Capítulo 24
2192palavras
2022-12-24 14:35
Salma arqueou a sobrancelha, encarando-o:
- Você... Não é um dos dançarinos homens, não é mesmo?
- Não... Sou só o barman. – Ele sorriu.
Ela sentou no sofá, com as pernas para cima, abrindo espaço para nós:
- Desculpe um sofá de três lugares apenas... Mas somos três por aqui. – Sorriu, explicando-se.
Ele sentou e eu puxei uma das poltronas, pois achava estranho conversar com ele e Salma estando nós três um do lado do outro, tendo que olhar para os lados. Acho que às vezes eu tinha certos TOC’s também, como o senhor Allan.
- Vocês trabalhando juntos e não se conhecem? Que louco!
- Bem, ela que não me conhece. Eu... A conheço. – Ele enrugou a testa, olhando para ela.
- Claro... Quem esqueceria a ruiva linda da caixa de vidro? – percebi o olhar dele para ela, de admiração.
Ok, eu posso ser um cupido. E faria duas coisas perfeitas: arranjar um homem legal para minha melhor amiga e ao mesmo tempo fazê-lo desistir de mim. Afinal, eu não queria fazê-lo sofrer, pois Daniel era um homem legal.
- Mas me contem... Como é trabalhar na Babilônia? Você também coloca conhecidos pela porta dos fundos, Daniel? – comecei um assunto que envolvesse os dois.
Eu pouco me importava em como era dançar na caixa de vidro ou vender chope naquela porra de lugar. E agora, ali, tentando conversar com eles, sentada na poltrona da minha humilde casinha, me senti péssima por ter deixado aquele tarado desclassificado me tocar. E não, eu não estava bêbada. Isso era o pior. Mas como dizia Ben, sexo e sexo. No entanto... Eu não fiz sexo com ele. E nem faria, jamais. Eu não era como as prostitutas dele... Meu Deus, eu deixei Heitor Casanova me beijar e... Toquei meu pescoço e falei:
- Eu... Preciso ir ao banheiro.
Levantei e corri para o meu quarto. Retirei o casaco dele e antes de jogar na cama cheirei, sentindo o perfume importado impregnado no tecido de grife. Olhei para a marca no punho e dentro:
- Vou vender você, amigo! Eu estou sem grana... Seu dono pegou minhas joias de herança de família. Não sei quanto você vale, mas acho que paga um mês de aluguel. Ele nem vai dar falta... Deve ter uns vinte iguais você. E não é roubo... Ele me deu. Eu nem queria.
Retirei o vestido, com o zíper estragado, completamente aberto nas costas e fiquei só de calcinha. Ergui meus cabelos e olhei para meu pescoço, para a área mais de trás, onde caíam os cabelos, próximo da tatuagem e tinha uma marca avermelhada que já começava a arroxear. Caralho, ele deixou os dentes marcados no meu ombro. Desgraçado, ordinário, safado, asqueroso...
A porta se abriu e Ben ficou com os olhos arregalados:
- Oh, my God. Quem chupou e mordeu você deste jeito? Você foi finalmente fodida de verdade? Conta tudo e não esconde nada. E me diga, por Deus, que ele não roubou sua bolsa.
Soltei rapidamente meus cabelos, sentindo meu coração bater mais forte. Contar ou não para Ben?
Antes que eu dissesse qualquer coisa, ele trancou a porta com a chave e sentou na minha cama:
- Daniel e Salma estão... Tendo algo que eu não sei? Será que ele é o pai do nosso bebezinho?
- Certamente ele não é o pai... Porque eu acabo de apresentá-los. Então... Ele pode ser o pai adotivo. Afinal, pai é quem cria, não é mesmo?
- Ah, eu não quero dividir nosso filho com outra pessoa. Ele já tem três mães. Não precisa de um pai. Sabe que sou ciumento... Tão ciumento que exijo saber quem fez isso com a minha amiga... Quem lhe deu uma foda de qualidade? Amo homens que deixam marcas na pele... São os melhores.
- Não... Foi nada.
- Não foi nada? Babi, você foi deixada na casa do Casanova velho com a carteira dele. E Daniel está aqui, na nossa casa. Então, ou você foi comida na mansão... Por... Um Casanova? – ele ficou confuso. – Ou... No carro, pelo Daniel? Amiga, você não foi comida pelo Daniel, porque ele está tão sorridente conversando com Salma na sala.
- Ben, isso foi... Não foi nada sério. – repeti.
Ele levantou:
- Casanova pai fez isso com você? – ele colocou a mão no peito. – Me diga que sim, que foi ele e meu coração vai ficar tranquilo, juro.
