Capítulo 109
2479palavras
2023-02-08 10:40
A Catedral de Noriah Sul estava perfeitamente decorada com flores brancas para o casamento de Do-Yoon e Lianna. A noiva, filha de uma tradicional família católica, não pôde se livrar do casamento religioso.
Melody estava perfeita em seu vestido branco, com os cabelos lindamente soltos decorados com uma coroa de flores naturais. Vez ou outra eu tinha que chamar sua atenção porque ficava girando, para ver o efeito da saia do vestido, ficando tonta depois e andando para ter a sensação de quase cair.
Quando ela fazia coisas “de criança” eu até estranhava, porque ela sempre foi muito madura.
Alice mexeu-se no meu colo, ainda dormindo. Estava perfeita também.
- Ela está agitada. – Charles falou no meu ouvido, olhando para Melody.
- Já falei com ela várias vezes. Se cair, vai sujar o vestido.
Ele riu:
- Às vezes me parece que ela quer cair.
- Menina travessa.
- Ela está diferente – Charles observou – Desde o nascimento de Alice.
- Sim, está. Eu acho que Melody se sentia responsável por mim quando éramos nós duas. Depois, creio que queria ter certeza de que nós dois ficaríamos bem. Agora que tem Alice... – senti as lágrimas escorrendo pelo meu rosto, limpando imediatamente para não borrar a maquiagem bem-feita – Me parece que ela se permitiu ser criança.
Charles limpou o vestígio da minha lágrima e garantiu:
- Você fez um excelente trabalho, mamãe. Ela é uma menina maravilhosa e especial. Agora vamos deixar ela ser criança então... E viver o que não pôde antes.
Ele terminou de falar e Melody caiu, enquanto ainda girava, sujando o vestido. Ela imediatamente me olhou. Larguei Alice no colo de Charles e corri até ela, abaixando-me para verificar seu joelho, que sangrava um pouco.
- Mamãe... Me desculpe. Eu sujei o vestido. – Ela me olhou, desapontada.
Peguei um curativo na bolsa e coloquei sobre o joelho dela, dizendo, enquanto olhava nos seus olhos:
- Eu acho que Do-Yoon e Lianna não vão se importar se você sujou um pouquinho o vestido. Porque tudo que eles querem é você – peguei a mão dela entre as minhas – Mas mamãe ficou preocupada porque Medy machucou o joelho. Está doendo muito?
- Um pouquinho... Arde.
- Eu amo você, Melody.
- Eu amo você, mamãe – ela me abraçou com força, enlaçando as mãos no meu pescoço – E vou amar para sempre.
- Agora vamos. A noiva já está chegando. – Falei, observando o automóvel pomposo e caro aproximar-se.
Entreguei Melody aos cuidados da organizadora do casamento e entrei com Charles e Alice na igreja.
Para o meu casamento que não se concretizou com Colin havia muitos convidados. Tantos que nem pude contar e a maioria deles eu nem sabia quem era. Mas ali, certamente tinha muito mais. Não duvido que a cidade toda tenha sido convidada.
Sentamos ao lado de minha mãe. Min-ji estava no altar, junto do noivo e Colin e Yuna ocupavam o lugar de padrinhos de Do-Yoon.
A tradicional marcha nupcial foi tocada por uma orquestra que estava instalada no mezanino da igreja. A noiva, junto de minha bela Melody, fez um enorme percurso, sobre um tapete vermelho felpudo, preparado especialmente para o momento.
Lianna usava um vestido tradicional, branco, rodado e bem-comportado. Olhei para os sapatos, de um branco brilhante, com bico arredondado, estilo princesa.
- Achei que toda noiva usava sapatos pink. – Charles debochou no meu ouvido.
- Só as mais ousadas, que tem planos para depois do casamento cancelado. – Expliquei, tocando meus lábios no lóbulo da orelha dela, fingindo que o gesto não fora de propósito.
