Capítulo 82
2011palavras
2023-02-08 10:25
- O que vamos fazer agora? – perguntei a Charles enquanto ele saía do banho, passando a mão nos cabelos, sem secar – Não podemos morar num Hotel para sempre.
- Não tenho pressa, garotinha... Está ótimo ficar aqui trancado com vocês. – Me deu um beijo leve nos lábios, indo procurar uma roupa na mala, que não havia desfeito.
- Hotéis são muito impessoais... E frios.

- Podemos ligar a calefação... – Ele riu e joguei-lhe um travesseiro.
Charles pôs uma camiseta branca e uma calça jeans, com a jaqueta de couro por cima. Olhou-se no espelho e observou, falando sobre a jaqueta:
- Parece que ela fica melhor em você do que em mim...
- Jamais... É sua marca registrada.
- Tenho várias... Mas esta é a mais especial.
- Eu sei... – Sorri, jogando-me de volta na cama, ainda de pijama.

- Juro que é complicado deixar vocês. – Me olhou seriamente.
- Eu até iria junto... Mas é longe. Acordei um pouco enjoada hoje.
- Eu sei, garotinha. Minha vida é complicada agora. Dificilmente paro em algum lugar.
- Por isso a preferência por Hotéis?

- Talvez... Embora eu nunca tenha sido um homem com moradia fixa durante a minha vida. Sempre procurando os lugares mais baratos, até encontrar outro mais em conta e pegar minha mochila e partir de novo...
- Comprei uma casa para mim e Medy. Morei quase cinco anos com Do-Yoon e Yuna. E sabia que nós duas precisávamos do nosso cantinho. E acredite... Parcelei, pois não tinha dinheiro para pagar à vista. Foram tantas vezes que nem tenho coragem de lhe contar... Inclusive brinquei com Medy que ela vai terminar de pagar a nossa casa. – Comecei a rir da minha loucura.
- Sabe que agora eu estou aqui, não é mesmo? E posso lhes dar tudo que quiserem.
- Eu já tive tudo que quis, em questão de bens. Hoje eu não me importo com isso... E não tenho sonhos quanto à casa, carro... Só almejo ser feliz, não importa onde.
- Eu nunca tive nada... E sinceramente, pouco me preocupo com o dinheiro. Por este motivo não me importei quando Guilherme entrou na Justiça contra mim, querendo parte do que eu tenho.
- Mas a família dele tem boas condições financeiras.
- Creio que não seja pelo dinheiro... E sim por me verem passando por esta situação.
- Como isso ainda não caiu na mídia?
- Mariane... Ela contém tudo e não deixa nada vazar.
Suspirei, revirando os olhos. Fui até ele e toquei seu rosto com o hematoma causado pelo soco de Guilherme:
- Precisa esconder isso muito bem com maquiagem.
- Eu sei... As maquiadoras sempre dão um jeito...
- Gosto da forma como elas fazem o traçado preto nos seus olhos... – Mordi o lábio.
Ele me puxou contra si, o sorriso perfeito me deixando de pernas bambas.
- Vou voltar exatamente como estiver depois do show... Para você. – Beijou meus lábios.
A língua de Charles invadiu minha boca. Passei os braços sobre seu pescoço, enquanto ele me tirava do chão, intensificando nosso toque.
Ouvi o choro de Melody e desvencilhei-me rapidamente dele, correndo até o quarto dela. Assim que liguei a luz, percebi que ela ainda estava com os olhos fechados. Talvez fosse um pesadelo que a fez chorar.
Sentei ao lado dela na cama e toquei seu rosto, extremamente quente. Pus a mão na testa e não tive dúvidas de que ela estava com febre.
- Tudo bem? – Charles perguntou quando me viu levantando.
- Ela está com febre.
- Como você sabe?
- Porque convivo com ela há cinco anos, Charles.
- Precisamos de um termômetro? – Ele perguntou.
- Sim, para confirmar quantos graus. Eu vou pegar com Yuna. Ela deve ter... Cuide dela, por favor.
Ele sentou-se ao lado de Melody enquanto eu corri ao quarto de Yuna. Bati na porta e ela logo atendeu:
- Me diga que você trouxe um termômetro e seus aparelhos de médica. – Falei rapidamente.
