Capítulo 111
2444palavras
2023-02-06 11:45
- Ah, meu amor, você acha que se eu estivesse em Noriah North neste momento, o lugar onde me encontrar não seria a sua cama?
- Como assim?
- Não estou em Noriah Norte. Infelizmente. Você chamando por mim e eu não conseguindo ir? É um sonho? Ou pesadelo? Devo mandar o jato dar meia volta imediatamente? Aconteceu algo?
Respirei fundo, sentindo toda a tristeza tomando conta de mim:
- É bem importante.
- Fale, meu amor.
- Não dá para falar isso por telefone. Quando você volta? Me diga que logo, por favor.
- Estarei esperando por você no jantar segunda-feira.
- Meu Deus, sinto que falta um mês para segunda-feira. Cada dia parece durar 72 horas.
- Eu também me sinto assim quando estou longe de você. Por isso mesmo precisamos acabar de vez com esta distância. Pode viajar comigo a partir de agora, o que acha? Viagens de negócio com sua presença podem ter um outro sabor... – Ouvi a respiração dele acelerar do outro lado da linha.
- Por que partiu pela madrugada, porra?
- Preciso estar em Noriah Sul quando amanhecer. Tenho reunião com alguns empresários às 7 horas. Por que tão cedo? Também não sei esta mania do povo do sul de madrugar por motivo de trabalho.
- Então depois de amanhã estará de volta, não é mesmo? Não trabalharia no final de semana.
- Bárbara... O que dizer? Sim, neste final de semana, excepcionalmente, vou trabalhar. Neste caso, pela North B, pois a Babilônia me fez trabalhar todos os dias da semana, durante as noites e madrugadas. Minha assistente aproveitou a viagem a Noriah Sul e antecipou os compromissos por este país para não precisar voltar em algumas semanas.
- “Sua assistente”? E Ben?
- Ele ainda não assumiu o cargo, desclassificada ciumenta. Então, provisoriamente, alguém está tomando conta de tudo.
- E claro que é do sexo feminino, não é mesmo?
- Se quiser, troco todos as mulheres desta empresa por homens. Juro.
- E eu seria a primeira mulher a acabar com o feminismo em Noriah Norte, incentivando meu namorado a ser um machista desclassificado.
Deus, o que eu estava fazendo? Cena de ciúme numa situação onde a vida do meu bebê estava em risco? Sim, porque ela viver com Anya e Breno era risco de vida.
Olhei-a ali, tão perfeita, tão dependente de mim. Jamais alguém poderia cuidar daquela criança da forma como eu fazia: dedicando integralmente meu tempo a ela, sabendo suas manias, mesmo quando ela não balbuciava uma palavra sequer. Não conseguir tomar um banho decente ou dormir uma noite ininterrupta preocupada com o bem-estar dela desde que nasceu. Não... Perder Maria Lua era como perder a minha própria vida.
- Adoro o seu ciúme! Eu poderia dizer que não, mas estaria mentindo. E amo fazer suas vontades, Bárbara.
- Ah, Heitor. Eu amo você de uma forma que chega a doer dentro de mim. O que tenho a lhe dizer é muito importante. E não posso esperar até segunda-feira.
- Fale então, Bárbara. Você está me deixando preocupado e curioso.
- Não pode ser assim. Me diga, por favor, que consegue voltar antes.
- Farei o possível para retornar no domingo. Mas... Embora a reunião seja bem importante, eu posso dar meia-volta, caso seja muito urgente.
- Não... Não precisa. Resolva seu negócio que não há risco de morte até segunda-feira.
- Não mesmo? Não vai se matar por mim? – Riu.
- Não até segunda... Mas se você me surpreender antes, eu seria a mulher mais feliz do mundo.
- Prometo que farei o possível. Dizer não a você é horrível.
- Faça seu negócio tranquilo. Estarei esperando. Amo você... Para sempre, não importa o que aconteça, meu coração é seu e jamais deixará de ser.
- Não sabe o quanto esperei ouvir isso de você, Bárbara.
- Vai ouvir todos os dias da minha vida... Eu juro.
- Amo você, desclassificada... Como jamais amei outra pessoa na minha vida. Boa noite.
Deus, eu nunca acreditei em promessas. E há um tempo atrás sequer acreditava em Você ou tinha fé. Mas eu juro que, se Heitor aceitar Maria Lua, direi a ele todos os dias, até eu morrer, que eu o amo, sem falhar um sequer. Só quero que ele olhe para esta criança e a leve para debaixo do seu teto, protegendo-a dos avós perigosos que ela tem.
Os olhinhos de Maria Lua já estavam pesados e ela começava a se remexer de forma contínua, o que significava que estava enjoada de estar ali e o soninho estava chegando, enfim.
Em poucos minutos ela dormiu. Coloquei-a na minha cama. Não tenho certeza se conseguiria dormir naquela noite. Estava inquieta e agitada.
Fui até o quarto de Salma, pegar os diários e reorganizar as páginas importantes, que Heitor precisaria ler para assimilar tudo que tinha acontecido.
