Capítulo 106
2113palavras
2023-02-08 10:38
Guilherme olhou para Charles e não disse nada. Depois me fitou, em seguida vindo até mim e entregando as rosas:
- São... Para você.
- O-obrigada pela gentileza. – Minha voz saiu fraca.

- É o mínimo que posso lhe dar... – olhou para Melody e Alice – Depois de ter feito colocado no mundo estas duas preciosidades.
Entreguei as rosas para minha mãe, que foi providenciar um vaso.
- Posso pegar um pouquinho? – Ele pediu para Melody.
Ela assentiu com a cabeça e ele pegou a bebê firmemente dos braços dela.
Percebi o quanto Guilherme estava emocionado com aquele momento e gostaria tanto de saber o que passava na cabeça dele enquanto via a irmã e parte da sua família reunida ali.
Nossos olhos se encontraram e ele disse, sem jeito:

- Ela é parecida com você.
- Espero que isso seja bom. – Brinquei.
- Eu tenho os olhos do papai... Você não tem os olhos do papai – Melody olhou para o irmão e depois para Charles – Acha que ela vai ter os olhos do papai?
- Eu acho que ela vai ter os olhos da sua mamãe. – Sorriu, enquanto Alice dormia tranquilamente no colo dele.

- Ela se parece muito com você quando nasceu – Charles disse ao filho – Também foi um bebê pequeno... Tinha 48 cm e pouco mais de 3 kg, como Alice.
- Você pegou Gui no colo quando ele nasceu? – Melody perguntou ao pai, curiosa.
- Sim... Fui a segunda pessoa que o pegou, logo depois da mamãe dele. – Charles explicou, enquanto olhava o filho.
Guilherme olhou-o de relance, mas não disse nada.
- Bem... Nós vamos indo. Temos compromisso. – Yuna falou.
- Temos? – Colin olhou-a, confuso, enquanto ela o puxava pra fora do quarto, junto com Min-ji.
- Eu... Vou de carona com eles. – Calissa avisou, dando um beijo na filha antes de sair.
Ficamos nós cinco. Eu conseguia ouvir meu coração batendo, de tão forte que estava.
- Eu... Posso dar um beijo nela? – Guilherme me perguntou.
- Pode.
Ele deu um beijo na mãozinha de Alice, que repousava envolta na mantinha e me entregou a bebê de volta. Depois pegou Melody no colo, retirando-a da cama, onde sentava ao meu lado:
- Será que sua mamãe me deixa levá-la para tomar um sorvete? – Perguntou no ouvido dela, para que eu ouvisse.
Melody me olhou.
- Sim, mamãe deixa. O que acha, papai? – Tentei incluir Charles.
- Claro... – Ele disse, sem jeito.
Melody segurou no pescoço do irmão enquanto saía com ele, levada no colo.
- Às vezes sinto que ele nunca vai me perdoar. – Charles disse tristemente.
- Vai... Eu sei que vai. Olha quantas coisas nós já conseguimos dele. Dê tempo ao tempo e tudo vai se resolver, eu tenho certeza.
Charles suspirou. Peguei a mão dele e disse:
- Eu imagino o que sente. Mas não acho que ele tem que perdoá-lo, porque você não fez nada que precise de perdão. Gui só precisa aceitar o pai, como deveria ter feito desde sempre. E acreditar que lhe mentiram por toda vida. E que foi uma vítima... Tanto quanto você nesta história toda.
Charles pegou minha mão e deu um beijo em seu dorso. Nossos olhos se encontraram e ficamos assim, nos encarando, por não sei quanto tempo. Ele quebrou o silêncio:
- Amo você... Cada dia mais e mais.
Eu sorri:
- Amo você... E tudo que temos, que dinheiro nenhum pode comprar.
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A cerimônia de casamento de Yuna e Colin foi simples, realizada só no civil e não no religioso, por escolha deles.
Min-ji foi morar com a filha, depois de ela e Colin insistirem muito.
Colin comprou outra casa, escolhida juntamente com a futura esposa. A antiga, que seria nosso lar depois do casamento fracassado, foi vendida.
Yuna seguiu com o plano de montar um consultório afastado da capital de Noriah Norte, num bairro mais tranquilo. Acabou escolhendo uma área na zona de subúrbio, onde pensava em instituir um lugar para atendimento pediátrico com consulta a preço popular, facilitando a vida das mães que não tinham condições de procurarem postos de atendimento. Ela amava o que fazia. E agora não trabalhava tanto por dinheiro, até porque Colin tinha de sobra. Então ela poderia fazer o que sempre quis: ajudar pessoas fazendo o que sabia de melhor: ser médica de crianças.
