Capítulo 43
2438palavras
2023-01-13 07:20
- Eu... Acho que seria melhor você perguntar a ela. – respondi.
- Acha que ela me responderia a verdade? – me olhou seriamente.
Meu Deus... O que eu estou fazendo aqui, conversando civilizadamente com a noiva de Heitor Casanova? Eu não preciso passar por isso. Eu “não quero” passar por isso.

- É sua mãe. Quem tem que saber é você.
- Eu sou Milena Bayard. – ela estendeu a mão para mim. – Acho que não nos apresentamos direito naquela noite.
Apertei a mão dela, que estava gelada. Fiquei imaginando se a minha também estava assim.
“Oi, Milena, queria dizer que eu transei com seu noivo no elevador dia destes. Desculpe a sinceridade, mas foi a melhor foda da minha vida. Aliás, quantas vezes vocês fazem sexo por dia, ou por semana? Sabe que além de ter dormido comigo, há sérias probabilidades de ele ter uma amante fixa, que se chama Cindy? E pelo que sei, sua mãe sabe sobre isso. Você também sabe e aceita? Você é legal assim com todas as mulheres que dormem com Heitor? Me desculpe... Eu não vou fazer isso novamente. Até porque sei que vocês vão casar em breve. E acredite: eu sou contra a infidelidade e a traição. E me tornei o que eu mais temia: “a outra”, a que não passa de uma diversão no elevador. Aquela que ele só queria experimentar, como se tivesse que provar para ele mesmo que conseguia “domar”.
- Sou...
- Bárbara Novaes. – ela completou. – Heitor falou sobre você.

- Falou? – engoli em seco.
- Sim... Sobre o que houve na seleção... Do seu concorrente roubar sua ideia... E também que foi você parar no hospital.
- É? – eu quase não tinha voz para responder.
Ok, eles sabem tudo da vida um do outro. Será que ele contou que nós dois...

- Ele ficou preocupado com a sua doença.
A estas alturas eu não respondia mais, só mexi minha cabeça e nem tenho certeza se foi afirmativa ou negativamente.
- Nós pesquisamos juntos sobre a endometriose. Minha mãe falou que era uma doença sexualmente transmissível.
- Não... Não é. É... Genético.
- Sim, em torno de 50% dos casos. – Ela disse, sorrindo, parecendo saber mais do que eu sobre minha própria doença.
- Vocês... Procuraram bastante.
- Ele ficou preocupado. Heitor é uma boa pessoa.
- Jura? Não conheço este Heitor. Digo, senhor Heitor. – corrigi.
- Espero que minha mãe não lhe tenha trazido problemas.
- Não... Muito. Afinal, acabou tudo terminando como tinha que ser.
- E me conte... Você já começou na North B.?
- Não... Eu não fui para a North B.
- Mas... Allan disse que você iria trabalhar lá... Ele gostou de você... Heitor gostou de você... O que deu errado?
- Minha ideia foi roubada durante a apresentação. Enquanto o senhor Heitor pensava em refazer o processo eu... Fui chamada para a Perrone. Estou trabalhando lá.
- Sebastian? – ela levantou imediatamente, aturdida.
- Sim... Estou trabalhando para Sebastian Perrone. – falei, confusa com a atitude dela.
- Eu... – percebi o nervosismo dela, que ficou ofegante na mesma hora. – Eu... Fico pensando como é trabalhar na empresa rival. – Sentou novamente, fingindo estar tudo bem, embora as mãos estivessem trêmulas.
- Você conhece Sebastian?
- Eu... Sim, quem não conhece? – sorriu nervosamente.
- No fim, fiz uma boa escolha. A Perrone não é uma multinacional, como a North B. Mas me senti bem e acolhida lá. Sebastian é um CEO maravilhoso e um homem dedicado. Ele assumiu há pouco o comando da empresa, depois que o pai dele morreu.
- Francesco morreu? Eu... Não acredito! – o olhar dela se perdeu ao longe. – Sebastian deve ter ficado arrasado.
- Francesco... Era o pai de Sebastian?
- Sim... Eles tinham uma forte ligação afetiva, mesmo com divergências com relação à empresa.
- Você conhece bem Sebastian, pelo visto.
- Nós... Estudamos próximos, na época da faculdade.
Para o mundo: Milena pode ser a causa da rivalidade entre Sebastian e Heitor? Fiquei completamente confusa e mil pensamentos começaram a passar pela minha cabeça.
- Como Sebastian está? – ela perguntou.
- Bem... Ele está bem. Solteiro... Bem solteiro. – me ouvi falando, mesmo sem querer.
Ela sorriu:
- Eu quis dizer se ele está recuperado da morte de Francesco. E a mãe dele?
- Ele não fala muito do pai. Não sei sobre a mãe. Mas ele viaja com frequência ao seu país de origem. Eu... Estou lá há poucos dias, então não sei muito.
- Entendo... Me desculpe por tantas perguntas.
- Você... Não fala mais com Sebastian? Pergunto porque... Você parece conhecer tão bem ele e sua família.
