Capítulo 118
2115palavras
2023-02-07 09:35
Do nada, Daniel foi pego pelo pescoço, sendo jogado no chão. Fiquei imóvel ao ver Heitor por cima dele, soqueando-o como se fosse continuar a fazer aquilo até vê-lo morto.
Anon me ajudou a levantar. Eu estava tonta, não conseguia mover-me direito, pois a sala girava descontroladamente.
Fechei os olhos, ouvindo os estouros das mãos de Heitor na cara de Daniel, tentando voltar ao normal, inutilmente.

Quando consegui voltar a mim, Anon levantava Daniel, com o rosto completamente ensanguentado, enquanto Heitor seguia com seus socos descontroladamente, agora na área dos bíceps.
Fui até ele, tentando andar sem cair e me pus na frente. Jamais, em toda a minha vida, vi um olhar com tanto ódio como via naquele momento.
- Não me diga... Que vai defendê-lo. – Heitor perguntou, cansado, quase sem voz, a camisa aberta até metade do peito, os cabelos completamente bagunçados.
- Não quero que você seja preso por matá-lo. – Justifiquei, virando para Daniel.
Anon ainda o segurava. Ele estava completamente destruído. Sequer conseguiu se defender, sendo pego de surpresa por Heitor. Ou talvez nem soubesse mesmo como brigar.
- Obrigado... – Os olhos de Daniel pousaram nos meus, os azuis claros completamente agradecidos e ao mesmo tempo desamparados, a pálpebra escorrendo sangue do corte no supercílio.

- Eu disse que não queria que “ele” fosse preso por matá-lo... – segui encarando-o – Mas ninguém se importa se eu for – sorri, debochadamente – Desta vez a prisão será por um bom motivo.
Peguei o pescoço dele e apertei na parte da garganta, da mesma forma que ele fez comigo, vendo seus olhos se arregalarem e ele começar a implorar pelo ar, enquanto Anon o puxava cada vez mais para cima, ajudando-me a sufocá-lo.
Eu não teria parado, se Heitor não tivesse me puxado com força, fazendo-me olhar em seus olhos.
- Eu me importo se você for presa. – Ele olhou nos meus olhos.

- Não... Não se importa. – Falei, confusa, parecendo voltar à razão.
- Ele morre, mas você não toca nele... Nem num fio de cabelo.
- O que faço com ele, senhor? – Anon perguntou.
- O que ele fez com ela... Exatamente igual. Depois o deixe num lugar onde não possa pedir socorro... E morra implorando por ajuda. Se quiser brincar um pouquinho, sinta-se à vontade. Suma com ele.
Enquanto Anon o arrastava, pegando-o por debaixo dos braços, o rastro de sangue ia seguindo-os.
- Tem câmeras aqui? – Heitor perguntou.
- Não.
Ele foi até as malas, que estavam ao lado da porta e perguntou:
- Onde você pensa que vai?
- O que... Você está fazendo aqui? – Perguntei, ainda aturdida, tentando recobrar a consciência.
- Eu... Eu... Vim trazer suas sandálias. Você esqueceu. – Ele apontou para o par de sandálias douradas jogados no tapete.
- E eu vou usar as malas para viajar. Você me mandou embora. Aliás, só não fui ainda porque... Porque... Bem, eu não encontrei minhas sandálias... E preciso delas.
Heitor veio na minha direção e levantou minha cabeça, tocando meu pescoço. Depois soltou-me e virou-se de costas. Eu via o corpo dele trêmulo, enquanto a mão passava nervosamente pelos cabelos. A camisa estava para fora da calça e nunca o vi tão descontrolado daquele jeito.
Quando ele se virou novamente, surpreendeu-me analisando-o:
- Me perdoa. – falou, com a voz fraca.
- Por você... Ter mentido sobre a vasectomia?
- Não... Por eu não ter escutado suas explicações... Justo por eu ter a vasectomia. Eu liguei para o meu médico. A probabilidade de eu engravidar alguém é menos de 1%. A menina não é minha, Bárbara. E eu pouco me importo. Porque eu... Não posso ficar longe de você. Assim que saiu da minha casa, eu percebi que prefiro você com todos os seus defeitos, tendo destruído meu coração, com um filho de outro, do que não a ter. Se você me perdoar... Eu assumo a criança, como você queria. E vou protegê-las... Do que quer que você tenha medo e esteja tentando fugir.
