Capítulo 107
1600palavras
2023-02-08 10:39
- Eu quero voltar a trabalhar.
Ele gargalhou. Enruguei a testa, confusa com a atitude dele.
- Está debochando de mim? Eu sou capaz.

Ele riu ainda mais um tempo antes de dizer:
- Eu... Quase morri, pensando que você iria dizer que estava farta da nossa vida em família.
- Eu não estou farta da nossa vida em família. Acho que jamais isso vai acontecer.
- Lembra que você falou uma vez sobre dar aulas na faculdade?
- Sim... – Sorri, feliz por ele lembrar.
- É isso que precisa fazer, meu amor. Seguir adiante com seus planos. Não podemos parar eles pelas crianças.

- Acha que damos conta de tudo? Cuidar de Medy, da Alice... Eu voltar a estudar, a casa... Mamãe não vai mais estar aqui. E estamos sem dinheiro. Nem sei quando vamos conseguir vender aquele prédio.
- A gente dá um jeito, meu amor... – Ele me enlaçou pela cintura.
Pus as mãos ao redor da nuca dele, arqueando a cabeça para trás:
- Obrigada. Não achei que você me entenderia.

- Eu entendo. E você pode fazer o que quiser, Sabrina. Porque você é uma mulher incrível... E maravilhosa.
- Eu só gostaria de fazer uma coisa antes de pensar em voltar a estudar para alcançar meu objetivo profissional... – Encarei-o seriamente.
- O quê?
- Quebrar os 40 dias sem sexo.
Ele riu gostosamente, pondo a cabeça para trás, me apertando ainda mais contra seu corpo:
- Isso quer dizer que vamos ir além das brincadeiras?
Assenti, com a cabeça, deixando uma das minhas mãos deslizarem pelo seu peito, por dentro da camisa.
- Mamãe, eu estou pronta! – Melody gritou do box.
Suspirei, rindo:
- Por hora, vou secar Melody. Depois dar de mama para Alice. Se sobrar tempo, à noite, quebramos a quarentena.
- Sou a favor de quebrar a quarentena antes de você se tornar uma doutora e dar aulas na faculdade.
- Ah, também sou a favor disso. – Ri, enquanto levava a toalha para secar Melody.
Enquanto trocava a roupa dela, Charles entrou no quarto, com Alice no colo:
- Olha quem veio ver a irmã do meio aprendendo a se vestir sozinha. – Ele disse.
Encarei-o, enquanto ele continuou:
- Medy, acho que você já pode escolher a sua roupa e trocar-se sozinha, sem a ajuda da mamãe. O que acha?
Ela o olhou, demorando a responder:
- Mas eu só tenho seis anos.
- Não... Você “já tem” seis anos. Eu li que já pode começar a fazer isso.
- Acho que devemos perguntar para tia Yuna – ela piscou para o pai – Pediatras sabem mais que livros.
- Ok, nós vamos perguntar a tia Yuna – ele confirmou – Mas não enquanto ela é só sua dinda aqui em casa. Ou seja, você vai com Alice novo consultório, na próxima semana.
Terminei de vesti-la e ela desceu correndo as escadas, certamente indo pedir para a vovó lhe fazer algo para comer. Ou até mesmo reclamar da ideia de Charles.
- Não estamos sendo muito duros com ela? – Perguntei.
- Não. Ela é muito inteligente e você sabe disto.
- Como foi a conversa na gravadora?
- Recebi uma proposta.
Olhei-o atentamente:
- Jura?
- Sim... Novas músicas, novo contrato, novos shows.
- E...
- Eu recusei.
Arqueei a sobrancelha:
- Como assim?
Ele sorriu:
- Eu também tinha um sonho... Encontrar uma certa garotinha que apareceu na minha vida... Ser feliz para sempre com ela numa casa de praia...
- Ter duas filhas lindas que nos deixam de cabelos em pé... – Brinquei.
- Sim, a garotinha veio com brinde: mais duas miniaturas dela.
Revirei os olhos, pegando Alice do colo dele:
- Por que recusou?
- Eu não quero mais isso para minha vida.
- Mas você quer algo além de mim e nossas filhas, não é mesmo?
- Quero Gui.
Toquei seu rosto:
- Torço para que isso aconteça em breve.
- E além de Gui, eu quero comprar o Cálice Efervescente.
- Eu... Gostaria de poder ajudar com isso. Mas no momento só tenho um edifício que em breve vai ser posto a venda... E talvez demore para alguém se interessar pela compra.
- Estou pensando em compor algo novo. Você aflorou meu lado romântico, que jamais pensei que tinha. Mas na verdade eu sempre gostei de pop, rock...
- Pode cantar para mim num ritmo de rock.
Ele riu:
- Não é assim que funciona, garotinha. – Tocou meus lábios, enquanto comprimia os seus.
- Não faz assim, Charles... Isso me excita profundamente. E eu estou com a nossa filha no colo.
- Quem sabe deixamos as duas com a sua mãe? E saímos só nós dois? – Sugeriu.
Senti um frio na barriga com a proposta. E minha calcinha molhou... E foi de tesão. Deus, eu estava viva ali embaixo ainda.
- Eu aceito o convite, “el cantante”...
