Capítulo 44
1953palavras
2023-01-13 07:21
Assim que abri a porta do meu apartamento, encontrei Daniel e Salma aos amassos no sofá.
Fiquei incerta sobre fingir que não vi nada e seguir ou parar e cumprimentar, fingindo que Daniel não era o otário que eu descobri.
Afinal, complicado falar para minha melhor amiga que o homem que ela estava interessado, o que era raríssimo de acontecer com ela, era um imbecil e talvez estivesse usando-a para ficar ao meu lado. Por mais que ela me conhecesse, acharia, no mínimo, que eu estava sendo uma convencida e invejando o boy dela.

- Oi... – Falei, tentando fingir que estava tudo bem.
- Babi? – Salma levantou do sofá, com a boca borrada de batom.
- Oi gente.
Daniel sentou e imediatamente olhei para sua calça. Lembrei da situação da outra vez. Mas estava tudo no lugar... Nada apontando na minha direção.
- Veio... Mais cedo? – Salma perguntou.
- Eu fui resolver uns problemas.

- Hum... Tem certeza? – ela sorriu, ironicamente.
- Sim.
- Sabia que Babi e Heitor estão... Como posso dizer... Se conhecendo melhor? – Salma falou para Daniel.
Não! Puta que pariu, não fala sobre a minha vida para ele.

Olhei na direção deles e disse, seriamente:
- Salma, eu não gostaria que minha vida pessoal virasse assunto para se conversar com qualquer pessoa.
- Ei, basta dizer que não quer que eu saiba. – Daniel levantou do sofá, colocando as mãos para cima. – O que eu lhe fiz?
- Babi... Quanta amargura! – Salma reclamou.
- Amargura? Gostaria que eu ficasse falando sobre você para os outros? Respeitei sua decisão de não aparecer para Heitor quando ele esteve aqui.
- Heitor... Casanova? – Daniel olhou para mim e depois para Salma. – O Heitor Casanova esteve aqui, é isso?
Ficamos as duas caladas. Creio que ela tenha entendido que eu não queria que Daniel soubesse.
Peguei algumas coisas para comer na geladeira e fui para o meu quarto. Agora era banho e pijama. Passava das 18 horas, mas eu não tinha intenção de sair da cama. Minha cabeça estava tão cheia que parecia que ia explodir.
Assim que deitei, escolhi uma playlist e coloquei meus fones de ouvido enquanto comia torradas com requeijão. E nem conseguia prestar atenção na música ou no sabor do meu alimento, porque minha cabeça só tinha o nome de Heitor Casanova ecoando dentro dela.
Toda aquela situação confusa entre Celine estar tentando me derrubar, Milena ser uma mulher depressiva e simpática e Allan dizer que queria eu junto de Heitor, fizeram meu mundo girar rápido demais. Já me meti em tantas confusões na minha vida. E sabia que continuar com aquilo era o mesmo que entrar no caldeirão da bruxa. E ele estava fervendo.
Bem, eu não tinha muito o que pensar. Heitor sequer falou comigo depois do que houve. Então, o fato de ele falar sobre mim aos familiares não significava que eu era importante para ele.
Terminei de comer e deitei, fechando os olhos. O fone bipou, conectado ao bluetooh do celular. Era mensagem.
- Boa noite, Bárbara!
Vi a foto de Heitor no topo da tela. Meu coração ficou desobediente no mesmo instante. Queria pular para dentro do telefone.
Sentei imediatamente na cama, pensando no que responder. Enquanto digitava e apagava inúmeras vezes, vi meus dedos tremendo. Que porra é essa? Eu nunca tive isso. Posso estar desenvolvendo alguma doença?
Uns cinco minutos depois, finalmente decidi o que responder:
- Boa noite!
- Estou em uma viagem de negócios. Desculpe não ter entrado em contato antes com você, mas não consegui.
Engoli em seco. Heitor, me dando explicações? Meu Deus, eu gosto deste Heitor perfeito ou prefiro aquele desclassificado? Porque simplesmente eu não sei lidar muito bem com homens fofos... Não estou acostumada. E isso me deixa completamente insegura e me desarma.
