Capítulo 100
1950palavras
2023-02-08 10:35
Naquela mesma semana, recebi o resultado da auditoria que havia contratado para a J.R Recording. E decidi ir pessoalmente dar o resultado ao dono da empresa, no caso, meu pai. Marquei com ele no final da tarde, na sala da diretoria, da qual Mariane havia se apossado.
- Você não vai sozinha. – Charles avisou.
- Eu não tenho medo de meu pai... Não mais, Charles. Ele não pode mais me fazer mal. E qualquer coisa que me aconteça, todos saberão que ele é o responsável.
- Então admite que é arriscado.
- Não... Não quis dizer isso. Pelo contrário, quis confirmar que estou segura.
- Nem pensar. Eu vou junto. Se preferir, eu não entro na conversa. Mas sozinha você não irá até a J.R Recording. Principalmente depois da entrevista que demos contra o seu pai.
Suspirei, vencida:
- Tudo bem.
Melody desceu as escadas, vindo de seu quarto, com a mochila nas costas:
- Hoje a mamãe e o papai vão me levar na escola. – Vibrou.
- Exatamente. – Apertei a mãozinha dela quentinha entre a minha.
- Mamãe, será que vai se menino ou menina este bebezinho? – Tocou na minha barriga.
- Independente do que for...
- Nós vamos amar. – Ela completou, sorrindo.
Antes de levá-la na escola, iríamos todos juntos na ecografia. Certamente descobriríamos o sexo do bebê. E estávamos ansiosos.
Charles dirigiu até a Clínica, que ficava no Hospital onde eu fazia o pré-natal. A escola de Melody não ficava muito longe dali.
Assim que entrei na sala para o procedimento, me senti tranquila e feliz. Ver meu bebê era sempre uma das melhores coisas que acontecia na minha vida. E dizer que eu não estava ansiosa, seria mentira. Meu palpite era de que viria um menino, mas sabia que poderia estar errada.
A enfermeira me preparou, abrindo a camisa e protegendo minha roupa com plásticos, para que não umedecessem por causa do gel. Assim que saiu, desligou a luz principal.
O médico entrou logo em seguida, tomando seu lugar em frente à máquina.
- Olá, senhorita Rockfeller.
- Olá, doutor.
Uma leve batida na porta e Charles e Melody entraram, ainda mais ansiosos do que eu.
- Bem-vindos – cumprimentou o doutor – Devem ser o papai e a maninha, estou certo?
- Sim – Melody respondeu mais que depressa – Sou a irmã do meio agora.
- E aposto que está ansiosa para saber se vai ser “o” ou “a” caçula. – Ele disse para ela em tom de brincadeira.
- Muito ansiosa.
Charles pegou uma das minhas mãos e Melody a outra.
- Querem sentar? – O doutor ofereceu um dos sofás que ficava mais adiante.
- Não, preferimos ficar junto de Sabrina. – Charles afirmou.
- Então, vamos ver como está este bebê.
O doutor derramou o gel gelado na minha barriga e pôs o aparelho sobre ela, explorando o útero, sob a minha barriga saliente.
Logo avistamos a tela com aquele serzinho já completamente formado. Olhei para Charles e Melody e imediatamente as lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto.
- Mamãe... O bebê é tão lindo! – Melody apertou minha mão, sem mover os olhos da tela.
O olhar de Charles encontrou o meu e percebi toda sua emoção na lágrima que caía do seu olho, a qual ele limpou rapidamente.
- Como podem perceber, está tudo certo com este bebezinho – o doutor falou de forma tranquila – E por sorte temos pernas abertas e a certeza do sexo. Alguém aí quer saber?
- Eu! – Melody quase gritou, ansiosa, os olhinhos brilhando.
- Melody, você será a irmã do meio de... Outra menina. – Ele revelou.
- Menina? Você errou, amor! – Charles começou a rir, emocionado.
- Menina? Papai, Gui vai ser o único menino.
- Sim, meu amor... Gui continuará sendo o único menino nas nossas vidas.
- Estou com saudade de Gui. – Ela confessou.
