Capítulo 51
2358palavras
2023-01-13 08:17
- Por quê? Celine acha que ela precisa de um trabalho para se distrair. Ela só fica em casa e quando sai é ao Shopping fazer compras. Nem viajar Milena quer mais.
- Um trabalho para Milena não precisa ser exatamente o cargo de vice-presidência da North B. E que fique claro que não estou me referindo a ela enquanto um homem que a conhece, um quase parente... E sim enquanto profissional e CEO da North B.
- Talvez você tenha razão.
- Quer que eu pague um salário de vice-presidente a ela, eu posso fazer isso. Mas exercer as funções do cargo está fora de cogitação. Preciso de alguém que realmente me ajude e que entenda sobre a empresa e o que é preciso fazer.
- Já pensou em alguém?
- Sim, eu havia pensado em Bárbara.
- Ela não é madura o suficiente. Ainda não... E sabe que tirá-la da Perrone será difícil. Sebastian deve estar fazendo de tudo para que ela fique por lá. Principalmente quando souber que você está... “Interessado” nela... Pra não dizer apaixonado. – Riu, ironicamente.
- Não estou apaixonado. – falei imediatamente, já na defensiva.
- Não?
- Eu ainda estou tentando definir o que significa a porra que eu sinto por ela.
- É uma porra que se chama paixão. E é seguido por outra porra que se chama amor.
- Não... – Neguei novamente, confuso.
- Heitor, e você já decidiu como vai fazer com a Babilônia? Acha que dará conta de dirigir a North B e a boate?
- Percebi a dificuldade agora, quando precisei viajar em função da compra das terras.
- É só o início. As viagens são frequentes e você sabe disto.
- Talvez eu tenha que deixar alguém para gerenciar a Babilônia na minha ausência. Alguém que entenda bem do negócio.
- Já não tem alguém de confiança que faz isso?
- Tem. Mas é muita coisa para ele gerenciar sozinho.
- Já pensou em algum nome?
- Sim.
- Posso saber quem?
- Cindy.
- Cindy?
- Ela sabe tudo sobre a Babilônia. É inteligente e está por dentro de tudo que acontece. E além de tudo, todos a respeitam naquele lugar.
- E respeitavam você, Heitor? Um chefe que bebia da hora que chegava até a que saía?
- Para isso eu tinha alguém por detrás de mim. Digamos que era ele que dava as ordens. Para os funcionários eu não passava de alguém que vinha raramente. Porque ficava na maioria das vezes escondido no meu mundinho particular lá dentro... Que foi descoberto por Bárbara. E depois disto... Tudo virou de cabeça para baixo.
- Não confio em Cindy.
- Eu sei. E ironicamente ela não gosta do senhor.
- Pretende ficar com ela e Bárbara? Acha mesmo que Babi aceitaria isso? E se tentar esconder, sabe que ela vai triturar você. Ela não me parece uma mulher que aceita ficar em segundo plano na vida de alguém.
- Bárbara não é segundo plano. – Me ouvi dizendo, sem nem pensar antes. – Eu sempre tive uma relação de negócios com Cindy. Muito do que a Babilônia se transformou vem das ideias e do trabalho dela.
- Eu gostaria de ver quem venceria esta batalha: Cindy ou Bárbara? – ele começou a rir. – Posso começar a fazer minha aposta?
- Em quem apostaria?
- Toda minha herança em Bárbara. Por ela ser quem é e por você estar de quatro por ela, meu filho.
- Eu... Preciso pensar pai. Uma coisa de cada vez. Já acabei a porra do noivado de fachada. Mas ambos sabemos que Cindy é um grande problema... Ela não vai entender que não fará mais fazer parte da minha vida pessoal e sim profissional. E prevejo que ela vai ficar uma fera.
- Eu fiquei puto com você quando soube que estava na delegacia. Mas quando vi Bárbara junto confesso que me tranquilizei um pouco.
- Acha que Bárbara tem juízo? – eu gargalhei. – Ela é a porra de uma cabeça de vento.
- Não sei... Só sei que ela é sincera, mas ao mesmo tempo fala demais. Não me parecesse interesseira. É forte e decidida. Sozinha... Viveu uma vida difícil. A família tem posses, mas ela não aceita ajuda. Mas a maior certeza que tenho de todas é que ela não veio aqui naquela noite só para devolver a minha carteira, usando um vestido vermelho que mostrava cada curva do seu corpo... – ele riu. – Ela veio por você.
- Eu só me interessei por ela naquele dia. Antes eu tinha vontade de matá-la com minhas próprias mãos. Só que quando a vi conversando com o senhor, com aquele vestido... – lembrei exatamente como ela estava, pois minha mente havia gravado aquilo e eu poderia apostar que era eterno. – Eu sabia que não descansaria até tirá-lo. – ri.