- Não... Nem o termômetro.
- Droga! – Esbravejei.
- O que houve?
- Medy está com febre.
- Deixe-me vê-la.
Fomos para o meu apartamento. Quando entramos, Melody estava no colo do pai, os olhos avermelhados, prostrada.
Yuna tocou a testa dela:
- Vou ligar para a recepção e pedir que providenciem um termômetro. Enquanto isso, vamos fazer umas compressas para baixar esta febre.
- Como fazemos isso? – Charles perguntou.
- Panos úmidos, a fim de refrescá-la e consequentemente dar a queda na temperatura. Está doendo alguma parte do corpo, Medy?
- Não... Só estou cansada. – Ela fechou os olhos novamente, se aconchegando ao pai.
Yuna foi providenciar o termômetro. Toquei as mãos geladas da minha filha e perguntei:
- Você quer a mamãe?
Ela abriu os olhos:
- Quero mamãe e papai... Medy quer os dois. E o bebê também... – Sorriu, de forma cansada.
- Acha que pode ter sido a água gelada da piscina de ontem? – Charles perguntou.
- Eu... Não sei... Talvez não.
- Você avisou... Eu tinha que ter escutado você.
- Não é culpa sua, Charles. Febre é comum em crianças. Ela já teve outras vezes... Embora poucas.
- E se for algo grave.
- Não há de ser... – Peguei a mão dele, trêmula.
Yuna conseguiu o termômetro e constou 39 graus.
- Febre alta. – Ela disse, preocupada.
- O que fazemos? – Perguntei, agoniada.
- Vamos esperar... Faremos as compressas, se não abaixar vou medicá-la com antitérmico. Se persistir pelas próximas 24 horas, teremos que consultar.
- Quando não é uma coisa, é outra... – Reclamei, levantando, andando de um lado para o outro.
Yuna fez as compressas, nos ensinando como continuar. O telefone de Charles tocou e ele saiu do quarto.
- Precisamos de mais panos. – Yuna pediu.
- Vou solicitar na recepção. – Falei, saindo do quarto.
Quando cheguei na sala, vi Charles dizendo:
- Não importa... Eu mandei cancelar o show.
- Como assim cancelar o show? – Perguntei, confusa.
Ele me olhou e não respondeu. Seguiu reclamando com a pessoa do outro lado da linha, enquanto tirava a jaqueta. Depois de uns cinco minutos, desligou.
- O que houve? – Perguntei.
- Não vou viajar.
- Por... Medy?
- Sim. Não vou deixá-las sozinhas.
- Mas... Yuna está conosco. Ela é médica e...
Charles veio na minha direção e me abraçou:
- Por mais que tente, eu não vou me afastar de vocês. Não agora... Quando finalmente as encontrei... E as tenho comigo. Nada é mais importante na minha vida do que você e nossa filha, Sabrina.
Deitei minha cabeça no seu peito e disse, limpando os olhos com força, antes que começasse a chorar:
- Eu amo você, “el cantante”.
Depois das compressas, a febre baixou um pouco. Mas uma hora depois começamos o antitérmico. Yuna constatou infecção na garganta.
Não pedimos almoço, pois o fato de Melody estar enferma tirou nossa fome. Ela também não quis almoçar, mas a fiz beber bastante líquido, especialmente água, que por sorte ela não recusou.
Logo a febre cedeu, mas ainda estávamos no aguardo de passar o efeito da medicação. Yuna foi com ela para o quarto no meio da tarde, tentando fazê-la dormir um pouco.
- Acho que preciso iniciar o pré-natal. – Observei, enquanto sentava próxima da sacada, vendo parte da cidade dali.
- Pensa em fazer isso quando?
- Assim que decidir o que vou fazer da minha vida.
- Já tem ideia?
- Eu... Acho que não vou voltar para Noriah Sul. Quero assumir meu posto da J.R Recording.
- Sabe o que eu acho com relação a isso...
- O que acha, Charles?
- Problemas... Só problemas e sabe disso.
Alguém bateu na porta. Ele foi atender, enquanto eu pus as pernas para cima, a fim de relaxar um pouco.
