Capítulo 112
2440palavras
2023-02-06 11:46
- Vocês estão loucas... Só pode. – Sebastian começou a andar nervosamente.
- Preciso de uma certidão falsa. Tenho que ter como viajar com a minha filha se algo der errado. E... Se você disser que ela não é minha filha, eu mato você... Eu juro. – Falei entredentes.
Ele me olhou, não se atrevendo a dizer nada. Esperou alguns minutos e disse:
- Eu... Não sei como fazer isso. Temos uma certidão em que a menina é minha filha... Com Salma. Uma mentira... Agora quer que eu invente outra? Qual seu plano, afinal? Mentir a vida inteira? Tem noção no que você está se metendo?
- Se eu for julgada, condenada, presa ou seja lá o que for e Heitor estiver com Maria Lua, ficarei bem. Eu só quero que ela esteja segura. Nada mais me importa. E a segurança dela só existe se Anya e Breno estiverem longe... Muito longe.
- Se Heitor não acreditar que a filha é dele com Bárbara, não aceitará a menina. Eu... Tenho certeza disto. – Milena afirmou.
- Um escroto, miserável e desprezível, como o pai. – Sebastian exalou toda sua raiva naquelas palavras.
- Ou seja, desclassificado. Mas eu o amo igual... Com seus mil e um defeitos – confessei – Talvez eu tenha uma chance... Uma única chance... Se ele achar que ela é nossa. Porque... Eu tenho quase certeza que ele também me ama... Louca, insana, impulsiva... Do jeito que sou. Pode me repudiar, junto da filha, por um tempo...
- Mas depois voltará atrás e resgatará as duas. – Milena completou.
- Eu não tenho como fazer isso aqui em Noriah Norte. Não conheço ninguém aqui, porra. Além do mais... Isso não deve ser barato. Caralho, onde se faz um registro falso de nascimento? Quando deve custar esta porra? Eu sou um homem honesto e vocês duas estão me corrompendo.
Milena me entregou Maria Lua e foi até Sebastian, pegando suas mãos e encarando-o:
- Eu queria poder ter sido ajudada quando soube da minha gravidez... E também no momento que perdi o nosso filho. Não tive apoio de ninguém. E neste caso, não estou culpando você, mas todos que estavam à minha volta: minha mãe, Heitor, Allan... Sofri quando soube... Chorei por meses a perda do meu bebê. E eu nunca a vi com vida, entende? Olhe esta criança, Sebastian. Poderia ter sido a nossa. Eu imagino o que Bárbara sente por Maria Lua. E só quem passou por isso, entende... Seja no aborto, seja na adoção, seja no raio que o parta sobre relação mãe e filho. Não vou desampará-la porque sei que se eu a conhecesse na época, ela teria feito o mesmo por mim.
- Sim, eu teria feito. – Garanti.
- Precisamos voltar para o meu país, Milena. Lá eu tenho contatos que poderão me ajudar a fazer isso. E preciso de dinheiro.
- Eu... Não tenho muito. Mas posso pedir para Mandy. Sei que ela não se importará em ajudar, mesmo sabendo a verdade. Ela já havia me sugerido dizer que a menina era minha... E inventar um plano B.
- Não acredito que sua avó sugeriu isso – me olhou incrédulo – Vocês mulheres, são loucas... Todas loucas. Não precisa pedir para Mandy. Eu vou pegar de parte da sua herança.
- Sim, pegue... Eu posso até doar meu rim se precisar. Já li que pode valer muito.
- Porra, onde você lê estas coisas? Às vezes me parece que você tem 15 anos.
- Sebastian, é verdade. Tem pessoas que compram rins de forma ilegal.
- Ok, me dê seu rim, já que quer tanto se desfazer dele.
Fiquei olhando para ele, confusa.
- Entende agora? Você fala como se vender um rim fosse como se desfazer do casaco do Casanova, que você trocou no brechó da esquina.
- Não...
- Esqueça o seu rim, ok?
- Ela falou brincando. Está nervosa. – Milena tentou apaziguar.
- Não, você não a conhece. Ela falou sério.
- Sebastian, por Deus. Eu só quis dizer que eu faço o que precisar. – Tentei me explicar.
- Inclusive ficar sem um rim?
- Eu daria minha vida por esta criança. – Finalizei, de forma clara.
Milena ficou um tempo nos olhando e depois disse:
- Hora de partir, Sebastian. Precisamos comprar passagens imediatamente. Não há tempo para esperar. Bárbara tem que ter uma certidão em mãos se tudo der errado. Inclusive as malas prontas para partir.
- Quando você vai contar para ele? – Sebastian me olhou.
- Domingo à noite, se ele chegar antes da viagem, como pedi. Ou... Segunda-feira.
- Está falando de domingo agora?
- Sim. – Abaixei a cabeça.
- É brincadeira, não é mesmo?
- Não.
