Capítulo 119
1949palavras
2023-02-07 09:35
- Mandy, é um prazer conhecê-la. – Heitor apertou a mão dela educadamente.
- Não sei se devo dizer o mesmo, Casanova – ela me olhou dos pés à cabeça – Por Deus, o que houve com você?
- Vó, é uma longa história.

Ela levantou meu rosto, tocando o pescoço:
- O que houve, menina? Isso... Está horrível.
- Foi Daniel.
Ela sentou no sofá, jogando a bolsa para o lado, deitando a cabeça no encosto.
- Vó, está tudo bem? Por favor, me diga que sim. – Sentei, preocupada, ao lado dela.
- Me diga que está tudo bem com Maria Lua.

- Maria Lua está segura, no quarto.
- Deus, você fez tudo isso por esta menina? – os lábios dela tremeram – Ninguém vai tirar esta criança de você, meu amor. Eu juro. O que fez do dinheiro?
Abaixei os olhos, temendo contar a verdade.
- Vamos, Babi... A verdade. – Ela pediu.

- Dei para Breno e Anya.
- Breno e Anya? Que dinheiro? Do que vocês estão falando? – Heitor perguntou.
Mandy analisou Heitor e me perguntou:
- Você não contou a verdade a ele ainda?
- Parte dela... Não tudo.
- Ele já sabe... Que... É pai? – Ela olhou-o.
- Não, vó, ele não é pai. Heitor tem vasectomia.
Ela balançou a cabeça, olhando para mim e depois para ele, repetindo o movimento por um tempo.
- Não pode ser.
- Acho que Salma se enganou... Porque ela não teria mentido para o diário. Não faz sentido.
- Porra, acho que preciso saber disso tudo. Agora! – Heitor me olhou.
- Quem é o pai da menina, então? – Mandy perguntou, ignorando a fala de Heitor.
- Eu não sei – confessei – Não tenho ideia. E nem os diários para me ajudarem e esclarecer tudo.
- Você vai fazer um DNA, não é mesmo? – ela olhou para Heitor.
- Eu não me importo em fazer, mas não dará positivo, “vovó”. Tenho vasectomia há anos. E uso preservativo.
- Sim... – Mandy revirou os olhos, debochadamente, e depois me olhou.
- Bárbara foi uma exceção... Sempre. – Ele continuou.
- Você... Transou com ele sem camisinha? – Mandy me olhou, incrédula.
- Eu... Sim? – Fiquei confusa, sem coragem de dizer tão claramente que só usamos a primeira vez e nem deu certo.
- Ele acabou de dizer “sempre”.
- Eu quis dizer “sempre na minha vida”. – Heitor justificou.
A campainha tocou de novo. Levantei, mas Heitor colocou a mão na minha frente:
- Deixa que eu atendo. Deve ser Anon. E pelo visto você não vai tomar banho hoje.
- Não tomou banho hoje, Babi? – Mandy me olhou.
- Se eu disser que tomei, você acreditaria?
A porta se abriu e Anon 1 entrou, seguido de Allan na cadeira de rodas e Anon 2, vermelho, parecendo um pimentão. Ambos os Anon’s estavam com a respiração acelerada, arfando.
- Só pode ser brincadeira que você mora no quarto andar de um prédio sem elevador. – Allan me olhou.
Levantei, atordoada:
- Allan? Como você chegou aqui?
- Com minhas pernas que não foi. Certamente meu segurança estará morto amanhã... De cansado. Porra, isso deveria ser proibido. Heitor, você sabia que esta menina morava num prédio sem elevador? Creio que isto deva ser até proibido.
- Pai... A escada é o de menos.
- O de menos? Juro que achei que os dois não conseguiriam fazer com que eu chegasse aqui.
- Anon 1 e Anon 2 são fortes – falei – Aposto que seguem firmes, preparados para a descida.
- Eu... Sou Otávio, senhora. – Anon 2 me disse.
- Cale-se, Anon 2. – Disse Anon 1, repreendendo-o.
Mandy levantou, indo em direção a Allan:
- Allan... Casanova?
- Mandy? Quanto... Tempo. – Ele ficou confuso e abaixou a cabeça.
- Confesso que jamais pensei encontrá-lo novamente.