Vi Mariane parada no corredor, do lado de fora. Charles deve ter ficado surpreso, pois não disse nada também. Ela simplesmente deu um passo para frente, entrando sem ser convidada.
Ela mesma fechou a porta, olhando para tudo à sua volta:
- Esperava mais de você, Charles. Pôs sua família neste lugar de quinta! Ah, desculpe, imagino que os dois devem estar mais acostumados a lugares assim. Nem sempre dinheiro dá classe às pessoas... Começo a acreditar que estirpe é de nascença...
Levantei, confusa, furiosa, sentindo a raiva deixar-me trêmula.
- O que houve no seu rosto? – Ela tentou tocá-lo, mas Charles afastou-se, impedindo o gesto dela.
- Por que está assim, tão arredio comigo, querido? – Ironizou.
- Vá embora daqui. – Ordenei.
- Não estou como sua irmã, nem como visitante. Estou aqui como empresária deste irresponsável.
- Irresponsável? Por que faltei um show? Melody está doente.
- Não me importa o que houve com a garota chata.
- Não fale assim da minha filha... – Tentei avançar nela, mas Charles me segurou.
Ela apontou o dedo indicador na direção de Charles e disse:
- Você tem um contrato. E se não o cumprir, eu vou acabar com você, Charles.
- Meu contrato é com a J.R Recording e não com você.
- Eu o fiz subir... E lhe dei toda fama e reconhecimento que desejou. Não soube ser grato.
- Se ser grato é ficar com você, está certa.
- Quanto tempo acha que vai durar a brincadeira de casinha de vocês? – Ela me olhou.
- Você não vai mais nos separar. – Falei.
- Não mais... Porque eu amo a sua irmã, Mariane... E sempre vou amar. Você se aproveitou de um momento de fragilidade meu... Mas foi só eu ver Sabrina que tudo voltou ao normal dentro de mim.
Ela ficou em silêncio, sem dizer nada.
- Foi você que armou a prisão dele? – Perguntei.
- Não sei do que está falando... – Fingiu-se de inocente.
- Estou falando de Charles ter sido preso na casa onde marcou o encontro comigo, há quase seis anos atrás.
- Ele foi julgado e condenado. Eu não tenho nada a ver com isso.
- Mas Sabrina lhe avisou, antes de ser expulsa de casa, que eu a procurava e que estava indo ao meu encontro. Você sabia quem eu era... Se aproximou de mim, forçou um envolvimento, sabendo que sua irmã e eu nos amávamos... E que ela esperava um filho meu.
- Não fui eu... Não teria tempo hábil de armar tudo. Encontrá-lo na prisão foi só uma coincidência.
- Não acredito em nada do que você diz. – Falei.
- Tente provar qualquer coisa contra mim... Não conseguirá, pois sou inocente.
- Você sabia de tudo... E poderia ter me ajudado a encontrar Sabrina. E ainda assim não o fez. – Charles falou, magoado.
- E como sabia do vídeo? Qual seu envolvimento com Rachel?
- Rachel? – ela riu – Do que você está falando?
- De onde tirou o vídeo?
- Vi na internet.
- Mentira, não está na internet. – Falei firmemente.
Ela foi em direção à porta e ameaçou:
- Vou destruir sua carreira, Charles. Se arrependerá de ter cruzado meu caminho um dia.
- Vá em frente, Mariane. Eu não me importo. Nada nem ninguém vai me afastar de Melody e Sabrina.
- Antes que se vá, quero que saiba que vai ser titia novamente – sorri, de forma debochada – Engravidei de Charles no show de Noriah Sul. Você tentou impedir nosso reencontro de todas as formas, mas não conseguiu. Ele me achou, no meio de milhares de pessoas.
Ela olhou para Charles, procurando respostas. Ele confirmou:
- Sabrina e eu vamos ter outro bebê, Mariane. E ficarei ao lado desta criança por toda a gestação... Até o nascimento... E para sempre. Não quero romper o contrato com a J.R Recording, mas estou disposto a fazê-lo, se assim você preferir.
- Ninguém rompe contrato com a J.R Recording por vontade própria.
- Então rompa você... Sabe que não há como trabalharmos juntos. Não quero me envolver com você de nenhuma forma: tanto pessoal quanto profissionalmente.