Capítulo 57
2317palavras
2023-01-13 08:22
Parei na frente da North B., sentada no banco do carona do Maserati, na vaga escrita CEO.
- Ei, desclassificado, eu trabalho na empresa da frente. – Apontei, ironicamente.
- Gosta de me provocar, não é mesmo? – ele me encarou e passou a mão dentro do meu vestido, se dando em conta de que eu não estava usando calcinha. – Você... Não vai trabalhar sem calcinha, não é mesmo?

- Devolva a minha e eu coloco, tarado roubador de calcinhas. – Provoquei.
- Não... Esta é minha e eu não vou devolver. Vou usar na sua ausência... Acredite.
Abri a porta e desci do carro:
- Então, vou trabalhar com Sebastian Perrone, sem calcinha. – pisquei.
Ele desceu tão rápido que já estava na minha frente:
- Nem pensar.

- Quer que eu faça o que, Heitor? Já estou atrasada. Ninguém vai perceber que estou sem calcinha, não se preocupe.
- Ok, vá e mando Anon lhe entregar uma calcinha.
- Anon? – arqueei a sobrancelha.
- Vou mandar que ele compre imediatamente.

- Jura que vai perder tempo se importando com a porra da minha calcinha?
- Juro. Será a primeira coisa que vou fazer... Aliás, vou fazer agora mesmo. – Ele pegou o telefone e começou a ligar.
Revirei meus olhos e suspirei. Confesso, eu gostava de saber que ele sentia ciúme de mim. Estava saindo quando ele me puxou pelo braço, encarando-me, ainda ao telefone:
- Bom trabalho. – Me deu um beijo molhado no pescoço.
Olhei para os lados e havia várias pessoas passando. Ele simplesmente não se importava se alguém nos visse? Creio que realmente ele estava disposto a ficar comigo... Só comigo.
- Bom trabalho, desclassificado. – Pisquei, já percebendo Anon vindo na nossa direção, usando óculos escuros e terno, gravata e camisa pretos.
Atravessei a rua e entrei no prédio na Perrone, não tão grande quanto o da North B., mas importante, além de estar na rua principal da capital de Noriah Norte, junto das principais empresas do país.
Ok, Bárbara, vida real chamando! Cumprimentei quem eu vi cordialmente, até chegar à minha sala.
Suspirei novamente, já cansada antes mesmo de falar com Sebastian sobre tudo que havia acontecido para eu chegar até a Delegacia e Ben tê-lo tirado de casa para me resgatar, mesmo não precisando, já que eu estava junto do dono da porra toda mor.
Fiz meu trabalho e na hora do almoço estava descendo para comer algo quando a porta do elevador se abriu e dei de cara com meu chefe, CEO da Perrone.
Entrei e disse, educadamente:
- Bom dia, senhor Perrone. – Me escorei no fundo do elevador, tentando encontrar as palavras certas.
- Posso saber que horas chegou e onde estava?
Claro que ele só estava falando comigo daquele jeito porque estávamos só nós dois no elevador.
- A hora que cheguei o senhor pode saber, mas com quem eu estava não é da sua conta.
- Sou seu chefe. – falou furioso.
- E eu sou sua funcionária... Nada mais. Não lhe devo satisfações sobre minha vida pessoal.
- Não quando eu não preciso sair quase de madrugada pra tirar minha funcionária da cadeia.
A porta do elevador se abriu e chegamos ao térreo.
- Almoço com seu chefe hoje. – Avisou.
- Isso é um pedido ou uma ordem? – parei.
- Um pedido, Babi.
- Ok, já que é um pedido, eu aceito.
A porta se abriu automaticamente e dei de cara com Anon.
- Anon 1? O que você está fazendo aqui? – olhei imediatamente para as mãos dele, que carregava uma sacola.
Porra, Heitor não estava brincando.
- Sinto muito não ter entregado sua encomenda antes, senhora Bongiove. Mas não me autorizaram entrar no prédio, por eu ser segurança do senhor Casanova.
- Por que Anon 1 não pode entrar aqui, Sebastian?
- Nada que tenha a ver com Heitor passa por esta porta. – Ele disse seriamente.
- Obrigada, Anon 1. – Peguei a sacola das mãos dele e abri rapidamente.
Caralho, muitas calcinhas. Fechei imediatamente.
- Você... Que comprou?
- Sim... Espero que sejam do seu gosto. – Ele sorriu e vi seus dentes pela primeira vez.
Olha que Anon 1 não era de se jogar fora. Até porque Anon 2 era feio.
Eu sorri e ele virou as costas e atravessou a rua movimentada.
- Agora o segurança pessoal de Heitor lhe traz encomendas?
- E eu vou ter que me demitir aqui mesmo, Sebastian, já que não posso mais cruzar esta porta.
