não estar completamente maravilhada.
Antes de sairmos, ela disse:
- Acho que você deveria dormir num quarto de hóspedes também.
- Eu? Mas achei que...
Fiquei um pouco decepcionada. Achei que Heitor quereria que eu dormisse no quarto dele. Creio que a insatisfação no meu semblante foi tão clara que ela disse:
- Não foi ideia de Thor. É minha. Se dormir com ele todos os dias, por que ele quereria casar com você?
- Por que... Me ama? – Perguntei, apreensiva.
Ela sorriu:
- Não tenho dúvidas de que ele a ama, Babi. Mas pode pelo menos ficar num quarto separado até o casamento. Acho prudente.
- Mas... Você deve imaginar que a gente já... Fez sexo, não é mesmo? – Questionei, confusa.
- Sim, eu imagino – ela arqueou a sobrancelha – Inclusive vi Thor pelado com você na cozinha, lembra?
- Sim...
- A questão é... Deixa-o querer tê-la no quarto dele. Para isso, precisa pôr o anel no seu dedo.
- Acha que ele... Não colocaria se eu dormisse no quarto dele?
- Acho que sim... Ou melhor, não acho, tenho certeza. Mas talvez demorasse um pouco mais.
- Eu acho tudo isso muito estranho, mas se você está dizendo, vou confiar.
- Confia... Vai dar tudo certo.
- E Cindy? – Me ouvi perguntando.
- O que tem ela?
- Qual a importância dela nesta casa?
- Nesta casa? Nenhuma?
- E... Na vida “dele”...
- Nenhuma também – ela disse tranquilamente – Depois que você apareceu na vida de Thor, as visitas dela passaram a ficar cada vez mais escassas.
- Mas... No café da manhã, aquele dia...
- Foi tudo provocação minha, Babi. Desculpe. Eu nem gosto muito dela.
- Devo temer a loira do pau do meio, Nic?
Ela riu:
- Menina, Thor ama você. Acha mesmo que se não fosse assim, teria trazido você e a bebê para cá?
- Eu... Acho que não.
- Eu sei tudo que você passou, Babi. Mas dias de paz estão chegando para vocês duas. Thor é um bom garoto, ou melhor, um bom homem, como você mesma me corrigiu naquele dia. Ele é especial e você deve saber disto.
- Sim, eu sei.
Ela mostrou o quarto que seria o meu, de frente para o de Heitor. Uma suíte enorme, como as outras. Ao mesmo tempo que eu estava feliz por estar ali, sob a proteção de Heitor, mudar de casa não era fácil.
Meu apartamento era no quarto andar, pequeno, não tinha elevador, mas eu amava aquele lugar e ele me trazia lembranças tão boas.
Mas talvez fosse hora de criar novas lembranças.
Eu descobri que Nicolete contrataria uma cozinheira especialmente para preparar as refeições minhas e de Maria Lua. Heitor raramente comia em casa e Nic se virava com pedidos de comida à domicílio ou indo à restaurantes.
Saber que haveria alguém ali especialmente para cuidar das refeições da minha pequena deixou-me muito feliz.
Nicolete pediu comida e preparou a mesa, na sala de jantar. Estávamos almoçando quando o interfone tocou. Ela foi até a porta e voltou, avisando:
- Eu acho que temos visitas. É Milena... E está acompanhada.
Senti meu coração bater mais forte. Corri até a porta e vi na tela Milena e Sebastian.
- É meu irmão. – Falei, afoita.
Heitor levantou e veio na minha direção. Ficamos nós três nos olhando. Eu sabia da relação péssima que havia entre os dois. E agora Sebastian estava batendo à porta de Heitor. E era por mim.
Heitor me encarou e disse para Nicolete, sem olhar na direção dela:
- Mande-os entrar, Nic.
Sorri e dei alguns pulinhos de alegria. Fiquei esperando na porta, com o coração apertado, ansiosa.
Senti os braços de Heitor me envolverem e seu corpo encostar atrás do meu:
- Só pra deixar claro que você é só minha. – Ele disse no meu ouvido, baixinho, fazendo eu me arrepiar.
- Está com ciúme do meu irmão, desclassificado? – Virei na direção dele.