Capítulo 41
2326palavras
2023-01-13 07:19
Assim que cheguei na minha sala na Perroni naquela manhã, Sebastian me esperava com um café puro, sem açúcar, como já sabia que eu gostava.
- Hum... O que você quer de mim, Sebastian? – peguei o copo desconfiada, enquanto tomava um gole do café.
- Como você é desconfiada, Babi. Não acha que as pessoas podem querer agradá-la sem querer nada em troca?
- Estou tentando acreditar nas pessoas, Sebastian. Mas tive um passado que me mostrou o contrário e por isso é um pouco difícil.
- As pessoas são diferentes umas das outras, Babi. E essa é parte boa da vida... Conhecê-las... E aceitá-las, do jeito que são.
- Por isso que você aceita tão bem Heitor Casanova, com todos os defeitos dele? – ironizei.
- É impressão minha ou sempre nossa conversa tem que girar em torno dele?
- Claro que não. – dei de ombros e sentei, fingindo desinteresse.
- Meu assunto com Heitor é diferente. Ele nasceu mau caráter e nada vai mudar isso.
- Pelo visto o que houve entre vocês no passado foi bem terrível.
- Não quero falar sobre isso, Babi.
- Ok... Não vamos falar sobre isso. Você quem manda, chefe! – brinquei.
- Babi, eu vou contratar mais duas pessoas para ajudá-la.
- Mas... Por quê? Acha que não vou dar conta de tudo? Está insatisfeito com alguma coisa no meu trabalho? Eu... Posso mudar.
- Não, Babi. Está tudo muito bom com o seu trabalho. Estou satisfeito, sim. E por isso mesmo quero ampliar e fazer uma equipe só para você.
- Eu... Fico feliz, Sebastian. – falei, ainda desconfiada.
- Vamos em breve colocar em prática as nossas ideias dos rótulos e cestas. Quero que inicie com a contratação de uma empresa para gravarmos um comercial.
- Na Televisão?
- Sim.
- Pensei também em outdoors, em pontos estratégicos da cidade... Ampliando com o tempo para outras áreas do país. – Sugeri, empolgada.
- Sim. E se der certo, vou expandir a ideia para o meu país de origem... Nossa matriz.
- Sebastian, seu pai ficaria orgulhoso de você. – Sorri, percebendo o esforço dele para que tudo desse certo e que a empresa ampliasse.
- De nós, Babi... De nós... Não estou fazendo isso sozinho. Estamos fazendo juntos.
- Fico feliz de estar ao seu lado... De você ter me dado esta oportunidade.
- Eu ainda tento entender por qual motivo você pensou antes de me responder naquela manhã, Babi. Por que a dúvida?
Suspirei e confessei:
- Eu havia feito uma entrevista na North B.
- Quer dizer que esperou antes a resposta da North B. para aceitar a minha proposta? Se eles tivessem dito sim, você negaria a proposta da Perrone, Babi? – Sebastian levantou, um pouco decepcionado.
- Não foi com relação a North B., Sebastian. Foi com relação... A Heitor.
Ele me encarou:
- Como assim?
- Tivemos uma situação na entrevista... Ficou pendente. Eu queria saber como ele resolveria.
Sebastian sentou na minha frente e olhou no relógio:
- Será que não está na hora de conversarmos sobre Heitor e você, Babi? Não somos somente concorrentes... Somos inimigos pessoais, entende?
Comecei a contar sobre o dia da seleção. Expliquei sobre a indicação de Allan Casanova para que eu pudesse retornar ao processo. Também sobre as minhas brigas com Heitor... Mas ocultei que nos beijamos... E também que transamos. E... Que eu poderia estar gostando “um pouquinho” mais do que eu deveria dele.
- Não me surpreendo. – Sebastian disse. – Heitor é um homem que só pensa nele mesmo. Narcisista... Egoísta...
Ele continuou e talvez em outros tempos eu o ajudaria nos “adjetivos” que definiam Heitor Casanova. A questão é que eu não o via mais com os mesmos olhos. Eu conseguia ver além do CEO arrogante e dono da maior Boate do país.
Fechava meus olhos e o via me levando ao hospital, realmente preocupado com meu estado de saúde. Via flores pintadas na fachada do meu prédio e joias que ele me devolveu. Conseguia sentir a textura do ingresso VIP do show do Bon Jovi... E o homem que segurava minha mão na frente do doutor Telles quando ele falou da cirurgia.
Eu fechava os olhos e podia sentir o cheiro dele... A maciez de seus cabelos... A doçura da sua pele e a força e o desejo que ele tinha enquanto entrava dentro de mim.
Meu coração começou a bater mais forte e a respiração acelerou. Ops, minha calcinha molhou.
- ... Pode ser?
Encarei os olhos azuis cintilantes de Sebastian e fiquei muda. Eu não havia escutado o que ele disse.
