Capítulo 91
2271palavras
2023-02-08 10:30
Ele demorou para entender o que estava acontecendo:
- Esqueci de passar aqui... Ou melhor, não me dei em conta desta sala. Sou Sabrina Rockfeller e a partir de agora, responsável pela área Financeira da J.R Recording.
- Eu sei. – Me olhou, levantando e pegando seus pertences de imediato.
- Que bom, me economiza tempo de ficar explicando.
Quando percebi que ele já estava quase na porta, realmente de saída, perguntei:
- Como... Sabia?
- Seu pai, Jordan Rockfeller, havia dito que você talvez viesse.
- E... Por que você não avisou todos daqui? – Enruguei a testa, curiosa.
- Porque ele também disse que provavelmente a senhora desistiria da ideia... Então... Que esperássemos.
- Você está demitido. – Fui firme.
- Mas... Eu sou o homem de confiança da área financeira desta empresa.
- Do meu pai? – Arqueei a sobrancelha.
- Claro que não... De Mariane Rockfeller.
- Mariane não manda nada aqui. – Sentei na cadeira dele, girando meu corpo com ela de forma irônica, enquanto o observava deixar a sala furiosa.
Assim que ele fechou a porta, olhei no relógio e percebi que tinha uns vinte e cinco minutos para organizar um pouco daquela bagunça até a reunião. Levantei a comecei a jogar coisas fora. À tarde, tomaria conhecimento de como estava de fato as contas da J.R. Recording.
Estava jogando fora objetos sem serventia da sala, dentro da lixeira, quando Mariane abriu a porta:
- O que você está fazendo aqui? – Praticamente soletrou cada letra que saiu da sua boca.
- Tomando meu lugar na J.R Recording.
- Você não tem lugar aqui.
- Não? – arqueei a sobrancelha, ironicamente – Se eu não tenho, você também não. Ou alguma de nós não é filha de sangue dos nossos pais?
- Do que você está falando? Ficou louca agora?
- Entendi que você disse que não tenho lugar aqui. Se você tem, claro que também tenho, não é mesmo? Meu pai deixou a empresa sob sua responsabilidade. Aliás, trabalhou muito mal, pois pelo que eu soube por aí, a J.R Recording está falida.
- Quem... Lhe disse isso? – Os olhos dela arregalaram.
- Alguém de minha confiança.
- Charles não sabe nada sobre a empresa.
- Acredito que não. E nem acho que ele queira, embora devesse, antes de assinar o contrato, certificar-se se o lugar ao qual ele daria plenos direitos por sua carreira, era idôneo. Creio que meu Charles se ferrou ao escolher esta gravadora, bem como a empresária – suspirei – Bem, sabemos que Jordan Rockfeller adora quebrar contratos. Talvez deva sentir na pele o que é ser deixado pelo melhor artista da atualidade, bem nos tempos de crise.
- Charles não faria isso... Não rescindiria o contrato.
- Meu Charles é muito para este lugar. A J.R Recording não o merece.
- Eu o tirei da cadeia. Ele me deve isso...
- O tirou? E quem botou-o lá, afinal? Você sabe?
- Claro... Que não.
- Será que você o livrou da prisão sendo que anos antes o pôs lá?
- Não fiz isso.
Me aproximei dela e olhei firmemente em seus olhos:
- Você acha que Charles é inocente ou culpado, Mariane?
- Culpado. – Falou, sem pestanejar.
- Então por que o tirou de lá?
- Não lhe devo satisfações.
- Não... Para mim não. Mas para a Polícia, talvez.
- Vai remexer neste assunto, depois de tanto tempo?
- Não sei... Me diga você.
- Vou falar com nosso pai que você está aqui, sem ser convidada.
- Pode falar. Ou ele me dá o poder que me é de direito aqui dentro ou o tomo judicialmente.
Ela me fuzilou com o olhar e saiu, batendo a porta.
Antes mesmo de me certificar do que estava acontecendo, mas já sabendo que Colin não havia mentido sobre os boatos que rolavam sobre a falência, já antecipei na reunião que haveria corte de pessoal e que na minha equipe só ficaria quem realmente estivesse disposto a trabalhar.
Para minha surpresa, alguns decidiram pedir demissão por conta própria, acreditando que eu seria uma péssima gestora. Mal sabiam que eu estava ali para descobrir o que realmente acontecia por detrás daqueles computadores, a ponto de uma empresa gigantesca como a J.R Recording, estar perdendo dinheiro e credibilidade, quando há poucos anos atrás era uma máquina de produzir grana.
Cheguei em casa cansada. Realmente tinha trabalhado de verdade.
Yuna e Melody estavam preparando o jantar, que por sinal cheirava bem.
