Capítulo 31
1900palavras
2022-12-24 14:41
Ele levou a mão ao rosto, confuso:
- Você é louca, Bárbara? – falou em tom de voz alterado.
- Eu... Perdi algo? – Ben perguntou. – Há quanto tempo vocês estão no elevador?
- Ele... Estragou. – expliquei.
- Não... Eu chamei e ele veio.
- Estragou, sim. – Confirmei.
- Bárbara pode ter estragado de propósito, só pra ficar trancada comigo, se aproveitando do meu corpinho sarado. Ela é uma degenerada, com picos de agressividade.
Encarei-o e ele avisou:
- Se me bater de novo, vou levá-la pela escada... E aposto que não vai esquecer nunca mais o que vou fazer com você.
- Vai mandar me prender de novo? Me botar para fora do meu próprio prédio?
- Quer descobrir? - sorriu, com o canto dos lábios.
- Boa noite, Casanova. – Saí do elevador, pegando Ben pelo braço.
- Não vai me apresentar seu amigo? – ele saiu atrás de Ben.
- Sou Ben. O melhor amigo dela. – Ben parou, dando-lhe a mão estendida.
Heitor pegou a mão de Ben e a beijou:
- É um prazer, Ben.
Desgraçado... Tentando conquistar meu amigo.
- Sou...
- Heitor Casanova. – Ben completou. – O dono da Babilônia.
- Posso lhe dar ingressos grátis. – Ele sorriu.
Ben colocou a mão no peito, fingindo enfartar:
- Por meus sais... Jura? Quer um café?
- Se não for incomodar.
- Claro que vai. É tarde. – falei.
- Entre, Heitor. – Ben abriu a porta. – Posso lhe chamar de Thor?
- Claro. – Ele assentiu. – Pode me chamar do que quiser. – Entrou. – Não quer entrar, Bárbara?
- Acha que pode me convidar para entrar na minha própria casa? – falei, passando por ele feito um furacão.
Quando percebi ele estava sentado no sofá da nossa sala, conversando com Ben sobre a Babilônia.
- Babi, passa um café para nosso convidado. – Ben cruzou as pernas para cima do sofá, sem pressa de sair dali.
- Ben, eu acabei de voltar do hospital.
Ben me olhou:
- Cólicas, Babi?
- Sim...
Ele levantou e me abraçou:
- Realmente, sua carinha está péssima.
- Eu a levei ao hospital. Fez vários exames e assim que estiverem todos prontos, ela voltará até lá para ver o que pode ser feito. Conviver com dores não é algo que se possa aceitar nos dias de hoje, com a medicina tão avançada. – Heitor falou.
- Tem razão... Eu já disse isso para ela. Endometriose é coisa séria. – Ben me olhou.
- Disse? Lembro de você ter dito que não era nada sério. Traidor...
- Chame Salma para ver nossa ilustre visita. – Ben disse. – Vou passar o café, Thor. Babi passa um café muito fraco.
- Céus, você não vale nada, Ben.
Fui até o quarto de Salma, que estava se preparando para ir trabalhar.
Ela pegou a bolsa e eu disse:
- Seu chefe está aqui.
- Que chefe?
- Heitor Casanova.
Ela sentou na cama, preocupada:
- O que ele está fazendo aqui?
- Eu fiz uma entrevista... Passei mal... E ele me levou para o hospital e depois quis descer para tomar um café.
- Heitor Casanova? Levou você para um hospital? Desceu para tomar um café?
- Sim... Eu... Dei um tapa na cara dele.
- Você o que?
- Ele me deu um beijo.
Salma largou a bolsa e deitou na cama, balançando a cabeça:
- Meu Deus... Heitor Casanova está a fim da minha melhor amiga.
- Não... Eu continuo odiando-o.
