Capítulo 53
2266palavras
2023-02-08 10:09
Ela arqueou a sobrancelha:
- Está me dizendo que não viu o homem por cinco anos e tudo que tinha que lhe dizer era que ele era pai... No entanto você transou com ele, no meio do show e não disse a verdade?
- Não deu tempo... Fomos interrompidos. Ele me pediu para esperar... Então você ligou e...

- Que droga, Sabrina! O que você tem na cabeça? Ou melhor, no meio das suas pernas... Que dormir com um homem é mais importante do que lhe dizer a verdade? É a sua filha, mulher!
- Minha... E de Charles... E nós dois é uma explosão, Yuna... Entende? Não conseguimos ficar juntos sem nos tocarmos. Eu fico completamente fora de mim quando estou perto dele. É como se ele fosse o fósforo e eu a gasolina.
- Isso é muita “putisse”.
- “Putisse”? Deus, você tem noção do que disse? Esta palavra nem existe no dicionário.
- Sim, existe no dicionário informal. Quer dizer “frescura”.
- Eu não sou fresca...

- Só pensa em sexo.
- Você que é anormal, que não pensa nisso.
- Falou a mulher que ficou cinco anos sem fazer sexo. Eu pelo menos fiz neste tempo.
- Então não faço “putisse”, pois esperei pelo pai da minha filha, porra!