Senti as lágrimas rolarem grossas pelo meu rosto:
- Ela não é minha filha, Heitor.
- Eu... Não consigo entender.
- Ela é filha de Salma, minha amiga.
- Sim, lembro de você tê-la mencionado algumas vezes.
Sentei no sofá, exausta. Sim, eu queria contar, mas só de pensar em recomeçar a lembrar daquela história já me sentia mal.
Heitor sentou ao meu lado e pegou minha mão:
- Você está trêmula!
Com meu dedo polegar alisei a mão dele. Ele virou meu braço, tentando encontrar as marcas dos dedos dele quando me pegou com força horas atrás.
- Eu... Acho que não marcou. – Falei.
Ele pegou meu queixo e fez-me encará-lo novamente:
- Jamais eu fiz isso numa mulher. E o fato de ter perdido meu controle justo com você, a única que amei, amo e amarei para o resto da minha vida faz com que eu me sinta um covarde, um idiota, a pior pessoa do mundo todo.
- Já bati em você... E... Bem, não me arrependi. – Dei um leve sorriso, tentando não o fazer se sentir tão mal.
- Não vou dizer que prometo que não acontecerá novamente, pois certamente já ouviu isso milhares de vezes do seu ex.
Assenti, com a cabeça, lembrando das inúmeras vezes que Jardel me agredia e justificava e depois prometia que era última vez.
- Eu sei que não há confiança mais depois disso tudo, não é mesmo?
Mirei seus olhos verdes avermelhados. Teria Heitor chorado? Deus, o que fazíamos um com o outro? Nos amávamos, mas nos feríamos o tempo todo. Por quê?
- Estou cansada disso tudo – confessei – E... Eu preciso ir – levantei – Ben está me esperando. Eu vou embora, Heitor... Eu não posso ficar aqui. Eles vão voltar e levar Maria Lua e... Eu prefiro morrer a entregá-la a eles.
Heitor levantou e pegou meu queixo delicadamente, fazendo-me encará-lo pela milésima vez em minutos:
- Por favor, Bárbara. Me conte tudo... Eu não vou deixar ninguém tirar a menina de você. Eu juro.
- Bem, vou contar... É tudo completamente louco e absurdo, mas é verdade.
- Vamos começar tentando confiar... Mesmo nos absurdos... – ele sorriu, parecendo cansado – Mas primeiro você precisa tomar um banho e relaxar. – Colocou meus cabelos para trás, tirando-os do rosto.
- E... Anon? – Perguntei, confusa.
- Voltará quando tiver feito o que eu mandei.
- E... Daniel?
- Nunca mais o verá, eu garanto.
- Isso... Pode lhe trazer algum problema?
- Não.
- Estou tão horrível... Que preciso de um banho? – Sorri, confusa.
- Sim... Muito – ele me abraçou – E juro que eu queria muito esfregá-la... E tocar cada parte do seu corpo para tirar todo o stress do seu dia, ou noite. Mas... Talvez eu também esteja muito cansado.
- Eu estou confusa... Cansada... E com medo.
- Eu estou aqui, Bárbara. E vou ficar, mesmo que me mande embora. Foi a última vez que a deixei partir... Isso não vai mais acontecer.
- Eu... Vou tentar tomar um banho rápido. E se Maria Lua acordar... Você precisa tirá-la do berço... E...
- Não! – ele se afastou – Eu... Nunca peguei um bebê... Nem uma criança. Não sei fazer isso.
- Eu também nunca tinha pego. Mas descobri que não quebram – sorri – Só posso ir para o chuveiro se me disser que vai cuidar dela.
- Porra, não sei nem onde fica o seu quarto.
Peguei a mão dele e levei-o até o quarto de Maria Lua, abrindo a porta:
- Esta bagunça toda é temporária. – Expliquei sobre as roupas no chão, que eu havia usado para fazer a mala rapidamente e as sacolas com os pertences de Salma ainda jogadas no quarto.
- Ok, e aquilo é um bebê.
- Sim, aquilo é um bebê dormindo no berço. Quase seis quilos de carne com boca, que chora, come e faz cocô.
- Caralho! Que nojo!
- Por hora não vou exigir que troque a fralda dela, então relaxe.
- Eu nunca vou trocar.
- Sim, você vai – afirmei – E vai amá-la, eu garanto... Como eu a amo.
- Eu... Não gosto de crianças.
- Você pensou algum dia amar alguém da forma como me ama, disposto a assumir um filho que não é seu em nome deste sentimento?
