Capítulo 52
2188palavras
2023-01-13 08:18
- Só quero você ajoelhado se for no meio das minhas pernas, Heitor.
Porra, eu disse isso mesmo? Quem é você, Bárbara Novaes? O que é este sentimento que parece cegar você? O que é esta coisa, que faz com que o frio na barriga seja constante, fica sem ar, seu coração dispara e quando não vê este homem, ainda assim ele não sai da sua mente?
Pelo visto ele também não esperava pela resposta que eu dei, porque ficou um pouco sem ação.
- Vou trocar de roupa... Prometo ser rápida.
- Leve o tempo que quiser... Só não garanto que vou suportar esperar aqui e não invadir seu quarto.
- Vai conseguir sim... Você acaba de pedir em namoro uma mulher de pijama, recém-saída da cama. Então consegue qualquer coisa, Heitor Casanova. – Sorri e corri em direção ao quarto.
Assim que abri a porta, Ben estava mexendo no meu armário, com todas as portas escancaradas.
- O que... Você... Está fazendo? – fiquei confusa. – Não estava na sua cama, sonhando com os anjos... Ou demônios?
Olhei para a cama e sobre ela tinha um conjunto de lingerie branco, rendado, minúsculo.
- Ben, de onde você tirou isso?
- Salma tem vários guardados. – Ele falou baixo. – Não se preocupe que é novo, ela nunca usou. E sinceramente, isso é muito mais a sua cara do que a dela, porque é totalmente delicado e passa inocência.
- Eu não sou inocente.
- Enfim, você vai perder a virgindade de novo. Uma rapidinha no elevador não conta, Babi.
- Ben, quantos himens você acha que eu tenho?
Enquanto eu encontrava uma roupa para vestir ele passava a escova nos meus cabelos. Botei um vestido branco, para combinar com a lingerie. Ben pegou um scarpin que sabia que eu gostava e borrifou muito perfume em mim enquanto eu o calçava.
- Deus... Ele vai achar que sou de outro mundo. Quanto tempo levei? Três minutos?
- O suficiente para arrasar, amiga.
- Como estou? – olhei-me no espelho.
- Pelo menos um batom. – ele pegou um de cor vermelha na minha maleta de maquiagem e colocou nos meus lábios.
- Está bom assim, Ben.
- Babi? – ele chamou quando eu já estava saindo.
- Sim?
- Faz oral nele.
- Não... Ainda não.
- Babi... Faz... E dá todos os buracos.
- Você está louco, Ben?
- Aproveita cada segundo daquele corpo perfeito de Heitor Casanova... Se esbalda, amiga, goza no mínimo cinco vezes.
Pisquei e sorri:
- Isso eu acho que vai acontecer.
Heitor estava escorado na parede, ao lado da porta. Usava uma calça caqui e camisa branca, com as mangas dobradas umas duas voltas. Os cabelos estavam bem penteados e percebi que ele havia sido generoso com o perfume também. Aquele homem era lindo. E meu, todo meu. Ah, Deus, é mais do que eu pedi, mas menos do que mereço. Ok, não me dê ouvidos. Acho que estou preparada para merecer alguém legal. Eu não sou uma má pessoa. Mesmo as vezes que errei, foi tentando acertar.
- Você... Está linda. – Ele veio na minha direção.
- Então... Podemos ir?
- Sim, Bárbara... Imediatamente.
Descemos as escadas de mãos dadas, dedos enlaçados e ele me segurava firmemente. Parecia um sonho. Eu estava saindo com Heitor Casanova. E o pior... Eu estava gostando dele, mesmo sendo um desclassificado.
Entrei no Maserati. Embora eu soubesse que não era zero quilômetro, tinha cheiro de carro novo.
Ele ligou o carro e ouvi o som do motor. Eu não era uma amante de carros, mas um Maserati era um Maserati. Não tinha como ignorar aquele carro.
- Alguém aí tinha curiosidade em entrar no Maserati? – ele observou a minha admiração.
- Este carro é simplesmente perfeito.
Ele riu:
- Por isso que você decidiu riscá-lo?
Comecei a rir:
- Me desculpe... Foi mal, tarado desclassificado.
- Agora que sei o significado disto, não tenho certeza se quero ser chamado assim.
- Acho que criei esta palavra para você, Casanova. – O olhei debochadamente.
- Obrigado... Nunca me senti tão lisonjeado antes. – Ironizou.
- Onde estamos indo? – perguntei, quando o vi pegando a autoestrada.
- No melhor Motel de Noriah Norte.
- No... Palace Noriah Norte?
