Capítulo 36
1916palavras
2022-12-24 14:43
- Babi... Estou te convidando para trabalhar comigo. Ser a pessoa responsável pelo Marketing e Propaganda da Perrone, a maior empresa de vinhos do país.
- Eu... Posso dar a resposta... À noite?
- Isso é uma piada? – Ben se meteu.
- Não.
- Eu... Espero. Sem problemas. Passando de hoje, retiro minha proposta. – Ele foi firme.
- Ok.
Eles ficaram mais algum tempo, falando sobre coisas sem muita importância e depois se foram. Ficou claro que realmente foram até ali profissionalmente.
- Babi, eu tenho ecografia hoje... A primeira. Você... Quer ir comigo?
- Eu? – senti meu coração acelerar. – Claro que sim, Salma.
- Não acredito que Babi vai conhecer Maria Lua antes de mim. – Ben ficou chateado.
- Por que não vai junto, Ben?
- Eu... Tenho que ir trabalhar. Não sou o tipo de pessoa que pode se dar ao luxo de dizer “não” a Sebastian Perrone.
- Vocês nunca entenderiam...
- Tenta. – Ele me olhou, seriamente.
O telefone dele tocou. Ben retirou do bolso e quase derrubou:
- Ai... É ele... Thor, Thorzinho, o dono da porra toda, o CEO mais desejado de todos os tempos... O Crush da minha amiga. O que eu faço? Atendo? Deixo-o esperando? Estou tremendo, meninas... Olhem!
- Atende logo, Ben. – Salma quase gritou.
Ele atendeu e fiquei imóvel, sentindo minhas pernas trêmulas. Ok, agora eu teria que agradecer pessoalmente. Certamente foi para isso que ele ligou.
- Babi, linda... Thor está no telefone. Quer falar com você... – Ben gritou, parecendo fingir que eu não estava ali.
Tentei pegar o telefone da mão dele, que segurou e fez sinal para eu ficar calada. Depois de um tempo, me entregou.
- Alô.
- Olá, Bárbara.
Eu não sei porque, mas quando ele falava “Bárbara” aquilo entrava tão fundo dentro de mim que até me deixava tonta.
- Eu gostaria de agradecer pelas joias... E a pintura nova na fachada do prédio.
- Eu não liguei para você me agradecer, Bárbara. – Foi firme.
- Mas... Aproveito para fazer isso. Não vou incomodá-lo depois para agradecer... Sei que é um homem muito ocupado.
- Eu não tinha o que fazer com as joias... E não fui muito educado ofendendo-a daquela forma na fachada do seu prédio.
- Se as joias não fossem tão importantes para mim, eu não aceitaria de volta.
- Bem, teoricamente você ainda me deve o conserto do Maserati, já que devolvi o seu pagamento.
- Eu não pedi... Você que devolveu. Por vontade própria.
- Não a ensinaram a ser agradecida e pronto, Bárbara?
- Não...
- Foi uma brincadeira quanto a me dever ainda o conserto.
- Ok, posso pagar... Com um ingresso do show do Bon Jovi? – tentei brincar com ele.
- Ou um rim em bom estado? – completou. – Qual deles você se desfaria, Bárbara?
- Do rim... Porque eu tenho dois. – Não pensei duas vezes.
- Isso é uma brincadeira?
- Não.
- O Bon Jovi é assim tão importante?
- Muito.
- Você tem um ingresso?
- Tenho. Daqueles que você vê bem de longe. – Ri. – Mas não imagina o quanto estou feliz. Sempre sonhei em conhecer John... E... Você tem uma foto com ele. – Não me contive.
- Foi tirada da última vez que eles vieram a Noriah Norte. Faz um tempinho. Eu nem curtia muito a banda...
- Hoje curte?
- Confesso que dei uma olhadinha com mais atenção... Depois que você apareceu louca por ele deste jeito. Mas não vi nada de tão especial.
- Quer brigar, Casanova?
- Com você me chamando de Casanova, quero sim.
- Que mal há nisto?
- Não gosto.
- Prefere “Thor”? – ironizei.