- Estou morrendo de fome. – Confessei, sentando à mesa.
- Mas vai demorar. É melhor tomar um banho e relaxar antes. – Yuna avisou, enquanto arrumava o avental enorme em volta do corpinho de Melody.
- Esta mini cozinheira ficou linda demais. – Observei, recendo um sorriso encantador.
- E Charles?
- Achei que tivesse encontrado ele na Gravadora. Foi chamado para uma reunião com o tal Otávio.
- Não o vi lá... – levantei – Vou tomar um banho. Estou muito cansada.
Quando saí do banho, demorando mais tempo que o normal, Charles estava entrando no quarto.
Nossos olhos se encontraram ao mesmo tempo e sorrimos. Aquela sensação de estarmos juntos, vivendo a vida que tanto sonhamos, era simplesmente perfeita.
- Como foi seu dia, “querida”? – Ele começou a rir, jogando a jaqueta preta sobre a cama.
- Cansativo, mas bom. E o seu, “querido”?
- Também... – Jogou-se na cama, com as pernas para fora do colchão.
Fui até a porta da sacada e olhei o mar prateado, reluzindo sob a luz da lua na escuridão:
- Eu amo este lugar. – Aspirei o cheiro de maresia, sentindo uma tranquilidade instantânea tomar conta de mim.
- Eu sei. E foi exatamente por isso que passei por cima da situação horrível que vivi aqui, levando em conta que também foi onde passei os melhores dias da minha vida. – A cabeça dele pendeu para o meu lado, os olhos verdes tão intensos que me fizeram estremecer por dentro.
Aproximei-me dele e lhe dei um longo beijo, sem deitar na cama. Sentir sua língua também me acalmava e fazia meu corpo relaxar... E minha boceta se encharcar.
Afastei-me, aturdida, enquanto colocava uma roupa.
- Vai me deixar assim? – Ele perguntou, me fazendo olhar para seu corpo, observando o pau sobressair-se na calça preta em couro.
Fui em direção à porta e sorri:
- Não deixe a jaqueta sobre a cama. Guarde no lugar. E pendure sua toalha depois do banho.
- O quê? – Ele enrugou a testa, enquanto eu fechava a porta.
Desci as escadas rindo sozinha. Assim era a vida morando juntos. Tive minhas obrigações quando morei com Do-Yoon e Yuna e depois que me mudei com Melody também tínhamos nossas regras, já que não havia empregada para nos ajudar. Então cada um tinha suas responsabilidades e o trabalho era sempre dividido. “El cantante” teria que entrar na escala.
Cheguei na sala e vi claridade de faróis estacionando na estrada, ao longe. Esperei um pouco e abri a porta, para ver quem era e vi Colin. Mesmo no escuro, eu o reconhecia pelo jeito de andar. Foram anos dividindo nossas vidas e eu sabia muito sobre ele, assim como ele de mim.
Esperei até que ele chegasse na varanda.
- Boa noite – disse, no último degrau da escada, sem subir – Eu liguei avisando que precisava falar com você, mas não atendeu. Então... Decidi vir.
- É urgente? – Olhei-o, preocupada.
- Se fosse outro cliente, eu esperaria até amanhã. Mas como é você... Decidi vir.
- Entre, Colin. Não fique aí esperando.
Abri a porta e ele entrou. Ficamos nos olhando, incertos de como nos cumprimentarmos. Ele estendeu a mão, que apertei:
- Seja bem-vindo à minha casa – sorri gentilmente – Sinta-se à vontade.
Ele ficou parado, observando tudo ao seu redor.
- Amo este lugar. – Falei, orgulhosa do meu lar, bem como da família que eu tinha ali.
- Colin... – Melody correu até nós quando o viu, sorridente.
- Olá, pequena. – Ele abaixou-se para ficar na altura dela.
- Pode me chamar de Medy. – Ela deu um beijo no rosto dele.
- Medy... Claro. Eu já sabia, só não tinha certeza se a chamava de Medy ou Melody. – Ele explicou.
- Todos me chamam de Medy. Você está bonito. – Ela disse, sinceramente.
Ele me olhou e sorriu. Suspirei... Melody e suas sinceridades, que me deixavam sem jeito.
- Venha... – ela pegou a mão dele, fazendo-o levantar – Quero que conheça Yuna. Nós estamos fazendo o jantar.
- Eu percebi... Aliás, você está linda com este avental. – Ele riu, enquanto era literalmente puxado por ela para a cozinha.
Segui atrás deles. Quando chegamos na cozinha, Melody disse:
- Tia Yuna, este é Colin. Olha que bonito ele é... E tem cheiro bom.