Ela sentou e olhou nos meus olhos:
- Não... Você não odeia ele. Eu percebi que tinha algo errado desde o momento que ele mandou escrever aquilo na fachada do nosso prédio. O homem gerencia a maior casa noturna do país e é dono de uma empresa de bebidas exportadas para o mundo inteiro. O que o faria perder seu precioso tempo procurando alguém para uma atitude infantil de pichar a fachada de um prédio? Ou se dispor a falar com alguém numa delegacia num domingo?
- Olhe para mim... Eu sou só Bárbara Novaes... Ele não se interessaria por mim.
- Sim, ele não só se interessaria... Ele “está” interessado.
- Não vou ser a aposta pessoal dele... Tipo, que vai transar comigo porque o desafiei.
- Não acha que isso vai além de sexo, Babi?
- Você fala como se eu estivesse me relacionando com ele, Salma. E isso não está acontecendo.
- Heitor Casanova... Na nossa casa. – Ela alisou a barriga e eu levei minha mão sobre a dela.
- Maria Lua, diga para sua mãe que ela está enganada. Que o chefe dela é lindo, mas arrogante, tarado e... Não escute esta tia louca aqui. Você não pode ouvir estas palavras ainda... É apenas um bebê. Me desculpe.
- Babi, escute... Eu não quero ver Heitor Casanova. E não quero que ele me veja... Por favor.
- Por quê?
- Por favor... Não quero... Só isso. Respeite a minha vontade.
- Você fala como se... Tivesse medo dele.
- Não tenho medo dele. Mas... Eu fiz uma burrada amiga. Muito, muito grande... Me perdoe. – Ela me abraçou.
- O que houve, Salma?
- Eu... Não posso mais desfazer. Me desculpe.
- Salma, para tudo tem solução.
Ela balançou a cabeça:
- Eu... Estou com fome. Vou comer e ir um pouco mais tarde hoje para a Babilônia. Mas não quero ver meu chefe. Não quero... Me envolver no relacionamento de vocês.
Eu ri:
- Não temos um relacionamento.
- “Ainda” não.
- Ben já tomou a atenção de Casanova toda para ele. Já está até chamando-o de Thor.
Salma começou a rir:
- Vai lá, amiga. Não os deixe sozinhos. Heitor Casanova está aqui por você. Não finja que não está entendendo isso.
Balancei a cabeça, confusa:
- Ok... Vou lá. Mas ainda acho que você deveria aparecer... Já que é funcionária dele. Não teria motivo para se esconder. Mas não vou obrigá-la. Se precisar de algo, só chamar.
Fui até meu quarto e tirei a roupa apertada que tinha passado o dia no meu corpo. Um jeans e uma camiseta me deixaram mais à vontade. Eu estava na minha casa... Não fazia sentido fingir para ele que eu era outra pessoa.
Assim que cheguei na sala, Ben estava servindo o café para ele:
- Babi, achei que você apareceria de pijama. – brincou.
- Não... Ela alega que não somos íntimos. – Heitor riu.
- E não somos mesmo. – sentei na poltrona, com as pernas para cima, enquanto pegava o café.
- Você precisa de colherinha, amiga? – Ben perguntou.
- Duas, por favor. – O encarei.
Ele me entregou três, que as juntei, mexendo o café.
- Só para garantir. – Ben piscou.
- Vocês são estranhos. – Heitor me olhou com as três colheres na xícara.
- É só uma brincadeira nossa. Segredinho entre melhores amigos. Afinal, onde está Salma?
- Ela não se sente muito bem.
- Hum... Nossa amiga está grávida. – Ben explicou.
- Parabéns. – Heitor disse, demonstrando pouco interesse.
Ben lhe entregou a xícara com café puro.
- Devo pegar mais de uma colher para mexer? – ele perguntou a Ben.
- Depende... Se você acha minha amiga Babi tão sexy e gostosa como eu acho... Pode pegar várias.
Fulminei Ben com o olhar. Quando Casanova saísse eu o mataria.
- Hum... Isso quer dizer que talvez Bárbara me ache sexy e gostoso, já que ela pegou três colheres? – ele me olhou, divertidamente.
