Capítulo 50
2468palavras
2023-01-13 07:25
Fiquei temeroso de responder a pergunta. Bárbara me testava o tempo inteiro e tudo que eu dissesse poderia ser usado contra mim futuramente, por ela mesma.
Sim, oficialmente Cindy era minha mulher e não Milena. Porque eu não comia Milena. Sequer a beijava de língua. Na verdade, nós mal nos víamos. Porra, por que mesmo eu segui com este noivado ridículo? E só me questionava agora sobre isso, em função de Bárbara estar querendo mil detalhes sobre tudo.
Se eu era fiel à Cindy, mesmo ela sendo boa de cama, e eu até então achar que gostava de estar com ela? Mais ou menos.

Claro que Bárbara vai achar que eu jamais serei um homem fiel. A questão é que, jamais eu fiquei tão louco por uma mulher quanto eu estava por ela. Se eu seria fiel à Bárbara? Não tenho certeza. Só saberia se estivesse com ela. Nós só transamos uma vez... Ainda assim eu queria muito mais dela... Eu era a porra de um homem que pensava nela o dia inteiro... E sonhava com ela durante a noite. Do nada, eu me via pensando no beijo dela, nos seus olhos, nos seus trejeitos, na sua boca me chamando de desclassificado. Mas como eu saberia se aquilo duraria pra sempre e nenhuma outra mulher chamaria minha atenção novamente?
Nunca passei por aquilo antes. Mas sim, eu estava disposto a ser fiel a ela... Porque simplesmente não tinha vontade de tocar outra mulher, por enquanto. Eu sequer olhava para as mulheres que se exibiam quase nuas na minha frente todos os dias.
- Podemos ter esta conversa outra hora? Prometo explicar qualquer dúvida que você ainda tenha.
Ela deu de ombros:
- Se você prefere assim.
- O que Sebastian está fazendo aqui?

- Ele veio me ajudar. Não ficou claro?
- Você sabe que eu não gosto dele.
- Eu também não gosto da loira do pau do meio. O que acha que demitir ela da Babilônia? – os olhos dela brilharam e arqueou a sobrancelha, esperando ansiosa pela minha resposta.
Puta que pariu! O que ela queria? Minha alma, meu sangue? Eu estava disposto a tudo por ela. E ainda assim parecia que para Bárbara não era o suficiente.

Toquei a bochecha dela, que estava levemente avermelhada. Os olhos seguiam fixos os meus. Levei os lábios aos dela e senti seu cheiro envolvente, dando-lhe um beijo leve, um simples toque de lábios, mesmo que eu quisesse ardentemente sentir o gosto dela na minha boca.
- Preciso ir. Obrigado pela noite! – falei, tentando me segurar para não a tocar novamente.
- É isso? – me pressionou.
- Por hora, sim. Como eu disse, vamos conversar sobre isso, ok? Mas não aqui.
Ela assentiu, não parecendo muito satisfeita.
- Vá agora. Esperarei até que esteja no carro para que eu possa sair tranquilo.
- Não esqueça que, neste caso, estou indo para o carro de Sebastian. – Ela provocou, enquanto se dirigia para a porta, rebolando a bunda perfeita naquela calça de couro, com a bota da mesma cor, a blusa preta mostrando cada curva do seu corpo.
Virei para o outro lado, temendo me excitar no corredor da delegacia, depois de ter sido acusado de prática de ato obsceno em público.
Quando ouvi ela se despedir do policial que estava na porta, fui próximo da porta e percebi que entrou no carro de Sebastian, abrindo a porta de trás. Ufa, Ben estava na frente.
Pensar em Sebastian com ela me deixava profundamente irritado e com um ódio que eu nem conseguia descrever. Na verdade, pensar em qualquer homem desfrutando da companhia dela ou sequer receber os olhos dela sobre ele me fazia ficar puto.
Consegui convencer a policial mulher a me deixar sair pelos fundos. Assim que dei a volta no prédio da Delegacia, andei rapidamente até o meu carro. Pelo que pude perceber, somente dois repórteres seguiam esperando na frente da porta principal.
Fui diretamente para a mansão do meu pai. Olhei rapidamente para o interior do meu carro enquanto dirigia. Parecia estar tudo certo. Pelo visto Ben cuidou de tudo e não tirou nada do lugar. Eu tinha poucas coisas às quais tinha apego. Mas aquela Maserati era uma das que entravam na lista das coisas que eu mais amava. Por isso minha fúria quando Bárbara riscou-a de propósito. E por ironia, agora eu deixava o melhor amigo dela dirigir meu carro a fim de subir em seu conceito.
Se eu podia comprar outra? Claro que podia. Mas aquela era personalizada, feita especialmente para mim. As joias de herança da mãe dela mal davam para cobrir o prejuízo que ela causou. Se para ela era muito dinheiro, para mim era pouco. No fim, depois de ter ficado trancado com ela pela segunda vez no elevador, receber um beijo, um tapa e uma joelhada, eu já sabia que estava fodidamente louco por Bárbara. Devolver as joias era o mínimo que eu poderia fazer. E ela sequer deu falta do anel. Há quanto tempo será que ela tinha aquilo, para nem saber exatamente o que tinha dentro?
