Capítulo 49
2443palavras
2023-01-13 07:24
- Eu também gostaria de entender o que faço aqui, Delegado. – falei, encarando-o seriamente e voltando à minha postura, largando a mão de Bárbara.
O Delegado deu alguns passos para frente e vi um dos meus advogados, Lauro.
- Heitor? – ele me olhou confuso. – Por que meu cliente está numa cela? – se dirigiu ao delegado.
- Estou tentando entender, doutor. – Ele olhou para os Policiais, que encolheram os ombros.
A cela foi aberta e saí, indo imediatamente para a de Bárbara.
- Abra a dela. – Ordenei. – Agora!
- Ela... Não tem um advogado. E ninguém pagou a fiança. – O delegado explicou.
- Acabaram de pagar a fiança da senhorita Novaes. – A policial mulher veio e entregou um papel ao delegado. – E ela tem um advogado também.
Bárbara me olhou confusa e a cela dela foi aberta. Não me preocupei com nada e a abracei com força. Eu pouco me importava com o que aquela gente fizesse ou falasse. Só queria a certeza de que ela estava bem. Mas parecia menos assustada do que eu com tudo que aconteceu. Aquela mulher era uma fortaleza. Não sei se algo era capaz de desestabilizá-la.
- Tudo bem com você? – perguntei, enquanto colocava uma mecha dos cabelos finos e macios dela atrás da orelha.
Ela assentiu e me disse:
- Só estou curiosa sobre quem pagou minha fiança e me trouxe um advogado. Ben foi esperto desta vez. Sabia que não adiantaria dizer que aquela na moto não era eu... – sorriu.
Entrelacei meus dedos nos dela e seguimos juntos até o corredor que dava na sala do Delegado.
Quase parei quando vi meu pai, na cadeira de rodas, acompanhado por Otávio e Celine. O olhar dele chegava a faiscar de raiva e Celine seguia sua pose, mas os olhos dela foram imediatamente para minha mão, junto da de Bárbara.
Foda-se. Se largasse a mão dela naquele momento, Bárbara não acreditaria que eu realmente estava disposto a acabar com Milena por ela. E tudo que eu não queria, depois do houve, era decepcionar Bárbara. Infelizmente Celine teria que aceitar que a brincadeira com a filha dela acabou. Não havia sentimento entre nós dois e eu não casaria... Nem com uma arma na cabeça.
Agora eu sabia exatamente o que queria para minha vida. E era aquela mulher que eu tanto tentava proteger... Mesmo que não precisasse ser protegida, pois sabia fazer aquilo sozinha. Olhei para Bárbara e vi que seus olhos fixaram na direção da porta.
Acompanhei o olhar dela e vi Ben e... Sebastian Perrone?
- O que ele está fazendo aqui? - Rosnei, cego de raiva.
- Eu... Não sei. Talvez Ben tenha chamado ele. – Ela se explicou.
O delegado abriu a porta e pediu que eu e Bárbara entrássemos, juntos dos advogados, que nos acompanharam.
Celine foi até a porta e disse, me olhando:
- Não demore, Heitor. Seu pai não pode ficar tanto tempo aqui.
- Ok... Farei o possível. – disse a ela, que fechou a porta, tentando apressar as coisas.
- Sentem-se. – O delegado ofereceu cadeiras nada confortáveis, sem estofamento.
Sentei ao lado de Bárbara e os advogados permaneceram de pé.
- Embora não concordem com o senhor Casanova estar na cela comum, sabem que a lista de delitos cometidos por ele e a senhorita Novaes nesta noite é longa, não é mesmo? – O delegado olhou para Lauro. – Ainda assim eu peço desculpas pela atitude dos meus policiais. E garanto que ambos serão chamados, para explicarem-se melhor sobre o que os levou a deixarem o casal em cela comum.
- Está tudo bem, delegado. – falei. – Só quero poder sair daqui. – Tentei encerrar a conversa o mais rápido possível.
- A fiança está paga, mas ainda serão chamados para possíveis esclarecimentos até o arquivamento do processo. – O Delegado disse.
- Sem problemas. – Bárbara falou.
- E desta vez seu nome ficou arquivado aqui, senhorita Novaes.
- Não tem importância... Agora já arranjei um trabalho. – Ela sorriu, sendo sincera.
Como Bárbara conseguia ser assim? Eu tenho a impressão que ela não guardava nada para ela. Exatamente o que ela pensava, dizia. Ela não se importava que ficaria fichada na polícia. Tudo que ela queria era um trabalho e já tinha. E na empresa do Sebastian, aquele idiota.
Eu não tinha como suportar que ela ficasse ao lado dele por um dia inteiro... E só o restante do tempo fosse para mim.
- Estamos liberados? – perguntei.
- Sim. – O delegado confirmou.
- Ficarei um pouco mais, Heitor... – Lauro falou no meu ouvido. – Vou tentar tirar o seu nome daqui...
- O dela também. – Ordenei. – Faça o que tiver que ser feito... Mas quero o nome dela fora.
