Capítulo 35
1851palavras
2022-12-24 14:43
- Bárbara Novaes, acorda agora!
Abri os olhos e vi Ben me empurrando, com uma cara que não consegui identificar... Pânico?
Sentei na cama, imediatamente:

- Pegou fogo no elevador? Ele despencou?
- Vem comigo... Agora mesmo.
- Ben, eu nem escovei meus dentes. – falei, enquanto ele me puxava, abrindo a porta do apartamento.
- Vem, Babi.
- Eu nem penteei meu cabelo... Quer que eu vá para fora, isso?
Quando percebi estava descendo as escadas quase correndo atrás dele, já me preocupando.

Assim que saí na porta da rua do prédio, percebi algumas pessoas paradas, olhando a fachada. Parei, sem ter certeza se olhava ou não o que tinha ali. O que Heitor havia feito agora? Botado meu nome de verdade, para que todos soubessem que era pra mim seus insultos? Aquele desclassificado barato... Quer dizer, barato ele não era... Era bem caro, aliás.
Senti meu coração batendo mais forte quando virei. E a fachada estava toda com flores coloridas. Não tinha mais “louca desclassificada” e sim um jardim florido, com borboletas voando até o segundo andar e olhos azuis ao fundo.
- Que porra... Thor é perfeito, amiga! Você vai dar o que ele quer, não é mesmo?
- Não... Claro que não. – Sorri. – Ele foi criativo. Mas não me convenceu. – Virei as costas.

- Está brincando! Você não vai deixar este homem escapar, não é mesmo? Ele mandou pintar flores no prédio para você... Usou seus olhos de fundo...
- Antes de chamou de “louca desclassificada”.
Estávamos na porta do prédio quando Salma voltava de algum lugar.
- Onde você foi? – perguntei.
- Pegar pães para dois preguiçosos e uma mamãe faminta.
- Salma... Você viu o que o dono da porra toda, nosso querido Thor, fez para nossa amiga?
- Vi... – ela sorriu. – Uma vez eu pensei que ele estava a fim de Babi. Agora eu começo a pensar que já passou desta fase.
- O que você quer dizer?
- Paixão...
- Que... Nojo. – falei, balançando a cabeça, tentando não imaginar a cara dele, que corria o risco de minha calcinha umedecer de novo.
- Nojo? Não me pareceu isso quando vi você se agarrando com ele na parede da nossa sala. – Ela riu.
- Na parede da sala? – Ben me olhou. – Não foi só no chão?
- No chão? – Salma me olhou. – Você estava no chão com Heitor Casanova?
- No chão... Ele por cima dela. Acabei com a palhaçada de cara. Avisei: leva ela para um motel. – Ben respondeu por mim.
- E o que ele fez? – ela perguntou curiosa.
- Babi botou ele pra fora. Então ele bateu na porta e disse: “Vamos para um Motel”?
- E ela disse “não”. – Salma já sabia minha resposta.
- Daí ele perguntou se podia dormir na nossa casa. – Ben seguiu.
- E você disse o quê? – Salma arqueou a sobrancelha.
- Eu disse: “Ben, sai de trás da porta, seu curioso”!
Começamos a rir. Ela colocou a mão sobre o meu ombro e disse:
- Vamos subir, você merece até um café especial.
- Sim... Ela é uma flor aos olhos dele, agora. – Ben me abraçou do outro lado.
- Vocês não existem!
- E pensar que ela odiou ele quando o viu a primeira vez.
- Só nas primeiras 48 horas. – Salma disse, enquanto subíamos as escadas. – Depois eles começaram a gostar das provocações. Acho até que dedicavam seu precioso tempo pensando em como chamar a atenção do outro, ops, quis dizer como provocar o outro. – ela piscou.
- Ele é noivo. – Eu disse.
- Pode deixar de ser. – Ben respondeu.
- Ele tem uma amante. – Argumentei.