- Prefiro qualquer coisa, menos Casanova.
Olhei Salma e Ben me olhando, analisando cada palavra que eu dizia. Peguei o telefone e eles me seguiram. Entrei no quarto e tranquei a porta, sob os protestos deles.
Deitei na cama, e percebi que estava sorrindo. Por que mesmo? Por nada.
- Ficou tudo bem com você... Depois... Que eu fui embora?
- Por que não ficaria?
- Temi ter a machucado quando me joguei por cima de você... E caímos no chão.
Deus... Eu queria tocar neste assunto?
- Ficou tudo bem, Casanova.
- Que bom...
- Por que mesmo você me ligou?
- Sim... Eu quase tinha esquecido. Você fala tanto que me deixa confuso.
- Só meu lado meigo de ser. – brinquei.
- Você tem um lado meigo, Bárbara?
- Tenho... Mas poucas pessoas conhecem.
- Adoro desafios.
- Não é um desafio.
- Será que um dia conversaremos sem estas pequenas... Como posso chamar...
Heitor Casanova quer conversar comigo outras vezes? Então vamos conversar seriamente, CEO da North B. e dono da porra toda.
- Heitor, se importaria de me responder uma pergunta sobre trabalho?
- Me chamando de Heitor eu posso responder qualquer coisa para você, Bárbara... Até meu endereço... E onde fica o meu quarto.
Revirei os olhos:
- Não me interessa saber onde você mora... Muito menos onde fica a sua cama.
- Não falei “cama”. Eu disse “quarto”.
- Que seja...
- Está pensando besteiras, Bárbara. É isso que passa pela sua cabeça quando pensa em mim? Cama?
- Eu? Não... Claro que não. Aliás, quer saber o que eu penso?
- Quero... Quero muito saber.
- Eu penso que tive uma crise de ansiedade, junto da dor da cólica e acabei no hospital... Por causa de um idiota que roubou a minha ideia na entrevista da North B. Quero saber se você acreditou nele ou em mim?
Ele demorou um tempo para responder, que para mim pareceu uma eternidade.
- Eu liguei para você justamente para isso.
- Não. Você não ligou para mim. Ligou para Ben.
- Eu não tenho a porra do seu número. – falou alterado.
- Por que não pediu?
- Porque achei que você não daria. Eu poderia claro, busca-lo na minha própria empresa. Mas realmente não queria que continuasse a ser assim: eu usando do meu poder para saber sobre você.
- Realmente eu não daria.
- Ok, Bárbara... Estou bastante atarefado hoje. Vamos ao que interessa.
- Fale logo.
- Eu liguei para dizer que vou refazer a seleção.
- Então estou fora?
- Não. Vou chamar vocês cinco novamente. E faremos outros testes.
- Heitor, eu não vou refazer. Acha que eu crio ideias como troco de calcinhas?
- Quer mesmo que eu imagine você trocando de calcinha? Rendada... Pequena, na verdade minúscula... E o que tem dentro dela... Deus, me deixa louco, completamente louco...
Senti minha calcinha molhar com uma simples frase do idiota desclassificado.
- Sonhe com isso, Casanova. Porque jamais terá de verdade.
- Sua calcinha?
- Não... O que tem debaixo dela.
- Não me pareceu que você achou isso quando me deixou tocá-la. Senti tudo em você pronto para me receber.
- Só quis mostrar a você que... Que...
- Me quer tanto quanto eu quero você?
- Quero muito você, Heitor Casanova... Muito mesmo. Como o meu chefe, na North B. Agora me diga de vez se acha que o rapaz com cara de estagiário não roubou a minha ideia.
- Eu não tenho como saber, Bárbara. Por isso quero refazer a seleção. E se foi você que criou aquilo, eu aposto que conseguirá fazer melhor ainda, para provar que é capaz.
- Eu não tenho que provar nada para ninguém, Heitor. O idiota roubou minha ideia e pronto.
- Espero você amanhã na North B., às oito horas.
- Eu não irei.
- Eu estarei esperando, Bárbara... Ansioso.