- E conseguiu?
- Com muito esforço... E até então pensei que quando transasse com ela passaria a vontade. E tudo voltaria ao normal.
- E?
- Não passou... Aumentou a vontade... E agora só penso em repetir. – Me ouvi confessando. – Enfim, se eu quiser continuar isso, vou ter que provar que é só ela na minha vida... Ou estou fodido.
- Heitor, você está fodido de todas as maneiras e sabe disto, não é mesmo?
- Sim, eu sei. Mas... E você, pai... Como está? Como se sente com relação à doença?
- Na mesma. Mas não contei para Celine e Milena e sigo exigindo que você não conte também.
- Não tem noção de quanto tempo isso vai durar? Tem tomado algum medicamento?
- Não se preocupe, meu filho. Eu não vou partir antes de você me dar um neto. Eu preciso disto, para ter certeza de que a North B. não morrerá comigo.
- Lamento informar, pai, mas você será eterno então, porque eu não terei um filho. E infelizmente a North B. morrerá com você, a não ser que queira fazer uma filial no paraíso.
- Quanta ironia com a morte. E medo de ter um filho.
- Não tenho medo. Depois de passar anos da minha vida sendo castigado por um filho que sequer nasceu, jamais terei uma criança. Eu nem tenho dom para isso. Nunca me imaginei sendo pai. – Levantei do sofá. – E quer saber a melhor parte? Bárbara talvez não possa ter filhos. Então, seremos um casal feliz... E sem filhos.
- Eu só não levanto desta cadeira porque minha doença não deixa... Mas o que você disse neste momento é digno de eu levantar, como um milagre de Deus.
- Sobre eu não querer filhos? Sobre Bárbara talvez não poder ter filhos?
- Sobre você mencionar a possibilidade de viver com Bárbara no futuro. E ainda tenta me convencer e “se convencer” de que não está perdidamente apaixonado por ela.
Eu estava deitada na cama. Não esperava que a noite acabasse daquela forma. Ben me chamou de irresponsável e levantou a possibilidade de Allan ficar bravo comigo depois do que eu obriguei o filho dele a fazer.
Sim, eu havia sido irresponsável. Salma me alertou sobre os documentos da moto. E também me falaram sobre os capacetes. Ainda assim eu deixei a emoção e a adrenalina falarem mais alto. Foi como se eu tivesse voltado aos tempos que passei com Jardel, quando fazíamos loucuras sem nos importarmos com as consequências.
Heitor não era como Jardel. Ele era um homem de verdade, que tinha uma reputação a zelar, estava com frequência nos noticiários de todo o país.
Eu tinha 27 anos e às vezes agia como se tivesse menos. E não importava que eu não pude viver tantas coisas na adolescência. Ela tinha passado. E era hora de agir como mulher. Mas... E se aquela fosse eu mesma? Se eu nunca mudasse, e fosse uma eterna adolescente, que não pensava muito nas consequências de nada? Quantos empregos perdi por abrir minha boca e dar minha opinião quando ninguém pediu.
E se aquela Bárbara seguisse assim, mesmo aos 40, 50, 60 anos? Porque minha mãe era assim: alegre, vívida. Eu fui uma Bárbara que sofreu por 8 anos. Ou seja, perdi grande parte da minha vida sendo responsável por uma pessoa que sequer era meu parente, meu filho, ou algo do tipo. Eu fui triste... Calada, porque tinha medo de dizer o que pensava. Eu fazia coisas que não queria fazer. Eu tolerava e perdoava. Eu vivia em constante tensão. Agora eu podia fazer o que eu quisesse, porque não tinha ninguém para me impedir.
Ah, Jardel, como você fodeu a minha cabeça e a minha vida. Espero que esteja ardendo no fogo do inferno neste momento.
E agora, eu não pensaria mais nele. Pois tinha certeza de que Heitor Casanova ocuparia todo o meu tempo.
Deus, parecia mentira tudo que passei naquela noite com ele. Fomos presos, juntos! Ele veio até aqui por minha causa. Emprestou o Maserati para o meu amigo. E ainda havia deixado bem claro que terminaria com Milena e Cindy por mim.
O interfone tocou. Olhei no relógio e já passava da uma hora da madrugada. Ben certamente já estava dormindo, pois ele só usava seu quarto para isso. Se estivesse ainda acordado, estaria comigo ou olhando um filme na sala.
Levantei, sentindo certa preocupação de quem poderia ser àquela hora. Já me passava pela cabeça que pudesse ser algo com Salma.
Abri a porta e dei de cara com Heitor. Enruguei a testa, confusa. Olhei para meu próprio corpo... Eu estava de pijama, meias, os cabelos desarrumados. Sem pensar duas vezes, fechei metade da porta e me escondi pelo lado de dentro, colocando só parte da cabeça entre ela.