- Do que você está falando? – ele olhou nos meus olhos, confuso.
- Você acabou de dizer que nada que tenha a ver com Heitor cruzaria esta porta.
- E você está tão envolvida com ele assim?
- Qual é a sua, desclassificado? Me rejeitou umas mil vezes, fez até um limite de idade para que eu não pudesse entrar na sua vida. Daí eu me apaixonei por outro homem e você decide que me quer?
Ele começou a ficar enrubescido, para não dizer furioso. Claro que eu precisava da porra do emprego, mas Sebastian não tinha direito de querer mandar na minha vida.
- O que você disse? – ele perguntou.
- Que você me rejeitou inúmeras vezes e...
- Você está apaixonada por Heitor Casanova? – ele quase gritou.
- Eu? Não... Eu não disse isso. Certamente você ouviu errado.
Eu disse? Ou não disse? Ele ficou me encarando. Porra, eu acho disse!
- Bárbara, você não pode se envolver com Heitor... Por que...
- Por quê? Vamos, fale, Sebastian? Porque eu já sei o que se passa entre vocês. E Heitor não está mais com Milena. Consequentemente o caminho está livre para você. E quer saber mais? O noivado deles era de aparências... Por conta da desclassificada da mãe dela. O passado é passado. O que houve entre o seu pai e o pai dele não tem nada a ver com vocês dois.
- Babi, sua louca, tem a ver com nós dois sim... Comigo, com ele, com Milena e com você.
- Comigo? – eu ri, sarcasticamente. – Estou chegando agora nesta história, Sebastian. E sinceramente, só quero que tudo se ajeite. Eu levei anos da minha vida para me reconstruir. E se eu queria que fosse o desclassificado do Heitor Casanova a me fazer esquecer tudo e me apaixonar novamente? Claro que não. Mas aconteceu e pronto. Não há como voltar atrás. E quer saber? Milena gosta de você ainda.
- Ai-Meu-Deus... Você falou com Milena sobre isso? – ele colocou as mãos no rosto, atônito. – Você não tem os mesmos genes que eu. Porque você é a porra de uma louca desvairada.
- Claro que não tenho os mesmos genes que você, seu imbecil. E quer saber? Prefiro ser a louca desvairada do que uma covarde, que deixa o amor da sua vida por conta de um passado ridículo, que não tem nada a ver com você.
- É sobre a minha família... O meu pai. Heitor fez a sua cabeça.
- Eu tenho cara de manipulável?
- Porra, porra, porra! Tenho vontade de esganar você, Babi.
- Sebastian... Quem é você? – arqueei a sobrancelha, sentindo meu coração bater forte. – Eu... Não quero brigar. Sou grata por tudo que você fez por mim. Mas já passei tempo demais fazendo o que outra pessoa queria. Isso não vai acontecer de novo... Principalmente porque eu mal o conheço. Pelo menos Jardel no início fingiu ser diferente. Você não... Está dando as caras rápido demais. Qual é a sua, afinal?
- Me desculpe, Bárbara.
O olhei, ainda confusa. Por algum motivo, e eu não sabia exatamente, gostava daquele homem. Mas caramba... Ele era só meu chefe... Que eu conheci praticamente “ontem”.
Ele pegou a sacola da minha mão e abriu, levantando uma calcinha rendada, fio dental, que certamente não taparia nem um terço do que quer que fosse.
- Que porra é essa? – segurou a calcinha pelo dedo, enquanto olhava incrédulo.
Puxei a sacola da mão dele e guardei a calcinha. Por Deus, Anon era um pervertido!
- Estou fora. – Virei as costas e comecei a andar.
O desgraçado me seguiu.
- Me desculpe, Bárbara.
- Não estou ouvindo você... – comecei a cantarolar “These Days”.
Ele me puxou pelo braço novamente, me fazendo parar. Dei uma bofetada na cara dele, que levou a mão ao rosto, aturdido.
- Me desculpe, Sebastian, mas me deixe em paz. Você teve oportunidade de ficar comigo, mas não quis. Fugiu como o diabo foge da cruz. Agora eu vou ficar com Heitor... E você não vai me impedir.
- Que parte de “eu não estou a fim de você” não ficou claro, porra?
- Pare de gritar. Estamos no meio da rua, seu maníaco transtornado. Por muito menos eu bati em Heitor. Isso não vai ficar assim. Acha que por ter ido na delegacia e pago minha fiança tem direitos sobre mim ou sobre meu corpo? Não, não tem. E quer saber, vou pagar cada centavo do que você me adiantou do salário. Bem que eu achei que era esmola demais... Até salário adiantado e...
Ele tapou a minha boca:
- Cala a boca, caralho. Eu amo Milena.