Assim que a porta se abriu, saímos eu, Bárbara e o advogado dela.
Meu pai veio imediatamente até mim:
- O que você está pensando, Heitor? – me cobrou.
- Allan, não foi culpa dele... Foi minha. – Bárbara disse imediatamente, tentado se justificar e amenizar a situação.
- Por que será que isso não me impressiona? – Celine sorriu ironicamente. – Você tem um bocado de coisas para explicar aqui, Heitor.
- Vou explicar uma a uma, Celine. E creio que tenhamos de conversar sobre outras coisas também. – falei seriamente.
Ela me encarou e o sorriso morreu nos seus lábios. Eu esperava que ela tivesse entendido que o assunto era sobre Milena e eu.
- Você não tem culpa, querida. – Meu pai pegou a mão de Bárbara e deu um beijo no dorso.
- Sim... Eu obriguei Heitor a dirigir a moto, Allan.
- Isso não é verdade, Bárbara. – falei.
- Também o obrigou a subornar o policial? A desacatar a lei? A fazer ameaças de morte... E praticar atos obscenos em público? – meu pai perguntou a ela.
- Atos obscenos em público? – Celine nos olhou. – O que isso quer dizer? – se fez de desentendida.
- Tipo sexo... Só que para todo ver. – Bárbara respondeu, olhando para ela. – Mas se você sabe o que é doença sexualmente transmissível, ato obsceno você tira de letra. – Debochou de Celine, que a fuzilou com o olhar.
Caralho, cada vez que ela abria a boca, meu coração ficava esperando o que ela diria, para bater mais forte. Creio que eu não conseguia tirar os olhos daquela maluca desvairada. Minha vontade era tirá-la dali e levá-la para onde planejei há dias: o Motel mais luxuoso do país. Minha reserva já havia sido feita antecipadamente, assim como os itens que mandei colocarem especialmente para nossa noite perfeita. No entanto estávamos numa delegacia, por conta da moto que eu não sei de onde Bárbara tirou.
O delegado abriu a porta e veio até nós. Olhou para Bárbara e perguntou:
- O policial alega ter sido chamado de “desclassificado” por você, senhora Novaes. Posso saber exatamente o que isso significa, já que segundo ele foi um xingamento?
Ok, Bárbara, aconteça o que acontecer, não diga o que isso significa, por mais que eu queira muito saber, pensei comigo mesmo.
Sebastian e Ben chegaram e se aproximaram dela. Ben a abraçou e Sebastian me encarou. Nos olhamos firmemente e não nos cumprimentamos.
- Desclassificado quer dizer... – ela começou a explicar.
- Não... Não precisa falar. – Eu tentei impedi-la.
- Claro que precisa. – Sebastian deu um meio sorriso.
- Quer dizer... Desprezível... Miserável... Asqueroso... Safado...
- Por Deus, para. – Pedi, puxando o ar até o fundo dos meus pulmões.
- Ruim... – ela me olhou, comprimindo os lábios, nervosamente.
- Esqueceu o “ordinário”. – Ben completou, satisfeito. – E foi a própria Babi que criou isso. – Estava orgulhoso do que a amiga havia dito ao policial.
- Com uma palavra você quis dizer tudo isso ao meu policial? – o delegado olhou seriamente para ela.
- Bárbara está brincando, Delegado. – Eu disse imediatamente.
- Sim, foi só uma brincadeira. – O advogado dela falou, a encarando.
- O que devo entender então por desclassificado, senhorita Novaes, já que respondeu com uma brincadeira a pergunta que fiz seriamente? – ele disse, visivelmente alterado.
- Alguém que não foi classificado. – Ben respondeu imediatamente.
- Sim... Isso... – ela confirmou, não passando certeza alguma de sua resposta.
- Espero não a ver novamente por aqui, senhorita Novaes. – Ele disse.
- Não verá, Delegado... Não verá. – Ela garantiu.
- Pai... Eu preciso conversar com Bárbara. Depois... Encontro o senhor.
- Você está sem carro, não é mesmo? O que fazia numa moto, sem habilitação, com os documentos vencidos e sem capacete? – ele questionou.
- Eu sou adulto. Faço o que quero. – Respondi, perdendo a cabeça enquanto ele tentava me chamar a atenção como se eu fosse um garoto de dez anos.
- E o carro dele está comigo. – Ben me entregou as chaves.
- O que seu carro fazia nas mãos deste... – Celine olhou para Ben dos pés a cabeça.
- Deste? – Bárbara olhou seriamente para ela. – Termine sua frase. Estou louca para saber o que você acha do meu melhor amigo.
- Bárbara... Controle-se. – Sebastian puxou ela.
O toque dele no corpo dela me deixou puto e eu estava preste a avançar nele quando Celine seguiu:
- Me parece que pessoas ruins e sem escrúpulos se atraem... – olhou para os três.
