Capítulo 42
2183palavras
2023-01-13 07:20
- Celine Casanova.
Peguei minha bolsa e saí correndo dali, cega de raiva, em direção à Mansão Casanova.
Agora eu andava de táxi, para evitar o risco de cruzar com Daniel se chamasse um motorista de aplicativo. Eu até o considerava um homem legal, até a conversa que tivemos depois que o vi com Salma na sala.

Eu era o tipo de pessoa que tive poucas experiências com homens. Mas o suficiente para reconhecer os mau caráter de longe. Claro que não era tão rápido, ou certamente eu não teria ido ao Motel com o ladrão de bolsas. Mas a mínima atitude me levava a comparação com Jardel, que era o pior tipo de homem que podia existir.
Claro que tinha os tipos “Heitor Casanova”... Desclassificado gostoso, implorando por ser “domado”, exalando masculinidade e molhando calcinhas de mulheres inocentes, como eu, por onde passava.
O desgraçado fez eu perder minha segunda virgindade. E nem doeu, mesmo com a endometriose. Aliás, não doeu nem como a primeira vez, com o insensível do Jardel.
Pensando em Heitor, cheguei em frente à Mansão Casanova, pertencente ao pai dele e à madrasta má, que neste caso, não era da Branca de Neve e sim do CEO.
Aquela desclassificada de quinta teria que me dar satisfações do motivo pelo qual tentou sabotar minha entrevista. O pior é que eu quase sabia o que a levou a fazer aquilo: me afastar de Heitor.
Mas porra, ela me viu uma vez e achou-me tão ameaçadora assim? Eu era só uma mulher de 27 anos, desempregada até então, que foi bondosamente até a casa dela devolver a carteira do marido, com tudo que tinha dentro. E o que ganho em troca? Uma rasteira.

- Que eu seja tão boa de briga com mulheres como sou com homens... – falei sozinha, enquanto parava em frente à guarita do guarda.
- Pois não, senhora.
Conseguia vê-lo pelo vidro, mas ele falou comigo através de um equipamento de voz. Olhei para os lados, tentando entender de onde vinha a voz dele, mas não consegui.
- Seguinte: preciso falar com Celine Casanova. Avise ela que é Bárbara Novaes, a mulher que ela tentou prejudicar na vaga da North B. E diga que eu já sei toda a verdade e que ela me receba se for bem mulher, porque senão eu vou fazer um escândalo e levar o nome dela para a lama.

- Senhora, não escuto o que fala. Poderia usar o microfone à sua direita, por favor?
Olhei para o lado e vi o minúsculo círculo, por onde eu deveria falar. Já tinha até esquecido tudo que eu disse anteriormente.
E acho que foi sorte. Claro que Celine não me atenderia. Se ela pagou alguém para me derrubar, não me deixaria entrar na sua casa.
- Eu gostaria de falar com o senhor Allan. – falei. – Diga-lhe que é Bárbara Novaes.
O homem pegou um aparelho e provavelmente ligou para a mansão. Logo o portão se abriu automaticamente e entrei.
Não foi tão fácil quanto na primeira vez que estive ali. Certamente entrei mas fácil em função de ser a festa de Heitor.
- Está sem carro? – ele me perguntou.
- Sim. É possível que me busquem aqui?
- Claro, vou solicitar.
Acho que eu começava a entender um pouco como tudo funcionava ali, mesmo tendo estado só uma vez naquele lugar.
- Ei, você não escuta nada do que eu falo do lado de fora quando está aí dentro? – perguntei, curiosa.
- Não, senhora. A cabine é a prova de balas e de som.
- Puta que pariu. Eu nem sabia que existia isso. Por acaso já o atacaram alguma vez para toda esta segurança?
- Houveram alguns poucos episódios de tentativa de assalto. Mas logo o senhor Casanova reforçou a segurança. Hoje a mansão Casanova é uma verdadeira fortaleza.
Logo o carro preto parou e entrei, aguardando até chegar na mansão.
A luz do dia deixava aquele lugar ainda mais perfeito e elegante. Fiquei olhando tudo ao meu redor, completamente maravilhada. Aquele luxo todo no meio de quase uma floresta, cercado de árvores, animais silvestres e esculturas pitorescas.
Logo Anon 2 veio me receber, enquanto em nem havia me aproximado da casa ainda.
- Senhorita Novaes. – me cumprimentou.
- Olá, Anon 2. Seguinte, preciso de um favor.
