Capítulo 63
2500palavras
2023-02-08 10:16
Eu não acreditava no que estava acontecendo. Como assim Sabrina estava ali... E Guilherme... Junto dos Rockfeller.
Olhei para a menina, que repetiu “pai” quase junto com Guilherme. Caralho!
- Vamos entrar... Não podemos ficar aqui... Está chegando uma tempestade das fortes... – Calissa pegou Melody no colo, entrando.

Mariane pegou minha mão, mas não consegui entrelaçar meus dedos nos dela. Fiquei completamente sem ação.
- O que você está fazendo aqui? – Guilherme me perguntou.
- O que “você” está fazendo aqui? – Ele refez a pergunta.
- Entrem todos... Agora! – J.R falou em tom de voz alto.
Sim, não fazia sentido ficarmos ali, tentando nos entendermos no meio da areia que voava sobre nossos rostos. Mas já imaginei que a pior parte da tempestade seria dentro daquela casa e não na rua.
Olhei para Sabrina, que me ignorou por completo. Quando percebi o meu filho pegando-a pela mão, os dedos enlaçados nos dela, subindo as escadas, fiquei imóvel. Que porra estava acontecendo ali? O que minha “garotinha”, que em nada se parecia com a menina mimada e insegura que conheci, fazia com o meu filho?

Ela vestia jeans e camiseta. O corpo havia tomado formas mais arredondadas, que eu nem havia percebido no nosso último encontro. Sabrina conseguia ficar mais linda. Minha “garotinha” era uma mulher. E não estava comigo.
- Vamos entrar... – Mariane gritou, tentando ser ouvido em meio à ventania.
Sabrina e Guilherme estavam no último degrau. Ela sequer virou para trás. Porra, porra, mil vezes porra. Me deu vontade de me jogar no mar e deixa-lo me levar para bem longe. Não sei se estava preparado para enfrentar Guilherme, tampouco Sabrina. Sim, eu estava namorando. E o que ela acharia daquilo? A vida toda eu só pensei nela... E quando finalmente decidi seguir a vida, ela voltava, para acabar comigo de vez.
Por que ela me deixou depois do show? Me usou para satisfazer seus desejos e partiu, sem dar sequer satisfações. Será que o meu filho não era bom o suficiente para ela, que tinha que vir até mim para gozar?

Balancei a cabeça, lembrando do rosto dela enquanto gozava, os olhos levemente fechados, o lábio inferior sendo mordido pelos próprios dentes... Não, não tinha como eu ficar sob o mesmo teto que aquela mulher. Ela era minha fraqueza, meu desespero, a minha vida toda num corpo esguio com longos cabelos escuros.
Claro... Eu escolhi Mariane porque elas eram muito parecidas. Jamais me dei conta disso. Não me envolvi com outras mulheres depois de Sabrina porque não conseguia esquecê-la e sempre tive esperanças de reencontrá-la.
Mariane me livrou da cadeia. Ela foi minha salvadora, a pessoa que fez voltar ao mundo. E se não bastasse, foi a responsável pelo meu sucesso e carreira de sucesso. Tudo foi graças a ela.
Transei com ela algumas vezes, não me contendo com as investidas pesadas dela. E tinha o fato de me sentir “grato”. Sabendo o quanto ela insistia, achei justo lhe dar um pouco de prazer em troca de tudo que ela fez por mim. Mas nunca a enganei. Sempre disse que eu gostava de outra mulher.
Quando Sabrina sumiu depois do show, fiquei puto. E cansei de correr atrás dela. Eu não faria outra música... Tampouco uma chamada em rede nacional tentando encontra-la e saber o que houve. Ela jamais tentou me encontrar... Nem antes, nem depois do show.
Então decidi ficar com Mariane. E desta forma confundir negócios e sexo, o que eu sabia que não daria certo.
Agora eu estava ali, subindo as escadas, vendo minha “garotinha” com meu filho... E não tendo certeza se suportaria o que estava prestes a confirmar.