- Não adianta, Bárbara, já vi você da forma que dorme... E há a possibilidade de ser pior quando acorda. – Ele riu, sarcástico.
- O que... Você faz aqui?
- Eu disse que havia preparado algo para nós, lembra?
- Mas... Nós acabamos de ser presos.
- E meu desejo por você só aumentou. – Ele empurrou a porta, entrando.
Fiquei imóvel, enquanto ele mesmo fechava a porta:
- Se quiser trocar de roupa, troque. Se quiser ir assim, sem problemas.
- Eu... Estou horrível. – falei, sem jeito.
Heitor veio na minha direção e eu fui andando para trás, até parar na parede. Ele colocou as mãos sobre a superfície, me trancando com seu corpo. Seus olhos eram fixos nos meus, com o verde intenso, brilhante, que acabava comigo.
Uma das mãos ajeitou meus cabelos, até ele achar que estava bom.
Eu comecei a rir:
- Estou apresentável? – meus olhos não desviavam dos dele e meu coração batia tão forte que eu conseguia ouvir o som dele fora do meu corpo.
- Eu já disse que você é linda de qualquer jeito?
Eu, que sempre tinha palavras para tudo, ruborizei, sem conseguir dizer nada.
Os lábios dele foram se aproximando dos meus, e eu não impedi aquele beijo. Abri a boca, sentindo a língua quente e exigente. Correspondi ao beijo, naquela sintonia que começávamos a ter, como se tivéssemos nascido fazendo aquilo, tamanha sincronia que nossas línguas e lábios tinham.
Minhas mãos pousaram sobre a nuca dele, que alisei levemente, sentindo um gemido fraco, contido pela minha boca. O corpo de Heitor juntou-se ao meu e não passava um simples átomo entre nós.
Senti seu membro sob a calça, contra meu corpo. Deus, se no elevador havia sido perfeito, eu começava a me perguntar como seria numa cama. Meu corpo clamava pelo dele.
Retirei a camisa que estava bem arrumada dentro da calça dele e passei as mãos pelas costas quentes. O cheiro bom dele me enlouquecia e minha calcinha já estava completamente molhada.
Ele foi saindo, enquanto eu praticamente ia junto dele, não querendo deixar sua boca.
- Calma! – ele passou o dedo na minha boca úmida. – Vamos a um lugar. Vim até aqui para isso, esqueceu?
- Heitor... Eu... – meu coração batia forte, minhas pernas estavam moles e minhas ideias confusas. – Eu não posso.
- Por que, Bárbara? Somos adultos, livres...
- Não, você não é livre, Heitor.
- Sou... Agora eu sou. – Ele sorriu.
Olhei para o dedo anelar dele. E percebi o quanto eu era distraída. Porque nunca me dei conta se ele tinha uma aliança. Então, se havia tirado, não tinha como eu saber.
- Sim, eu acabei o noivado. – Sorriu novamente. – Mas eu não tinha uma aliança.
- Como assim? Noivados não exigem alianças? – fiquei confusa.
- Eu nunca me importei em ter uma aliança. Meu compromisso era tão insignificante que eu dei um anel a ela... Só isso.
- E... Como ela ficou?
- Sinceramente, não sei. Terminei com Celine, assim como foi ela quem me fez assumir o compromisso com Milena. Certamente a esta hora ela já deu a notícia para a filha, que está imensamente feliz por não precisar mais casar comigo.
- E a loira do pau do meio?
- Esta é a próxima. Ainda não tive tempo de falar com Cindy. Mas que fique claro que eu não tenho nada com ela, Bárbara.
- Você sabe que isso não é verdade, Heitor.
- Eu não tenho nada com ela.
- Então... Heitor Casanova é um homem livre agora?
- Livre? Não, não sou. Acho que eu nunca quis tanto na vida me comprometer com alguém como eu quero com você, Bárbara Novaes.
Eu começava a ficar sem ar. E certamente preste a ter um infarto.
- Eu... Vou me trocar... – falei, com dificuldade.
Tentei passar por ele, que me puxou pela mão, fazendo-me voltar em sua direção. Nossos olhos se encontraram.
- Bárbara, você quer ficar comigo?
Nunca vi um pedido tão estranho na vida... E ao mesmo tempo tão intenso, sincero e fofo.
- O que isso quer dizer? – eu ri, provocando, ao perceber que ele parecia nervoso.
- Quer dizer... Que eu não quero outra mulher na minha vida, só você. Seria... Como namorar, eu acho.
Eu fiquei olhando para ele, sem dizer nada.
- Quer que eu me ajoelhe, para pedir oficialmente, Bárbara?