Capítulo 102
1945palavras
2023-02-06 11:40
- Bár... Bara... – Ele disse devagar, com a voz arrastada, enquanto a taça com o líquido borbulhante fazia um esforço tremendo para equilibrar-se na sua mão.
Olhei para as duas mulheres praticamente nuas junto dele no ofurô e peguei as roupas delas:
- Saiam daqui agora! – ordenei – Se não saírem da minha frente em dois minutos, vou jogá-las daqui de cima.
As duas levantaram da água quente sem contestar, assustadas. Joguei as roupas sobre elas e abri a porta:
- Se voltarem aqui, eu juro que se arrependerão do dia que nasceram.
- Ela não mente! – ele gritou – Ela faz! Ciumenta... A descla... – não conseguiu terminar a pronúncia da palavra, de tão bêbado – Ela é muito ciumenta...
Elas saíram imediatamente, fechando a porta. Fui novamente na direção delas, que já andavam no corredor e avisei:
- Fora daqui eu quero dizer “agora”. Vão vestir suas roupas em outro lugar. Não quero vê-las aqui dentro por nem mais um segundo. – Gritei, furiosa.
Elas me fuzilaram com o olhar e uma delas chegou a correr, amedrontada.
Olhei para Heitor só de cueca no ofurô. A bebida caía de sua taça enquanto os olhos parados estavam fixos nos meus, com um meio sorriso safado e irônico no canto da boca.
Aquela área externa era enorme. Além do ofurô, mas adiante tinha uma piscina, iluminada internamente com luzes em led, fazendo com que o ambiente ficasse ainda mais convidativo à uma noitada regada à bebidas e sexo.
Fui até ele e peguei sua mão, puxando-o com força até a borda:
- Só falta Bon Jovi tocando. Daí eu caso com você, seu idiota. – Mencionei, certa de que ele mal sabia o que eu dizia.
- Eu o trago de novo. – Me encarou.
- Meu coração poderia estar em cacos, desclassificado. Porque você faz tudo errado, sempre. A questão é... Eu sou expert em colar pedaços de coração.
Ele me puxou com força e caí dentro da água morna, sobre ele, com nossos rostos praticamente colados, fazendo com que meu corpo ficasse completamente sem ação da proximidade de sua presença marcante e ardente, talvez mais quente que a própria água.
- Me chupa, Bárbara! – implorou, os olhos queimando meu corpo, derretendo minha sanidade.
Levantei, ensopada, percebendo os olhos dele nos meus seios expostos sob o tecido branco, fino e molhado, grudado ao corpo:
- Claro que sim... – ri, ironicamente – Quer que eu engula ao final ou não, senhor?
- Sim... – ele pegou minha mão – Por favor...
Levantei-o com dificuldade, colocando seu braço sobre meus ombros:
- O dia em que eu não precisar mais carregá-lo, talvez eu realize o seu desejo. Por enquanto, você não merece, por ser um bêbado irresponsável.
- Bárbara... – A voz fraca e rouca próxima ao ouvido estremeceu meu corpo.
- Você tem sorte que eu amo você demais, desclassificado. E temos um elo que nos liga eternamente.
- A algema? – Ele indagou, enquanto tentava levantar a perna no degrau que nos tiraria dali.
- Não deixa de ser... Só que ela tem carne e boca. – Sorri, lembrando do nosso raio de sol.
Levei-o até o quarto, molhando todo o caminho por onde passávamos. Fui diretamente ao banheiro e liguei a água fria do chuveiro, colocando-o debaixo dela, ouvindo um gemido assustado e vendo o corpo dele arrepiar-se.
Coloquei sabonete nas minhas mãos para esfregá-lo, mas percebi seu membro endurecido e o sorriso que não se desfazia daqueles lábios debochados:
- Pode começar por aqui. – Ele tocou a cueca.
Peguei uma boa quantia de sabonete e joguei nele, que reclamou, protestando com as mãos.
- Esfregue-se. Não posso fazer isso ou corre o risco de eu abusar de você, como todas as outras. E embora você faça questão de dizer que sou como elas, acredite, eu não sou. – Saí, em busca da toalha.