- Também pode deixar de ter. – Salma disse. – Cindy não é o tipo de mulher que faria Heitor Casanova ter um relacionamento sério ou levar para o resto da vida.
- Ah, e eu sou?
- Por que não? Você é linda, honesta, sincera...
- Eu vendi o casaco dele.
- Você o quê? – Salma me olhou. – Retiro o que eu disse: você é bonita, sincera... E não tão honesta. Como alguém entrega uma carteira cheia de cartões ao dono e vende um casaco que não é seu?
- Eu precisava de dinheiro.
- Não, ela não precisava. – Ben disse. – Ela queria mesmo provocar Thorzinho.
Salma preparou um café e arrumou a mesa. Sentamos empolgados e quando eu mordi a primeira fatia de bolo, a campainha tocou.
- Quem será? – Salma disse. – Não recebemos visitas... Só se for um dos pretendes de Babi.
- O CEO ou o motorista de aplicativo? Qual você acha que está atrás da porta? – Ben brincou.
- Eu gostaria do motorista. – Ela confessou.
- Fico com Thor.
- E eu abro a porta. Não é nenhum dos dois. Deve ser o síndico para avisar que o elevador será retirado de vez do prédio. – levantei.
Abri a porta e dei de cara com Sebastian e Tony. Fiquei sem voz, atônita.
- Ninguém venceu... – Ben falou para Salma. – É o terceiro, que eu nem lembrava mais.
- Entre, Terceiro. – Salma falou, sem levantar da mesa, começando a rir.
- Bom dia! Posso entrar, Bárbara?
Saí da porta, dando espaço para os dois.
- Tony? – Ben falou assim que o viu, confuso.
Ele acenou:
- Como vai... Ben?
- Eu... Precisava falar com você, Bárbara. Então, como Tony sabia onde você morava... Me dei ao direito de vir, sem avisar. Desculpe-me.
- Sentem... – falei, tentando colocar a cabeça em ordem.
- Querem café? Salma acabou de passar. – Ben ofereceu.
- Não... Obrigada. – Sebastian disse, me olhando.
- Eu aceito. – disse Tony, se juntando a eles.
Sentei de frente para Sebastian na sala, curiosa. O encarei, esperando que ele dissesse algo.
Alguém bateu na porta de novo. Ben e Salma me olharam seriamente.
- Por meus sais, estou ficando nervoso... Muito nervoso. – Ben disse, certamente esperando Heitor atrás da porta.
Meu coração disparou e fui, quase sem sentir minhas pernas, até lá. Meus dedos tocaram a maçaneta e tive medo de girá-la.
Então dei de cara com Anon 1.
- Anon 1? – estreitei os olhos.
- Bom dia, senhora Bongiove.
- O que... Você faz aqui?
Ele me entregou a caixa, que eu reconheci imediatamente.
- O senhor Casanova mandou entregar, com seus cumprimentos.
- Diga a ele que... Que... – meu Deus, eu nem sabia o que mandar dizer. Tipo, que ele não é tão desclassificado quanto pensei? Que no fundo ele tem coração? Que talvez eu possa transar com ele, onde ele quiser? Que... Eu passei a noite sem dormir pensando no beijo dele?
- Digo? – Anon me olhou.
- Obrigada. Diga... Obrigada.
Anon sorriu:
- Senhora Bongiove, eu não sou Anon 1. Porque não existe Anon 2. Então... Pode me chamar só de Anon. O outro segurança, que acompanha o senhor Allan Casanova, é o Otávio.
- Ok... Obrigada por me avisar, Anon 1. – falei, nervosamente, não conseguindo assimilar direito que Anon 2 não era Anon também.
Ele balançou a cabeça e saiu. Fiquei olhando enquanto ele descia as escadas. Quando ele desapareceu eu falei, em voz baixa:
- Anon 1... A propósito, não sou senhora Bongiove.
Claro que ele não ouviu.