Estacionei o carro próximo da porta principal. Quando entrei na sala, meu pai e Celine esperavam, ansiosos.
Sentei de frente para Allan Casanova, um dos homens mais respeitados e conceituados do país: meu pai.
- Bebe algo, Heitor? – Celine perguntou.
- Não. Ele está parando de beber, não é mesmo, Heitor? – meu pai respondeu por mim.
- Sim... Tenho tentado. – Confessei e ele parecia já saber, mesmo sem eu ter dito.
- Como eu estava falando para o seu pai, Heitor, você não tem culpa de nada... É aquela mulher que acaba com tudo que ela toca. Certamente obrigou você a dirigir aquela motocicleta e...
- Não, ela não foi culpada. – Olhei diretamente para Celine. – Eu fui culpado.
- Querido... Não precisa tentar protegê-la.
- Não estou protegendo-a, Celine. Ela estava tentando me proteger.
Meu pai me encarava sem piscar. Cortou a conversa entre mim e Celina:
- Dirigindo uma motocicleta sem habilitação, com documentos vencidos e sem capacete para proteção. Praticando ato obsceno em público, tentou subornar o policial, desacatou-o e ainda o ameaçou de morte. Onde acha que esta porra toda vai parar amanhã? Na mídia nacional. Cairão em cima de você como urubus.
- Pai, ok, fui um irresponsável e não agi certo. Mas pouco me importo com a porra do que a mídia vai fazer. Eu passei dias fora resolvendo problemas da North B. Estava cansado... Cheguei do aeroporto e só passei em casa e fui atrás de Bárbara... A vida não é só trabalho, trabalho e trabalho. O senhor fez isso a vida toda... E o que ganhou em troca?
- A vida boa que você leva hoje, sem precisar se preocupar com nada. Foi isso que ganhei em troca.
- Sabe muito bem que isso tem um preço. E não, eu não vou ser como você... E não pode me obrigar. Assumi a North B., mas terei vida fora dela.
- Por que chegou de viagem e foi ver Bárbara e não sua noiva, Milena? – Celine me encarou, falando em tom de voz mais alto que o normal.
- Celine, eu não quero mais continuar com este casamento. – falei de uma vez, não amenizando as palavras.
Ela levantou, furiosa:
- Você só pode estar brincando. Ou aquela mulher drogou você.
Levantei e a encarei:
- Não a chame de “aquela mulher”. Ela tem nome: Bárbara. E... Eu estou gostando dela. – Confessei de uma vez, tentando encurtar o caminho das explicações.
Ela começou a chorar, copiosamente:
- Eu... Não acredito que vá fazer isso com a minha filha. Seu insensível... Vocês estão com tudo arrumado, com a data marcada... Já estávamos organizando a lista de convidados. Como você acha que Milena se sentirá? Quer que ela entre em depressão profunda novamente? Lembra que o médico disse que isso pode levá-la ao suicídio, caso piore? O que falaremos para a imprensa e nossos amigos?
- Eu não me sinto responsável pela doença dela. Você sabe que foi Sebastian...
- Foi “você” que a engravidou?
- Nunca pensou na possibilidade do filho ser dele?
- Isso é um ultraje. – Ela gritou. – Allan faça alguma coisa. Diga que ele vai casar. Heitor está denegrindo a imagem da nossa filha. Como pode pensar que aquela criança era de Sebastian?
- Ninguém pode me obrigar, Celine. Eu não tenho mais 21 anos, como quando você fez o que fez, me obrigando a oficializar um compromisso com Milena.
- Allan... – ela olhou para meu pai, buscando ajuda.
- Celine, eu vou para o escritório com meu filho. – Allan disse, fazendo uma circunferência com a cadeira de rodas, em direção à antessala, que dava no elevador.
Celine seguia reclamando, com seu choro fingido, cobrando algo que sequer Milena queria.
Eu poderia apostar que Milena ficaria feliz de finalmente um de nós ter dado um basta naquilo.
Segui meu pai, entrando com ele no elevador. Fomos até o escritório sem trocarmos uma palavra. Assim que chegamos, ele parou e apontou para o sofá, querendo que eu sentasse.
Assim o fiz e desta vez ele não estava atrás da enorme mesa, como se continuasse sendo o CEO, mesmo em casa, e não o pai.
Tinha sido uma noite agitada, mas eu estava feliz com o rumo que as coisas estavam tomando.
- Quer um copo de uísque? – ele ofereceu.
- Não... Realmente estou tentando parar de beber. Um copo de uísque leva ao segundo e assim por diante. Não sou um viciado, mas sei exatamente o que me embebeda e tudo que posso fazer neste estado.
- Eu posso dizer que fico feliz em ouvir isso?
- Pode... Elogios não significam fraqueza. – Olhei seriamente para ele.
- Quer mesmo terminar este noivado?