Ele remexeu-se no banco, completamente desnorteado, enquanto retirava o blazer preto, colocando-o sobre as pernas. Minha mão tocou a minha perna com a dela e fez um gesto pedindo silêncio.
Assenti, mirando em Melody, que estava para passar por nós. Então a vimos... Nossa menininha que crescia cada dia mais linda, olhinhos brilhantes e felizes. Ela amava ser o centro das atenções. E raramente não era desta forma. Porque ela era puro amor e inocência.
A cerimônia foi longa e Alice começou a ficar inquieta no meu colo. Calissa a pegou e levou-a para pegar um ar na parte externa da igreja.
Quando encerrou, nos dirigimos para o local onde seria a festa: um clube próximo, que receberia os convidados para um jantar, regado a bebidas de boa qualidade e música ao som de Charlie B.
Sim, foi a forma que encontramos de presentear o casal com algo original e que fossem de fato aproveitar, já que tinham absolutamente tudo que o dinheiro podia comprar.
O enorme salão foi lindamente decorado e as mesas redondas postas em ordem, formando um círculo, onde ao meio ficava a pista de dança.
O palco estava montado e “el cantante” já estava organizando os instrumentos com alguns amigos. Por sorte, Colin e Yuna ficaram na mesma mesa que nós.
- Lianna e Do-Yoon não pouparam convidados. – Observei.
- Os pais dela são bem conhecidos por aqui. Se dependesse de Do-Yoon isso não aconteceria. – Yuna riu.
- Você avessa à casamento, seu irmão fazendo a festa do ano. – Colin disse, observando tudo ao seu redor, atentamente.
- Não acredito que um papel ou uma cerimônia mudam o relacionamento. Pelo contrário, fica bem mais difícil acabar depois. – Yuna explicou.
- Por este motivo que não quis casar? – Colin arqueou a sobrancelha, confuso.
- Não... Eu não quis dizer isso. O que importa é estarmos felizes, Colin.
- Eu sei. – Ele pegou a mão dela carinhosamente, em seguida abraçando-a.
Yuna estava linda, usando um vestido azul royal brilhante, tomara que caia, que moldava seu corpo perfeitamente. Os cabelos negros lisos e compridos receberam um pregador em cristais minúsculos, que prendiam alguns poucos fios. O pescoço longo e fino foi adornado por um lindo colar, bem parecido com o que um dia recebi da mãe de Colin. Acredito que ela tenha ganhado da sogra também. A maquiagem perfeita destacava seus lábios carnudos e a pele alva.
Eu admirava tanto aquela mulher. Não só pela sua beleza exterior, mas por sua força, determinação e tudo que fez por mim. Percebi que os laços que criei com as pessoas, bem como as que mais admirei ao longo da vida, não parentes sanguíneos. Eram estranhos que conseguiram preencher todo meu ser de sentimentos bons, me fazendo crescer, cuidando-me, zelando por mim e minha filha sem querer nada em troca. Hoje eu os chamava de família.
Observei ao redor os convidados e então me deparei com Sibila, a Diretora da Escola Progresso. Estava linda num vestido amarelo, que contrastava com a pele negra brilhante. Os cabelos presos num rabo de cavalo baixo e bem feito. Os óculos de grau combinavam com os acessórios dourados e refinados.
Nossos olhares se cruzaram e ela sorriu para mim. Respirei fundo e peguei Alice do colo de Calissa, avisando:
- Vou falar com uma pessoa.
Levantei e me dirigi até a mesa dela. Quando percebeu, ela levantou-se, encontrando-me no meio do caminho. Reconheci outros professores da escola na mesma mesa.
- Olá! – cumprimentei, um pouco sem jeito – É um prazer revê-la, Sibila.
Ela olhou Alice no meu colo e exclamou:
- Que perfeição!
- Não é linda? – Sorri.
Alice dormia. Sibila tocou seu rosto:
- Parabéns, Sabrina.