- Você não é como as outras... É Bárbara. – Ele alegou.
- Sim, eu sei. – Peguei a toalha e fechei o registro, enquanto ele tirava a cueca.
Olhei para baixo, tentando não focar no meu ponto fraco, que talvez era o forte dele:
- Vamos, enxugue seu corpo.
- Não consigo! – Falou de forma safada, a mentira estampada nos olhos.
- Consegue sim – virei as costas – E já que está bem, me siga. Temos umas coisinhas pra fazer aqui nesta imensidão de perigos que você chama de casa. A propósito, se consegue transar com duas mulheres ao mesmo tempo, dá conta de qualquer coisa, não é mesmo?
Ele foi até o armário e pegou um calção largo, branco, mostrando-me:
- Preciso que me vista.
- Abaixa esta coisa aí, Heitor. – Avisei, desviando o olhar.
- Vem, Bárbara. Eu sei que você quer.
Respirei fundo e me aproximei dele, olhando nos seus olhos:
- Eu quero, muito... Mas você está bêbado e acabei de flagrá-lo com duas mulheres a minutos atrás. Você nunca vai mudar? Eu mal tenho estrutura para me cuidar... E ainda tenho que ser sua babá? Seja o homem sério e responsável que eu acreditei que você poderia ser e não um idiota, tarado e desclassificado. Eu sei que você consegue. Eu... Preciso daquele Heitor, entende? Não consigo sozinha...
Ele tocou meu rosto, de forma carinhosa, passando depois para meus lábios, que esfregou com certa força:
- Sua boca... Eu sonho com ela. – Me disse.
Fechei os olhos, sentindo o toque da pele dele na minha, o desejo tomando conta de todo meu ser, o sangue fervendo imediatamente e a calcinha brigando com a umidade da água quente do ofurô com o desejo que se exibia em forma de fluidos, lubrificando minha intimidade para algo que eu queria ansiosamente: ele.
- Ponha a roupa, Heitor. Está na hora de mudar.
- Eu não quero... Quero você... Só você.
Arranquei o calção das mãos dele e ajudei-o a vestir.
- Algo para curar a bebedeira. Onde tem? – Olhei ao redor.
Ele apontou para uma gaveta, numa cômoda que mais parecia um armário. Peguei alguns comprimidos e enchi um copo d’água:
- Beba tudo. E não se afogue.
- Não vou... – Ele garantiu, enquanto tomava todos de uma vez.
- Tudo certo?
- Sim. – Ele garantiu.
- Agora vamos lá: por que não levou as vagabundas pra um Motel, seu desclassificado? Chega de mulheres andando nuas por esta porra de lugar. – Peguei a mão dele, descendo as escadas, quase correndo, os pés tropeçando no próprio corpo.
Nicolete estava organizando algumas coisas sobre um balcão de vidro. Quando nos viu, ela levantou os olhos, na nossa direção.
- Me mostre onde estão as bebidas desta casa. – Pedi.
- Vai beber com ele? – Nicolete me olhou.
- Claro que não! Tenho cara de quem faz isto?
Heitor me levou até um armário fechado. Quando abriu, deparei-me com dezenas de garrafas de bebidas variadas, embora a maioria fossem uísques.
- Minha coleção... Tudo... Importado. – Sorriu, orgulhoso.
Peguei tudo que coube nos meus braços e carreguei até a cozinha, enquanto ele e Nicolete me seguiam. Abri as tampas e comecei a despejar na pia os líquidos, garrafa por garrafa, jogando vazias na lixeira.
Quando abri a terceira, ele pegou meu braço, tentando me impedir:
- Tem noção de quanto custa isso, sua maluca?
Retirei a mão dele do meu braço e peguei seu queixo, olhando nos seus olhos:
- Pouco me importa quanto esta coisa custou. Você não precisa mais disto. Está proibido de beber... Para sempre.
Ele começou a gargalhar, enquanto segui jogando os líquidos fora. Quando acabou, voltei ao armário. Jogar os líquidos fora era muito demorado. Joguei diretamente na lixeira em inox, quebrando grande parte das garrafas.
