Capítulo 103
2094palavras
2023-02-06 11:41
Ele pegou a garrafa da minha mão e girou-a, demorando a responder:
- Tinto, suave. O primeiro rótulo personalizado criado pela North B.
- Com o meu nome?
Ele abaixou os olhos, não dizendo mais nada.
Peguei novamente a garrafa das mãos dele e olhei:
- Vai bebê-lo algum dia?
- Não sei se devo. Você acabou me proibir de beber qualquer coisa alcóolica.
- Talvez eu deva abrir uma exceção quando for na minha companhia. – Minha voz saiu fraca.
- Não sei se sou capaz de abri-lo. - Confessou.
Coloquei a garrafa de volta ao lugar, cuidadosamente.
- Vai destruir minha adega? – Ele perguntou.
Coloquei a mão no seu peito, descendo vagarosamente pela pele macia e perfumada em excesso, de tanto sabonete que nele. Quando meus dedos passaram do umbigo, perguntei:
- Talvez eu deva desinfetá-lo com água sanitária?
- Nem brinque... De você, não duvido nada.
- Por que “duas” mulheres?
- Eu... – A voz dele falhou, não completando a frase
- Transou com elas?
- Não.
- Não deu tempo!
- Não deu tesão. Mas a presença das duas foi... Com o objetivo de não falhar na hora H... Mais uma vez.
Como eu queria acreditar nele, mesmo tendo o encontrado com as duas mulheres lindas na banheira morna.
Levantei os olhos, encontrando os dele:
- Eu não acreditava em destino, até conhecer você, Heitor.
- Eu não acreditava em amor, até conhecer você, Bárbara.
Senti uma lágrima traidora escorrer pelo canto do meu olho. Deus, como eu amava aquele homem, independente do estado dele, bêbado ou sóbrio.
- Eu deveria surtar com a presença delas...
- Deveria? – ele esboçou um sorriso irônico, com o canto da boca – Não sou sua propriedade, pelo que lembro. E pelo que vi, você teve um surto.
- Eu queria me sentir bem com relação a isso, mas não me sinto – confessei. – Só de pensar em você tocando outra mulher, eu fico louca.
- Não... Toquei outra mulher.
- Eu soube que você vai assumir um compromisso com Cindy.
- Eu? – ele pareceu surpreso – Quem lhe disse isso?
- Celine.
- Celine? – ele balançou a cabeça, confuso – Eu... Jamais mencionei algo parecido.
Suspirei, me acalmando um pouco.
- O que você veio fazer aqui a esta hora? Deu vontade de fazer amor? – Questionou-me.
- Não... Não foi isso. Mas mesmo que fosse, teria encontrado um bêbado com duas prostitutas na banheira. Parece que tem coisas que nunca mudam, não é mesmo? Eu preciso que você pare com isto... Por favor.
- Me cobra demais... Para quem dá pouco em troca.
- Tenho muito para lhe dar.
- Por que não dá?
- Porque sou uma idiota. Me perdoa.
- Por jogar a minha bebida toda fora? – Ironizou.
- Por te julgar...
- Posso pensar a respeito.
- Mas não peço perdão pela bebida no lixo... Nem pela expulsão da dupla do prazer. – Ri, nervosa.
Ele me abraçou forte. Senti-me tão segura naqueles braços. Queria tanto poder lhe contar a verdade. Mas não era o momento. Ele não estava sóbrio o suficiente para um assunto tão sério e delicado. No fim, era melhor seguir o cronograma.
Iniciar por deixá-lo longe da bebida era o primeiro passo.
Afastei-me dele e abri a mão, com a palma voltada para ele.
- O que isso significa? – Perguntou, confuso.
- Quero a chave da adega.
- O quê? – Ficou incrédulo.
- Ou a chave ou quebro todas as garrafas, exatamente como as outras.
- Você não faria isso... – Ele riu.
Escolhi aleatoriamente uma garrafa, não sendo as do retângulo, onde pareciam estar as mais importantes. A com o meu nome então, fora de cogitação ser destruída. Eu não era louca nem nada.
Joguei no chão, espatifando o vidro, o líquido vermelho espalhando-se por todos os lados.
- Sua louca! – Ele gritou, indo alguns passos para trás.
- A chave, Heitor. Ou quebro tudo.
- É a minha casa... A minha adega. – Ele quase chorou.
- Você não vai mais beber. Não precisa disto...