Não estavam mais sobre a cômoda. Abri os armários e estavam completamente vazios. As várias sacolas no chão, já fechadas e com todos os pertences da minha amiga embalados, seguiam da forma como Ben deixou.
Comecei a abrir uma a uma, jogando todas as roupas no chão. Não encontrei nada entre elas. Segui com as gavetas e depois passei para o quarto de Ben.
Depois de mais de uma hora procurando, sentindo meu coração acelerar e a preocupação ficar ainda maior, liguei para Ben, mesmo não querendo atrapalhá-lo de novo.
- Babi?
- Ben... Me desculpe ligar de novo.
- Eu estava esperando a ligação, amor. O que ele disse?
- Ah, Ben... Me desculpe. Eu esqueci de lhe dar um retorno. Ele não está em Noriah Norte. Heitor teve que fazer uma viagem de negócios de última hora.
- Isso seria uma coincidência ridícula ou o destino tentando nos passar a perna?
- Os dois?
- O que houve, Babi?
- Onde estão os diários de Salma?
- Na cômoda, onde deixamos.
- Não encontrei... Procurei dentro das gavetas, nos armários, nas sacolas... Revirei literalmente o quarto de ponta cabeça e não há nada, nenhum vestígio dos diários. Estou no seu quarto neste momento.
- Ninguém mexe nas nossas coisas, Babi. Estão sobre a cômoda, onde deixei, com as páginas já marcadas, onde dobrei as necessárias para leitura de Heitor.
- Ben, não estão.
- Você olhou direito? Não colocou em outro lugar e não lembra mais? Bárbara, há quantas noites você não dorme?
- Fechando duas. E continuo lúcida... Até demais. Preciso da porra dos diários.
- Procure melhor. Eles não saíram de casa andando sozinhos.
- Bom descanso, Ben.
- Bárbara, você precisa dormir.
- Ok.
Me joguei na cama de Ben, olhando para o teto, minha cabeça começando a doer de forma intensa. Eu estava fodida.
Mas mal sabia eu que poderia ficar fodida ao quadrado.
Se eu tinha que dormir? Claro que sim. Se eu queria? Claro que não.
Despertei com o choro de Maria Lua. Olhei no relógio e era seis da manhã. Os primeiros raios de sol começavam a nascer.
Acabei pegando no sono, sem querer. Meu corpo não resistiu ao cansaço.
Preparei o leite no automático. Meu corpo doía e a cabeça estava pesada. Troquei a fralda dela enquanto tomava um analgésico e dei a mamadeira logo em seguida.
O telefone tocou. O número era desconhecido e não tinha prefixo de celular.
- Alô?
- Oi, Babi.
Eu não reconheci a voz:
- Quem está falando?
- Sou eu, Anya.
- Anya? – Tremi involuntariamente, sentindo um arrepio percorrer meu corpo.
- Você pode me dizer o nome do Hospital onde Salma morreu?
Maria Lua começava a empurrar a bico da mamadeira com a língua, dispensando as últimas gotas do leite. Coloquei-a sobre a cama e recostei-me na cabeceira, tentando não cair. Minhas pernas estavam moles e parecia que eu ia desmaiar a qualquer momento.
Por mais que eu pensasse, não encontrava algo para responder, que não fosse a verdade, que não poderia ser dita.
Eu estava cansada daquilo tudo. Não tinha mais forças, nem físicas e tampouco psicológicas para suportar.
- Babi, você está me ouvindo?
Apertei o “end”, como se ele fosse o botão do “foda-se”. Não tinha o que responder. E talvez tenha sido uma das poucas vezes que eu não tive resposta para uma coisa.
Maria Lua olhava para o teto e sorria, como se estivesse vendo algo que eu não conseguia. As pernas balançavam para o alto, de forma ininterrupta.
- Nunca vou aceitar que tomem você de mim... – Beijei o rosto dela, sentindo as lágrimas invadirem meus olhos, deixando-me quase sem visão.
Peguei o telefone e disquei o número da única pessoa que poderia me salvar naquele momento.
- Babi? – ele atendeu de imediato.
- Eu... Preciso de você. – Não consegui disfarçar a choro compulsivo que tomava conta de mim.
- Por Deus, o que houve?
- Preciso de uma certidão de nascimento...
- Como assim?
- Sebastian, eles estão querendo tirar Maria Lua de mim.
- Como assim? Quem? Que porra está acontecendo? No que você se meteu?
- Eu vou embora... Preciso fugir – a minha voz quase não saía, como se eu estivesse engasgada – Preciso... De ajuda.
Um breve silêncio e ouvi a voz feminina do outro lado da linha:
- Estamos indo para aí, Babi. Fique calma, vamos ajudar você, ok?
- Ok...
- Estamos em Noriah Norte, resolvendo algumas questões do apartamento, porém em outra cidade. Creio que no máximo uma hora chegamos.
- Obrigada, Milena.
- Não agradeça... Vai dar tudo certo.
Encerrei a ligação, sem saber o que pensar. Peguei Maria Lua e a aconcheguei ao meu peito, morrendo de medo do que aconteceria dali por diante.