Yuna e os pais de Colin se deram bem de imediato. E eu não pensei que pudesse ser diferente. A família Monaghan sempre foi muito gentil e carismática. E certamente receberiam a família da noiva de seu filho único de forma acolhedora. Claro que ainda mimavam Colin, o que às vezes tirava Yuna um pouco do sério. A primeira briga com a família dele foi quando Yuna e Colin disseram que não queriam ter filhos. Sim, porque até nisso os dois combinavam: não queriam ser pais. Yuna amava crianças, mas nunca quis ter as dela própria. Até porque, vivia cercada de choros e gritos o dia inteiro, em função de sua profissão. Colin, por sua vez, sempre teve pânico de gravidez e filhos. Ainda assim, acho que ele teria sido um bom pai, porque tratava Melody e Alice de forma tão doce e carinhosa, como se fossem dois bibelôs.
Matamos a saudade de Do-Yoon e Lianna naquela noite e nos surpreendemos com o convite do casamento deles no próximo mês, que seria realizado na Catedral de Noriah Sul, com uma grande festa após a cerimônia.
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Alice estava mamando quando alguém bateu na porta. Minha mãe foi atender. Eram Colin e Yuna.
- Eu não esperava vocês... Que surpresa! – Falei, sem levantar.
Os dois me deram um beijo e Yuna comentou:
- Não consigo entender como há mães que preferem não amamentar.
- Alice ama o peito. – Sorri, vendo-a sugar meu seio, de olhinhos fechados.
- Onde está todo mundo? – Colin perguntou, sentando-se confortavelmente.
- Charles foi chamado numa gravadora e Melody está na escola. – Expliquei.
- Ele recebeu uma proposta? – Colin ficou esperançoso.
- Não temos certeza... Acho que sim.
- Eu tenho certeza que em breve a inocência dele será provada oficialmente e o Estado terá que retirar todas as acusações contra ele e ainda pagar uma bela indenização.
- Estou só esperando pelo dia da inocência dele ser comprovada.
- Um processo lento... E com muitos escândalos. – Yuna disse, sentando-se, suspirando.
- Não teve mais notícias de J.R? – Colin perguntou para Calissa.
- Felizmente não. Creio que possa ter fugido.
- Ele não pode sair do país. – Colin garantiu.
- Mamãe ganhou a mansão Rockfeller na Justiça. – Yuna comentou.
Olhei-os incrédula.
- Sim, foi isso que viemos contar. – Colin disse, sorrindo feliz.
- Como assim? – Mamãe sentou ao meu lado.
- Foram décadas trabalhando na mansão, servindo aos Rockfeller, por um bom salário... E nenhum de seus direitos depositados.
- Mas... Não é possível... – Calissa ficou aturdida e surpresa.
- Mariane roubou Jordan, que roubava todo mundo. – Colin foi direito.
- Meu Deus! Que homem desgraçado. – Falei.
- Como represento judicialmente “todos contra J.R” – Colin riu debochadamente – Optei por dividir tudo. Espero que saiam satisfeitos.
- Como ficou? – Perguntei, curiosa.
- Min-ji ficou com a mansão Rockfeller... Grande, imponente e valiosa... Mas com muitos reparos por fazer, o que diminui drasticamente o valor de venda. Mas enfim, ela ficou satisfeita. Queria inclusive dividir com vocês duas.
- Não! – Eu e Calissa falamos juntas.
- Sim, sabemos. Já conversamos com ela a respeito. – Yuna riu.
- Calissa Rockfeller fica com a casa de praia. – Colin olhou-a.
- A casa de praia? Achei... Que ele pudesse ter vendido.
- Não... Não vendeu. Ela vale muito. Pensei que gostaria de ficar com ela.
- Eu fico satisfeita, sim.
- Mamãe... Não pretende morar lá, não é mesmo? É longe... Demoraria para conseguir vir nos ver.
- Não se preocupe... – ela alisou meu rosto e depois deu um beijo na cabecinha de Alice, que já havia deixado o peito e dormia feito um anjinho – Vou alugar uma casa aqui por perto. Não quero deixar vocês.
- Não precisa sair da casa, mamãe.
- Preciso sim. Você, Charles e suas filhas precisam ter as suas vidas... Sem intervenção. Mas vou encontrar algo aqui nesta praia. Talvez venda a casa que herdei e compre uma menor... Ainda me sobraria um pouco de dinheiro.