- Eu... Também. Sinto tanto pelo que aconteceu... Você não imagina.
- Eu também... – Mandy admitiu.
- O que o senhor está fazendo aqui, pai? – Heitor perguntou.
- Vim levar Babi para a mansão Casanova. Não esperava encontrá-lo aqui. Mas... Enquanto tentávamos subir, encontramos Anon.
- Então já sabia que eu estava aqui. Não precisava ter subido.
- Precisava... Porque não tinha certeza do que você estava fazendo aqui.
- Ela vai comigo – Heitor me olhou – Junto com a menina.
- Você... Vai ajudá-las? – Allan perguntou.
- Sim. Não posso deixar Bárbara... Eu... Vou assumir a criança.
- Que não é filha dela – Mandy explicou – Bárbara também assumiu a menina porque a mãe morreu.
- Dentre essa loucura toda eu me pergunto: por que porra você fez uma vasectomia aos vinte e poucos anos? – Allan encarou o filho – E meu sonho de ter um neto? Você acabou com tudo.
Mandy simplesmente saiu da sala, nos deixando ali. Ficamos sem dizer nada, confusos com a atitude dela.
Inicialmente eu achei que ela e Allan pudessem trocar algumas ofensas. Mas não, foi mais tranquilo do que eu esperava. Porque na verdade, ninguém foi culpado de nada ao mesmo tempo que todos foram culpados de tudo.
Minha avó apareceu com Maria Lua nos braços, ainda adormecida.
- Nem troquei a fralda dela, vó. – Lembrei.
Ela levou o bebê até Allan e abaixou-se, para que ele pudesse vê-la:
- Ela pode não ser sangue do seu sangue, Allan... Também não é de Babi, mas eu a considero minha bisneta. Porque para minha neta, ela é sua filha de verdade. Talvez Babi não possa ter filhos... – ela me olhou – E Heitor não quis ter filhos...
- Mas vai ter, mesmo não querendo. – Olhei para Heitor, que deu um leve sorriso.
Quando percebi, Mandy botou Maria Lua nos braços de Allan, que a pegou habilidosamente.
- Pai, como você consegue? – Heitor ficou admirado.
- Não é difícil. Quer tentar? – Ele olhou para Heitor, que deu dois passos para trás, assustado.
- Não.
- Eu... Preciso entender tudo que está acontecendo. – Allan disse.
- Eu vou contar, Allan. – Mandy falou, sentando no sofá.
- Eu também preciso saber – disse Heitor – Mas Bárbara definitivamente precisa de um banho e descansar. Você comeu algo?
Neguei com a cabeça, não lembrando a última vez que havia comido. Então lembrei que eu estava com fome.
- Quem sabe pedimos algo para comer? – Heitor sugeriu – Porque o jantar do pedido de casamento foi todo fora.
- Pedido de casamento? – Mandy me olhou.
- Você não sabia? – Allan riu, olhando novamente para Maria Lua, que dormia como um anjo no seu colo.
- Não vou negar um banho... Até porque tem bastante gente para cuidar do meu pequeno raio de sol.
- Dispensamos os seguranças? – Allan perguntou para Heitor.
- Não – Heitor olhou para Anon – Quero que coloque mais dois seguranças lá embaixo, de prontidão, Anon. E você e Otávio na porta, neste andar, do lado de fora.
- Nem pensar. Anon’s ficam aqui dentro.
Heitor e Allan me olharam, confusos.
- Vamos pedir comida e deixar Anon de fora? Não faz muito ele estava querendo pôr o emprego dele em risco por minha causa. Jamais eu faria isso. Ele fica, dentro do apartamento e come conosco. Anon 2 também pode, já que é amigo do Casavelha... Quer dizer, Casanova. – Sorri, envergonhada.
- E Ben? – Mandy perguntou.
- Deus... Esqueci de Ben, que ainda deve estar me esperando num aeroporto da Itália. Vó, liga para ele, por favor. E peça que volte. Realmente preciso trocar de roupa. Estou acabada.
Fui na direção do corredor e Heitor me seguiu. Entrei no quarto e peguei uma toalha limpa. Ele jogou-se na minha cama, suspirando.
- Tudo bem? – Perguntei.