- Não vou. – Desliguei o telefone, furiosa.
Ele não acreditou em mim. E também não tinha obrigação de fazer isso. Mal nos conhecíamos e ele não me devia confiança. Nem era mais tanto sobre o emprego. Era sobre ele saber que eu era capaz de criar aquilo e alguém roubar sem se importar com as consequências.
Abri a porta e encontrei Ben e Salma grudados nela.
Devolvi o telefone e disse para eles:
- Acabei meu relacionamento com “Thorzinho”.
- Antes mesmo de começar? – Ben veio atrás de mim. – Ele lhe pintou flores por cima de ofensas, lhe deu joias que já eram suas... E você simplesmente termina tudo?
- Foi só... Só... O que foi? – Não, eu não sabia o que tinha sido e não foi.
Os dois começaram a rir.
- Eu tenho que ir, porque senão vou atrasar. E Babi é a prova de que está difícil arranjar emprego. Você tem os CEO’s das empresas a seus pés, mas não quer receber nada que venha deles, nem dinheiro. – Debochou.
Ben saiu e Salma perguntou:
- Quer ir comigo na ecografia?
- Sim, claro que sim.
- Vou deitar um pouco... O horário está no bilhete na geladeira. Me acorde trinta minutos antes.
- Tá bom.
Sentei no sofá e liguei para Sebastian.
- Já tem sua resposta, Bárbara? – ele perguntou, sem rodeios.
- Sim, eu vou aceitar.
- Obrigado.
- “Eu” quem devo agradecer, senhor Perrone.
- Espero você amanhã às 8 horas. Tenho alguns compromissos em seguida e não posso me demorar na ligação.
- Tudo bem... Até amanhã.
Assim que encerrei a ligação, deitei no sofá. Eu achava que estava fazendo o certo. Já tinha dado a minha ideia na North B. e todos os presentes acreditaram no rapaz. Sequer me deram uma chance. Me julgaram por nada.
Heitor deveria fazer o ladrão de ideias repetir a atividade. Era certo que ele não conseguia. Afinal, a pior ideia foi a dele: vender chope com sabor que só tinha na Babilônia, embalado. Outras empresas até tentaram imitar aquilo e não deu certo. Ele seria um péssimo profissional.
Fui para o meu quarto e despejei as joias sobre a cama, olhando uma a uma. Meu coração estava tranquilo por estar com elas novamente. Ainda me intrigava a pergunta de Sebastian, se faltava alguma coisa. Por que ele duvidava de Heitor? Só por causa da antipatia mútua que os dois tinham por causa de uma época distante que viveram na faculdade? A meu ver estava tudo ali.
Agora eram dois homens. Concorrentes nos negócios, mas não precisavam ser na vida. Ambos eram lindos, inteligentes, ricos. O que queriam mais da vida? Uma competição que não fosse por negócios ou amor, não era válida. Então, algo houve no passado. O que, eu não sabia. Mas me interessava mais do que saber sobre quem era o meu pai. Porque os dois, tanto Heitor quanto Sebastian, mesmo eu os conhecendo pouco, eram importantes para mim de alguma forma. E eu sentia que me daria muito bem com Sebastian Perrone. Gostei dele desde que o vi pela primeira vez. E também pressentia que ainda tinha muita raiva para rolar com Heitor... Porque o odiei nas primeiras 48 horas que nossas vidas se cruzaram: Babilônia, entrevista, cadeia, joias, pichação.
Então, do nada... A gente se “amassou” no elevador... Quer dizer, por duas vezes... Como se a vida dissesse: “Ei, Bárbara, você quer ficar trancada com o mesmo homem duas vezes, em elevadores diferentes?” Eu respondi: “Mas isso não é possível, vida!”. Ela disse: “Claro que é, Bárbara. Como é para você, é possível, sim.”
O que aconteceria se ficássemos trancados uma terceira vez? Ah, claro que eu resistiria, firme e forte. Mas meu corpo... Não, não resistiria. Porque ele simplesmente não me obedecia quando eu estava com Heitor Casanova.