Capítulo 59
2129palavras
2023-01-13 08:24
- Um direito meu? – arqueei a sobrancelha.
- Claro, depois de tudo que você trabalhou, merece estar lá. Sei ser um homem muito grato, acredite. E agora, por Deus, entenda que não estou perseguindo você, não estou com ciúmes de Heitor e muito menos... A fim de você.
- Ok, você já deixou claro que não é a fim de mim... Desde sempre. – Comecei a rir. – Confesso que acho você um gostosão, chefe.
Ele ficou ruborizado na mesma hora e seus olhos azuis se estreitaram:
- Você é linda, Babi. Mas...
- Não precisa se justificar, Sebastian. Está tudo bem. Eu prefiro você com Milena, acredite. Porque é uma a menos pra eu ter que tirar do caminho de Heitor.
- Milena nunca gostou de Heitor... Ela sempre foi minha.
- “Minha”... Por que vocês homens tem esta mania de dizer que tudo é de vocês? Nós, mulheres, não pertencemos a ninguém.
- Heitor já disse que você é dele, por acaso?
Eu abaixei os olhos, não respondendo. Sim, ele havia dito. E digamos que eu não tenha ficado assim tão ofendida.
- Eu o mato.
- Como é que é? – o encarei novamente. Sebastian só podia estar brincando comigo.
- Não... Eu não quis dizer isso. – Ele consertou.
- Você é meu chefe, eu sua empregada. Cada um respeita o espaço do outro, ok?
- Sim... Mas Milena não gosta de Heitor. Não do jeito que você imagina. Mas você tem uma vasta lista de mulheres para tirar do seu caminho, se quer exclusividade. Heitor Casanova é o maior mulherengo que eu já conheci.
- Posso ter ouvido algo sobre isso... – me fiz de boba. – Mas eu tenho só um alvo por enquanto.
- Diga quem é seu alvo? Porque eu posso ter pena dele.
- A loira do pau do meio.
- “Loira do pau do meio”? Dá para falar mais claro, sem ser em códigos?
- A loira falsa de dois metros que dança no pau do meio na Babilônia.
- Você está falando de Cindy Connor?
- Ela mesma.
- Neste caso, desejo boa sorte para “você”.
- Como assim? Você a conhece?
- Quem não conheceria a melhor dançarina de pole dance?
- Do país? Do mundo? Ou da Babilônia? Eu nunca a vi estampada numa revista. Ou o rosto dela na televisão.
- Mas pergunte em qualquer lugar e todos saberão quem é ela. As pessoas vêm de vários lugares de Noriah para vê-la dançar.
- Eu não tenho medo dela. E eu não danço naquele pau porque não quero... Porque se focasse, poderia ser melhor que ela. – falei, incerta, sabendo o quanto admirei ela na noite que fui à Babilônia.
- Todo mundo sabe do caso dela e Heitor.
- Eu... Não quero saber sobre isso. – levantei. – E também não vou voltar hoje para a Perrone. – Fui abrindo a porta. – Estou cansada, sem calcinha e preciso de um banho.
- Você saiu da cadeia e foi dormir com ele?
- Sim. – Me ouvi confessando e nem sei ao certo porque.
- E agora o segurança dele é seu também?
- Anon deve ter visto a situação do outro lado da rua. E ficou preocupado, achando que você iria me agredir. E... Ei, você ia me agredir?
- Claro que não, Babi. Me perdoe.
- Você não machucou meu amigo Anon, não é mesmo?
- Não. Ele me machucou, aquele desgraçado. Tentarei não me meter na sua vida pessoal. Mas depois não venha chorar nos meus ouvidos. Porque vou dizer “eu avisei”.
- Tenho Ben e Salma que vão me ouvir. Não se preocupe. – Provoquei.
- Não estou indo embora porque você está mandando e sim porque eu preciso ir trabalhar.
- Ok, Sebastian. – Revirei meus olhos.
- E não acho certo você andar sem calcinha por aí, tampouco deixar Heitor lhe dar estas coisas. – Olhou para a sacola.
- Não pedi sua opinião. – Apontei para a porta novamente.
Ele me deu um beijo no rosto e disse:
- Até amanhã.
- Até amanhã, Sebastian.
Fechei a porta e respirei fundo. Que loucura foi aquela? Eu não conhecia Sebastian, mas às vezes parece que éramos tão íntimos que eu não conseguia entender aquela relação. Tínhamos uma conexão... E não era sexual. Eu tinha com ele a mesma coisa que tive quando conheci Ben: amor à primeira vista... Sem sexo.