Deus! Yuna ia morrer ali mesmo de vergonha. Percebi o rosto dela ruborizar-se imediatamente e Colin dar um passo para trás, um sorriso completamente sem graça, as bochechas feito um pimentão vermelho.
- Boa noite, Yuna. – Ele levantou a mão, cumprimentando envergonhado.
- Boa noite... – Ela disse, virando-se novamente para o fogão.
Senti o cheiro de Charles tomando conta do ambiente. Sim, eu já sabia exatamente como ele cheirava quando saía do banho. E aquele odor simplesmente fazia meu coração acelerar a as pernas ficarem levemente bambas.
Os braços dele me envolveram por trás e recebi um beijo no pescoço.
- Charles... Colin... Veio falar... De trabalho. – Tentei explicar.
- Então vamos para a sala, por favor. Afinal, este “trabalho” não deve ser discutido na frente de nossa filha. Devo imaginar que é importante, levando em conta o horário. – Charles me puxou pela mão, até a sala, onde Colin nos acompanhou.
Sentamos os três na sala, Colin de frente para nós.
- Pois bem, o que houve? – Charles o olhou seriamente.
- Por que está me tratando assim? Afinal, sou só o ex de Sabrina. Você está com ela, então se dê por satisfeito. Ela o ama. – Colin disse humildemente.
- Você guiou um carro em alta velocidade atrás de uma dupla de ladrões, levando minha mulher, grávida, junto. – Charles disse.
- Charles, eu o obriguei – defendi Colin – Não é hora para cena de ciúmes. Achei que já tínhamos superado esta parte.
- Ele traiu você com a sua irmã.
- E você namorou com ela anos depois. E também dormiu com a vagabunda. Então, estamos no mesmo barco furado... No caso, eu na parte onde entra água... Me digam, como é dormir com minha irmã? – Debochei, furiosa, sentindo o sangue ferver dentro de mim, enquanto olhava para um e depois para o outro.
Os dois ficaram em silêncio. Colin olhou para baixo e Charles pegou minha mão, apertando-a.
- Não estamos aqui para discutir como foi a relação de vocês com Mariane. Por Deus, isso não me faz bem.
- Eu não tive uma relação com ela... Foi só uma noite – Colin explicou – No caso dele, se você não tivesse aparecido há tempo, poderia estar casado com a sua irmã.
- Eu não teria casado com outra mulher a não ser Sabrina.
- Eu também jurei que não dormiria com outra a não ser a que escolhi para ser minha esposa... E acabei acordando numa cama de Motel ao lado da irmã dela. Meu erro foi não ter tido coragem de contar a verdade na manhã do casamento. E fui covarde porque não conseguia entender como aquilo tinha acontecido.
- Eu não sabia que elas eram irmãs. Acha que eu teria me envolvido com Mariane se soubesse? Sempre amei Sabrina, desde o primeiro momento que a vi.
- Se não fosse a despedida de solteiro, do “nosso” casamento, sequer a teria conhecido. – Colin alegou.
- Ah, não! – gritei – Não tenho paciência para isso. Colin, nós já discutimos sobre o passado e ele está acabado. Charles... Não há motivo para ciúme.
Charles tocou meu rosto, de forma carinhosa:
- Me desculpe... Por favor.
Peguei sua mão e o encarei:
- Confie em mim, como eu confio em você.
- Eu confio.
- Apesar de Sabrina ter feito errado em querer seguir o casal e eu, não conseguindo dizer não, e executando sua vontade, a verdade foi revelada, anos depois. Sinceramente, quando ouvi as declarações deles, não me arrependi de meu ato em sinal de devoção à ela. – Colin disse.
- Ainda assim, ela se pôs em risco – Charles me olhou – E ainda foi parar no hospital depois. Se tivesse acontecido algo com ela ou o bebê... – ele engoliu em seco – Eu não suportaria.
- Mas não aconteceu, Charles. Eu estou bem... E o bebê também... – Toquei a barriga, sorrindo.
- Entrei com os dois processos, Sabrina, tanto da herança quanto contra a disseminação do vídeo e o mal que isso acarretou na sua vida. Mas o que me trouxe até aqui foi outra coisa.
- O quê?
- O juiz já deu ganho dos direitos de Guilherme Bailey sobre o patrimônio e valores que o pai recebeu ou vier a receber futuramente – olhou para Charles – Certamente amanhã receberá intimação para comparecer à Corte.
- Não acredito! – Levantei, furiosa.
- Sei que me pediu para deixar a causa, mas eu não podia... Seria totalmente antiético da minha parte. Me desculpe. Além do mais, eu já havia feito tudo que precisava para garantir os direitos do garoto. Estávamos somente no aguardo do juiz. Eu deixar o processo não faria diferença alguma.