- Tenho a mesma sensação. – Sebastian revidou, encarando-a. – Sabe que eu detesto pessoas como você, que ficaram ricas do dia para a noite e se acham donas do mundo. Porque quem nasceu na riqueza tem classe e não age como você.
- Não me importo com o que vem de você, seu mau caráter. – ela disse para Sebastian.
- Eu não sou mau caráter. Você que é. – Sebastian disse, entredentes.
- Respeite minha esposa, Sebastian. – Allan ordenou.
- Como você respeitou a minha mãe? – ele quase gritou.
- Não grite com o meu pai. – Fui na direção dele.
Bárbara se colocou entre nós. Olhou para todos e disse:
- Que porra acontece entre vocês? Querem mesmo brigar numa delegacia?
- Bárbara tem razão. A lista de delitos que ela e o senhor Casanova cometeram já é longa o bastante. Acho melhor voltarem para suas casas e marcarem um local diferente para resolverem seus problemas. – disse o advogado dela, calmamente.
- Vá para o carro, pai. Ou melhor, vá para casa. Eu... Já vou indo. Encontro você lá.
- Estarei esperando, Heitor. – ele garantiu.
- Bárbara, boa noite. – Ele pegou a mão dela novamente.
- Me desculpe, Allan... De novo.
- Não precisa se desculpar, querida. Eu sei que meu filho é o culpado.
- Não, ele não é.
Meu pai não deu importância às palavras dela e girou a cadeira de rodas, indo embora com Celine, que estava furiosa.
- Não seria mais prudente sairmos da delegacia? – Ben perguntou.
- Bárbara... Eu... Não quero sair agora. Ainda deve haver repórteres na porta. – falei.
- Vai passar a noite aqui, Heitor? – Sebastian debochou.
- Não, vou sair por outra porta. Se me der licença, quero falar a sós com a minha... – a minha o quê? Comprimi os lábios enquanto ela me olhava, esperando que eu acabasse a frase.
- A sua? – Ben me olhou, questionador, com um meio sorriso no rosto.
- Amiga? Porque funcionária, ela é minha. – Sebastian saiu, rindo.
Ben me deu um beijo no rosto:
- Obrigada por ter me deixado dirigir seu Maserati, Thorzinho.
- Não por isso, Ben. Quando quiser, é só pedir.
- Você ainda deve uma resposta para minha amiga. – Ele disse, saindo.
Olhei para Bárbara.
- Não me deve resposta alguma. Está tudo bem.
Peguei o rosto dela entre minhas mãos. A pele macia, os olhos azuis como se fossem o oceano em alto mar, onde não existe mais nada, a não ser aquilo, para todos os lados que você olhe... Imensidão, eternidade.
- Minha mulher. – Eu dei um beijo nos lábios dela, sentindo meu coração bater mais forte, temendo a resposta dela.
- Você sabe que não é assim, Heitor.
- Bárbara, eu vou resolver tudo de uma vez, hoje. Meu pai está furioso por tudo que aconteceu.
- Me desculpe. Jamais foi minha intenção que tudo chegasse onde chegou.
- Você não tem culpa. Pelo contrário, mais cedo ou mais tarde eu teria esta conversa com ele... E também com Milena. Você só antecipou algo que já teria que acontecer a muito tempo.
- Ok, vai conversar com seu pai, Milena... A cobra da sua madrasta. E onde entra a loira do pau do meio do pole dance?
Mal ela sabia que Cindy era o maior problema que teríamos. Ela sim faria da minha vida um inferno e eu precisava estar preparado.
- Ela entra junto com os demais. Eu queria um tempo... Mas não preciso mais. Já perdi tempo demais. – Confessei.
- E eu não quero pressioná-lo, Heitor. Eu não quero que faça algo que não é de sua vontade. Se quiser continuar levando sua vida ao lado das suas duas mulheres, eu não me importo de sair dela.
- Eu não significo nada para você, Bárbara?
- Sim, significa... Mas se é difícil para você tomar decisões, quem sou eu para exigir?
- Será que não dá para entender que estou fazendo tudo isso por você?
- Quero dizer... Que a gente se conhece há tão pouco tempo, Heitor. E sinto que você está se desfazendo de tudo por mim... E se não for como você espera? E se eu não for como você imagina?
- Desde quando você foi tão sensata assim? Eu tenho certeza do que estou fazendo. E embora você afirme que tenho duas mulheres, isso não é verdade. Milena e eu não temos nada há muito tempo. É um noivado de fachada.
- Mas ela disse que vai casar com você. Ou melhor, a mãe dela disse.
- Isso não vai acontecer. Ainda não ficou claro para você?
- Por que você levou isso tão longe então? Por que não disse que isso não aconteceria antes de deixar iniciarem os preparativos?
- Porque até então eu não tinha certeza do que queria.
- Então você está querendo me dizer que não tinha nada com Milena... O que deixa claro que a loira do pau do meio é sua mulher oficial? Ou seja, ela não é a simples amante. Heitor Casanova não era fiel à sua noiva e sim à amante?