- Pode? – fiz mais uma pergunta do que resposta.
- Ouviu o que eu disse, Babi?
- Não sei. – Confessei. – Eu... Estou preocupada com Salma. – menti. – Ela sentiu um pouco de enjoo hoje pela manhã.
- Precisa de ajuda com alguma coisa? Quer que eu leve sua amiga ao médico?
- Não... Não é isso. Só... Me peguei pensando nela.
Claro que eu não tinha outra alternativa a não ser a mentira. Se falasse a Sebastian que não ouvi o que ele falava, que certamente era importante, porque estava pensando em Heitor Casanova, ele literalmente me mataria.
- Eu disse que já abri processo para os candidatos e deixei somente o dia de hoje para entrevistas e seleção. Vou deixar tudo para o setor responsável e você adianta logo o lançamento dos rótulos, antes que a North B. roube a nossa ideia.
- Sebastian, eu gostaria de cuidar do processo de seleção pessoalmente, já que as pessoas irão me auxiliar. Pode ser?
- Claro. Se prefere assim e não vai atrasar seu trabalho, sem problema. Aceitei também currículos com Faculdade em andamento, no último semestre.
- Perfeito! Assim a empresa dá oportunidade para pessoas que ainda estudam.
Ele levantou:
- Vou ver com Tony como anda a questão das verbas que temos para possíveis gastos extras com o marketing do vinho com rótulos personalizados.
- Ok. Que horas começa a seleção?
- Já começou na verdade. Verifique com o setor os horários que foram marcados.
- Ok. Qualquer coisa, se precisar diminuir o orçamento com as propagandas, me avise.
- Pode deixar. Bom trabalho, Babi.
- Para você também, chefe.
Ele riu e saiu, me deixando sozinha. Eu gostava da relação que tinha com Sebastian. Ele me dava atenção e parecia realmente se preocupar comigo. Eu tinha certeza de que em breve seríamos bons amigos e confidentes. E talvez ele me contasse o que realmente aconteceu entre ele e Heitor no passado e que tinha a ver com uma garota.
Confesso que me senti um pouco enciumada sabendo que uma garota foi motivo de disputa e inimizade entre eles, mesmo depois de tanto tempo... Porque os dois eram importantes para mim.
Liguei para as responsáveis pelas entrevistas e combinei que a partir das 13 horas eu participaria do processo, junto delas, já que Sebastian havia me dado carta branca.
Pedi o almoço na empresa naquele dia, para não precisar sair. Não tinha nem coragem de olhar para o edifício na North B. porque bastava me lembrar de Heitor e minha cabeça ficava completamente confusa e em transe.
Só de pensar nele eu já ficava com a pele eriçada e sentia o fogo subindo à minha face. Ainda sentia o corpo dele no meu... Ouvia o som do pau dele entrando e saindo com força de dentro mim... E imaginava o que ele poderia ter feito com a minha calcinha.
Logo chegou o horário combinado e me encaminhei para o setor de entrevistas. Eu sabia que o próprio Sebastian gostava de analisar os candidatos também, mas sabendo que era para trabalhar comigo, achei importante eu fazer parte da escolha.
Olhei alguns currículos que elas haviam separado e achado bons. Retirei poucos, que não atingiam o que eu queria.
Entrou a primeira candidata e eu fiquei com um bloco de anotações enquanto as meninas faziam a entrevista. Preferi primeiramente observar para talvez futuramente participar mais ativamente do processo.
As perguntas eram feitas de forma simples e não havia pressa, para que o candidato pudesse se sentir a vontade e fazer tudo sem nervosismo.
Era final de tarde quando elas mandaram entrar a última pessoa.
Levantei meus olhos e dei de cara com o homem que havia roubado minha ideia na North B. e causado toda a confusão naquele dia.
- O que você está fazendo aqui? – perguntei, não me controlando, levantando da cadeira, aturdida.
Ele me olhou e percebi seu rosto se ruborizar:
- Eu... Preciso de um emprego.
- O conhece, senhorita Novaes? – perguntou uma das funcionárias que fazia a entrevista.
- Sim... Muito bem, por sinal.
Elas me olharam, sem entender.
- Precisa de um emprego? – eu ri ironicamente. – A vaga é para trabalhar comigo... Caso não entenda direito: “me auxiliar”. Eu sou a responsável pelo departamento de Marketing da Perrone, senhor... – olhei o nome dele na ficha. – Senhor Martins.
Ele abaixou os olhos:
- Me desculpe.
- Me desculpe? Você só pode estar brincando. Você roubou a minha ideia, me fez sair do processo seletivo e agora acha que desculpas resolverão? Eu jamais admitira você aqui. – olhei o currículo dele rapidamente e me deparei com a escolaridade que dizia que estava no último semestre de Marketing e Propaganda.