- Sonhei em conhecer o lugar onde você dormia – confessou – Mas não desta forma.
- Jura? – Olhei-o, sentindo meu coração colando novamente, pela 47487 vez.
- Minha cabeça nunca esteve tão cheia eu acho... E é tudo de você.
- Isso é bom?
- Eu... Não sei. Faz um tempo que só tem você dentro dela... Usando e abusando de mim.
Sorri e disse:
- Eu vou para o banho.
- Devo acompanhá-la?
- Por hora, não. Seu pai está na sala, junto com minha avó.
- E ainda vou ter que suportar Sebastian Perrone?
Abri a porta, em direção ao banheiro, e disse:
- Não, acho que ele terá que suportar você.
- Se não bastasse tudo... Você ainda é irmã de Sebastian. Quando pretendia me contar? Desde quando sabia?
- Eu sabia há um bom tempo. E quando pretendia contar? Não sei... Tive medo da sua reação.
- Devo saber de mais alguma coisa que você não me contou? Tipo, há meses ou... Anos.
- Não... Escondi poucas coisas... Mas eram bem grandes.
- Vá tomar banho, Babi. Por favor... Ou não vou deixá-la sair daqui... Por um bom tempo.
Deixei-o deitado com o corpo bem no meio da minha cama, desajeitadamente, de calçado nos pés e tudo.
Tomei um banho rápido, como estava acostumada. Coloquei um moletom e uma calça confortável, porque eu precisava trocar a fralda de Maria Lua, dar-lhe mamadeira e dormir um pouco que fosse. Tinha uma noite muito cansativa e agitada e meu corpo estava completamente destruído.
Assim que saí do banheiro e voltei para o quarto, Heitor estava com os olhos fechados. Acho que ele também estava cansado, por isso adormeceu, ali mesmo, daquele jeito. Tentei não fazer barulho enquanto pegava a escova de cabelos. Mas fui surpreendida por ele ao meu lado.
- Se sente melhor?
- Sim...
Ele pegou a escova das minhas mãos e passou pelo meu cabelo úmido, de forma lenta e cuidadosa. Senti meu corpo tremer e o coração derreter.
- Por que... Está fazendo isso? – Perguntei.
- Porque... Eu amo você. – Ele puxou meus cabelos para o lado, repousando-os no ombro, enquanto puxava levemente o moletom, tocando minha tatuagem.
- Heitor... Não...
- Eu não vou fazer nada – ele beijou a minha nuca e olhou-me pelo espelho – Nunca mais vou deixa-la, Bárbara. Não importa o que aconteça. Diga que vai morar comigo... Não posso deixá-la aqui, correndo risco.
- Eu vou. E... Ben pode ir junto?
- Ben pode ir... Maria Lua, sua avó... Não pretende levar Sebastian, não é mesmo?
- Não – sorri – Ele comprou um apartamento aqui, quase na frente. Milena está decorando.
- Eles...
- Sim – confirmei – Ela... Sabia de tudo.
- Tudo... Tudo?
Assenti, com a cabeça.
- Ela... Não me contou nada.
- Nem deveria. Ela é minha amiga... Ou melhor, amiga e cunhada. Eles vão morar juntos.
Heitor me abraçou por trás, apertando-me contra seu corpo, nossos olhos refletidos no espelho:
- Assim como nós... Também vamos morar juntos.
Virei-me de frente para ele, encarando-o:
- Me diga que isso não é um sonho.
- Isso não é um sonho... Mas o que houve antes parece ter sido um pesadelo.
- Eu... Acho que precisamos comer. Depois eu vou mandar minha avó e seu pai irem conversar em outro lugar... Ou dormir aqui mesmo, porque tenho 2 quartos sobrando.
Ele riu divertidamente:
- Meu pai não faria isso.
- Ok, mas eu preciso descansar. E quando eles se forem, eu vou contar tudo para você... Com tempo.
- Pode ser... Ao meu lado, na sua cama?
- Eu... Gostaria muito, desclassificado.
Ele alisou meu pescoço carinhosamente:
- Espero que ele não consiga caminhar nunca mais.
- Eu também... Mas agora... Vamos? – Peguei a mão dele.
- Vamos. Estou ansioso pela verdade, por mais que eu tenha adiado.