Entregá-la nas mãos de Anya e Breno era assinar a sentença de uma vida desgraçada para sempre. Eu não poderia deixar aquilo acontecer. E mesmo que Heitor aceitasse a filha, tenho certeza de que eles não o deixariam em paz, querendo dinheiro e incomodando com relação a guarda. E se ele rejeitasse a pequena... Seria o fim.
Pensei que tinha convencido eles que Salma não tinha filho algum. Mas pelo visto não. Estavam atrás da verdade. E se encontrassem o hospital, saberiam que ela pariu um filho lá e morreu logo em seguida.
Bloqueei o número do qual Anya me ligou. Mas Deus, como ela conseguiu meu celular? Não sei nem se ela tinha o da própria filha. Quem estava jogando contra mim, querendo arrancar a pequena dos meus braços?
Foi a uma hora mais longa da minha vida. Como eu era uma mulher de sorte, eles atrasaram uns 50 minutos, chegando quase duas horas depois.
Assim que ouvi o interfone, sabia que era eles. Esperei-os com a porta aberta, Maria Lua nos meus braços.
Quando os vi, não contive as lágrimas novamente. Milena me abraçou e entraram.
- Por Deus, Babi, me conte o que está acontecendo. – Sebastian pediu, aturdido.
- Meu Deus... Ela é linda! – Milena olhou Maria Lua, maravilhada – Eu... Posso pegá-la um pouquinho?
- Claro... – Sorri, limpando as lágrimas, enquanto a entregava.
- Eu... Não sabia sobre ela – Milena disse, não tirando os olhos da pequena – Heitor... É pai. Isso é inacreditável.
- Eu... Não sei como ele vai reagir a isso, Milena. Tentei contar, mas ele não acreditou.
- Heitor nunca lidou bem com esta questão de ter filhos. E creio que eu possa ser um pouco culpada. Ele ficou extremamente abalado quando eu inventei a história da gravidez naquela vez – ela olhou para Sebastian – O filho era de Sebastian, mas eu estava tão sem saída... Não sabia o que fazer.
- Não se culpe... Fez o que achava correto na época. Eu deveria ter explicado melhor para ele... Mas fui uma idiota. Estava tão maravilhada por nossa proximidade novamente que no fundo tive medo de estragar tudo. Sim, eu contei, mas por códigos. Quer dizer, falei que ele tinha uma filha, mas Heitor simplesmente ignorou. E eu não contei tudo de uma vez. – Comecei a andar pela sala, confusa, tentando encontrar uma solução.
- O que você quer, exatamente, Babi? – Sebastian parou na minha frente, pegando meus ombros, obrigando-me a encará-lo.
Mergulhei no azul claro e profundos dos olhos do meu irmão. Ele era minha única salvação:
- Eu quero que você providencie uma certidão de nascimento onde conste o meu nome como mãe de Maria Lua.
- Não é possível fazer isso. – Ele disse seriamente.
- Se ela não estiver no meu nome, vou perdê-la para sempre.
- Heitor tem que saber a verdade e a decisão a respeito do futuro da menina depende dele e não de você. Ela não é sua filha.
- Ela é minha, porra! – gritei. – Recebi esta criança nos meus braços assim que ela nasceu. Eu lhe dei de comer, eu troquei suas fraldas, cuidei da sua higiene, passei noites em claro por conta dela. O que sinto por esta criança ultrapassa o amor. Entregá-la nas mãos da mãe de Salma é sentenciá-la a uma vida de dor, abusos, violência e miséria.
- E o que mudará seu nome constar na certidão? Você não é a mãe e sabe disto.
- Será temporário. Meu nome convencerá Anya e Breno de que Salma não é a mãe. Encontro Heitor e digo que a filha é nossa. Se ele rejeitar Maria Lua, eu fujo com ela. Neste meio tempo, me livro dos pais de Salma e Heitor tem tempo para pensar, sem que eu perca a criança. Mandy tem razão. Jamais alguém contestaria a minha maternidade. O DNA será feito só com relação à paternidade. Heitor inclusive aceitará melhor do que saber que foi enganado da forma como Salma fez. Talvez ele me odeie, mas posso tentar reverter a situação. No entanto, se ele rejeitar Maria Lua por tudo que Salma fez, pode não haver volta. Ele precisa se apegar à filha pra depois saber a verdade. Então já estará amando-a intensamente. E não deixará nada nem ninguém a tirar dele.
- Ela tem razão, Sebastian. Mesmo que Heitor faça o DNA e saiba que a criança é dele, pode simplesmente não querer, tanto por raiva quanto para punir Bárbara pela mentira.
- Eu não menti... Ocultei.
- É filha dele, porra... Ele não pode agir como um canalha sem coração, com o pai dele fez. – Sebastian alterou a voz.
- Você não conhece Heitor – Milena disse – Só se ele mudou muito, completamente... Ou rejeitará a criança. – Ela foi enfática.
- Não vou ser conivente com esta loucura. – Sebastian passou a mão pelos cabelos, aturdido.
- Sim, você vai! – Milena o olhou seriamente.