Fiquei quieta e quando percebi Anon 1 estava retirando Sebastian à força de perto de mim, enquanto ele tentava se desvencilhar daquele “homem em metros” que o segurava.
- Pode ir embora, senhora Bongiove. – Anon disse, enquanto o segurava firmemente.
- Babi, espera. Precisamos conversar. – Sebastian pediu, quase gritando.
- Obrigada, Anon. – Eu saí correndo, sem olhar para trás.
Cheguei em casa e fechei a porta, transtornada. Nem consegui me mover. As lágrimas caíram imediatamente. Parecia um pesadelo. Sebastian parecia tão bonzinho. E ainda teve o descaramento de dizer que amava Milena no final.
Que ódio!
Salma apareceu, vindo do corredor.
- Babi? O que houve? – ela estava de pijama e com cara de sono.
Eu sequer conseguia falar. Ela correu e foi fazer um chá e quando percebi estava ligando para Ben, mandando-o vir imediatamente para casa.
Sentei no sofá esperando que o chá viesse logo, para que eu pudesse me acalmar. Quando acabei o chá fervente que tinha na xícara, que tive que tomar aos poucos para não queimar a língua, Ben entrou na porta. E eu já estava bem mais calma.
Os dois sentaram um de cada lado no sofá, me deixando no meio. Eu já disse o quanto aqueles dois eram importantes para mim e que sem eles eu simplesmente não era ninguém?
Ben olhou para os meus pulsos. Depois levantou meus cabelos e desceu a alça do vestido. E se não bastasse, foi até a sacola e abriu, retirando as inúmeras calcinhas de dentro.
- O que Thorzinho fez com você? – perguntou ainda de pé. – Eu vou matar o desgraçado. Eu o avisei.
- Não foi nada com Heitor. – falei. – Essas marcas foram... Posso dizer que tão fortes quanto os meus orgasmos.
- O que houve, então? – Salma perguntou. – Você... Para tudo... – ela me olhou, aturdida. - Passou a noite com Heitor?
- Sim... Da delegacia ele buscou ela e foram dormir juntos.
- Delegacia? – ela arqueou a sobrancelha.
- Depois eu conto amiga. A questão é que... Heitor é um príncipe tarado e pervertido, que rouba calcinhas... E eu estou apaixonada por ele.
- E por isso está chorando, Babi? Por que se apaixonar é horrível? Não tenha medo, linda. – Ben se ajoelhou na minha frente, alisando meu rosto.
- Porra, eu não acredito que você vai ficar com Heitor Casanova! – Salma falou, aturdida.
- Ele me pediu em namoro.
Ela levantou, andando de um lado para o outro, incrédula:
- Heitor... Seria capaz de fazer isso: pedir alguém em namoro? Ele... Ele não é este tipo de pessoa.
- Sim, Salma, ele é.
- Deus, me diga que isto não está acontecendo. – Ela olhou para o teto, como se estivesse falando com o divino.
- Espera aí... Se Heitor é um fofo, como eu já imaginava... Sabe que até cogitei que a Babilônia recebeu este nome em sua homenagem? – Ben me olhou, sorrindo. – Babi... Babilônia.
- Ben, eu nem sonhava conhecer ele quando inaugurou a Babilônia. Não força as coisas...
- O que houve então, porra? Se as marcas pelo seu corpo são de amor, Thorzinho é um fofo e você está namorando com ele... – Ben tentava entender.
- Estou sem trabalho de novo. – Confessei.
Os dois me olharam e começaram a gargalhar.
- O que foi? – perguntei, chateada. – É sério... Eu me demiti.
- Isso não é novidade, linda. – Ben foi para a pia, lavar a louça enquanto Salma ligou a TV.
- Eu não estou chorando porque estou desempregada, porra. Estou assim porque Sebastian é um louco, doente, que agora quer ficar comigo, só porque estou com Heitor. Ele foi agressivo... Com palavras... E...
Ben largou a louça e voltou para o meu lado.
- Acho que ele é o tipo de homem que não quer perder para Heitor, em função da briga pessoal deles. É a única explicação que encontrei. Me encheu de palavrões e me ofendeu.
- Eu... Não vejo aqueles belos pares de olhos azuis, de uma educação sem precedentes, fazendo isso... – Salma balançou a cabeça, confusa.
- Desclassificado. É isso que Sebastian é. Eu fui firme e forte. Mas quando cheguei aqui... Não aguentei. Estou decepcionada... Eu gostava tanto dele. Parecia que nos daríamos bem, como amigos, inclusive.
A campainha tocou. Ben abriu a porta e Sebastian estava ali.
- Babi, você entendeu tudo errado. Por Deus, deixe-me explicar. – Ele falou, sem entrar.
Ben deu um tapa na cara dele, que ouvimos o som da sala:
- Seu tarado. Deixe a minha amiga em paz. – disse, fechando a porta.