- Otávio... Meu nome é Otávio. Anon é o segurança do senhor Heitor Casanova. Eu sou segurança do senhor Allan.
- Tudo bem, Otávio. – corrigi. – Eu gostaria de falar com Celine. É possível?
- Mas... A senhorita pediu na recepção que gostaria de falar com o senhor Allan.
- Sim... Mas... Quero preparar uma surpresinha para o senhor Allan e gostaria que a senhora Celine dissesse se aprova ou não. Sabe como é... Não quero fazer algo que depois ela não goste, pois não consentiu, entende?
- Entendo... – ele falou, um pouco desconfiado. – Vou falar com a governanta se a senhora Casanova pode recebê-la.
- Obrigada, Otávio. Eu... Espero aqui mesmo?
- Não... Pode me acompanhar, por favor.
Acompanhei Otávio, que não era Anon 2, e entrei na casa. Aguardei na antessala enquanto ele foi falar com a governanta.
Eu sabia que precisava falar umas boas verdades para aquela mulher, mas meu coração batia forte e percebi que minhas mãos estavam trêmulas. Eu estava no território dela, que certamente se sentia segura ali.
A cobra tinha até seguranças que poderiam defendê-la. E dependendo da forma como eu agisse, poderia me botar na cadeia. E eu não queria ir para delegacia de novo. Justo agora que minha vida estava se reorganizando e eu tinha meu emprego dos sonhos. E... Bem, um lindo CEO que atravessou a minha vida. E que, por acaso, era o enteado dela.
Eu estava mesmo pensando nele de novo? Meu Deus, quando este desclassificado sairia da minha cabeça?
Vi algumas fotos na lareira e fui até lá. Eram três quadros pequenos, em molduras douradas, iguais. Estavam lado a lado, com os mesmos centímetros separando-os.
O primeiro era a família reunida: Allan, Heitor, Celine e Milena.
O segundo: Heitor e Milena.
Ambas as fotos eram atuais. Senti um pouco de ciúme vendo ele com as mãos na cintura dela e sorrindo. Mas os olhos dele estavam olhando para mim e não para ela. Não pude evitar o sorriso nos meus lábios, aquele sorriso bobo que pode sair junto corações.
Mas a terceira foto me impressionou. Era a mesma família Casanova... A foto era antiga. Mas... Milena estava junto com eles? Peguei as duas fotos e botei lado a lado nas minhas mãos. Será que eles eram namorados desde... Os dez anos de idade?
- Largue os porta-retratos, por favor. Não lhe dei permissão para tocá-los.
Devolvi os quadros no lugar, colocando meus olhos bem próximos para ter certeza se estavam exatamente com os mesmos centímetros de separação que encontrei-os.
Virei para Celine Casanova e disse:
- Olá, Celine.
- Senhora Casanova, por favor.
- Pois então, “Celine”. Fico feliz que tenha vindo me receber.
- O que você faz aqui?
- Hum, você lembra de mim? Achei que não lembrasse mais, afinal... Faz tempo, foi rápido... Meu rosto é tão comum...
- Não tanto.
- Fico feliz em saber.
- O que quer? Eu não tenho tempo sobrando para perder com você.
- Jura? Como é hipócrita em falar isso.
- Quem é você para me chamar de hipócrita na minha própria casa? – mesmo furiosa, ela não alterou o tom de voz.
- Não tem tempo para perder comigo, mas se prestou a pagar alguém para acabar com minha reputação no teste de seleção da North B.?
Ela ficou alguns segundos em silêncio antes de responder:
- Não sei do que você está falando.
- Não mesmo? O rapaz, coincidentemente depois de ter roubado minha ideia na apresentação para Heitor, hoje apareceu para fazer uma entrevista no local onde trabalho. E adivinha quem estava entrevistando-o? Eu. – levantei os ombros e sorri novamente. – Como as coincidências nos surpreendem, não é mesmo?
- Continuo não sabendo onde você quer chegar.
Celine era alta, magra e bonita. Tinha olhos claros, que a meu ver pareciam verdes, mas conforme a claridade ou como ela se movia, tinham o tom mel esverdeado. A pele era bem cuidada e ela usava uma maquiagem leve. Os cabelos eram escuros, quase pretos. O conjunto cinza com branco me parecia Chanel, pelo tipo tecido.
- Eu quero chegar no motivo pelo qual você pagou alguém para atrapalhar a entrevista... Que consequentemente chega na minha vida pessoal, entende?
- Eu não fiz isso.