- Não foi... – abaixei a cabeça.
Ele pegou meus ombros, virando-me na direção dele e me encarando no fundo dos olhos:
- Você... E Heitor Casanova? – Me largou e foi até a cama, levantando o blazer e olhando. – Caralho, Bárbara Novaes...
- Eu... Estou completamente bêbada. Me sinto tonta... Onde estou? – me joguei na cama, fingindo demência.
- Sua puta desgraçada. Eu sempre achei este ódio muito estranho. O homem se prestou a mandar alguém escrever um xingamento pra você na fachada do nosso prédio. Claro... Ele quer você...
- Está louco, só pode.
Ben deitou ao meu lado, levantando meus cabelos:
- Babi, que chupão perfeito. Me diz como foi, agora.
- Horrível. Ele me pegou a força... Juro.
- Sério? – pegou minha mão. – Vamos agora na Delegacia e denunciar ele. – Gargalhou. – Sem vergonha. Me conta, como é o pau dele? Sei que você já tinha visto, mas dentro de você... Como foi?
- Não... Eu não fiz nada com ele.
- Como assim?
- Foi... Só uns amassos. Ficamos trancados no elevador e ele estava bêbado.
- E você não... Então sabia o que estava acontecendo.
- Eu fingi bebedeira. Isso não vai acontecer de novo. Eu nem sei como deixei. Mas você mesmo sempre diz que sexo é sexo...
- E como este casaco dele veio parar no nosso humilde apê?
- A droga do vestido estourou o zíper.
- Eu disse que não cabia em você. E me conte sobre o Casanova velho. Aliás, conta tudo... Desde que você chegou.
- Minha história é longa. Então me conte a sua. Como foi a noite?
- Minha história é mais longa que a sua, eu aposto.
- Jura?
- Mas vou contar... Porque eu estou fodido, amiga.
- Eu não. Não gosto de Casanova.
- Só da boca dele? – riu.
Salma abriu a porta:
- Seu amigo vai embora. Acho que pode, no mínimo, se despedir em vez de ficar se oferecendo nua para Ben na cama, sabendo que ele prefere a mim.
Comecei a rir e coloquei um roupão sobre minha lingerie:
- Ele está me bulinando aqui.
- Eu? – Ben mexeu os olhos. – Vocês estão é loucas.
Fui até a sala e Daniel estava de pé, próximo da porta. Salma veio comigo.
- Daniel... Obrigada por te me acompanhado. E não ter me cobrado a corrida. – brinquei.
- Claro que não vou cobrar, Babi.
- Ah, vai sim. Faço questão... Questão que Salma pague, porque eu não tenho dinheiro. – Olhei para ela.
- Eu? Mais uma vez meu cofrinho em seu benefício? Aproveitadora...
- Por que não dança na caixa de vidro? – Daniel me olhou seriamente.
- Eu? Eu...
“Babi, veeeeem”, Ben gritou do quarto.
Dei um beijo no rosto dele e disse:
- Preciso ir. Ben está querendo me contar da noite dele. E...
- Tudo bem. Boa noite, Babi.
- Salma, pode pagá-lo, por favor?
- Claro... Aproveitadora de amigas.
- Não vou aceitar, Salma, de jeito algum.
Saí dali e voltei para o quarto, ouvindo a discussão dos dois. Claro que foi planejado, embora eu realmente não tivesse dinheiro. Mas venderia o casaco do CEO e pagaria cada centavo para ela. A corrida dele, o aluguel. Enfim, tinha que ver quanto valia um blazer de marca no mercado negro.
- Vai contar para Salma? – Ben perguntou. – Afinal, é o chefe dela.
- Não sei nem se ela já falou com ele, na real.
- Claro que deve ter falado. É o dono da Babilônia.
Salma abriu a porta e colocou só a cabeça para dentro do quarto:
- Vou dormir.
- Está tudo bem? – perguntei.
- Sim... Eu estava sem sono porque não tinha nada para fazer e vocês não estavam aqui. Mas agora o sono bateu forte. É da gravidez.
- Quando vai ser a ecografia? Estou vendo uma barriguinha aí... – Ben disse.
- Vou fazer o exame de sangue de sexagem fetal.
- Existe isso? – perguntei.
- Sim. Então saberemos enfim o que nosso bebezinho será.
- Quando? – Ben perguntou, ansioso.
- Esta semana, talvez amanhã. Prometo abrir aqui, junto de vocês.
- Boa noite. Amo você, amiga. – falei, jogando um beijo para ela.