- Obrigada. E... Bem, eu gostaria de pedir desculpas pelo que ocorreu naquela formatura.
- Não precisa fazer isso.
- Sim, eu preciso. Não tive oportunidade de dizer o quanto senti pelo que houve. Você confiou em mim e tudo que fiz foi agir por impulso e não seguir as regras.
- Eu... Vi sua entrevista para Rosy Strassbaum.
- Então entende tudo que me aconteceu. Foi difícil chegar na Escola Progresso. E eu precisava muito daquele emprego. Veio na hora certa. E creio que também tenha encerrado quando era a hora... – Sorri, sem graça.
- Guilherme é filho de Charlie B.?
Assenti, com a cabeça, observando Charles começando a tocar. Nossos olhares se cruzaram e ele me jogou um beijo, que retribui.
- Imaginei que sim... Pelos sobrenomes. O garoto passou por muitas coisas também, não é mesmo?
- Sim...
Passei meus olhos próximo do palco, onde algumas garotas se aglomeraram para ver Charles tocar. Foi quando vi Rachel.
Senti um embrulho no estômago. Do-Yoon não havia me dito que ela viria.
- Ela está menos rebelde. – Sibila me disse, acompanhando meu olhar em direção à garota.
- Não esperava vê-la aqui. – Confessei.
- O pai dela é amigo da família de Lianna. – Explicou.
- Hum, então é por isso que ela está aqui... Bem na frente do palco.
Lembrei de quando ela entrou no show de Charlie B. como Vip e me deixou furiosa na fila. Não, eu não precisava pagar na mesma moeda. Eu era adulta e ela uma garota.
- Foi bom revê-la, Sibila. – Falei, me afastando rapidamente.
Quando cheguei à mesa, entreguei Alice para minha mãe e procurei Melody, que dançava na pista, girando seu vestido graciosamente.
Fui até ela e disse no seu ouvido:
- Que acha de irmos mais perto do papai?
Ela sorriu, assentindo, enquanto pegava minha mão.
Não, eu não pagaria na mesma moeda. Mas não custava a menina entender que “el cantante” era meu. E que ela foi VIP no show. Eu era VIP na vida dele.
Quando cheguei com Medy, que começou a dançar e cantar quase gritando, conhecendo toda letra das músicas do pai, claro que ela chamou a atenção de todos.
Entrei no ritmo da música e comecei a dançar, já não me importando em vingar-me da pobre garota rica. Melody, ciumenta como só ela, praticamente ficou de frente para o pai, que sorria observando-a enquanto cantava.
Quando ele tocou “garota riquinha”, praticamente todos os convidados presentes levantaram para dançar e cantar com ele. Fiquei emocionada com o que Charles ainda causava nas pessoas. Cantei, me divertindo a cada segundo junto da nossa filha.
- Você disse que esta música não era legal... – Melody gritou, lembrando-me.
- Esqueça o que eu disse... Eu não sabia que era pra mim. – Comecei a rir, pegando as mãos dela e dançando.
Quando a música acabou, não houve quem não tenha aplaudido Charlie B. Após as palmas acaloradas, ele pegou o microfone e me olhou:
- Esta música eu compus para umas das mulheres da minha vida... Sabrina Rockfeller.
Todos os olhares viraram na minha direção.
- Eu digo uma das mulheres porque eu tenho mais duas – ele continuou – Tão perfeitas quanto a mãe.
- Eu sou uma. – Gritou Melody, levantando a mão, fazendo questão de mostrar que era uma das mulheres da vida de Charles.
Todos riram. “El cantante” abaixou-se e deu um beijo no rosto de Melody e depois me puxou, encarando-me. Claro que eu não aguentava quando ele me olhava daquele jeito, como se visse nua sob o vestido. Então puxei sua nuca e tomei sua boca, invadindo-a com minha língua ansiosa.