Assim que passei pela porta, todos estavam na sala, de pé.
Sabrina seguia de mão dada com meu filho. Mariane fechou a porta e o vento cessou. Sinceramente, aquela sala pareceu ser uma caixa, de 1 metro quadrado. Me faltava até o ar.
Vi a menina andar devagar até Sabrina e tocar com o indicador seu peito, sem dizer nada. Ela a pegou no colo, soltando a mão de Guilherme. As duas me encararam. E... Eu vi meus olhos nos da menina.
- Quantos anos você tem? – Me ouvi perguntando, sentindo meu coração quase saltando para fora do peito.
Minha voz saiu fraca e a respiração ficando mais ofegante.
Ela virou o rosto e deitou a cabeça no ombro de Sabrina, não respondendo.
- Está com vergonha, Medy? – Guilherme perguntou-lhe e ela não respondeu.
- Alguém quer beber alguma coisa? – J.R perguntou – Família enfim completa.
- Família? – Perguntei, olhando para Mariane.
- Esta é minha irmã, Sabrina – Mariane me apresentou – Irmã... Este é Charles, mas que certamente você conhece como Charlie B., meu namorado – sorriu e se abraçou a mim – Vamos noivar no Natal.
Vamos? Como assim? Eu nem sei de nada sobre isso.
- Eu quero ir embora. – A menina falou para Sabrina, do nada.
- Como assim, Medy? – A voz de Sabrina era doce com a menina e não tive dúvidas de que era filha dela.
- Venha comigo, Medy. – Guilherme tentou tirá-la dos braços de Sabrina.
Um pouco indecisa, ela deu os braços para meu filho e pôs os braços em volta do pescoço dele, me olhando.
- O... Que está acontecendo aqui? – Calissa perguntou, parecendo confusa.
E não sei se ela estava mais confusa do que eu. Não podia ser tanta coincidência. A vida não brincaria comigo daquela forma.
Continuei parado, dando um passo para o lado e desvencilhando-me de Mariane. Não queria que Sabrina me visse com ela, como se fosse o fim da linha para nós dois.
Percebi o olhar de tristeza e decepção nos olhos da minha “garotinha”. Meu coração se partiu em mil pedaços. Porque qualquer dor que ela sentisse, era a minha. Ela e Mariane eram... Quase idênticas. Olhei para uma e depois para a outra, me certificando de que não eram gêmeas.
- Por que Gui o chamou de pai? – Sabrina perguntou-me, direta.
- Porque eu sou o pai dele.
- O namorado da minha irmã é seu filho? – Mariane me olhou – Nossa... Isso é... Estranho.
- Tão estranho quanto você ter dormido com o meu noivo, há seis anos atrás, um dia antes do casamento. – Sabrina a encarou.
- De novo esta história? – Calissa tentou remediar – Vamos ficar em paz, minhas filhas, pelo menos no Natal. Foi tão difícil convencer Sabrina e a filha a virem... Por favor, Mariane, vamos aproveitar os momentos que teremos ao lado delas... Sabrina, pelo menos por alguns dias... Esqueça o passado.
- Difícil... Quando o passado bate a minha porta o tempo todo... – Ela olhou na minha direção.
A menina era filha dela. Era minha filha. Eu não tive dúvidas. Eu senti quando pus meus olhos nos dela. Sabrina me escondeu a menina por... Seis anos. Como pôde?
- Está namorando o meu filho? – Olhei para ela – Ele tem... Dezoito anos.
- Dezoito anos... – ela riu – Se importa com isso. Acha que ele é um “garotinho”?
Porra! Ela foi tão debochada quanto agressiva. E senti os olhos dela lacrimejarem e a voz sair trêmula, como os lábios.
Por mais que estivesse puto por ela estar com meu filho, tive vontade de pegá-la no colo e sair dali correndo com ela, sem rumo, para nunca mais voltar.