- Você não pode fazer isso, porra! – ele olhou para Nicolete – Não vai fazer nada, Nic? Ela é louca... Esta mulher é completamente louca.
- Sim, vou fazer. – Nicolete o olhou e em seguida saiu, voltando com garrafas nos braços, jogando na pia, imitando meu ato, enquanto sorria satisfeita.
- Você não pode ir contra mim... Não você, Nic. – Ele deixou os braços caírem ao longo do corpo, decepcionado.
Sorri, feliz por ter encontrado alguém que também não concordava em vê-lo daquele estado. Em pouco tempo eu e Nic conseguimos terminar com todas as garrafas do armário.
- Tem mais? – perguntei – No seu quarto, quem sabe?
- Não vai tocar nelas.
- Ele tem uma pequena adega. – Nic me disse – Um belo dinheiro jogado fora.
Cruzei os braços:
- Vinhos, desclassificado? Posso apostar que tem vários Perrone. – Sorri.
- Não... A adega não. – Ele gritou, tentando impedir Nicolete.
Ela abriu uma porta, dentro da enorme cozinha. Tinha uma peça de bom tamanho, com a parede direita e da frente cobertas de nichos feitos sob medida, do chão até o teto, todas com vinhos.
Além da iluminação central, tinha no forro luzes acopladas, que se direcionavam para baixo, deixando as rolhas em destaque. No centro da parede esquerda, um retângulo em madeira de lei, com dez vinhos separados, certamente os mais especiais.
Fui até lá peguei uma garrafa, separada das demais, certamente o mais caro ou importante para ele, ou não estaria em destaque. Era um vinho Perrone, da primeira distribuição em Noriah Norte.
Toquei meus dedos levemente no rótulo, sorrindo:
- Eu sabia que você tinha um Perrone aqui, desclassificado.
- Eu... Não tenho ideia de como isso veio parar aqui – ele olhou para Nicolete. – Que feio, Nic, comprar vinho da concorrência e guardar na minha adega.
- Eu? – ela colocou a mão no peito – Deixe de ser mentiroso. Eu não bebo. – Ela me olhou, tentando se justificar.
- Hum, que interessante. Heitor também não bebe mais. Acho que... – segurei o vinho pela ponta da rolha, enquanto estendia o braço, dando a entender que o jogaria no chão.
- Não, por tudo que é mais sagrado, este não! – ele implorou, com as mãos em sinal de prece.
- Por que, Heitor? – Questionei. – Por que é o melhor de todos?
- Não...
- Então pode se ir com os outros.
- Não... É um Perrone, porra!
Sorri, pegando novamente a garrafa, deixando em segurança. Coloquei-a no lugar, colocando a mão na parede, percebendo ser feita em pedra, certamente cobrindo a parte acimentada original.
- Faz os vinhos ficarem resfriados, em temperatura ideal. – Ele explicou, sem que eu precisasse perguntar.
Estava indo para a outra parede, atenta aos rótulos quando vi um que chamou a minha atenção, ainda no retângulo principal, por ter um B enorme no rótulo.
Retirei devagar do nicho, enquanto Heitor parou na minha frente, tentando me impedir de vê-lo:
- Este não...
- Por quê? – tentei olhar, sendo impedida pelo corpo dele.
- Não... – os olhos dele se comprimiram, a voz ficou rouca novamente, quase numa súplica.
- Por favor... – Pedi gentilmente.
- Eu... Eu... Vou terminar o que estava fazendo. – Ouvimos a voz feminina da mulher quase esquecida entre nós. Antes que respondêssemos, Nicolete se foi, fechando a porta.
Ele saiu da minha frente e virei o rótulo da garrafa na minha direção.
Era um vinho North B. O rótulo era vermelho com branco e o B enorme, em letra cursiva, parecendo antiga, escrita à mão, com formato arredondado, seguido pelo a, r, b, a, r, a Novaes.
Senti o coração querendo sair de dentro do peito. Meus olhos encararam os verdes intensos, que ainda continham vestígios de devaneios de bebida alcóolica, que eu já conseguia identificar, mesmo o conhecendo pouco.
- Por quê? – Perguntei.