- Não... Não nos falamos mais. O tempo... O fim da faculdade... O noivado com Heitor... Cada um tomou seu rumo e a distância acabou nos afastando de vez.
- Você fala dele com carinho.
- Não... É impressão sua. – ela tentou consertar.
- E... Quando é o casamento? – perguntei, tentando não parecer tão curiosa.
- Dentro de 11 meses. Já marcamos o dia.
- Parabéns... Felicidades aos noivos. – senti um nó na minha garganta. – Você e Heitor parecem se dar muito bem.
- Sim... Somos quase irmãos, como você mesma disse. – ela riu e balançou a cabeça. – Nos conhecemos a praticamente uma vida inteira.
- Creio que isso... Contribua para uma boa relação... Conjugal.
- Não sei... Sinceramente não sei. – ela respondeu, confusa.
A porta do escritório se abriu e vi Allan vindo na minha direção, movimentando sua cadeira de rodas. Seu rosto se abriu num largo sorriso:
- Bárbara! Por que demorou tanto a subir? – ele chegou próximo.
Levantei e lhe dei um beijo e recebi em troca um forte abraço.
- Eu... Tentei vir antes... Mas parei um pouco para conversar com Milena. – sorri para ela, que retribuiu.
- Já estou entregando ela para o senhor. – Milena levantou. – Allan se apaixonou a primeira vista por você, Bárbara. – brincou.
- Se sua mãe ouve você dizendo isso, joga Bárbara pelas escadas.
Os dois riram e eu fiquei séria. Não duvidava de que realmente ela me jogasse pelos degraus. Será que eles achavam que não?
- Eu... Vou indo. Fique à vontade, Bárbara. Foi um prazer conversar melhor com você. E entendi agora porque Heitor... Como posso dizer... Fala tanto em você. – Piscou.
Engoli em seco novamente. Pai do céu, olhe por mim! Estou completamente fodida. Fico feliz por Heitor contar a toda família que existe uma Bárbara Novaes que chama a sua atenção? Ou devo pensar que a noiva dele quer a minha cabeça numa bandeja de ouro e tudo isso não passa de uma armadilha?
E se me matarem aqui e enterrarem debaixo de uma árvore? Jamais vão achar meu corpo. Ben e Salma vão procurar e jamais encontrarão meus restos mortais. E o pior: ninguém será preso, porque nunca alguém pensará que os Casanova me mataram.
Acenei para Milena, que antes de descer a escada, disse:
- Podemos marcar um café para qualquer dia. O que acha?
- Sim... Claro.
Ouvi o som dos saltos dela enquanto descia. Olhei para Allan e perguntei:
- Ela... É carente? De amigas... De noivo?
Ele sorriu:
- Milena tem depressão. Se trata há muitos anos, ainda assim é uma doença que vai e volta. Ela realmente tem poucas amigas. Raramente sai... Ou se diverte.
- Eu... Sinto muito. Ela parece uma mulher legal.
- Ela é... A considero uma filha.
- E... Heitor não a leva para sair e se divertir? Não fazem coisas juntos?
Ele demorou um pouco para responder:
- Heitor não consegue pensar em quase nada a não ser ele mesmo. Os dois tiveram alguns problemas no passado e Celine achou melhor que eles casassem.
- Mas... Não são praticamente irmãos?
- Sim e não. Tiveram um relacionamento que não era de irmãos assim que entraram na adolescência. No entanto hoje me parece que se tratam com irmãos... E se preocupam um com o outro, como tal. Mas... Você conhece bem Heitor, então sabe do que estou falando. – ele sorriu ironicamente para mim.
- Não... Eu não conheço, não... Eu juro por Deus que eu não conheço.
Ele gargalhou e depois pegou minha mão:
- Estou brincando, Bárbara.
- Não quero que pense que eu e Heitor... Bem... Que nós...
- Que nós... – ele me incentivou, olhando nos meus olhos.
- Eu... – as palavras não saíam.
Ao mesmo tempo que eu queria que ele não pensasse que eu tinha algo sexual com o filho, não conseguia me expressar sem dizer claramente o que era.
Ele apertou a minha mão:
- Não sabe como eu faria gosto de você e Heitor juntos.
A minha garganta começou a coçar e meu coração ficar completamente enlouquecido dentro de mim. Tossi repetidas vezes, tentando voltar ao normal.
Ele apertou um botão na cadeira de rodas e pediu para alguém me trazer água.
Sim, eu não consegui parar de tossir até tomar um copo cheio de água.
- Que vergonha, Allan. Eu... Estou com... Alergia. – Inventei.
- Na garganta?
- Sim... Na garganta.
- O que a traz até minha casa, Bárbara?
E agora? Inventa algo Babi... Por favor.
- Bem... Eu estou trabalhando na Perrone. Vim agradecer pela sua ajuda, mas tive problemas na entrevista e...
- Eu sei, Bárbara.
- Sabe?
- Sim.
- Então... É isso. Obrigada por me colocar de novo no processo, mas aconteceram algumas coisas que acabaram me fazendo escolher a Perrone.