- Amo vocês. – Ela disse, fechando a porta.
Ben tirou a blusa e a calça e deitou, cobrindo-se.
- Vai dormir nu comigo? – arqueei a sobrancelha.
- Claro, linda. Ouvindo sua noite de amor com Heitor Casanova. Alias, posso começar a chamá-lo de Thor?
- Claro que não, seu idiota. E não foi uma noite de amor. Antes de mim, conte a sua história com Tony ou eu vou morrer de ansiedade. Aliás, nem tomei meus remédios hoje.
- Ai, eu vou ficar com medo assim. Devo desistir de dormir com você?
Deitei ao lado dele, que cheirou meu pescoço.
- Não tomei banho... – expliquei.
- Está com o cheiro dele, Babi.
- Jura? Deve ser do casaco do desclassificado.
- Desclassificado?
- Não quero falar de Casanova.
- Então vamos falar de Tony, Babi.
- Como foi? Enfim, rolou?
Ele suspirou:
- Babi, eu estou apaixonado.
- Até ai, nenhuma novidade. Isso sempre acontece com você.
- Desta vez meu coração está muito, mas muito apaixonado.
- Das outras não era muito? – ri.
- Não rolou nada. Ele é noivo.
Virei para Ben, sentindo a dor dele.
- Cretino... Desclassificado. Quer que eu escreva isso no carro dele?
- Não... Nós dois conversamos bastante.
- Tem conversa depois do que você soube?
- Ele foi sincero.
- E...
- Ele é amigo de Sebastian. Trabalha com ele desde a empresa do pai... Então, estão juntos na Perrone aqui desde a inauguração. A noiva mora no país de origem dele. Ele gosta dela... Ponto. Não é apaixonado. E não... Nunca se envolveu com homens. Mas confessou que gosta de mim, Babi. Tem como não se apaixonar?
- E se ele estiver mentindo?
- Ele não tentou fazer nada... Ele se sente inseguro. Mas quer...
- Ben, sinto sofrimento.
- Digo o mesmo se você se envolver com Casanova.
- Eu não vou me envolver com ele.
- Eu consegui sair da minha noite sem nenhuma marca, a não ser no coração. Você saiu deste jeito...
- Mas meu coração segue intacto. Então acho que você está numa situação pior que a minha.
- Amiga, é visível que Heitor Casanova vai vir atrás de você... Terminar o que vocês começaram. Nem que seja por orgulho... Provar o que acha que não pode ter. A questão é que você é Babi... E ele vai se apaixonar.
Comecei a rir:
- Ben, você é hilário.
- A minha melhor amiga é diferente de todas as mulheres que ele já teve. Então já prevejo... Sexo louco e perfeito, paixão, amor... E sofrimento também. Riu.
- Não acha que eu já sofri o bastante? Ou oito anos não é suficiente?
- Ah, Babi... Eu penso em dizer: se joga... Ele é lindo e perfeito e você merece este homem rico e dono de meio mundo. Mas ao mesmo tempo minha mente diz: Amiga, não se envolve. Foge... É furada. Não tenho colheres suficientes para juntá-la.
- Estou segura. Não gosto de Casanova. Foi só um momento de claustrofobia no elevador. Fui levada pelo carinho na minha tatuagem... Que ele desdenhou e ao mesmo tempo parece que viveu para tocá-la. – Senti um arrepio percorrendo minha espinha ao lembrar do momento.
- Babi, Tony tem medo. Ele pediu um tempo... Quer resolver a situação com a namorada antes. Então... Vamos fingir ser amigos e só isso.
- Não vejo nada diferente do que já aconteceu até agora.
- Eu gosto dele, porra.
- E gostava dos outros, Ben. Não pode aceitar isso.
- A gente nem se tocou, Babi.
- E vão esperar até ele acabar o relacionamento atual? Não quero que você sofra. E sabe disso.
- Eu vou continuar, Babi. Se quebrar a cara, não terá sido diferente do que já aconteceu 573 vezes. – Riu.
- Amo você, Ben. – falei.
Ele me abraçou e virei para o lado oposto.
- Não imaginei dormir de conchinha com você depois de ter passado tanto tempo com Tony, Babi. – Ele riu.
- E eu nunca dormi de conchinha com alguém a não ser com você... Mesmo tendo estado na cama com Jardel por tantos anos. Às vezes me pergunto como fui capaz de me iludir tanto... E aceitar tão pouco.
- Quem nunca, amiga? Não somos os primeiros, nem seremos os últimos. O amor é assim... A gente mira e nem sempre acerta o tiro.