Ele balançou a cabeça, abrindo a porta e retirando a chave que ficava para o lado de fora da fechadura.
- Esta você não consegue abrir com o seu dedinho? – Ironizei.
- Não, porra.
Saímos da adega e tranquei a porta por fora, retirando a chave e guardando no meu bolso, com o olhar dele atento.
- Eu... Volto na segunda – avisei – E... Venho para jantar. Vou trazer junto Ben e uma pessoa que eu quero que você conheça.
Ele enrugou a testa, confuso:
- Você não pode ir embora assim. Que porra quer fazer com a minha cabeça, desclassificada?
- Não pode ir assim – Nicolete me olhou – Está... Toda molhada.
- Eu moro perto.
- Vai ficar doente, Bárbara. – Ela pareceu preocupada... Ou ao menos fingiu.
- Eu... Sou forte. Não fico doente.
- Claro que não... Só desmaia de dor. – Heitor observou.
- Isso não acontece mais. – Expliquei.
- Está curada? Fez o tratamento?
- Sim... Está tudo certo. Sem dores. Outra vida.
- Fico feliz... Viver com dor deve ser horrível.
- Foram tempos difíceis no meu relacionamento com a endometriose. Espero que não voltem.
- Pode voltar? – Nicolete perguntou.
- Infelizmente sim. Você... Sabia... Sobre isso... – Fiquei confusa.
- Sim, eu sabia. Tudo... – ela olhou para Heitor – Agora venha tomar um banho antes de ir. – Insistiu.
- Não posso... – Olhei no relógio e já era quase três horas.
Eu sabia que Ben viajaria logo em seguida e não podia deixá-lo na mão.
- Bárbara, não pode ir embora neste estado. – Nicolete reiterou.
- Estou bem... – Sorri – Obrigada pela ajuda.
Ela veio na minha direção e parou, pegando as mãos entre as dela:
- Alguém enfim tentando botar juízo na cabeça deste menino.
- Então, Nic... Ele não é mais um menino. Ele é um homem. E precisa agir como tal. De nada adianta se esconder atrás da bebida. – Olhei diretamente para ele.
- Todo escudo tem algo por trás – ela me encarou – Está na hora de você também tirar o seu.
- Vim hoje para isso... Mas não pode ser assim. – Meus olhos entraram na fortaleza dos dele mais uma vez, quase prendendo-me para sempre naquela imensidão verde.
- Eu... Vou dormir. Já é tarde. – Ela disse, saindo. – Boa noite.
- Boa noite. – Respondi.
Respirei fundo e olhei para Heitor:
- Pode... Abrir a porta para eu sair?
- Invade a minha casa durante a noite... Manda minhas acompanhantes embora. Joga fora minhas bebidas... Quebra uma garrafa de vinho de edição limitada, rouba a chave da minha adega, conquista a minha mãe e simplesmente diz que vai embora? Você só pode estar louca.
- Eu deveria na verdade ter quebrado a sua cara quando o vi com aquelas duas desclassificadas. Ou melhor, ter virado as costas e ido embora.
- Mas não... Você está sempre aqui... Na minha vida... E no meu coração.
Olhei para os lados, procurando uma mísera colherinha esquecida, que eu precisava urgentemente. Aquele canalha me fazia derreter como gelo no fogo.
Fui até ele e fiquei na ponta dos pés, envolvendo-o com meus braços. Ele levantou meu corpo de encontro ao dele, nossos lábios próximos, os olhos nos meus:
- Acho que eu sempre vou estar cuidando de você... A vida inteira, nem que de longe. Porque você é importante para mim, mais do que qualquer coisa. Talvez eu devesse chorar ou ir embora quando as vi com você. Mas o sentimento de posse é maior. Em vez de pensar que você está com outra eu penso como elas ousaram tocar no que é meu?
- Sou seu... Seu desde o momento que nossos lábios se tocaram pela primeira vez.
- Sou sua desde que sua boca tocou a minha tatuagem... E para sempre. É um caminho sem volta. Não pode mais se livrar de mim... Porque por mais que nos afastemos, todos os caminhos me trazem de volta para você, Heitor Casanova.
A língua dele invadiu a minha boca, de forma feroz, enquanto ainda me segurava com seus braços grudada ao seu corpo praticamente nu. Por um momento eu esqueci completamente o que havia ido fazer naquele lugar, bem como o passado, o diário, minha filha, o futuro. Eu só queria viver ali, aconchegada naquele colo para sempre.