- Quando você volta?
Meu Deus, apaga isso, mulher! Tarde demais, ele já tinha visualizado.
- Amanhã ou depois.
- Onde você está?
- Fechando a compra de uma propriedade com cultivo de uvas.
- Para?
- Produzir nossos primeiros vinhos.
- Com tantas bebidas que vocês vendem, é necessário vender vinho?
- Ampliar os negócios.
- Ou simplesmente provocar Sebastian.
- Ele está preocupado com isso?
- Não.
- Mas pode dizer a ele, caso esteja preocupado com a concorrência, que troco a responsável pelo Marketing da empresa dele pela fabricação do vinho na North B.
- Acha que “ela” poderia valer tanto assim?
- Na minha opinião sim. E na sua?
Deitei de bruços, rindo sozinha, enquanto digitava:
- Sinceramente, não sei. Mas é sério sobre possivelmente parar a fabricação?
- Não sei... Seria possível eu ficar com a responsável pelo Marketing?
- Acho que você já tem muitas mulheres, senhor Casanova. Por que mais uma?
- Nenhuma se compara a ela.
- Ela é só uma mulher comum.
- Não para mim.
- Conheci Milena.
- Onde?
- Na sua casa.
- Milena não mora na minha casa. Neste caso, está ser referindo à casa do meu pai e dela.
- Que seja... Isso que nem sei onde mora a loira do pau do meio do pole dance.
- Bárbara, você me faz rir... No meio de uma reunião.
- Está em reunião?
- Reunião chata. Precisava urgentemente ouvir sua voz para aguentar o restante.
- Deveria ter mandado mensagem para sua noiva. Ou a sua amante.
- Isso quer dizer que não pode ser para a mulher que realmente mexe com meu coração?
Embora eu quisesse muito acreditar que aquilo era verdade, não conseguia. Estava feliz, mas ao mesmo tempo não via futuro nesta relação. Ele não era irônico, mas não me dizia o que eu queria ouvir: que deixaria todas por mim.
- Heitor, eu já passei por um relacionamento conturbado no passado. Sofri e fui traída. Jamais entraria neste barco furado de novo.
- Jogamos o barco furado fora. Eu posso comprar um novo, Bárbara... Só para nós dois.
- E jogamos quem está sobrando ao mar?
- Se você desejar, sim.
Não, aquilo era demais para uma mulher que nunca foi amada de verdade... E que talvez nunca tenha conhecido o amor de uma forma que não fosse a dolorida. Meu relacionamento com Jardel me trouxe tantas marcas... E um coração partido. E agora eu tentava juntar os pedacinhos com o CEO que tinha duas mulheres e me prometia exclusividade por causa de uma “bem dada” no elevador?
- Por que acha que pode brincar comigo, Heitor?
- Por que acha que é uma brincadeira? Estou saindo da sala. Vou ligar para você.
- Não! Não quero. Por favor, não.
Levantei imediatamente da cama e comecei a arrumar os meus cabelos com os dedos. Mas... Ele só ia ligar. Eu não precisava ficar apresentável. Estava até de pijamas.
Dois minutos depois ele ligou:
- Oi, Bárbara.
Aquele “Bárbara” tinha o poder de me deixar completamente sem chão. Eu ia ao céu e voltava com meu nome saindo da boca dele.
- Oi...
- Estamos com um fuso horário de quatro horas de diferença. Aqui estou bem adiantado do horário daí.
- Então está numa reunião passando das 10 horas da noite? – eu ri. – E ainda tentando me convencer de que está cansando?
- Não deveria? Afinal, são dez horas da noite. E eu estou andando num saguão de hotel, sem rumo, tentando imaginar como você está neste momento.
- Sua reunião deve ser numa boate, tipo Babilônia, cheia de mulheres no pole dance, à sua disposição. – falei com raiva.
- Ciúmes, amor?
- Eu? Claro que não.
- Ben me disse que você dança bem. Quando vai dançar para mim, Bárbara?
- Nunca. Eu não sou a loira do pau do meio.