- Sim.
- Eu... Jamais imaginei um dia pisar os pés lá.
- É o que você merece, Bárbara. O melhor.
- Estou ansiosa. – Confessei.
- Ben disse que você nunca havia ido num Motel.
- Em partes, sim.
- O que seria “em partes”? – arqueou a sobrancelha.
- Eu fui... Uma noite.
- Porra, então já foi. Fiquei imaginando como agiria, por ser sua primeira vez.
- Eu fui algumas horas... Com um... Prostituto. Então não sei se conta.
- Prostituto? – ele me olhou, desviando a atenção do trânsito. – Você pagou um prostituto?
- Não, não paguei. Achei que era um homem normal. Eu... Estava há dois anos se sexo... Então Ben e Salma, minha amiga... Pagaram ele.
- Você está dizendo que seus amigos pagaram um prostituto pra comê-la? – ele estava incrédulo.
- Sim... – coloquei as mãos no rosto, envergonhada, rindo.
- Porra, Bárbara... Você não precisava de um prostituto. Eu pagaria para comê-la.
- Aliás, falando em pagar, eu acho que ganhei um Maserati. Afinal, vou passar a noite com você. – Debochei.
- Não mesmo... Não me largou de volta onde prometeu, então me devia esta noite... Inteira... Ou melhor, vai ficar comigo até o horário que eu quiser.
- Não o devolvi são e salvo porque fomos presos, senão teria voltado e sabe disso.
- Não mesmo... Você me fez ir preso. Me obrigou a dirigir uma moto.
- Desclassificado. E como é mesmo que disseram? “Prática de ato obsceno em público”.
- Ou seja, masturbação. Não era mais fácil dizerem que você estava me masturbando? – ele riu. – Voltando ao prostituto... Foi... Bom?
- Eu nunca tinha recebido sexo oral.
- O quê? – ele diminuiu drasticamente a velocidade do carro.
- Sim.
- Mas, você não teve um namorado, que morreu?
- Sim, e eu não o matei. – Deixei bem claro.
- Eu sei. – Ele riu.
- Namorei com ele oito anos e não recebi um oral neste tempo.
- Isso... É verdade? É possível?
Assenti, com a cabeça. Realmente parecia inacreditável.
- E... O prostituto deu conta do recado?
- Ele me roubou, Heitor.
- Roubou? Como assim?
- Me fez oral e quando acordei ele havia ido embora com a minha bolsa, contendo celular, um cartão novinho em folha que minha avó tinha acabado de me dar e todo dinheiro vivo que eu havia recebido dela junto. E... Não fez sexo comigo... Tipo... Só...
- Desgraçado. Teve o prazer de chupar você a ainda levou dinheiro por isso? Me dê o nome dele que vou mandar matá-lo.
- Você... Faria isso?
- Sim, eu faria. Por você, eu faria. – Me encarou.
- Ele... Mentiu o nome para mim. E para os meus amigos também. E trocou o número depois. E o carro que ele usava não era dele. Era alugado.
- Projeto de homem. – Praguejou.
- Eu já lhe disse que minha amiga trabalha na Babilônia?
- Se disse, eu não lembro.
- O nome dela é Salma.
- Pelo nome não a conheço. Muita gente trabalha lá.
Ele chegou em frente ao Palace Noriah Norte, um motel que não tinha nome de Motel, mas todos sabiam que também não era um Hotel. Caríssimo, frequentado só pelos magnatas.
- Acha que eu valho tudo isso? – olhei para o prédio que de tão iluminado parecia dourado.
- Você vale muito mais que isso, Bárbara.
O Palace Noriah Norte ficava na autoestrada. A entrada ficava de frente para a rua principal, onde se passava primeiramente por uma espécie de pórtico. Uma estrada bem iluminada, com coqueiros altos e cheios de minúsculas luzes nos troncos indicava o caminho até o prédio.
Como estava escuro, eu não conseguia ver muito bem o que tinha além da estrada, mas me parecia um gramado bem cuidado com alguns pergolados espalhados.
O prédio era térreo, mas gigantesco. Heitor estacionou o carro numa vaga na lateral. Havia poucos automóveis.
Assim que saímos, ele pegou minha mão novamente. Eu me peguei olhando para nossos dedos entrelaçados, enquanto nos dirigíamos à recepção. Era estranho, muito estranho. Como se fôssemos... Um casal. Sendo que há pouco tempo atrás brigávamos como cão e gato. Eu até tive vontade de esfolar a cara linda dele no asfalto.