- Sebastian, nós vamos fazendo o que precisa ser feito. Heitor não vai pedir a certidão de nascimento. Isso é só uma garantia para se algo der errado – Milena tentou acompanhar meu raciocínio – Acho que ele não vai duvidar que a menina é filha dele e Babi. Caso passe pela cabeça que está sendo enganado, o máximo que pode fazer é pedir DNA. Jamais ele pediria uma certidão, para ver se consta o nome de Babi.
- Que porra de loucura vocês estão me obrigando a fazer – ele reclamou novamente – Vamos partir agora, Milena. Isso vai me tomar tempo para caralho.
- Obrigada – olhei para ele e depois para ela – Não sabem o quanto estão me ajudando.
Sebastian veio até mim e me abraçou, junto de Maria Lua:
- Você é importante para mim, mesmo sendo completamente doida... Tão doida, que pode me levar para a cadeia. Eu amo você. E não se preocupe... Não importa o que eu tenha que fazer para que você fique com a menina, eu farei. Terá uma certidão com seu nome como mãe de Maria Lua Novaes.
- Obrigada – não resisti às lágrimas – Pode parecer uma loucura, mas... É uma loucura – ri, em meio à confusão de tudo aquilo – Uma mãe faz qualquer coisa por um filho... Esta criança é o que tenho de mais importante na vida. Eu mataria e morreria por ela.
Eles se foram e eu fiquei ali, sem saber mais como agir. Não havia mais diários, não havia o dinheiro de Salma, não havia nada que provasse que a minha palavra era verdade.
Heitor ficaria puto... Qualquer pessoa no lugar dele ficaria. Era uma história difícil de engolir, independente de quem eu dissesse que Maria Lua era filha, minha ou de Salma.
Mas eu não tinha outra solução. E nem tempo para pensar melhor. Minha cabeça estava um nó e eu não tinha certeza de nada. Talvez eu acordasse no dia seguinte e mudasse de ideia. No momento, era o que meu cérebro oferecia. Mais uma mentira, seguida de outra, e mais outra e infinitas outras.
Meu Deus, talvez Sebastian estivesse certo e eu devesse contar a verdade de uma vez. Merecia Heitor ser enganado novamente? Salma já fez uma puta sacanagem com ele. Seria correto eu continuar mentindo? Eu contaria a verdade. Pelo menos até mudar de ideia de novo.
Maria Lua acordou chorosa. Decidi dar uma volta com ela para que tomasse um sol. Pela primeira vez me senti aprisionada dentro do apartamento, como se estivesse sufocando.
Passava o tempo todo olhando no relógio, esperando o tempo passar. E ele não passava nunca, nem as horas, nem os minutos.
O dia estava bonito e assim que descemos, parei com o carrinho, em frente à fachada do prédio, admirando as flores e borboletas com meus olhos pintadas de forma perfeita e colorida. Me peguei sorrindo sozinha, lembrando daquele momento mágico, onde nosso ódio começava a se transformar no amor mais louco que já existiu no mundo.
- Que nosso caminho seja de flores... E borboletas coloridas, minha pequena.
Cobri o rosto dela com o protetor do carrinho. O sol estava gostoso, mas um pouco quente. Demos uma volta na quadra, observando o movimento e tentando não surtar.
Menos de uma hora depois, estávamos entrando novamente no prédio.
Peguei Maria Lua no colo e dobrei o carrinho com dificuldade, subindo-o com a outra mão, as rodas pulando a cada degrau, fazendo um som chato e quase quebrando a porra que tínhamos comprado com tanto esforço e gastado uma fortuna.
Por que mesmo escolhemos aquele apartamento? Ah, porque ele era grande, com três quartos e próximo de tudo.
E lembrando que ele tinha um elevador, que conforme a pessoa que nos alugou na época, em breve estaria funcionando. Anos se passaram e o elevador funcionou menos de 24 horas. E sim, eu estava dentro dele com Heitor quando estragou de vez.
Quando estava passando do segundo para o terceiro andar, um dos moradores, conhecido de vista, ofereceu-me ajuda, que aceitei de bom grado. Descer não foi tão difícil, mas subir... Deus, foi um caos.
Agradeci e assim que cheguei na frente da porta, escorei o carrinho, ainda fechado, na parede e coloquei a chave na fechadura. Mas ela não girou. Empurrei a maçaneta e estava aberta.
Enruguei a testa, confusa. Lembrava de ter chaveado a porta quando saí.
- Acho que estou ficando cada vez pior da cabeça – puxei o carrinho, com Maria Lua quase escorregando dos meus braços – Esta sua mãe precisa de um tempo para botar o sono em dia. E para isso, será que podemos dar um pause nos problemas? Você sabe se existe este botão na vida da gente?
Abri o carrinho, mas não a coloquei nele. Ia dar-lhe um banho e depois uma mamadeira para dormir de barriguinha cheia e limpinha.
Assim que abri a porta do quarto, assustei-me ao ver Daniel deitado na minha cama.