- Eu também... – Ele me olhou – Mas agora vamos prestar atenção na sua irmãzinha, ou ela vai ficar brava conosco.
- Como vamos chamá-la? Mamãe tem uma melodia para ela?
Ele riu:
- Você é a nossa melodia, meu amor.
- Nós vamos escolher juntos um nome para ela. O que acham? – Sugeri.
- Eu acho ótimo. – Charles confirmou.
- Podemos esperar para o Gui decidir junto? – Melody perguntou.
- Vamos... Ver isso... Prometo. – Charles disse.
Claro que queríamos ficar ali mais tempo, mas não podíamos. O que me deixava tranquila era que estava tudo bem com minha mais nova menina e em breve a teríamos nos nossos braços, rodeada de amor.
E esperava, do fundo do coração, que Guilherme pudesse fazer parte da nossa vida, da mesma forma como da sua irmã que chegaria em poucos meses.
Levamos Melody até a escola. Yuna havia ido resolver algumas coisas com Min-ji e nos ligou dizendo que se atrasaria para pegar Melody na escola no final da tarde.
O horário que nossa filha saía da escola era o mesmo que eu havia marcado o encontro com meu pai na J.R Recording.
- Charles, você vai ter que pegar Medy na escola e eu vou sozinha à J.R Recording.
- Nem pensar. Você vai desmarcar a reunião com Jordan. Não irá vê-lo sem a minha presença.
- Charles, eu preciso... Sabe que é urgente.
- Não.
- Meu pai não se atreveria a fazer nenhuma mal a mim.
- Você não pode estar dizendo isso... Só pode ser brincadeira.
- Charles, eu não posso remarcar. Tem ideia de tudo que houve nos últimos dias e o quanto foi difícil ele aceitar esta reunião?
Charles suspirou, pegando o telefone e digitando alguns números.
- Para quem vai ligar? Não podemos botar Yuna nesta obrigação. Ela tem as coisas dela para fazer e...
O telefone estava chamando no modo viva voz.
- Charles? – Reconheci a voz do outro lado da linha.
- Oi, Colin. Você está ocupado?
- Por incrível que possa parecer, não. Precisa de algo?
- Bem, na verdade eu preciso.
- Sobre o processo contra você? Ou os de Sabrina? Ainda não recebi nada sobre as solicitações dela e...
- Não, não é sobre os processos. Eu gostaria de saber se você poderia buscar Melody na escola para nós. Sabrina marcou com J.R e não posso deixá-la ir sozinha. Yuna está com Min-ji num compromisso e não chegará a tempo.
- Claro que eu posso pegar Medy. – Ele disse imediatamente.
- Isso nos ajudaria muito. Pode trazê-la para casa depois? E... Bem... Ficar com ela até chegarmos?
- Seria pedir demais levá-la para conhecer meus pais? Minha mãe é louca por crianças... Vivemos rodeado só por adultos e...
- Sim, claro que pode levá-la para conhecer seus pais, Colin. – Eu disse, sorrindo.
- Obrigado.
- Será que seus pais estão preparados para ouvir muitas histórias? – Charles perguntou – Você bem sabe que Melody vale por duas crianças. – Riu.
- Eu aposto que eles irão amar Medy. – Colin afirmou.
- Obrigado, Colin. – Charles agradeceu.
- Eu que agradeço... Por confiar a mim o que tem de mais importante, Charles.
- Aliás, vamos ter outra menina. – Ele contou, orgulhoso.
- Outra menina? Parabéns! Aposto que Medy amou.
- Você vai ter que aguentar a ansiedade contida dela. – Charles riu.
- Pode deixar... Vou aguentar firmemente aquela tagarela, uma adulta em miniatura.
- Quando sairmos da gravadora, ligamos para você.
- Ok, mas não se preocupe que a levo em casa. Assim eu aproveito e vejo Yuna. – Falou, um pouco sem jeito.
- Tudo bem. Obrigado mais uma vez. Vou passar por mensagem o endereço da escola e avisar a professora que você irá buscá-la.