O encarei, incrédula:
- Você não está formado? Na North B. era obrigado a ter o diploma para a vaga. Como você conseguiu entrar lá para a entrevista?
- Eu... Eu...
- O gato mordeu sua língua? Você parecia bem seguro naquele dia, na sala do sétimo andar na North B. Sabe a ideia que você roubou de mim? Vamos botá-la em prática na Perrone. Sebastian Perrone adorou minha proposta dos rótulos personalizados. Agora me diga, você não passou no processo final na North B.? Porque eu sei que Heitor Casanova refez todo o processo com as mesmas pessoas. Quem venceu, afinal?
- Eu não participei do processo, senhorita Novaes.
- Como assim? – eu ri. – Claro... No mínimo você se sentiu culpado pelo que fez comigo, não é mesmo? – ironizei. - Afinal, uma entrevista não é tudo que se faz numa empresa. Você teria que trabalhar, ser criativo, ter ideias concretas que mostrassem o seu nível de conhecimento... Que aliás, você não tinha, porque mentia no seu currículo.
- Naquele mesmo dia recebi uma ligação do senhor Casanova... Me desligando do processo.
- Como... Assim?
- Nem bem cheguei em casa e ele pessoalmente me ligou, me deixando fora. Ou seja, participei do primeiro processo e fui descartado. Achei que teria sido por causa da confusão.
Senti meu coração acelerar. Heitor tinha tirado o garoto fora do processo? Mas... Porque ele não me disse? Insistiu que eu deveria retornar, mas não mencionou que o ladrão de ideias não estava dentro. Então, no fim... Ele acreditou em mim... Mesmo querendo que eu participasse de tudo novamente, acreditou.
- Alguém deve ter visto que seu currículo era falso. – aleguei.
- Talvez. Mas aqui ele não é falso. Sei que fiz errado, senhorita Novaes, mas eu preciso muito deste emprego. A oportunidade da Perrone é magnífica. Eu gostaria muito pudessem me dar uma chance... E esquecer o que houve.
Eu ri:
- Eu não sou uma pessoa de segundas oportunidades, garoto. Seu caráter não vai mudar, não é mesmo? E também não sei ser bondosa. Embora eu não goste, tenho tendência a ser um pouco vingativa com quem tenta me prejudicar de alguma forma.
- Ok, eu não vou mais tomar seu tempo. – ele levantou, amedrontado, em nada lembrando o rapaz que me afrontou de forma segura dias atrás.
- Eu vou ficar com seu currículo. E jamais conseguirá emprego na sua vida. Currículo alterado, mentiroso... Você tentou fraudar a North B. Falsificou um documento, foi trapaceiro e ainda me caluniou, quando disse que eu não era a responsável pela ideia e ainda havia roubado a sua.
- O que... Você vai fazer?
- Processá-lo. Tenho seu currículo original aqui e vou falar com Heitor Casanova, pedindo a cópia do seu currículo falso. Tenho provas da forma como me caluniou. O próprio CEO da North B. será minha testemunha. Então, amigo, você está fodido. – as mulheres me olharam, com cara de espanto. – Digo, “ferrado” – tentei consertar o palavreado. - Quer dizer, você está muito, muito complicado.
- A senhorita Novaes quis dizer que sua situação está bem difícil. – uma das mulheres tentou explicar a ele, talvez achando que o rapaz pudesse não ter entendido.
- Não... Eu não vou pagar por isso sozinho. Não posso ser prejudicado desta forma. Ela... Me disse que seria fácil e que eu não teria problemas.
- Ela quem? – olhei para ele, nós dois de pé, um de frente para o outro. – Do que você está falando?
- Que... Eu fui pago para fazer aquilo.
- Aquilo o quê?
- Alterar e mentir sobre meu currículo... E atrapalhar você de todas as formas possíveis na seleção para a vaga na North B.
Fiquei olhando-o sem dizer nada, tentando assimilar tudo que ele estava dizendo naquele minuto. Quem faria aquilo? Quem poderia querer me prejudicar numa simples vaga de emprego?
Eu não tinha muitos amigos... Mas também não lembro de ter inimigos... A não ser Heitor Casanova, há tempos atrás... Bem pouco tempo atrás, aliás.
- Quem pagou você? – perguntei.
- Eu... Não posso dizer, infelizmente. Mas quero que entenda que não fiz de propósito. Eu precisava do dinheiro.
- Todo mundo precisa de dinheiro... E nem por isso aceita fazer canalhices contra as pessoas.
- Não tive escolha. Não pensei que fosse me trazer tantos problemas.
- Cada um colhe o que plantou, garoto. E você pode ganhar o dobro do que lhe pagaram. Me diga quem pagou você para me prejudicar.
Ele me olhou seriamente e disse: