Capítulo 88
2467palavras
2023-02-08 10:28
- Corra, Colin! Eles não podem escapar. – Gritei.
- Meu Deus, estou dirigindo o máximo que posso.
Olhei para o velocímetro e ele estava a 100km/h.

- Está de brincadeira, Colin! Acelera esta porra.
Ele me olhou de soslaio, começando a ficar vermelho, só não sei de raiva ou medo:
- Você está louca... Completamente louca.
- Pode acelerar só um pouquinho mais, senhor traidor? – Yuna cutucou o ombro dele com o dedo indicador.
- Traidor? Como assim?
- Quem fica com a irmã da noiva um dia antes do casamento é chamado do que? Na minha terra, isso se chama traidor, infiel, dentre tantas outras palavras que não vou falar neste momento, pois é inoportuno. – Ela justificou.

Creio que Yuna sempre quis falar aquilo para Colin. Afinal, ela sabia exatamente tudo que passei ao longo dos anos junto dela e Do-Yoon. E Colin, apesar de mero coadjuvante na minha vida depois que apareceu “el cantante”, foi o primeiro a destruir meu coração e me fazer sentir o gosto da dor e traição.
- Estou andando a 100km/h numa estrada com limite de 80km/h e vocês ainda acham que sou o ruim na história? Sendo que estou quebrando regras por um homem que sequer conheço. – Justificou.
- Mas conhece a mim... – o olhei – Agora, acelera esta porra que eles estão tomando distância.
Vi o carro preto deles bem na frente, já na autoestrada e fiquei com medo de Colin não conseguir segui-los, tamanha sua lerdeza e temor.

- Sabrina, é perigoso... E se forem ladrões? – Yuna questionou.
- Eles “são” ladrões... Tenho certeza que foram eles que roubaram as coisas de Charles.
Percebi que Colin já conseguia passar dos 120km/h e fiquei mais tranquila.
- O que vamos fazer quando alcançarmos eles? Bater na traseira? Eu não posso fazer isso. Pode ocorrer um acidente e...
- Eu não pensei ainda no que fazer, Colin. Mas uma hora eles terão que parar... Nem que seja pela Polícia. E se isso acontecer, vou denunciá-los.
- Por um crime de cinco anos atrás? Fizeram registro?
- Não...
- Então esqueça... Não acontecerá nada a eles.
- Talvez você tenha visto errado... Confundido. Já faz muito tempo, Sabrina. – Yuna falou.
- Não estou confundindo. Eu lembro deles. Estão exatamente como eram há cinco anos atrás. Só mudaram o carro.
Na autoestrada, de via rápida, apareceram mais carros pelo caminho. Eles precisaram diminuir a velocidade e enfim Colin os alcançou, andando lado a lado.
O homem, dentro próprio carro, não olhava para mim, fixo na direção. Mas a mulher me encarava de forma apavorada. O vidro do carro deles não era escuro, o que dava grande visibilidade para a parte interna.
- Vai fazer o que? Mandá-los parar? – Colin perguntou, nervoso.
Fiz sinal com a mão para que parassem, mas isso só resultou no motorista acelerando ainda mais.
- Tem um posto de Polícia há alguns quilômetros daqui. Ou eles param antes, ou serão perseguidos não só por nós.
- Neste caso, não seremos perseguidos pela Polícia também? – Yuna perguntou, preocupada.
- Talvez... – Colin nem olhava para os lados, focado na direção.
- Se eles são daqui, certamente sabem do posto da Polícia adiante. É minha esperança... Pois sei que vão parar por vontade própria.
- Claro que não. Pensou que sim? Simplesmente perseguiu-os, sem saber se realmente são quem você procura? – Colin recriminou-me.
- Eu não estou incerta sobre serem eles ou não, Colin. Eu sei que “são” eles. – Gritei.
Andamos por cerca de mais cinco minutos e eles reduziram a velocidade, assim que viram a placa anunciando o Posto de Polícia Rodoviária à frente.
Tive com um pingo de esperanças de que conseguisse conversar com eles.
E acho que, pela primeira vez na vida, a sorte sorriu para mim. O automóvel preto estacionou no acostamento da via.
- Pare, Colin! – Gritei, antes que ele conseguisse estacionar na via.
Imediatamente Colin foi desacelerando, enquanto tentava encontrar um lugar para estacionar de forma correta.
Saltei de dentro do carro, ainda em movimento. Impedi a queda no chão com as mãos no asfalto, levantando imediatamente, já começando a correr.
A mulher e o homem saíam do interior do carro, visando entrar na mata que havia à direita.
Enquanto tentavam subir o barranco, consegui puxar a mulher pela blusa, fazendo-a cair no chão. Alguns carros foram diminuindo a velocidade, curiosos com o que estava acontecendo.
- É melhor tentarem parar de fugir. Certamente vão avisar a Polícia ali na frente. E vocês estarão fodidos. Podem resolver isso por bem... Ou por mal.
- Eu não conheço você, sua louca! – Ela alegou, tentando levantar, enquanto eu a empurrava para o chão novamente.
- Se não me conhece, por que fugiu de mim?
- Ficamos com medo... Porque você estava nos encarando feito uma louca. – O homem tentou me puxar.
Colin pegou os braços dele por trás, imobilizando-o:
- Estão fugindo... É porque são culpados, sim. – Acusou-os.
- Não fizemos nada... Somos inocentes. – Ele argumentou.
- Ok – Yuna pegou o celular – Vamos ligar para a Polícia, mandá-los virem até aqui e então poderão provam sua inocência. Só que minha amiga aqui tem um vídeo de uma câmera de segurança, de um tempo atrás... E nele vocês não parecem nada inocentes.
- Vamos conversar... Mas sem violência, por favor. – A mulher pediu, levantando-se, enquanto limpava a roupa suja de poeira do chão.
- Enfim, a verdade. – Levantei as mãos para o céu.
Nos encaminhamos para próximo do carro deles, posicionando-nos entre o automóvel e a mata.
- O que você quer? – A mulher perguntou.
- Há cinco anos atrás... – Comecei.
- Você não ficou ferida... Nenhum hematoma – o homem disse – Não havia munição na arma.
Arqueei a sobrancelha, confusa. Do que ele estava falando?
- Não, não fiquei ferida... – Fingi saber do que se tratava.
- Era para ser rápido... E foi. Ele nos fez prometer que nada aconteceria com você. O plano era só pegar o seu carro e celular...
Minha respiração acelerou. Sim, eu sabia do que ele estava falando. Era da noite em que meu carro foi roubado no centro da cidade.
- Sim... “Ele”... Se preocupou comigo, apesar de tudo.
- Sim.
- Ele quem? – Olhei na cara do homem, seriamente, só querendo a confirmação do que eu já sabia naquele momento.
A expressão dele foi de pavor. Houve um silêncio breve, mas que pareceu uma eternidade. Sentia meu coração quase saltar pela boca e uma sensação horrível dentro de mim.
- A verdade... Por favor. – Pedi.
Ele balançou a cabeça, em forma de negação.
- Quanto vocês receberam para roubar meu carro? – Perguntei, tentando conter as lágrimas.
- O próprio carro. – A mulher disse.
- Quem foi... Eu já sei... Só me confirmem, por favor.
- Não sabemos. – O homem atropelou a fala dela, antes que entregasse a verdade.
- Como não sabem? Vocês falaram com ele.
- Por telefone. Não sabemos o nome... Nem como ele é.
- Mentira! – Tentei avançar nele, mas Colin me impediu.
- Queremos a verdade, ou vamos chamar a polícia. – Colin ameaçou, enquanto ainda segurava meu corpo, impedindo-me de agredir o desgraçado.
- Eu pago... Pago pela informação. – Arrisquei.
A expressão dele mudou imediatamente. Sim, certos tipos de pessoas só funcionavam com dinheiro. Meu pai era uma delas. E eu só queria a confirmação de que havia sido ele.
- Quanto... Está disposta a pagar? – A mulher interessou-se.
- Colin, quanto estamos interessados em pagar? – Perguntei a ele, enquanto me desvencilhava de seus braços.
Colin arqueou a sobrancelha, confuso.
- Então, Colin Traidor, quanto você está disposto a pagar pela verdade? – Yuna o intimidou.
- Estou... Desempregada. – Lembrei-o, sem jeito.
Colin balançou a cabeça, atordoado, me puxando pelo braço para o lado, nos afastando um pouco dos demais:
- Você sabe que isto não está certo, não é mesmo? – Falou no meu ouvido.
- Quero a confirmação de quem montou toda a armadilha para mim. Eu preciso saber, Colin.
- Que diferença faz, Sabrina? Você já está com ele... Nada vai mudar o que já aconteceu.
- Por favor... Eu preciso... – Implorei, a voz fraca, sentindo uma forte dor de cabeça, do nada.
Colin suspirou e foi até eles, enquanto abria a carteira. Retirou um maço de dinheiro e entregou ao homem:
- Acho que isso é suficiente... Pela verdade e para eu não os colocar na cadeia imediatamente. Sou advogado.
- Conhecemos o senhor, da TV. – A mulher disse.
Ele enrugou a testa, desorientado.
- Quem foi? – Perguntei, enquanto o homem não olhava para mim, contando as cédulas.
- Jordan Rockfeller.
Fiquei tonta imediatamente e uma forte náusea tomou conta de mim. Dei alguns passos em direção à mata e vomitei. Yuna veio me ajudar, deixando que eu apoiasse o corpo trêmulo no dela.
Senti a mão dela apertando a minha enquanto o mundo desabava sobre mim e tudo girava.
- Podemos ir agora? Nós só fizemos o que ele mandou... Não machucamos ela. Depois do que houve, nós ficamos com o carro. Ele inclusive passou para o nosso nome.
- Mas... Estava registrado como roubado – falei, num fio de voz – Teve um policial naquele dia...
- Ele nunca registrou o roubo. – A mulher garantiu.
- Saiam daqui, agora! – Colin gritou, aturdido, vindo na minha direção, tentando ajudar a amparar-me.
- Não! – Pedi, limpando os lábios, voltando para próximo deles.
- O que você quer mais, Sabrina? Chega! Isso está acabando com você. – O olhar de Colin na minha direção era de dó.
- Vocês furtaram a carteira e o celular do meu namorado... Na loja de conveniência do posto de gasolina... Dias antes.
- Seu pai sabia cada passo seu nesta cidade, moça. – A mulher falou.
- Ele... Pagou para isso também?
- Sim.
- Depois de quase seis anos... E certamente tendo feito este tipo de coisa a vida toda, também para outras pessoas... Como lembram do caso dela? – Colin perguntou.
- Porque... Bem, até hoje quando precisamos de dinheiro... Recorrermos ao senhor Rockfeller. – A mulher explicou, abaixando a cabeça.
- E ele dá? Mas... Por qual motivo?
- Em troca de... Não falarmos a verdade... Para ninguém.
Recostei-me no carro, tentando buscar o ar que começava a fugir dos meus pulmões.
Yuna pegou-me pela mão, levando-me ao carro de Colin. Abriu a porta e me pôs no banco de trás.
Colin veio logo atrás dela, sentando-se no banco do motorista. Yuna tomou o lugar ao lado dele, pondo o cinto de segurança:
- Precisamos levá-la ao Hospital mais próximo. Ela não está bem.
- Eu estou bem... – Menti, sentindo o ar ficar cada vez mais rarefeito.
- Você está grávida... Percebo sua falta de ar.
- É nervosismo... Só isso.
- Hospital. – Yuna disse firmemente para Colin.
Enquanto o carro estava em movimento, abri a janela, sentindo o vento forte entrando nas minhas narinas, amenizando um pouco a falta de ar. Creio que mesmo que eu não estivesse grávida, teria vomitado da mesma forma. Porque aquilo tudo que ouvi era nojento, vil, repulsivo.
Certamente o casal escapou dali em segundos depois que saímos. Porque sim, Yuna e Colin puseram eu e o bebê em primeiro lugar.
Eu tentava puxar o ar pelas narinas o mais profundamente que conseguia. Ainda assim parecia me faltar oxigênio e senti o coração muito acelerado.
Os dois conversavam, mas eu não conseguia prestar atenção. Tudo fervilhava na minha mente.
- Mas como ele pagou para roubarem Charles na loja de conveniência? Como sabia onde eu estava? Não havia celular... Eu saí da igreja com o vestido de noiva... Nada mais. – Perguntei-me em voz alta, os pensamentos desordenados.
- Agora pare de pensar nisso. Você tem um bebê aí dentro... Precisa ficar calma. Depois pensa melhor, com calma. – Yuna disse, enquanto virava a cabeça para trás, encarando-me.
Realmente Colin passou no Hospital que havia em outra cidade e precisei consultar, mesmo sob protesto, pois Yuna não me deu alternativa, ou chamaria Charles, o que eu não queria que acontecesse, pois ele estava em Noriah Sul com Melody.
A parte boa é que fiz uma ecografia e vi o bebê pela primeira vez. Estava tudo bem com a criança e nem prescreveram medicamento para meu ataque de pânico, em função da gravidez. Aproveitei para marcar a próxima consulta de pré-natal naquele Hospital, que era o mais próximo de onde eu estaria morando nos próximos meses... Ou talvez o resto da vida.
Colin chegou em frente à nossa casa já era quase meia-noite. O Hospital demandou muito tempo de espera, sem contar os exames que tivemos que esperar ficarem prontos.
Yuna saiu e se dirigiu para a casa.
Antes de descer, o olhei:
- Obrigada.
- Eu... Sinto muito por tudo... Que seu pai fez.
- Ainda assim, obrigada por estar comigo, acreditar em mim... E ter pago eles para me contarem a verdade.
Ele pegou minha mão e encarou-me, com seus olhos castanhos escurecidos pela noite, o rosto levemente iluminado pela lâmpada interna do carro:
- Me perdoe... Pelo passado.
O abracei com força, sentindo seu cheiro de perfume caro misturado a suor, certamente causado por tudo que o fiz passar perseguindo aquelas pessoas.
- Eu perdoo, Colin. Acho que perdoei desde sempre... Nunca consegui odiá-lo, mesmo quando tentei, de todas as formas possíveis. – Disse, em seguida me afastando dele.
- Eu precisava ouvir isso, para me livrar da culpa que carrego desde o dia que a traí.
- Naquela manhã, no dia do casamento... Por que você foi na minha casa?
- Eu tentei contar a verdade. Mas não consegui. – Ele abaixou os olhos, demonstrando arrependimento.
- Se tivesse me contado a verdade, talvez eu tivesse levado adiante o casamento, Colin.
- Será? Você parecia estar esperando tudo dar errado para ir ao encontro do futuro pai da sua filha... – Ele balançou a cabeça, com um leve sorriso triste nos lábios.
- Há coisas na vida que não tem explicação... Que parece que eram para ser. Passamos juntos quatro anos das nossas vidas. Eu não me arrependo de ter feito amor com você pela primeira vez... Foi gentil, carinhoso e preocupou-se comigo.
- Apesar do que fiz a você, sempre houve amor da minha parte.
- E da minha sempre teve carinho.
Um carro parou atrás do nosso e vi descerem duas pessoas. Reconheci Melody e Charles.
Abri a porta para descer, mas os dois já estavam ali, impedindo-me de sair.
Charles abaixou a cabeça e olhou para dentro do carro, em seguida me encarando, em busca de explicações.