Capítulo 48
2251palavras
2023-01-13 07:23
Segui masturbando-o descaradamente enquanto ele guiava. Justo eu, a retraída do sexo. Desde que conheci Heitor minha vida sexual virou de cabeça para baixo... E aquilo era bom demais. O fato de eu saber o quanto ele me desejava deixava-me enlouquecida por provocá-lo... Para depois reviver tudo senti, como quando ele me fodeu com força no elevador, ao mesmo tempo que se preocupava se eu estava bem ou sentindo alguma dor.
E eu merecia o que senhor divino dos céus estava me dando. Aquele deus grego era o sonho de qualquer mulher. Mas ele era meu... Pelo menos naquele momento... E depois que terminasse com as outras duas mulheres que tinha. Safado, asqueroso, ordinário, ruim, miserável, desprezível... Ou simplesmente “desclassificado”.
Um desclassificado que voltou de viagem e poderia estar em qualquer lugar... Mas estava andando comigo numa moto velha na autoestrada da capital de Noriah Norte, deixando um carro que valia mais do que eu ganharia na vida inteira de trabalho nas mãos do meu melhor amigo.

Passamos quase sem perceber um carro da Polícia estacionado na via, sem sirenes, que não chamava a atenção.
Retirei minhas mãos de Heitor imediatamente, já ouvindo a sirene soando e o carro vindo na nossa direção.
- Acho melhor você correr! – falei no ouvido dele.
- Correr? Não... Relaxa, Bárbara, não é para nós as sirenes.
Heitor estava muito confiante. Mas não levou mais de três minutos e o carro parou ao nosso lado, apontando para Heitor parar a moto.
Porra, qualquer coisa poderia acontecer naquela noite, menos aquilo. Tomar uma multa numa moto velha que ia para o lixo depois de rodar.

Heitor estacionou no acostamento e o carro parou na nossa frente, ainda com as sirenes ligadas, com um barulho ensurdecedor nos nossos ouvidos. Eu e Heitor descemos e os dois policiais vieram na nossa direção. Ele permaneceu com meu casaco amarrado do lado contrário na sua cintura e eu não tive coragem de olhar na direção dele, para me certificar de como estava seu pau com aquela situação.
- Está tudo bem. – Heitor falou, tentando me acalmar.
- Boa noite. – Um dos policiais cumprimentou, com as mãos no bolso. – Preciso dos documentos da motocicleta.
- Boa noite... Eu... Esqueci os documentos. – falei.

Ele foi atrás da moto e olhou a placa, tirando uma foto.
- Tranquilo: pego pelo sistema. – Sorriu, ironicamente.
- Onde estão seus capacetes? – o outro perguntou.
- Capacetes? – Heitor me olhou, confuso.
- Nós só viemos dar uma voltinha... Já estamos voltando para casa. – expliquei. – Esta moto é da minha amiga. Ela ganhou de herança do pai que morreu e não vai ficar com ela. Como ia se desfazer, decidimos dar uma volta antes que ela jogue fora.
- Habilitação. – Ele estendeu a mão para Heitor, pouco se importando com o que eu justificava.
Heitor retirou a habilitação da carteira e entregou ao policial.
- Motocicleta com documentos vencidos a mais de dez anos. – Um policial disse para o outro. – Se não bastasse, tem mais multas do que uma pessoa normal conseguiria acumular numa vida inteira.
- Como eu disse... A moto é do falecido. – Tentei argumentar.
- O falecido pelo visto não sabia respeitar nenhuma regra de trânsito, assim como vocês.
- Podemos ir? – Heitor perguntou.
- Claro que não. O senhor não possui habilitação para dirigir motocicletas. – O policial olhou para ele.
- Mas é preciso? Posso comprar agora mesmo se quiser, Policial. – Se vangloriou.
- Assim comprou para dirigir um carro? – arqueou a sobrancelha.
- Sabe com quem o senhor está falando? – Heitor se alterou.
- Seria Heitor Casanova? Dono de casas noturnas? – O policial deu de ombros, debochadamente. – Eu conheço o senhor e sinceramente, poderia ser o presidente do país... Ainda assim teria que usar capacetes, ser habilitado e estar com os documentos em dia. Eu sou uma autoridade aqui. Você não.
- Pode mandar a multa para minha empresa. – Heitor alegou, impaciente. – Era isso?
- Ei, Cléber, prática de ato obsceno em público é crime? – O policial perguntou ao outro.
- Será que devemos pesquisar? – ironizou o colega.
- Ok. – Heitor levantou as mãos. – Quanto vocês querem para livrar eu e minha mulher desta palhaçada?
Os dois se olharam.
“Minha mulher?” Pode repetir, por favor? Eu só ouvi esta parte.
Um dos policiais pegou algemas do bolso e colocou-a nos pulsos de Heitor.