- Não mandei você dançar “no poste” do pole dance... Mas no pau pode dançar, caso prefira. Aliás, adorei seu gingado nele.
Me senti tão vermelha que minhas bochechas ficaram quentes.
- Tarado, desclassificado.
- Já disse o quanto me excito quando você fala isso? Vou ter que ir para o jardim... Antes que todos vejam que estou ficando de pau duro enquanto converso ao telefone com minha loira preferida.
- Heitor, eu...
- Bárbara, eu não consigo parar de pensar em você. Me diga que o que houve não significou nada e prometo nunca mais voltar à sua vida.
- Não... Quero dizer, sim. Significou... Não posso e não quero negar. Mas eu tenho medo, Heitor. Isso não vai dar certo e você sabe.
- Não tem como sabermos se não tentarmos, Bárbara.
- O que você quer dizer, Heitor?
- Quando eu voltar de viagem, vou até sua casa. Então conversaremos melhor. Pode ser?
- Vamos discutir a relação? – comecei a rir.
- Sim. Vamos discutir nossa relação.
- Tudo bem. Agora volte para sua reunião quase meia noite.
- São dez horas, Bárbara.
- Boa noite, Heitor. Durma bem e sonhe comigo.
O quê? Eu disse isso mesmo? Espera, deixa eu “desdizer” o que eu disse, Heitor. Que porra!
- Como se fosse possível me livrar de você... Até nos meus sonhos. Durma bem, Bárbara. E se prepare para a minha volta. Porque eu estou louco pelo seu corpo. Eu vou beijar cada centímetro da sua pele e fodê-la tanto que vai implorar para eu parar.
- Eu posso apostar que não. – provoquei.
- Senhor, estão esperando para seguir a reunião. – ouvi a voz de Anon do outro lado da linha.
- Preciso ir. Boa noite, Bárbara.
- Durma bem, Heitor. Dê boa noite a Anon 1.
Deitei na cama e fechei os olhos. Parecia um sonho. Ele me ligou. Não foi sexo por sexo. Foi mais que isso. Heitor sentia o mesmo que eu. E aquilo era louco, insano e me assustava profundamente. Mas acho que eu estava disposta a enfrentar a tempestade e entrar no barco com ele... Desde que loira do pau do meio fosse jogada aos tubarões e a morena resgatada por um iate, com Sebastian sendo o motorista.
Quem dirigia um iate se chamava “motorista”?
Ben entrou sem bater na porta e deitou ao meu lado. Pegou a minha mão e levou ao seu peito. Viramos nossos rostos e nos encaramos, sem dizer uma palavra sequer. Porque não era preciso. Eu já sabia o que tinha acontecido.
- Sim? – perguntei.
Ele assentiu, com a cabeça e sorriu, deixando uma lágrima escorrer pelo rosto.
Dei um beijo na lágrima dele, sentindo o gosto salgado e o nos abraçamos com força.
- Devo gritar? – perguntei, alisando o rosto dele.
- Não... Não deve. Foi... Eu não tenho palavras, Babi. Eu sei que você vai dizer que eu já me apaixonei milionésimas vezes. Mas ele é diferente.
- Eu sei, Ben. Eu sei exatamente do que você está falando, meu amigo... Pode o seu melhor amigo ser o amor da sua vida? – sorri.
- Pode. – ele disse. – Porque você é o meu. – Deu-me um selinho.
- Eu... Imaginei que quando acontecesse você entraria em casa gritando, dando pulos, fazendo o síndico vir nos dar um ultimato.
- Foi a coisa mais linda da minha vida, Babi. Como se eu tivesse que guardar lá no fundo do meu coração, para nunca mais desaparecer. É como se quando eu falasse, pudesse deixar escapar cada sentimento, cada suspiro, cada segundo que vivi com ele. Se eu pudesse escolher um só momento da vida toda para reviver... Ou mesmo guardar pra lembrar cada detalhe, certamente seria o que eu vivi hoje com Tony.
- Você quer compartilhar comigo todos estes sentimentos, Ben... E me contar como foi?
- Eu... Quero.
- Não sem antes eu estar presente. – Salma abriu a porta.