- Sim, certamente sobraria. Como eu disse, o imóvel vale muito. – Colin confirmou.
- E o meu caso? – Perguntei.
- Com a J.R Recording fechada pela Justiça, a empresa quebrou de vez. Havia mais dívidas do que imaginávamos, então tudo que tinha foi vendido para pagar credores e funcionários. Era um funcionamento de fachada. Não sei como Mariane conseguiu levar a situação por tanto tempo.
- Foi confirmado os desvios dela?
- Sim... Mas por hora irá somente prestar depoimentos. Ela já arranjou um bom advogado. E... Sobrou o prédio da gravadora para vocês duas.
- O prédio? Para dividirmos?
- Sim... Tem um ótimo valor comercial. Um imóvel gigantesco, no centro da capital. Precisam esperar vender. O dinheiro será dividido em partes iguais entre as duas.
O olhei, tentando entender o motivo de eu ter que dividir com minha irmã o que restou, sendo que ela tinha roubado quase tudo enquanto administrava, ou melhor, falia a empresa.
- Fiz o que estava ao meu alcance. – Colin disse, imaginando meus pensamentos.
- Melhor que nada. – Suspirei.
- Ainda tem a causa contra os Roberts, de Noriah Sul. Em breve teremos um resultado.
- Vou comprar o Cálice Efervescente para Charles. Eu preciso do dinheiro.
- Ele vai ficar muito feliz. – Yuna me olhou.
- Eu sei... Ele tem um ótimo projeto para aquele lugar. É importante para ele... E para mim.
- Vocês vão conseguir. Eu tenho certeza. – Minha mãe disse.
- Eu posso emprestar o dinheiro. – Colin ofereceu.
- Não, Colin. Nem pensar. Sabe que eu não aceitaria.
- Ela me pagou cada mensalidade da faculdade... Então, nem tente ajudar, Colin. – Calissa falou.
- Sinceramente, acho que estou satisfeita com as divisões de bens. – Confessei.
- Foi justo... Exceto a parte de Mariane.
- Foi justa também. Ela sofreu muito no passado, por conta do pai. E as merdas que fez foi para se vingar. No fim, Charles sempre teve razão... A vingança não leva a nada. – Disse Calissa.
- Sempre acreditei na justiça... Por isso sou advogado. Para defender os direitos de cada um.
- Obrigada, Colin... Por tudo.
Charles chegou em casa no final da tarde, com Melody. Ela sempre vinha da escola cheia de novidades e aquele momento parávamos tudo para ouvi-la. Agora ela tinha também Alice, a quem contava cada detalhe do que acontecia, mesmo a irmã não entendendo nada.
- Acho que você precisa de um banho agora, mocinha! – Falei.
- Pode subir com ela. Eu fico com Alice. – Minha mãe ofereceu.
Aceitei e subi com ela e Charles. Enquanto a colocava no banho, pensei no quanto tudo ficaria mais difícil quando minha mãe não estivesse mais ali.
Primeiro foi Yuna que se foi. Ela me ajudava muito com Melody. E agora minha mãe me amparava quando eu precisava dar atenção à uma filha mais do que a outra. Era complicado. Fiquei a imaginar como mães de gêmeos se viravam para dar conta de tudo.
Charles ajudava da forma que podia, mas havia coisas que eu não conseguia delegar a ele, querendo para mim. Talvez devesse rever minhas questões um pouco egoístas com relação às meninas.
Melody começou a cantar no banho e eu tampei os ouvidos enquanto pegava a toalha.
- A canção dela a incomoda? – Charles perguntou, enquanto guardava as roupas no armário.
- Não... – Menti.
Ele parou na frente da porta, impedindo minha passagem, enquanto me encarava:
- Você parece cansada.
- Eu... Acho que estou um pouco.
- Há algo que eu possa fazer para ajudar mais?
- Não. Você ajuda muito. Mas às vezes me sinto... Estressada, estagnada, como se minha vida se resumisse a isso.
- Não precisa ser assim. Você está focada demais nas meninas. E em me ajudar a conquistar meus sonhos e planos. E os seus?
- Sim... Onde estão os meus? Há um tempo atrás eu queria exatamente isso: você e nossas filhas.
- E agora não quer mais?
Toquei seu rosto e sorri:
- Eu tenho tudo que eu quero. Mas falta uma coisa.
- Quer me dizer o que?