- Ah, adivinhar nossa brincadeira tão rápido não tem graça, Thor. – Ben bateu no ombro dele, rindo.
- Ben não está falando sério. Ele adora fazer piadinhas sem graça. – Avisei.
- Eu achei engraçado. – Ele contestou.
- Viu, Babi, Thor já me ama. Já somos todos uma família... – olhou para Heitor. – Então, já posso receber meu ingresso VIP?
- Me passa seu número. – Heitor pegou o telefone do bolso.
Ben disse o número e ele salvou:
- Estarei mandando três ingressos amanhã. Todos VIP. Para vocês dois e sua amiga.
- Ela não precisa de ingresso... – Ben disse.
- Então leve Tony. – Eu falei. – Não quero ir na Babilônia. Minha primeira experiência lá não foi das melhores. Fui posta para fora, por um idiota. – Olhei na cara dele.
- Ele era só o dono, Babi. – Ben debochou. – Ah... Que dor de cabeça. Vou ter que deitar.
Por Deus, ele nem sabia fingir que queria nos deixar sozinhos. Que porra de amigos... Eu não precisava de inimigos. Ben era anjo e demônio ao mesmo tempo.
- Thor, foi um prazer... Tipo, muito, muito prazeroso. Sempre que quiser voltar, nossa casinha estará de portas abertas pra você.
- Não, não está. – falei, seriamente.
Ben deu um beijo no rosto dele, como se o conhecesse há anos. Depois veio até mim, dando um beijo no topo da minha cabeça:
- Boa noite, linda. Vou deitar na sua cama e esperar por você.
- Jura? – ironizei.
Ele saiu e Heitor ficou me olhando, sem dizer nada, até tomar o restante do café.
- Você dorme com ele? – perguntou.
- Nem sempre.
- Ele... É gay, não é mesmo?
- Sim. Algum problema?
- Sobre ele ser gay ou você dormir com ele?
- As duas coisas... – fiquei confusa.
- Ele ser gay, nenhum. Você dormir com ele, talvez.
Levantei, largando a xícara e olhei no relógio:
- Está na sua hora, Casanova.
- Quando vai me chamar de Heitor de novo?
- Nunca... Como já disse, não temos intimidade para isso.
- Você deu um tapa na minha cara. – Ele disse, vindo atrás de mim enquanto eu andava. – Por muito menos eu já mandei prender pessoas.
- Pode apostar que sei disto... Fui a prova viva. Você foi um atrevido... E me beijou a força.
Quando terminei a frase, já estava recostada na parede, com ele na minha frente, tão próximo que eu conseguia ouvir seu coração e a respiração acelerada.
- Não foi a força... E você sabe disto. – Foi chegando lentamente, me encarando.
- Heitor... Eu... Não quero fazer isso.
- Por que, Bárbara?
- Porque... A gente não se gosta... Na verdade, não nos suportamos.
- Hum... Posso fazer um esforço para suportar você. – Ele colocou as mãos na parede, me prendendo.
- Depois de tudo que você fez comigo, não vou gostar de você jamais...
Ele pegou uma mecha dos meus cabelos e enrolou com os dedos:
- Quero você, Bárbara. E sei que você me quer... Senti isso, na primeira vez que ficamos presos no elevador.
- Eu não lembro de nada do que aconteceu naquela vez...
- Lembro tão pouco também... Mas tenho a impressão que você estava completamente molhada para mim, em sua minúscula calcinha, debaixo do vestido vermelho. – Abaixou na altura do meu pescoço e deu um beijo, molhado, sem pressa, fazendo eu sentir sua língua, vagaroso.
Enquanto meu corpo tentava resistir sem sucesso, vi Salma no corredor, tentando observar sem ser vista. Mas nossos olhos se encontraram e me senti envergonhada por deixar Heitor me seduzir daquela forma. Depois de tudo que houve... Não...
Dei uma joelhada no meio das pernas dele, que deu um gemido, se encolhendo com dor:
- Maldita, desclassificada! – rosnou.