Fiquei tão espantada que demorei a assimilar a presença dele e dizer:
- O que está fazendo aqui?
Ele continuou ali, com os braços cruzados atrás da cabeça, confortavelmente, os sapatos no chão, ao lado da cama.
- Vocês demoraram, meninas.
- Saia agora da minha cama. Como entrou aqui?
- Pela porta.
- Você... Não tem este direito. Este apartamento é meu. Isso é invasão de domicílio.
- Me denuncie – ele deu de ombros – Quer que a leve de carro para fazer um boletim de ocorrência? Posso lhe cobrar um valor mais baixo, juro.
- Seu... Canalha. Saia da minha cama ou vou gritar por socorro.
Ele levantou vagarosamente, um meio sorriso nos lábios, parecendo pouco se importar com as minhas ameaças:
- Quando você vai contar para Heitor a verdade?
- Você... Você leu os diários. Eu sabia. Onde estão? Quero de volta, agora. Não pode pegar algo que não lhe pertence. Você não tem este direito. – Fui na direção dele, prestes a agredi-lo, me contendo por conta de Maria Lua, que estava ainda no meu colo.
Ele riu, debochadamente:
- Nós vamos ficar ricos.
- “Nós”? Você ficou louco?
- Por você, eu sempre fui. E nunca escondi o quanto você me interessava, Babi. Deixei uma namorada de anos por você.
- Por mim? Eu nunca pedi nada... Nunca o enganei com relação aos meus sentimentos por você.
- Heitor Casanova... – ele riu novamente – Você é mais esperta do que eu pensava. E Salma... Eu que achava que ela era uma idiota. Mas não... Sua amiga era a rainha da porra toda. Mirabolou um plano sórdido por meses... Encontrou a fórmula da riqueza: ganhar dinheiro com uma filha do homem mais rico de Noriah Norte.
- Foi você que contou para a mãe dela, não é mesmo? E também roubou o dinheiro que ela guardou para a filha, junto dos diários.
- Não se faça de ingênua, Bárbara. Ninguém é ingênuo nesta casa e você sabe disto.
- Não se atreva a cruzar meu caminho, Daniel. Eu acabo com você, nem que seja a última coisa que faça na vida.
- Você vai contar a Heitor sobre criança.
- Sim, eu vou contar. E você não tem nada a ver com isso. Mas quero os diários. Agora!
- Não vou entregar.
- Eles são a prova de que eu não tive nada a ver com o plano de Salma e você sabe disto.
- Você vai tirar todo o dinheiro de Heitor Casanova. E eu vou ficar rico, já que Salma partiu desta pra uma melhor. Se ela tivesse me contado a verdade, confiado em mim, eu teria ajudado ela a dar o golpe de forma geniosa. Mas ela preferiu mentir.
Ele deitou novamente na minha cama. Senti a raiva subir à minha cabeça, a bochecha queimando de ódio daquele homem.
- Não vou ceder à sua chantagem.
- Então ficará sem a menina. Os diários não existem mais. Eu joguei fogo em tudo.
- Não... Você não faria isso. – Falei, entredentes, sentindo meu coração bater mais forte.
- Não só faria... Fiz. Salma mesmo deveria ter feito isso. Não existem mais provas de que você e Ben não participaram do plano dela de engravidar de Casanova.
- Meu Deus... Por quê? – Balancei a cabeça, incrédula.
- Você vai entrar na casa de Casanova com a menina. E exigirá que eu seja o seu motorista. Ficaremos lado a lado, eu e você, tendo um caso de amor.
Eu ri, com escárnio:
- Prefiro morrer.
- Não, não prefere. Se não fizer isso, eu vou convencer Anya e Breno a lutarem pela guarda da menina. Eles tirarão cada centavo de Casanova, se você não seguir o plano. Ou seja, de um jeito ou de outro, ele vai ser extorquido. Mas convenhamos, ele tem dinheiro que não acaba mais. A fonte dele nunca vai secar. Ele pode sustentar eu, você, Ben, a filhotinha órfã dele e até mesmo os pais de Salma e os agregados daquela família.
- Não sou o tipo de mulher que cede à chantagem. Eu já passei por muitas coisas, Daniel. Você não vai me manipular. Não sabe do que eu sou capaz por esta criança.
- Vou tirar a menina de você, Babi. Vou confirmar a Heitor que você e Ben sabiam de tudo e participaram do plano.
- Ele não vai acreditar em você.
- Vai... Ele vai. E você sabe que sim. Ele não tem opção. Saberá que foi traído, pois você escondeu a criança dele.
- Eu... Vou contar. A verdade.
- Não vai contar. Se quisesse fazer isso, já teria feito.
- Não... Não... Porra. – Gritei, fazendo com que Maria Lua fizesse beicinho ao me olhar.
Respirei fundo, deixando as lágrimas escorrerem pelo meu rosto. Melhor chorar do que engolir aquela raiva que eu sentia por aquele homem, passível de me sufocar.