Quando encerramos o beijo, Melody estava com o rosto na nossa direção, as mãos tapando os olhos.
- Amo vocês. – Ele disse antes de levantar para tocar a nossa canção, que se chamava “Começo de Algo bom”.
Me afastei alguns passos e vi Guilherme me olhando, com uma calça e blazer pretos, camisa branca entreaberta no peito, com as mãos no bolso.
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POV GUILHERME
Ela não havia percebido minha presença antes. Porque não tinha olhos para nada nem ninguém a não ser ele. Pensei que um dia Sabrina pudesse ter gostado de mim, mas ao ver a forma como ela olhava para Charles, soube que jamais houve sentimento por parte dela.
Ela ficou um pouco sem jeito e voltou a dançar com Melody, procurando não mais olhar na minha direção.
Estava tão linda! Usava um vestido vermelho justo, com uma enorme fenda na lateral da perna direita. Os sapatos prateados eram de salto fino e deixavam boa parte do pé à mostra. Respirei fundo e fui em direção a um dos garçons, tentando fingir que ela não mexia mais comigo.
Peguei uma taça de espumante e bebi de uma vez, logo em seguida caçando outra. Fiquei a observar o olhar encantado das pessoas para o cantor. Eu não achava a voz dele tão boa assim.
- Olá, gatinho!
Rachel se pôs no meu caminho, impedindo-me de passar.
- O que você quer? Finge que eu não estou aqui.
- Impossível, Gui... Porque eu sinto você em cada parte do meu corpo.
- Me deixe em paz, Rachel.
- Minha calcinha fica molhada só de olhar para você... – levantou os pés e falou no meu ouvido, gritando – Quer me comer no banheiro?
- Não, obrigado. Nem no banheiro e nem em lugar algum. – Garanti, tentando passar, sendo impedido pelo corpo dela.
- Acha que a professora vai dar bola para você? – riu – Ela é louca pelo Charlie B.
- Pouco me importa.
- Em vez de fazer cara de coitado, deveria me comer no banheiro.
- Nem morto. – A afastei com certa força, conseguindo finalmente sair dali.
- Gui!
Eu reconhecia aquela voz em qualquer lugar. Era Melody.
Larguei a taça numa mesa enquanto ela corria na minha direção, com um sorriso encantador iluminando seu rosto. Lançou-se contra meu corpo, fazendo-me levantá-la e girá-la no ar, enquanto gargalhava.
A apertei contra meu corpo e lhe dei um beijo. Ela sempre tinha cheiro bom, de doce misturado ao perfume de Sabrina. E agora eu sentia também um perfume masculino, que até então não havia.
- Você me viu entrando na igreja? Eu fiz tudo certinho. Não estou linda? – Olhou para si mesma.
- Eu não vi você entrando na igreja. Mas prometo que depois vou assistir ao vídeo, ok? E acredito que tenha feito tudo certo porque você é uma menina muito inteligente. E vou contar um segredinho... – falei no ouvido dela – Você está mais linda que a noiva.
Ela voltou a gargalhar, me abraçando. Depois disse, balançando as pernas para descer do colo:
- Venha ver Alice. Ela já está com três meses – pegou minha mão, fazendo-me ir, mesmo sem querer, pois eu não resistia a ela – E eu já troquei as fraldas dela algumas vezes.
- Isso deve ser nojento. – Observei.
- Não... É legal.
Quando percebi, estava de frente para Calissa Rockfeller, que segurava o bebê.
- Olá. – Ela cumprimentou-me de forma gentil.
- Oi... – Acenei, sem jeito.
Charles e Sabrina apareceram do nada. As mãos deles estavam enlaçadas e senti um desconforto com a cena. Eu não tinha certeza o que acontecia... Se ainda gostava dela ou simplesmente não suportava vê-lo ao lado delas, tão feliz.
Ele pegou Alice, que ainda dormia, no colo e veio na minha direção:
- Quer pegá-la? – Ofereceu.