Fui na direção da boca dele, para beijá-lo, quando Calissa gritou do primeiro andar:
- Charles, Colin no telefone da casa. Disse que é urgente.
Ele me olhou:
- Acho que vou deixar as meninas e sua mãe junto... Todas na casa de Colin.
- Eu posso apostar que Colin e Yuna estão fazendo mais sexo que nós. – Reclamei.
- Será? – Ele riu, descendo rapidamente.
Ela disse que era urgente. Então é óbvio que eu desci também, curiosa.
Charles estava anda no telefone quando pegou o controle da TV e ligou no canal aberto de notícias. Foi quando vimos a imagem do Jordan Rockfeller, o poderoso empresário e dono da um dia maior gravadora de Noriah Norte, sendo preso, encontrado escondido em um Hotel “fuleiro” de beira de estrada.
A imagem não me surpreendeu: algemado de paletó, gravata e óculos escuros. Aquele era J.R: perdia a liberdade, mas não a pose.
- Acusado de estelionato, envolvimento direto na prisão injusta do cantor Charlie B., violência contra mulher, inclusive a própria esposa e filhas... – Dizia a repórter.
Fiquei olhando e sentindo um alívio percorrer meu corpo. Finalmente estávamos livres das maldades do meu pai. E no fim, as investigações encontraram mais coisas do que pensávamos. J.R estava envolvido em tantas coisas erradas que não sei se sairia da cadeia um dia. Foi inocente ao pensar que conseguiria fugir da Polícia.
O que eu não esperava era ver a imagem da mulher que acusou Charles de abuso, que na época era só uma garota. Olhei para “el cantante” e vi a satisfação no rosto dele enquanto as lágrimas banhavam seu rosto.
Senti as minhas, quentes e salgadas, descerem até meus lábios. A justiça enfim havia sido feita. Nada devolveria os quatros anos que ele ficou privado de liberdade. Mas o culpado havia sido pego. E seus comparsas também.
Eu me sentia culpada por tudo que aconteceu a ele. Se não fosse o “meu pai”, jamais Charles teria passado por tudo que passou.
O fato de ele chorar, fosse de emoção ou dor causada por algum sentimento, ao mesmo tempo que me deixava péssima, fazia eu admirá-lo ainda mais. Porque o homem que eu escolhi para amar, dividir a vida e compartilhar duas filhas, não se importava em demonstrar o que sentia.
Charles Bailey era emotivo, carinhoso, um ótimo pai, cantava, tinha os olhos verdes mais fascinantes do mundo inteiro, era lindo, fodia como ninguém... E me amava.
Coloquei Alice no colo de minha mãe e disse:
- Pode cuidar dela e Melody?
Ela me olhou, confusa, olhando para as meninas.
Charles me encarou, desligando a televisão, curioso. Fui até ele e limpei suas lágrimas, em seguida as minhas.
Disse em seu ouvido:
- Quero sair agora... Exatamente neste momento.
Ele pareceu confuso. Depois de alguns segundos, olhou para os lados:
- Não sei onde botei a chave do carro.
- Não precisamos da chave do carro. – Garanti.
Minha mãe sorriu:
- Não tenham pressa.
- Não teremos. – Falei, enquanto o puxava para a cozinha.
- Se Alice chorar, posso chamar vocês? – Melody perguntou, com a cara de safada que me dava vontade de enchê-la de beijos.
- Não! – Eu e Charles dissemos ao mesmo tempo.
Começamos a rir. Passamos pela cozinha e abri a porta dos fundos, que dava diretamente para o nosso quintal... Que era o mar.
Eu nunca fui muito sortuda. Na verdade, minha sorte começou há uns anos atrás, quando decidi entrar num bar de beira de estrada para fazer xixi, na noite da minha despedida de solteira.
Descemos até a praia e eu deixei meus chinelos no último degrau, enquanto andava de costas, olhando para ele:
- Quero quebrar a quarentena na praia...
- Eu tinha pensado num bom Motel, com hidromassagem, cama confortável, ar condicionado... – Ele riu, me acompanhando enquanto retirava a jaqueta, jogando no chão... Depois a camiseta.
- Ei... Calma... Não quero você peladão por aqui, “el cantante’.
- Você sabe que ninguém passa nesta praia, não é mesmo?
- Eu sei... Mas quero você peladão... Mais longe da nossa casa. – Comecei a rir.
- Você não gosta de Motel... – Ele me seguia, enquanto eu andava de costas ainda, sabendo que nada me faria cair, porque só havia a estreita faixa de areia e o mar.
- Eu gosto de aventura...
- Não gosta de cama...
- Gosto de areia...
- Não gosta de hidromassagem quentinha...
- Gosto de mar gelado...
- Não gosta de ar condicionado...
- Gosto do vento quente das noites de verão...
- Não gosta de fazer amor...
- Gosto de foder...
Caí, sentindo meu corpo ser amparado pela areia fofa.