- Ok. E boa sorte para vocês com J.R. Ele está uma fera.
- Imagino.
Charles desligou o telefone:
- Satisfeita com a minha solução?
- Muito, muito satisfeita – o abracei – Porque você é o homem mais especial do mundo inteiro.
- Eu sei. – Ele retribuiu o abraço, rindo.
- Eu amo você, “el cantante”.
- E eu amo você, garotinha... E nossas meninas também. Vou compor uma música para a bebê.
- Ela nem nasceu ainda. – Comecei a rir.
- Quero que ela me ouça de dentro da sua barriga – ele ajoelhou-se na minha frente e tocou meu ventre – Olá, pequena. Eu sou seu pai. Quero que saiba que você é muito esperada aqui fora. E que foi feita num momento especial, de muito amor. Não tem noção de quanto tempo esperei pela sua mãe... E você nasceu deste reencontro.
Toquei a mão dele que acariciava minha pele e encarei-o:
- Você foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida, Charles. Não sei como consegui sobreviver quase seis anos longe.
Ele levantou e olhou no relógio:
- Agora vamos. Porque não quero correr. Este horário tem muito movimento na autoestrada.
- Vamos. – Confirmei, pegando a mão dele e partindo em direção à J.R Recording.
Chegamos na gravadora dez minutos antes do horário marcado. Quando entrei na recepção do prédio, já estava sendo esperada. A atendente me mandou subir direto.
Enquanto o elevador sem encaminhava em direção ao décimo andar, Charles perguntou:
- Como está se sentindo?
- Bem. Eu só quero a verdade... Nada mais.
- Chegou sua hora, meu amor.
- Nossa hora! Preciso saber se foi ele ou Mariane que armou tudo para sua prisão.
- Acha mesmo que ele vai confessar?
Sim, eu tinha esperanças. Porque a tal Tábata Deoli, que mentiu toda a situação, não se pronunciou depois do apelo de Charles em rede nacional.
Quando chegamos ao andar, a secretária já nos esperava.
- Poderia aguardar um pouco, senhorita Rockfeller? O senhor J.R está com sua irmã neste momento.
- Não, não vou aguardar. Ela pode estar presente na conversa também. Aliás, é ótimo que ela esteja junto... Perfeito.
Charles tentou me segurar, mas não conseguiu, pois puxei meu braço imediatamente, passando pela secretária e indo diretamente à porta, abrindo-a sem ser anunciada. Foi quando peguei parte de uma discussão acalorada entre meu pai e Mariane.
Os dois calaram-se imediatamente assim que me viram. Mas era perceptível que estavam exaltados.
- O que faz aqui? – Mariane encarou-me, olhando em seguida para Charles, atrás de mim.
- Eu marquei com nosso pai. Ele não lhe disse? – Ironizei.
Ela olhou para J.R:
- Não acredito que vai recebê-la. Não deveria sequer aceitar a presença dela nesta empresa, depois de tudo que ela nos fez.
Puxei Charles para o lado de dentro do escritório e fechei a porta.
- Ele não fica. – J.R apontou para Charles.
- Sim, eu fico – Charles garantiu – Pela segurança da minha mulher e filha.
- Filha? – Ele olhou para minha barriga, a voz um pouco menos alterada.
- Filha – confirmei – Mas que certamente você não vai conhecer.
Mariane riu:
- Entende agora quem ela é de verdade? – Cruzou os braços.
- Quem “eu” sou? Depois de tudo que vocês dois fizeram para me separar de Charles, se acham no direito de me julgar?
- Vocês dois expuseram o nome da nossa família em rede nacional. Estamos acabados, destruídos. E Sabrina, como tem a audácia e pedir parte da sua herança? Não temos nada, Sabrina... Estamos zerados. – J.R levantou da cadeira, aturdido.
- Não estamos falidos porque eu pedi minha parte... Tampouco porque fui na televisão falar a verdade sobre meu passado e o monstro que você é. A J.R Recording faliu porque sua filha o roubou – Apontei para Mariane, jogando a pasta com todas as informações da auditoria sobre a mesa dele.