- Não... Nunca.
- O sentimento que terá por ela é algo que não tem como explicar. Quando perceber, estará completamente louco por esta criança. E... Reafirmando, ela não é minha filha. Eu fiz a cirurgia da endometriose quando estava viajando.
- Fez? Por que não me contou?
- Não achei que fosse significativo ou importante para você.
- Tudo sobre você é importante para mim, Bárbara. Eu esperei meses pelo seu retorno. Eu levei Jon até a Babilônia por você. E não foi só na camaradagem... Paguei por isso. E você simplesmente acabou comigo naquela noite.
- Foi a noite que Maria Lua nasceu... E a mãe dela morreu. E... Eu achei que ela era sua filha.
- Minha filha? E por isso levou quase um ano para me contar a verdade?
- Perdão... Fiz muitas porras... Muitas.
- Eu também. Mas não quero mais fazer. Eu quero que você me ajude, Bárbara... A ser a pessoa que você precisa.
- Você já é esta pessoa, Heitor. Agiu exatamente como eu precisava... Embora não como eu previ.
- Não agi... Eu fui rude, eu fui cruel, eu agredi você.
Toquei o rosto dele, ainda arranhado das minhas unhas:
- Eu também agredi você. E se tivesse uma arma, quando estávamos naquela sala e você disse que eu era como as outras... Eu teria apertado o gatilho e matado você. Também teria feito isso quando você chamou Maria Lua de “porra”.
- Devo esconder objetos pontiagudos do apartamento em nome da minha segurança? E desarmar Anon?
Eu ri, balançando a cabeça:
- Se me ofender novamente, creio que seja prudente.
- Se eu tocar em você novamente, eu mesmo darei o tiro.
O abracei com força:
- Heitor, nos magoamos muito... Nos ferimos... Mas eu não quero mais isso porque o amo acima de tudo. Já vivi um relacionamento horrível no passado e poderia tentar compará-lo ao que vivo com você, pela forma como dói às vezes algumas coisas que dizemos ou fazemos um para o outro. Acontece que ninguém fez por mim o que você já fez... Mandar pintar a fachada de um prédio, mandar flores... Sabia que eu nunca ganhei flores? – sorri, limpando a porra da lágrima desobediente que queria cair – Você me pôs no telefone com Jon Bon Jovi. Sabe desde quando eu sou louca por ele? Desde meus onze anos. Você me fez sentir orgasmo... Me fez sexo oral inúmeras vezes...
- E nem cobrei por isso. – Vangloriou-se.
- Isso... Sequer roubou minha bolsa depois que gozei – ri – Me deu o ingresso do Show...
- Roubei sua ideia dos rótulos...
- Pagou por ela depois.
- E tranquei sua conta.
- E aposto que estou rica com tudo que rendeu.
Ele riu:
- Ok, pode estar. Mas duvido que vá precisar. A partir de agora você não precisará de mais nada, meu amor. Terá tudo... Tudo que quiser.
- Até... O anel no meu dedo? Aquele que você guardou porque eu decidi contar a verdade primeiro?
- Bem, isso nós vamos ter que pensar melhor – puxou-me de encontro ao seu corpo, os braços envolvendo-me carinhosamente. – Eu sou completamente louco por você, Bárbara.
- Eu jamais esquecerei que você assumiria Maria Lua... Se fosse minha filha com outro homem. Eu mato e morro por esta criança, Heitor.
- E eu mato e morro por você, Bárbara.
Nossas bocas se encontraram, num beijo incontrolável, voraz, cheio de amor e necessidade um do outro. Envolvi o pescoço dele com meus braços, sentindo seu odor de perfume caro misturado à suor. Eu sentia o coração dele batendo junto do meu, aceleradamente.
Num minuto eu estava no inferno... Agora no céu. A vida ainda me mataria do coração, infartada.
A campainha tocou, fazendo eu paralisar. Heitor soltou-me, também aturdido:
- Seria Anon? – Questionei.
- Não... É muito cedo para ele retornar.
- Vou atender. – Falei saindo lentamente, amedrontada.
Heitor foi comigo. Abri a porta e encontrei Mandy parada.
- Meu Deus, vó... Sabe que horas são?
- Sei... Hora de saber o que você fez com o dinheiro que eu lhe dei. – Ela entrou, sem pedir licença. Parou quando viu Heitor.
- Heitor... Esta é Mandy, minha avó... Vó... Heitor, um dos CEO’s que você stalkeia.