- O que eu posso fazer para convencê-la a trocar de ideia?
Suspirei e disse seriamente:
- Nada, Allan. Eu sou uma pessoa muito fiel à tudo que acredito. Sebastian me ajudou... Ele confiou em mim. E não posso fazer isso com ele. Temos projetos em andamento e jamais eu o deixaria sozinho.
- Posso pagar o dobro do que ele lhe paga.
- Não é pelo dinheiro, Allan. É por... Ética, gratidão.
- Heitor precisa de você.
- Heitor? – arqueei a sobrancelha, confusa. – Como assim?
- Você faz bem ao meu filho.
- Eu?
- Sei que ele é imaturo, como você mesma disse. Foi mimado por Nicolete, que faz até hoje todas as vontades dele, o tratando como um inútil. Heitor é um homem que tem tudo que quer. Sei que pode parecer uma loucura, mas desde que você entrou na vida dele... E que fique claro que não importa como foi, mas ele mudou. Se aproximou de mim... Ele me fala sobre a North B. Tem planos... Não bebe até cair nos finais de semana... Antigamente não se conseguia falar com ele nas segundas e terças-feiras, pois eram os dias que ele ficava praticamente morto, tentando se recuperar das bebedeiras.
- Ele... Faz isso?
- Fazia... E deixou de fazer a bem pouco tempo. Eu tenho um pingo de esperança de que este novo Heitor tenha vindo para ficar, depois de completar trinta anos e conhecer Bárbara Novaes.
- Eu... Mal conheço Heitor. – falei, confusa.
- Meu filho fala de você.
- O quê? – me preocupei.
- Ele não quer demonstrar, mas sabe que encontrou o que precisava.
Coração, não pare de bater agora, por favor. O pai Casanova está tentando me dizer que eu posso ser o que o filho precisa? É isso? Não... É demais para mim... Porque o filho dele é tudo que eu preciso, mesmo que não seja o que sempre procurei. Heitor é um desclassificado nato... Na verdade, ele é tudo que criei para a palavra desclassificado. Ainda assim eu amo seu deboche... Adoro o olhar ordinário dele. Sou louca pela forma como ele tenta ser gentil, mesmo sabendo que não costuma fazer aquilo.
Eu bati na cara dele, dei uma joelhada no meio de suas pernas e ele resistiu firmemente. Foi a primeira vez que eu bati num homem... E não foi porque ele mereceu. Foi por vergonha... De meus amigos acharem que eu tinha abaixado a guarda. A Babi que não quer saber de se apaixonar... A Babi que levou tapa na cara, que praticamente foi estuprada pelo próprio companheiro, que foi encontrar o namorado que nem conseguia caminhar de tão drogado na boca de fumo, que teve que pagar traficante com o dinheiro que não tinha... Ela podia sim, baixar a guarda. E talvez juntar seus pedacinhos quebrados e colar. Mesmo que fosse com aquele miserável, asqueroso, safado, desprezível... Mas que não se atreveria a me tocar sem eu querer... Ou encostar um dedo no meu corpo para me fazer sofrer. Ele se preocupou se eu sentia dor, no momento do sexo, sendo que mal me conhecia. Ele tentou saber sobre a minha doença. Retiro o miserável, asqueroso, safado, desprezível.
Eu não podia negar para mim mesma: estava completamente louca por Heitor Casanova.
- Tudo bem, Bárbara? – Allan perguntou.
- Sim... Estou tentando ficar bem, mesmo com tudo que o senhor está me falando.
- Bárbara, eu poderia ficar aqui horas falando do quanto meu filho foi um imbecil e de tudo que ele fez de errado. Mas eu vejo a transformação e a maturidade chegando. E sim, ele tem um passado imperfeito... Assim como tantas outras pessoas tem. Talvez seu maior defeito tenha sido que ele pode ter ferido muitos corações femininos. – Riu. – Porque até agora a vida dele foi isso: Babilônia, bebidas, mulheres... Faltava encontrar “a mulher”.
- Allan, seu filho é noivo. – falei seriamente.
- Noivo. Não é casado. Mesmo que fosse, quantos casamentos acabam? As pessoas tem que encontrar a felicidade. Heitor precisa encontrar a dele... E Milena a dela, que ela deixou em algum lugar no passado.
- Eu... Não sou a solução dos seus problemas... – falei, aturdida.
- Venha para a North B., Bárbara. Venha para a minha família. Nós precisamos de você: eu, Heitor... E consequentemente, a North B.
Eu fui até aquela casa para falar com Celine, que pagou alguém para foder a minha vida. Cheguei lá e fui tão bem tratada pela filha dela, que é a noiva de Heitor, que até me senti mal por ter transado com ele no elevador. Então encontro Casanova pai, que praticamente pede que eu fique com o filho dele, mal sabendo que estou apaixonado por Heitor Casanova. E me fala do quanto ele mudou depois de ter me conhecido. E me oferece qualquer coisa para ficar na North B... Enquanto a enteada dele é a noiva do filho.
Peraí, volta tudo... Eu disse que estou apaixonada por Heitor Casanova?