Ele pegou minhas pernas, sem parar de beijar-me, deitando-me em seus braços enquanto me levava pelas escadas.
Eu queria dizer não. Eu devia dizer não. Mas minha língua estava envolvida demais na dele para conseguir emitir qualquer tipo de som.
Quando dei por mim, estava no quarto de Heitor Casanova, sobre sua cama macia, com o odor do seu perfume caro e sofisticado.
- Eu preciso ir... – Falei na brecha que houve entre um beijo e outro.
- Não vai, Bárbara... – Ele levantou minhas mãos e sentou-se sobre mim, não colocando o peso do corpo.
- Heitor, eu preciso... – Insisti, mesmo querendo ficar.
Ouvi um estalo e tentei voltar minhas mãos, que não obedeceram. Olhei para a cabeceira e vi as algemas me trancando à cama dele.
Suspirei, sentindo meu corpo queimando.
- Vou molhar sua cama. – Me referi à roupa úmida.
- Jura? – ele riu – Isso é bom... – tocou o meio das minhas pernas, sob o jeans.
- Estou falando sério, Heitor.
- Hum, eu sei que sim. Você não resiste a mim e sabe disso.
- Não resisto mesmo... E acho que o mundo inteiro já sabe.
Ele levantou minha blusa, grudada ao corpo, trilhando beijos até meus seios. Tentei desvencilhar-me das algemas, inutilmente.
- Por que esta porra? Não consigo tocar você. – Reclamei.
- Só vai ficar sem algemas quando eu tiver a certeza de que não vai embora... Nunca mais.
- Eu quero ficar para sempre. – Confessei.
- Então fique, porra... Por favor. – Me encarou.
- Não me peça assim... Ou eu fico mesmo.
- Por favor... Fique... Não fuja mais. Não saia da minha vida.
- Por Deus... O que quer fazer comigo, Heitor?
- Quero você, Bárbara... Para sempre. Acordar ao seu lado todos os dias... – Beijou meu umbigo e retirou o sutiã com facilidade.
- Quero isso... Mas...
Antes que eu dissesse qualquer coisa, ele juntou meus seios com as mãos, beijando os dois mamilos quase ao mesmo tempo, de forma ávida e ansiosa.
- Mas... – Indagou, enquanto a boca descia, a ponta da língua na minha pele, deixando um rastro de fogo por onde passava.
- Mas... Se você quer... E eu quero... E ambos queremos... – Fiquei confusa com a formação da frase enquanto ele abria o zíper da minha calça, retirando com dificuldade, por estar grudada ao corpo.
- Duvido que pensou comer só uma mulher no fim das contas... Quando queria duas. – Comecei a rir.
- Eu sempre quis só uma... Aquela me faz não querer mais nenhuma.
- Seu mentiroso desclassificado. Encontrei você com duas.
- E um pau mole, caso não tenha se dado conta.
- Duvido que você consiga ficar mole... Com duas.
- Só fico duro para você, Bárbara. Eu sonho com você... – tocou minha intimidade de uma extremidade a outra, enquanto mordia o lábio com força, gemendo junto comigo.
- Eu vim aqui lhe dizer uma coisa...
- À meia-noite? – riu.
- Sim... E era importante.
- Não vai contar agora... Não agora. Nada é mais importante do que nós dois juntos, Bárbara... Nada, entendeu? – Parou tudo e me olhou nos olhos.
Assenti com a cabeça, incapaz de dizer qualquer coisa que negasse o que ele dizia. Falar sobre Maria Lua naquele momento era um tanto quanto complicado e descabível.
- Você... Ainda está bêbado... Pelo menos um pouquinho que seja? – Perguntei, percebendo que ele já estava bem melhor do que quando eu havia chegado.
- Você cura minha bebedeira, Bárbara... E todas as minhas dores... E problemas.
- Eu amo você, Heitor – falei, sem medo – E espero que esteja sóbrio para ouvir isso e não esquecer daqui há algumas horas.
- Eu amo você, Bárbara... E eu não vou esquecer... Porque não esqueço nada, absolutamente nada com relação a você.
Sua boca tomou posse da minha, a língua exigente, dançando no mesmo ritmo frenético. Uma mão acariciava minha perna enquanto a outra ficava por baixo da minha cabeça, intensificando nosso toque.