Fechei a porta e abri a caixa, olhando as joias dentro. Tudo que eu tinha da minha mãe estava ali. Achei que ele tivesse jogado fora... Se desfeito da pior maneira possível. Mas não... Ele guardou. E me devolveu.
Ben levantou da cadeira:
- Ele devolveu as joias?
- Sim... – eu ainda segurava a caixa quase sem acreditar.
- Caralho! Você está fodida.
- O que houve? – Tony perguntou, curioso.
- Nada, bebê... Nada... – Ben respondeu.
Sentei e Sebastian me olhou:
- Tudo certo?
Assenti, com a cabeça, tentando recuperar o fôlego.
- Por qual motivo Casanova mandou entregar isso para você?
- São... Joias da minha mãe... Que já morreu. Eu e Heitor tivemos um desentendimento... E precisei entregar as joias para ele. Mas... O que importa é que estão comigo de novo. E desta vez não vou perde-las novamente... Por nada nem ninguém.
- Eu... Posso ver? – ele perguntou.
- Claro. – Entreguei para ele a caixa, confusa.
Sebastian abriu e olhou peça por peça, atentamente:
- Bonitas joias... Antigas, mas não raras.
- Sim... São tudo que restou da minha mãe.
- Você... Acha que está tudo aqui dentro?
- Eu... Creio que sim. Não tenho certeza. – Peguei a caixa das mãos dele. – Não contei quantas peças tinham... Nem as decorei... Só as que me chamaram a atenção. – Comecei a contar e depois parei. – Heitor não ficaria com uma joia da minha mãe de recordação. Ele não precisa disto, não é mesmo?
- Não sei. Você confia tanto assim nele?
- Por que não deveria? Ele deu algo que não me pertencia mais.
- Em troca de quê?
- De nada... – pelo menos eu achava.
- O que houve com sua mãe, Babi? – ele perguntou.
- Ela morreu... Mas, por que está interessado em saber sobre a minha mãe? Você some e volta e do nada aparece na minha casa e quer saber... Se Heitor Casanova roubou uma joia da caixa que ele está me devolvendo, de forma bondosa e como minha mãe morreu?
- São perguntas aleatórias, Babi... Não tem um motivo em específico... Só quis puxar assunto.
- Gosto das coisas certas, sem rodeio, Sebastian... Afinal, você foi assim quando me dispensou.
Ele suspirou:
- Babi, você é difícil. Eu não dispensei você.
- Enfim, não importa. Não quero você mesmo.
- Está falando... Do que? – ele ficou confuso.
- Da nossa conversa no Hazard... Que você disse que não se envolvia com mulheres entre 25 e 30 anos.
Ele riu:
- Achei que falava do emprego.
- Do emprego... Também. – Tentei consertar, envergonhada.
- Que bom. Porque eu vim até aqui convidar você para trabalhar comigo. Quero Bárbara Novaes na Perrone... Ao meu lado.
- Na Perrone? Ao seu lado?
- Trabalhando. – Ele sorriu, sem jeito. – Não... Tipo... Um casal.
- Eu entendi que não vamos ser um casal, porra. – levantei. – Eu... Vou trabalhar com você? – quase não acreditei.
- E então? O que me diz?
- O que... Aconteceu com o outro rapaz que você contratou? Aquele experiente, que faria tudo acontecer porque tinha anos de sabedoria guardada no cérebro. – Ironizei. – Agora vem aqui e implora por mim.
- Eu... Não estou implorando. – Ele arqueou a sobrancelha, franzindo a testa.
- Ah, finja que está. Sempre sonhei em dizer: “já que você insiste tanto... Eu vou”.
Ele gargalhou:
- Não sei se tenho estrutura para trabalhar ao seu lado.
- Ok, Sebastian... Já que insiste tanto... Eu vou pensar. – Me ouvi dizendo.
- Como assim? Isso é um não?
- Isso é um “vou pensar”.