- Celine, não se faça de boba. O rapaz me confessou tudo. Eu paguei o dobro do que você deu a ele para saber quem foi a mandante. Sinceramente, não esperava isso de você. Uma mulher refinada, de classe, com um nome a zelar... Perder tempo com alguém como eu, como você mesma afirmou.
- Bárbara, Babi, ou seja lá a forma como a tratam... Não fique no meu caminho. Você não sabe com quem está lidando.
- Celine, “você” não sabe com quem está lidando. Agora me responda uma coisa: medo por Heitor? Ou pelo senhor Allan? Eu gostaria de saber... Sinceramente.
- Medo pela minha família.
Balancei a cabeça, ironicamente:
- Eu só tenho 27 anos, mas passei por muita coisa na vida. Eu não sou uma pobre coitada. Atualmente estou trabalhando na Perrone, ao lado do CEO, Sebastian Perrone. Minha mãe morreu quando eu era adolescente. Ela era uma mulher de posses, mas abriu mão de algumas coisas em nome do que ela realmente acreditava. Ou seja, minha família tem boas condições financeiras. Me formei numa faculdade conceituada, sei me portar muito bem em lugares finos e elegantes. Não me acho “pouco” para Heitor... Nem sequer para Allan, se é esse o seu maior problema. A questão é: eu não quero sua família... Não quero um Casanova na minha vida, entende? Não preciso de posição social ou dinheiro. Eu sou quem eu sou... Bárbara, Babi... Não importa para você.
- Como teve a petulância de vir até a minha casa e me ofender desta maneira, com mentiras?
- Não estou ofendendo você. – olhei seriamente para ela. – Estou sendo sincera. Fique tranquila, eu não vou me meter na sua família. Embora eu ache que quem deveria se preocupar com isso era Milena e não você.
- Fora da minha casa. – ela disse, apontando o dedo para a porta.
- Celine, não tente atrapalhar a minha vida novamente. Ou eu vou contar para o senhor Allan.
- Está se atrevendo a me ameaçar? – ela riu. Em segundos ficou séria novamente: - Não se meta com a minha família... Isso inclui Heitor, que é como um filho para mim. Você não sabe do que eu sou capaz para defender o que é meu.
- E eu sou capaz de tudo para “me defender”.
Ela veio até mim, furiosa e pegou meu braço com força, me puxando para a porta.
Fui pega de surpresa, sem saber como agir, afinal, estava dentro da casa dela.
Antes que ela mesma abrisse a porta, ouvimos Milena:
- Mãe, largue ela.
Celine imediatamente soltou meu braço, que doía.
- Mãe? – olhei para as duas. – Você... É noiva do seu irmão?
Senti uma sensação estranha dentro de mim, quase de incredulidade.
- Teoricamente não somos irmãos. – ela sorriu. – Eu sou filha de Celine, ele é filho de Allan. Então não somos irmãos de sangue... Nem de coração, digamos. Não temos sequer o mesmo sobrenome.
- Entendi... – falei, tentando assimilar tudo.
- O que exatamente estava acontecendo aqui? – ela olhou para a mãe.
- Nada, querida. A moça já estava indo embora.
- Estava? – perguntei. – Mas você nem me deixou falar com o senhor Allan. – provoquei.
- Me acompanhe. Eu mesma a levo até Allan. – disse Milena.
Eu nem tinha nada para falar com Allan, mas sair dali, àquelas alturas, estava fora de cogitação. Ainda mais sabendo que a noiva de Heitor parecia ser uma boa pessoa.
- Milena, você tem que organizar as coisas para o casamento. Não era hoje que você e Heitor tinham prova do bolo? – ela me olhou, sorridente.
- Não é por agora, mamãe. – disse Milena. – Venha por aqui, Bárbara.
Na minha cabeça só ecoava o seguinte: “Não era hoje que você e Heitor tinham prova do bolo?”. Suspirei. Por que tive esperanças de que pudesse se diferente? Fizemos sexo e ponto final. Ele casaria com a noiva e eu seria só mais uma para a coleção dele.
Passamos pela porta de vidro, entrando na sala. Passamos pelo elevador e senti um frio no estômago. Seguimos e subimos as escadas secundárias, que davam para o segundo andar, onde eu já sabia mais ou menos o que tinha.
- Sente-se, por favor. – ela falou, me mostrando o sofá de uma outra sala próxima da escada.
Sentei, imaginando que ela chamaria Allan.
- O que houve entre você e minha mãe? – ela perguntou seriamente.