A recepção não era muito grande. Assim que entrava na porta, larga, à direita tinha o balcão da recepção, com vidro separando o cliente do atendente. À esquerda, uma sala de estar, com sofás de cor bege claro, estofados, parecendo divãs. Não que eu fosse uma expert em terapeutas e divãs, mas sim, já havia tentado contar meus problemas para um estranho. A questão é que depois descobri que meus amigos falavam a mesma coisa que ele e não cobravam por isso.
Um tapete peludo com mesa de centro, toda em vidro, completava o ambiente acolhedor, pela luz fraca e envolvente.
Realmente Heitor tinha uma reserva. E nem precisou se identificar. Eu não soube se era porque meu acompanhante era VIP naquele lugar, por ir tantas vezes, ou porque o rosto dele era conhecido por boa parte do país.
Ele passou o cartão na porta automática e entramos num corredor largo, com luz ainda mais fraca do que na recepção, com várias portas. Andamos praticamente todo o corredor, até chegar na última porta. Ele passou o cartão e a porta bipou, abrindo sozinha.
A suíte era gigantesca. Em nada parecia o motel barato que o prostituto ladrão me levou. Uma cama enorme à esquerda, com dossel branco, combinando com todo o quarto. Espelhos por todos os lados que meus olhos alcançavam. O banheiro era todo de vidro, de onde se via um balcão de mais de dois metros com mármore branco e pia de vidro. A banheira era simplesmente gigante e já estava ligada, borbulhando, completamente cheia de espumas. Uma parte fechada, onde certamente era os sanitários.
À direita, uma sala parecida com a da recepção, com a diferença de que era toda branca. Até o tapete era branco e eu fiquei pensando o quanto seria difícil limpar aquilo.
Até que vi o pau de pole dance num canto, mais adiante, com espelhos dos dois lados da parede, inclusive no chão. Luzes brilhantes e coloridas ficavam em cima do espaço de mais ou menos 3 metros quadrados.
- Não vou dançar naquilo. – falei, jogando minha bolsa com força no sofá.
- Calma, Bárbara. É só um lugar... Que oferece o que os clientes possam querer.
- Você quereria me ver dançando naquilo? – o encarei.
- Não... Não... Quer dizer, se você quiser. – Ele ficou confuso.
- Eu jamais vou botar a minha mão naquela coisa. – sentei no sofá, frustrada.
- Quer que eu mande alguém vir aqui tirar o poste imediatamente? – ele parou na minha frente, se abaixando na minha altura.
- Não... Eu vou botar um lençol tapando. – Cruzei os braços.
- Confesso que eu posso estar um pouquinho feliz com a sua atitude.
- Feliz? – arqueei a sobrancelha.
- Ciúme de mim?
- Eu? Não, claro que não.
- Tirando a parte do pole dance, você gostou daqui?
- Sim... É muito bonito. – Confessei.
- Mas tem a melhor parte, que você ainda não viu.
- Quantas vezes você veio aqui, porra?
- Bárbara, não vamos deixar o ciúme falar mais alto, não é mesmo? Sim, eu tive outras mulheres, assim como você teve outros homens. Mas o que isso importa? Houve um dia que nos encontramos... E pronto. O resto nada mais tem importância. A partir daqui, é uma nova história que vamos construir juntos.
- Vamos? – perguntei, confusa, sentindo meu coração bater mais forte ao ver tanta humildade nos olhos deles.
Eu queria dizer tantas coisas sobre o que eu sentia, mas as palavras não saíam. Só conseguia falar o que eu achava ruim, que era tudo que lembrava o passado não tão distante, na verdade de dias atrás, dele rodeado de mulheres. Como Heitor conseguia falar tão facilmente sobre o que ele estava sentindo de verdade? Eu tinha medo... Muito medo de assumir para mim mesma o que eu estava sentindo. E mais medo ainda de confessar a ele que talvez eu estivesse completamente apaixonada.
Por mais que eu tentasse, não conseguia ver futuro naquilo. E sim, eu gostava dele. Mas éramos de mundos completamente diferentes. Até que ponto o sentimento falaria mais alto que a triste realidade da vida, que nos separava anos luz?
Mas como ele mesmo havia dito: se não tentássemos, não saberíamos.
Ele me pegou no colo, com facilidade. Passei meus braços sobre seu pescoço e nossos olhos se encontraram, enquanto ele me conduzia até uma porta espelhada.
Ele acionou um botão e a porta se abriu.
Fiquei olhando simplesmente maravilhada para tudo:
- Meu Deus! Eu... Não tenho palavras para isso.