Tomei um banho e fui para o meu quarto. Deitei na cama e Ben apareceu, com a sacola de calcinhas. Sentou na minha cama e foi tirando uma a uma da sacola. Eram todas parecidas: minúsculas, rendadas e completamente sexys.
- Eu quero Heitor pra mim, Babi. – Ben deitou ao meu lado.
- Eu posso estar um pouco... Apaixonada. – Confessei, sentindo meu coração bater forte.
- Linda, não há colherinhas suficientes nesta casa para juntá-la. Devo ter visto uma concha na gaveta. Talvez dê... – ele riu e alisou meu rosto. – Se joga, de cabeça. Não é um sonho. Ele é seu... Todo seu. E eu vi isso pela forma como ele a olhava na Delegacia. Thorzinho estava de mãos dadas com você, minha amiga.
- Eu tentei tanto fugir disso... De sentimentos, entende?
- Não pode não querer se apaixonar nunca mais porque um idiota cruzou seu caminho e destruiu seus sentimentos.
- Eu não tenho medo de nada e você sabe muito bem disto. Mas o envolvimento com Heitor Casanova pode ser uma das únicas coisas da vida que me dá medo... Até mais do que quando eu passei tudo de ruim ao lado de Jardel. Porque com Jardel eu já estava acostumada e sabia tudo que iria acontecer. Mas Heitor é uma caixinha de surpresas.
- Prestes a ser aberta. E pode ser boa, Babi.
- Ele é um homem milionário... Lindo. Ele usa o perfume mais cheiroso que já senti na vida. Ele faz sexo como eu duvido que alguém faça. Ele diz palavras carregadas de... Carinho. Ele me faz sentir bem... E eu já me perguntei: tudo isso é para mim? Tantas mulheres apareceram na vida dele. Quantas não tentaram ser únicas? Por que “eu” conseguiria?
- Simples: porque você é Bárbara Novaes.
- Obrigada, Ben. – O abracei.
- Se der certo, vou comemorar com você. Se der errado, vamos sofrer juntos, sentados no sofá, olhando filme, comendo pipoca e colocando suas lágrimas num copo. E... Independente se der certo ou errado, vamos beber muito juntos.
- E como está com Tony?
- Partimos para a parte sexo e sexo... Como se não houvesse amanhã.
- Hum, isso é bom. Eu descobri que sexo pode ser a melhor coisa na vida. E que talvez eu seja um pouco tarada e pervertida.
- Eu só sei que somos pessoas de sorte com os gatos que encontramos. Agora me conte tudo e não esconda nada: você fez oral nele?
Era seis horas da tarde quando meu celular tocou. Eu havia adormecido e Ben estava deitado ao meu lado, babando de tão apagado.
Levantei e peguei o aparelho dentro da bolsa. Li no visor “Desclassificado Mor” e sorri:
- Oi. – falei, já precisando de colherinha.
- Gostou das calcinhas?
- Bem, como posso dizer... Parecem um pouco pequenas.
- Assim que eu gosto. Ainda faltam oito para a minha coleção. Vou tirar uma a uma e fazer o que você tanto gosta cada vez. – Eu podia imaginar o olhar pervertido dele do outro lado.
- Molhei a calcinha. – Confessei, vendo Ben despertar, arregalando os olhos.
Abri a porta e fui para a sala. Não queria dividir aquela conversa com ninguém... Era só entre nós.
- Quer ver meu pau como está? Posso mandar uma foto, sua tarada.
- Não quero ver não... – comecei a rir. – Não pelo telefone.
- Foi uma noite especial. Podemos repetir hoje.
- Não, Heitor. Eu ainda estou dolorida... E toda marcada. Vamos deixar para o final de semana. Ainda tenho que me focar no trabalho.
- Anon me disse que Sebastian pegou você pelo braço. Eu fui imediatamente até a Perrone, mas o desgraçado não estava lá. Mandei dois seguranças esperarem ele na porta, mas o canalha não voltou para a empresa.
- Heitor, você não fez isso, não é mesmo?
- Claro que eu fiz.
- Eu não preciso disto. Sei me defender. – Bradei.
- Não sabe. Vou acabar com aquele desgraçado.
- Se você tocar em Sebastian, eu mato você.