- O senhor está preso por tentativa de suborno, senhor Casanova.
- Ah, vocês não vão fazer isso não, seus desclassificados baratos, asquerosos, nojentos... – enquanto eu gritava, com o dedo em riste, um dos policiais me segurou e o outro algemou.
- Se tocarem nela, vou mandar matá-los. – Heitor falou entredentes, tentando se desvencilhar.
- Cléber, coloque também na lista “ameaça de morte”. E chame reforços.
- Quer mandar chamar a mídia também, senhor policial? Trabalha para alguns de meus concorrentes? Isso e pessoal, não é mesmo? Lhe fiz algo indiretamente? Não teve dinheiro para entrar na minha boate? Comprou algum produto da North B. e não gostou?
- Heitor, cala a sua boca. – falei entredentes.
Ele me encarou, confuso:
- A gente tem um compromisso, Bárbara. Não podemos ser presos.
- Me desculpe por obrigá-lo... A se ferrar comigo. – disse, arrasada.
- Eu me ferrei sozinho, Bárbara. E pelo menos estou com você. – Sorriu. – Ei, minha mulher é brava. E ela bate como ninguém. – falou, orgulhoso.
- Acrescentar violência física nem caberia na minha planilha, senhor Casanova. Espero que você tenha um bom advogado.
- Só o melhor do país, policial. – Ele disse, seguro e debochado.
Então eu fui para o banco de trás do carro da polícia, ao lado de Heitor Casanova, diretamente para a Delegacia, enquanto um segundo carro nos acompanhava, atrás.
A moto? Abandonada num lugar qualquer, como Salma queria que fosse feito.
- Lembra quando a gente falou sobre estarmos fodidos? – olhei para Heitor. – Acho que era isso. – Comecei a rir, nervosamente.
- Ei, me diga como é a cadeia, por favor, senhor Bongiove. – Heitor debochou.
- Acho que você tem mais crimes do que eu. Então fará melhor proveito das instalações... Desclassificado.
Ele se aproximou de mim e mesmo algemado, pegou minha mão e me deu um beijo no rosto:
- Foi só brincadeira, Bárbara. Eu já disse que amo ver você brava?
- Então se prepare para me amar intensamente, senhor Casanova.
Nossos olhos se encontraram e eu percebi que falei demais.
- Eu... Não quis dizer isso. – Me justifiquei.
- Eu estou preparado. – falou seriamente. – Para as duas coisas.
Nossos lábios se tocaram, de forma leve, mas demorada. Deitei minha cabeça no ombro dele, que deixou a cabeça cair sobre a minha.
- Está preocupado? – perguntei.
- Só com o que meu pai vai fazer quanto a isso, caso chegue aos ouvidos dele. E você?
- Eu... Não sei. Me desculpe por ter causado tudo isso. Mas infelizmente eu tenho uma nuvem negra sobre mim, cheia de raios, chuva e com tempestade permanente. Estar ao meu lado é correr o risco de ter o meu azar por um bom tempo.
- No meu caso, sou um homem de sorte... Tenho um sol dourado brilhando na cabeça... E meus dias são claros e quentes. Então... Vou tirá-la desta nuvem idiota... E trazê-la para o meu sol, Bárbara. Bem-vinda a um mundo de sorte. – Meu deu um beijo rápido novamente. – Se eu colocar minha língua dentro da sua boca acha que teremos problemas? – cochichou no meu ouvido, olhando o policial com rosto fechado pelo retrovisor.
- Não brinque com coisa séria, Heitor. – Adverti.
Quando chegamos próximo da delegacia, Heitor gritou, furioso:
- Que porra! Vocês chamaram estes abutres? Eu não acredito nisto.
Percebi algumas pessoas aglomeradas na porta da Delegacia e câmeras de filmagem.
- Bárbara, olha pra mim. – Fiz o que ele pediu, encarando-o seriamente. – Saia do carro e não mostre seu rosto, ok? Se descobrirem quem é você, farão da sua vida um inferno. Eu não quero esta parte horrível do meu mundo para você. Vou tentar protegê-la de toda forma possível.
- Não quer que... Saibam sobre nós? – perguntei, confusa.
- Não é por medo de saberem sobre nós ou qualquer coisa deste tipo, Bárbara. Acredite em mim: você não vai querer estas pessoas perseguindo-a.
- Ok. – Assenti, tentando entender o lado dele.
O carro foi estacionado exatamente na frente da porta da delegacia. Outros policiais vieram ao nosso encontro enquanto os repórteres vieram na nossa direção. Olhei para Heitor, que colocou os braços na frente do rosto e fiz a mesma coisa. Passamos em meio a todos, que gritavam, nos tocavam e fiquei assustada.
Assim que entramos na delegacia, a porta se fechou. Meu coração batia forte e fiquei com medo.