Mas precisava ficar calmo. Estávamos juntos, eu sabia quem ela era e aquilo já era um grande passo. Acontecesse o que fosse dali para frente, eu sabia a “garotinha” era Sabrina Rockfeller. Ela não era mais um fantasma... Estava ali, na minha frente, em carne, osso e sobrenome.
- Mariane... Por que nunca me contou que tinha uma irmã? – Questionei-a, confuso.
- Ela não contou porque me mataram... Quando eu tinha dezoito anos – Sabrina falou, olhando para a irmã – Quer contar a ele o motivo, irmã?
- Sabrina, precisamos conversar. – Mariane tentou tocá-la e ela afastou-se.
Vi as lágrimas escorrendo pelo rosto dela e dei um passo na sua direção, sendo contido por Mariane, que se pôs entre nós.
Estávamos separados pela irmã vagabunda, que a traiu um dia antes do casamento. Ainda assim, eu era grato por Mariane ter feito aquilo, pois desta forma pude ficar com a noiva, por meros dias, que renderam a menina de olhos verdes que me olhava de longe, enquanto Guilherme a distraía.
J.R estava próximo deles e ambos falavam com ela ao mesmo tempo. Entretanto os olhinhos estavam sobre mim. Saberia ela quem eu era?
- Por Deus, o que está acontecendo aqui? Vocês... Se conhecem... Todos? De onde? – Calissa estava nervosa.
Sabrina ficou pálida e saiu correndo. Tentei passar por Mariane, que não permitiu.
- O que está acontecendo, Mariane?
- Não sei... Me diga você, Charles – ela me olhou – Você está estranho.
Dizer ou à ela que a irmã era a mulher que eu procurei por anos e amei desde sempre? Calissa já tinha desaparecido dali, certamente indo atrás de Sabrina também.
Guilherme veio até mim, com a menina pela mão. Ela seguia me olhando desconfiada.
- Como... Sabrina está? – Perguntei, sabendo que não conseguiria passar dali sem a permissão de Mariane.
- Foi ao banheiro... – Ele estava confuso também.
Abaixei-me e fiquei na altura da menininha mais linda que já vi em toda a minha vida.
- Oi. – Falei, sorrindo, sentindo meu coração acelerado a ponto de explodir – Caralho, meus dois filhos estavam ali, juntos.
- Oi. – Ela respondeu, com um meio sorriso.
- Sabe quem eu sou?
- Sim.
- Quem eu sou? – Por Deus, diga que sabe quem eu sou de verdade.
- Charlie B. – Mariane respondeu – Você já ouviu falar dele? – Intrometeu-se.
- Você canta a música da Garota Riquinha. – Ela disse enquanto ia para trás de Guilherme, escondendo-se de mim, ficando com os olhos ainda sobre mim, com um meio sorriso.
Me deu vontade de pegá-la no colo e apertá-la com tanta força, enquanto com o outro braço trazer meu filho para junto de mim.
Respirei fundo e levantei-me, olhando para Guilherme:
- Como você veio parar aqui?
- Não ouviu? Eu sou namorado de Sabrina.
Passei a mãos entre os cabelos, tentando entender como aquilo foi acontecer. Eu não sabia se sentia ódio de Sabrina ou pena de mim mesmo. Jamais imaginei suportar vê-la ao lado de algum homem. Mas com meu filho... Não sei se tinha vontade de me jogar no mar e nunca mais voltar ou agradecer por ele conhecer a mulher mais incrível do mundo.
Imaginei ele a tocando... As mãos sobre a pele macia e cheirosa. A boca dela um labirinto de prazer. A língua era quente e macia. Lembrei dela me chupando e olhei para o pau dele, guardado na calça jeans.
O garoto deu um passo para trás, confuso. A menina foi para o pinheiro e começou a tocar as bolinhas. Melhor assim. Acho que eu precisava conversar com meu filho. E por mais louco que parecesse, seria na casa dos Rockfeller.
- Pode me deixar a sós com meu filho um minuto, Mariane? – pedi – Quem sabe vai ver como está sua irmã e vem nos informar. Estou curioso. Você não? Por que creio que se importa com ela, não é mesmo?
- Claro... Que sim. – Ela disse, saindo imediatamente.
- Sua nova namorada? – Guilherme foi irônico, um meio sorriso no rosto.
- Nova? Sabe de alguma outra? Porque eu não tive.
- Não. Nunca me interessei em saber sobre você.
- Só se interessa pelo meu dinheiro.
- É só o que quero de você.
- Não tem o bastante, meu filho? Por que não me pediu? Por que me pôs na justiça, sem ao menos tentar conversar?
Ele ficou em silêncio alguns minutos, pensando no que responder:
- Não é pelo dinheiro. É por vê-lo perder... Fazer sua vida não ser tão perfeita e tranquila.
- Nunca foi.
- Quer se redimir agora, depois de anos, fingindo que foi um bom pai?
- Nunca me deixaram aproximar-se de você, porra! Eu posso lhe mostrar todos os processos que movi para ter a sua guarda. Cara, você morou comigo até quase três anos de idade.
- E você me levava para prostíbulos, enquanto eu era uma criança.
- Não eram prostíbulos. Eram bares... Onde eu cantava. Eu tentei nos sustentar com a minha música.
- Sim... Trabalhar em algo normal nunca foi uma opção, sequer para ficar comigo.
- Trata sua mãe da mesma forma? Porque eu fiquei com você quando Kelly foi embora, sem motivo.
- Sem motivo? Ela foi estudar.
- Em outro país, com um filho pequeno? Por que não consegue ver o meu lado, porra? Eu assumi toda a responsabilidade por você quando ela simplesmente o abandonou.
- Charles, não tente reaver o tempo perdido.
- Juro que não quero isso. Mas sei que podemos mudar o futuro e não sermos dois estranhos. Eu nunca quis isso. Foi a sua avó e seu avô que nos separaram.
- Lave a sua boca para falar da minha avó.
- Não seja moleque e abra os olhos. Elas fizeram sua cabeça contra mim, a vida inteira.
- Não sou moleque, porra! Já viu a mulher que eu como?
Meu mundo desabou naquele momento. Dei um passo para trás, sentindo como uma facada no coração.
- Moleque... – minha voz ficou fraca, mas fiz um esforço para terminar – Tão moleque... Que a usa para provar que é homem.
Vi Sabrina vindo, com a cara péssima. O rosto estava ainda mais pálido e ela parecia frágil, como nunca a vi antes.
Calissa a segurava pelo braço e ela parecia um pouco fraca.
Assim que se aproximou, Mariane já vinha atrás dela, junto de J.R. Pelo visto a conversa ia continuar. E acho que era hora da verdade.
Teria que confessar que eu amava Sabrina e que Mariane não significava nada para mim. E eles teriam que me explicar porque jamais tocaram no nome dela naquela casa.
Guilherme ficaria puto, mas merecia perde-la para aprender a ser homem. Um garoto comandado pela avó e pela mãe, incapaz de pensar por si mesmo, e que ainda usava o fato de estar com a “minha garota” como um troféu.
- Como está? – Guilherme pegou a mão dela, perguntando.
- Estou bem. – Ela disse, não parecendo dizer a verdade, os olhos nos meus, sem disfarçar.
- Não está bem não... Ela acabou de vomitar... O que vocês comeram no voo? – Calissa perguntou.
- Sabrina não comeu nada. – Guilherme respondeu.
- Precisamos conversar. – Sabrina me olhou.
Assenti, com a cabeça, atraindo a atenção de todos para nós.
- Onde está Medy? – A garota asiática falou, olhando para todos os lados.
A porta bateu, fazendo-nos dar um salto.
- Medy fugiu! – Sabrina disse, saindo correndo para rua.