- Mata? – ironizou. – Podemos fazer um trato. A vida de Sebastian em troca de algo que eu quero muito.
- O que você ainda quer mais de mim? – Perguntei curiosa.
- Quero sua boca...
- No seu pau? – perguntei, antes de ele terminar.
- Garota esperta... Posso imaginar que já está com água na boca.
- Heitor, eu quero Milena e Sebastian juntos. Para ontem. – Ignorei a frase anterior dele.
- Como assim?
- Você ouviu muito bem. Vá mexendo seus pauzinhos que vou mexer minhas colherinhas.
- O que isso quer dizer?
- Que você deve ajudar.
- Eu... Esta parte eu entendi.
- Então vamos juntar os dois. Eles se amam e você também sabe disto. Não devem ficar separados. É injusto.
- Eu conversei com Celine sobre ela pagar alguém para prejudicá-la no processo da North B., Bárbara.
- Falou quando?
- Convidei ela para almoçar hoje.
- Tão rápido assim?
- Ela negou.
- Acha que ela confessaria? Eu não gosto dela, Heitor.
- Não acho que ela confessaria. E também não acho que você mentiu. Mas não quero entrar em atrito com ela. Meu pai está doente... Ela faz bem para ele, mesmo que para mim Celine seja indiferente.
- Isso é uma desculpa? Eu não quero que você a bote para fora da vida de vocês, mas também não vou aceitar que ela cruze meu caminho e tente me prejudicar. Eu não sou a filha dela, que se submete aos seus caprichos.
- Eu acho que ela sabe disto. Vamos jantar no sábado? O que acha?
- Jantar? – comecei a rir. – Achei que você queria outra coisa.
- Jantamos comida... E depois eu janto você.
- Bem direto.
- Sei que é assim que você gosta.
- Tarado, desclassificado.
- Louca, gostosa, razão da minha insanidade.
- Eu... Vou gostar de jantar com você.
- No meu apartamento?
- Vai cozinhar para mim?
- Eu nunca cozinhei na minha vida... Mas se você quiser, eu posso ao menos tentar.
- Faria isso? – comecei a rir.
- Sim.
- Eu também não sou muito boa na cozinha... Mas posso ajudar.
- Combinado. Mando Anon buscar você às oito horas.
- Estarei esperando por ele. Com uma das calcinhas novas.
- Vou adorar vê-la com algo que eu comprei.
- Neste caso, Anon comprou. – Comecei a rir.
- Ok, da próxima vez vou providenciar isso pessoalmente.
- Alguma cor em especial que eu deva usar por baixo do vestido, Senhor Casanova?
- Vermelho.
Lembrei que esqueci a rosa que ele me deu no escritório e me senti culpada.
- Ok, vermelho. Boa noite.
- Boa noite, Bárbara.
Desliguei o celular e o apertei contra mim, sorrindo sozinha. Deus, eu realmente estava apaixonada. Aquele homem não saía da minha cabeça. E agora eu ainda sonharia com a rosa, esquecida num vaso sobre a minha mesa.
Nos falamos na noite seguinte por quase trinta minutos, por telefone. Estávamos completamente envolvidos e por mais que eu tentasse manter o pé na realidade, já não conseguia.
Contei as horas para o sábado e comecei a me arrumar às seis horas da tarde. Salma havia saído com Daniel e avisou que iria diretamente para a Babilônia depois. E Tony pegou Ben para passarem o final de semana juntos, num lugar qualquer, só os dois, escondidos do mundo todo.
Já imaginei que depois do jantar, nada me impedia de ficar com Heitor durante todo o domingo. Então teríamos tempo para fazermos várias coisas... Além de sexo.
Sete horas o meu telefone tocou. Fui atender e era um número desconhecido. Sempre que acontecia isso eu me preocupava imediatamente com Salma. O fato de ela estar grávida sempre me deixava receosa.
- Alô. – Eu já fiquei tensa.
- Senhorita Novaes?
- Sim, ela mesma.
- Eu sou amigo de sua avó. Estou ligando porque Mandy acaba de ter um infarto. Ela num Hospital aqui perto do sítio.
- Eu... Estou indo para aí.
Eu já estava arrumada, com um vestido vermelho, usando uma minúscula calcinha rendada fio dental da mesma cor.
Liguei para Heitor imediatamente. Mas o telefone estava desligado.
Embarquei num carro com motorista de aplicativo e parti para o Hospital.