- Não devia nem ter começado e o senhor sabe muito bem disto. Eu tenho quase certeza de que Milena ainda gosta de Sebastian.
- Eu... Lamento ter talvez atrapalhado a vida da garota. – Ele disse.
- Lamenta? Ainda assim deixou que eu assumisse a culpa.
- Você não assumiu a culpa... Engravidou Milena. “Você” fez isso.
- Não acho que o filho fosse meu.
- Você falar isso magoa Celine.
- Ela finge que não vê os sentimentos da filha.
- Celine é sensível...
- Não me parece. Aceitou o que houve no passado, sem contestar. Isso é atitude de uma mulher forte e nada sensível a dor e sentimentos.
- Ainda carrego a culpa de ter separado Milena e Sebastian, mesmo sem querer.
- Se não tivesse comido a mãe dele, isso não teria acontecido, não é mesmo? E ainda cobra de mim fidelidade...
- Se eu cobrasse fidelidade de você, não aceitaria seu relacionamento com Cindy Connor.
- Pai, eu estou farto desta vida de mentiras. Sim, eu estava com Cindy... E noivo de Milena. Mas sequer toquei Milena nos últimos anos. Ela não me deixava nem se aproximar... E sinceramente, “eu” também não queria. Tenho certeza que brocharia com ela. Porque o que eu sinto por Milena não é coisa de homem e mulher... Eu gosto dela como amiga, como irmã.
- E Cindy? Como você gosta dela?
- Vamos mesmo conversar sobre sentimentos? – ironizei.
- Sim, vamos. Eu quero saber o que sente pela senhorita Connor. – Ele insistiu.
- Cindy é uma vagabunda de classe. – Me ouvi falando o que eu realmente pensava dela.
- E onde entra Bárbara nesta história?
Parei um pouco e tentei entender o que Bárbara significava. E eu não sabia... Porque era um sentimento novo.
- Não tem palavras para descrever, Heitor? Porque é um sentimento que você ainda não sabe definir, não é mesmo? É diferente de tudo que você já sentiu antes.
- Como... Sabe?
- É amor.
- Não... Não é... – Neguei, confuso.
- Heitor, desde que esta mulher apareceu na sua vida, você mudou completamente. Isso em... Questão de dias.
- Então por que me critica ainda e tenta menosprezar tudo que eu faço, por mais que eu me esforce?
- Eu só sei ser assim: um CEO. Passei a vida sendo isso... Eu não sei ser pai.
Suspirei, sem saber o que dizer.
- Ser um CEO de uma empresa do tamanho da North B. requer responsabilidades, Heitor. E estar na mídia, com tentativa de suborno, prática de ato obsceno em público, e eu nem quero imaginar o que foi isso, sem contar desacato e ameaça de morte, vai denegrir sua imagem.
- Então eu não vivo... Sigo sendo sempre o CEO “perfeito”, assim como você foi?
Ele demorou a responder:
- Talvez... Você tenha razão, Heitor.
- Bárbara me traz uma vivacidade que eu nunca tive. – Confessei.
- Precisa protegê-la, Heitor. Sabe que se esta história vazar, e vai vazar, o nome dela não deve cair na mídia. Ela é forte, decidida, dona de si... Mas extremamente inocente. Por trás de toda aquela segurança, tem uma mulher implorando por atenção e amor.
- Eu sei... Farei o possível para que o nome dela jamais apareça ou seja mencionado, independentemente da situação.
- Vou tratar de conversar com Milena e Celine sobre a desistência do casamento por sua parte. E amenizar os ânimos.
- Milena não vai se importar. E eu ainda tento compreender o motivo de Celine querer tanto me ver unido à filha dela, sendo que estamos todos já numa mesma família.
- Talvez ela queira é distanciar a filha de Sebastian Perrone, obrigando-a a ter um compromisso com outro homem.
- Sabe que ele vai usar Bárbara de todas as formas, não é mesmo? E tudo isso para me foder. E assim, concluir sua vingança contra você.
- Eu não tive culpa do que aconteceu.
- Não teve culpa de engravidar a mãe dele, mesmo ambos sendo casados?
- Como se Francesco fosse um exemplo de fidelidade. – Ele riu, com escárnio
- Eu ainda tento entender como Celine o perdoou.
- Ela é uma boa mulher.
- Talvez... Boa demais, não é mesmo?
- Talvez eu deva desculpas a Sebastian um dia... No meu leito de morte. – Ele riu, ironicamente.
- Sebastian não tem que tomar as dores do pai. Ele não tinha nada a ver com o que aconteceu.
- A perda da criança que o afetou... Essa foi a verdade.
- E não afetou você, pai? Bem ou mal, seria um novo herdeiro... Sangue do seu sangue. Um filho.
- O aborto foi a melhor coisa que aconteceu, Heitor, eu não tenho dúvidas disto. Você é meu herdeiro, filho da única mulher que eu amei na vida, sua mãe. É hora de você assumir seu papel e crescer.
- Quero Milena fora do cargo de vice-presidente da North B.