- Pode tirar os braços, Bárbara. – Heitor falou e eu obedeci.
- Onde está o Delegado? – um dos policiais perguntou, enquanto me segurava pelas algemas.
- Ele está fora... Mas já deve estar chegando. Hoje é dia de problemas... – falou a policial feminina, olhando atentamente para Heitor e para mim. – Senhor Casanova... – ela curvou a cabeça, cumprimentando-o.
- Boa noite. – ele falou gentilmente e posso apostar que ela precisou de colherinha.
Os dois policiais foram nos levando pelo corredor enquanto a mulher veio atrás:
- Ei... Vocês não podem colocá-los nas celas. Eles devem esperar na sala do Delegado. É o senhor Casanova...
- Irão para a cela. Tem uma enorme lista de delitos que cometeram. – Um deles falou, mostrando as anotações no bloco.
- Acho que vocês poderão ter problemas. – Heitor advertiu para os dois.
- Por ser o senhor Casanova não terá privilégios aqui. – O homem foi enfático. – Você e sua mulher irão sim para a cela e ficarão lá até o Delegado chegar e ter tempo para vocês.
- Não temos direito a uma ligação? – perguntei. – Eu vi isso nos filmes. – sorri, debochada.
- Creio que temos, Bárbara. Neste caso, duas. Uma para cada um de nós. – Heitor falou.
- Sim, vocês têm direito. – A policial mulher confirmou. – Vou buscar o celular.
- Quero ligar para o meu advogado. – Heitor disse.
- E eu para o meu amigo Ben.
- Ben... É advogado? – Heitor perguntou, confuso.
- Não... Ele é comentarista de moda.
- E no que ele pode ajudar?
- Ele é meu amigo, porra. Estava aqui me defendendo quando você mandou me prender.
- Eu mandei prender você, doçura? Como eu fui fazer isso? – me deu um beijo no rosto, debochando.
- Desclassificado. – falei furiosa ao lembrar o que passei.
- Linda! – Revidou.
- Você pegou as joias da minha mãe.
- E devolvi. Falando nisso... Você não deu falta de nada?
- Não... Deveria?
- Talvez. – Sorriu, sarcasticamente.
A cela foi aberta e Heitor entrou. Retiraram a algema dele e quando fui entrar, o policial me impediu.
- A senhora vai para outra cela.
- Não! – Heitor veio até a cela, que eles fecharam. – Não podem deixar Bárbara longe de mim.
- Aqui o senhor não manda nada. – O policial fez questão de deixar claro, enquanto me conduzia para a cela ao lado.
Os dois se foram. Ficamos somente eu e Heitor, um de cada lado, com uma parede nos separando.
Fui até a grade e vi as mãos dele apoiadas:
- Vou acabar com eles. – Rosnou, furioso. – Vão trabalhar de policiais só no Alasca.
- Calma, Heitor. Tudo vai se resolver. Você é o dono da porra toda, não e mesmo?
- Eles não têm o direito de nos separar.
- Pensa pelo lado positivo: estamos sozinhos nas nossas celas. Pior seria se tivéssemos criminosos como companhia.
Ele estendeu a mão e disse:
- Quero você, Bárbara. Não consigo mais ficar longe.
Comecei a rir e toquei a mão dele, que entrelaçou nossos dedos.
- Esta noite era para ser perfeita, porra. – Ele gritou, sendo que o eco da voz dele dava para ouvir ao longe.
- Não foi perfeita... Mas inesquecível. – Eu ri. – Heitor... Sobre a joia... Você ficou com alguma?
- Sim.
- Qual?
- Você só vai saber quando for ao meu apartamento, subir no meu quarto. Então vai encontrá-la... No lado que será seu na nossa cama.
Senti meu peito quase sufocar e respirei fundo, repetidas vezes. Aquilo era demais para mim.
- Heitor... Você vai deixar...
- Tudo e todos. – Ele garantiu, antes que eu terminasse. – Principalmente depois do que houve hoje. Jamais alguém seria preso por me defender. O que qualquer pessoa ajuizada faria era ficar quieta e se safar.
- Eu não sou ajuizada.
- Você é tudo que eu procurei a minha vida inteira, Bárbara.
Ah, Heitor... Você é tudo que eu preciso para voltar a acreditar no amor!
Ele apertou a minha mão e eu correspondi. Ficamos ali, algum tempo, sem dizer nada. Senti o polegar dele acariciando minha pele, sem pressa, carinhosamente.
Ouvimos alguns passos e o já conhecido delegado chegou, com alguns policiais juntos.
Olhou para mim e disse:
- Você, de novo?
- Boa noite, Delegado. – Sorri, timidamente, retirando minha mão das de Heitor.
Ele olhou para Heitor:
- Senhor Casanova? Que porra você faz aqui?