- Eu não disse “putisse” no sentido de puta.
- Você nem gosta de sexo, Yuna. Por isso não entende. Sabe com quem você daria certo? Com Colin.
- Seu ex?
- Sim, porque vive me dando lição de moral... No entanto não se dá ao direito de viver a sua vida, como se trabalho fosse tudo que se há para fazer.
- E é... E tem noção que está prestes a perder o seu por “putaria”. E sim, agora eu não disse “putisse”. Qual é a sua com o “amiguinho” de Medy? Ele é seu aluno, Sabrina.
A porta se abriu e Do-Yoon nos olhou seriamente. Olhou para uma e depois para a outra:
- “Putisse” não existe no dicionário. E só para constar, não existe “dicionário informal”.
- Desde que parte vocês ouviram? – Perguntei, com o rosto ruborizado.
- A voz de vocês começou a se alterar depois da “putisse”. E só para lembrá-las, estão num Hospital, senhora médica e senhora professora. Se deem ao respeito, por favor. Temos um adolescente e uma criança deste lado da porta.
Pela primeira vez vi Yuna ficar ruborizada com alguma coisa. Do-Yoon abriu a porta e antes que ela entrasse, puxei seu braço:
- Desculpe-me...
- Pela parte que não contou da Medy para ele?
- Não... Por ter chamado você de...
- De... – Ela me encarou seriamente.
- Pessoa que não gosta de sexo.
- Não me ofendeu. Talvez eu realmente não goste.
- Ou não encontrou a pessoa que a fez gostar.
Ela riu:
- Isso não existe. A vida não gira em torno de sexo.
- Nem sem ele.
- Acho que você tem problemas.
- E se for “você” quem tem?
- Sabrina, não vamos falar sobre isso agora. Já justificou o motivo por não ter dito ao pai de Medy a verdade. Preferiu transar com ele a falar de sua filha.
Ela entrou, sem me deixar tentar explicar.
Assim que me vi no quarto, os olhos de Melody e Guilherme estavam sobre mim.
- Bem, eu conversei com alguns conhecidos e vocês dois poderão ficar no mesmo quarto, já que ganharão alta amanhã. –Yuna disse.
- Obrigado. – Guilherme agradeceu.
- Está uma confusão hoje por aqui. Várias crianças com virose e os médicos bem atarefados.
- Você trabalha aqui? – Guilherme perguntou para Yuna.
- Não... Mas conheço alguns médicos que dão plantão aqui e são meus colegas em outros espaços.
- Entendi... Você é a irmã do professor Do-Yoon, amiga da professora Sabrina...
- E minha madrinha. – Melody disse.
- Hum...
- Você sabe o que significa madrinha? – A garotinha olhou para o amigo, que tentava entender a relação entre todos naquele espaço.
- Alguém em quem sua mãe confiou – ele me olhou – O suficiente para escolher para cuidar de você caso algum dia acontecesse algo com ela. Certamente uma pessoa que ela ama muito... A ponto de querer dividir o que tem de mais precioso, que é você. – O sorriso dele foi tão largo e sincero que me preencheu de algo bom por dentro.
Guilherme era maduro algumas vezes, mas parecia não querer que ninguém soubesse aquilo. Entendi que ele tinha ouvido parte da conversa e quis me ajudar de alguma forma.
- Já é tarde... – Yuna falou, indo até a cama e dando um beijo em Melody.
- Você já vai, tia Yuna?
- Sim, vou deixar você em boas mãos... Sua mamãe. – Ela sorriu, alisando os cabelos da minha filha.
Deu outro beijo na testa de Melody e foi para a porta, enquanto Do-Yoon se despedia.
Interceptei-a na porta e lhe deu um abraço:
- Eu sempre confiei em você e por isso a escolhi para ser a madrinha da minha filha.
- Desculpe por ter deixado ela cair... – Ela me apertou, sem tirar o rosto do meu ombro.
- Você não teve culpa. Não se preocupe... E desculpe se a ofendi de alguma forma.
- Amigos devem falar a verdade... Pode até doer, mas tem que haver sinceridade. Fico feliz de poder ter falado o que penso e você ainda assim me dar um abraço.
Eu sorri antes de soltá-la:
- Ainda amo você... E suas “putisses”.
- Neste caso é você que faz as “putisses”. – Ela cochichou no meu ouvido, com um meio sorriso.
- Amo você, Yuna...
- Deus me livre amar você, Sabrina. Quando isso acontecer, me interne. – Ela disse, saindo pela porta.
Eu comecei a rir.
Do-Yoon me abraçou forte e disse no meu ouvido:
- Não se aproxime do garoto... Eu imploro.
- Não vou.
- Sabe que precisamos conversar sobre isso.
- Eu sei... Mas não agora e nem hoje.
Ele se foi e ficamos só nós três. Sentei na poltrona confortável ao lado de Melody, pegando sua mão:
- Doeu muito? – Perguntei.
- Acho que menos que torrar meu corpo no sol... Ou morrer de fome.
Revirei os olhos:
- Deus, você não existe, Medy.
- Você viu o meu papai?
Olhei nos olhos dela, sentindo meu coração sair pela boca com a pergunta tão direta. Mal sabia ela que havíamos feito amor e foi como se o tempo não tivesse passado e ainda visitássemos a casa de praia, quando a concebemos.
Percebi o olhar de Gui na minha direção e falei:
- Acho que podemos falar sobre isso em casa.
- Mas... Eu quero saber, mamãe. Você falou sobre mim?
Não, minha filha. Eu quase nem falei, só gemi enquanto estive com ele. Porque você tem a mãe mais idiota e devassa do mundo, que em vez de contar sobre a filha, ficou “fodendo” com seu pai como se não houvesse amanhã. Afinal, não haveria amanhã mesmo. Eu teria que seguir stalkeando ele como uma fã.
Me peguei sorrindo, feliz e cheia de esperanças dentro de mim. Eu já sabia onde encontrá-lo e também que o que existia entre nós ainda estava vivo.
- Eu... Falei com ele. – Confessei, sabendo o quanto aquilo era importante para Melody.
Me importava que Guilherme estava ali, ouvindo. No entanto, minha filha vinha em primeiro lugar e não o ciúme ou o medo de magoar Guilherme.
Depois daquela noite, nada nem ninguém seria capaz de ocupar meu coração ou tomar meu corpo novamente. Porque eu era inteiramente pertencente ao meu homem, o cantor de um bar decadente, com os olhos verdes mais lindos do mundo, que compôs uma canção só para mim e que parou um show com centenas de pessoas para me fazer chegar até ele.
Aliás, eu fui dele desde que me tocou pela primeira vez. Foram cinco longos anos sem me dar a oportunidade de sequer conhecer um homem. Sim, critiquei minha amiga Yuna mas fiquei todo este tempo sem experimentar os prazeres da carne, justo eu, uma mulher que era completamente louca por sexo no passado.
A questão é que se não fosse “el cantante”, nada era interessante. Gui chegou perto de me ter, mas foi na hora errada. Foi justo quando Charles apareceu de novo na minha vida.
- Onde você o encontrou? – Ele perguntou diretamente para mim.
- Gui, nós não vamos falar sobre isso.
- Você tem que me dizer... – Ele alterou a voz e a porta se abriu.
A mulher alta, esguia e de cabelos longos e levemente ondulados entrou, fechando a porta atrás de si. Tinha na mão um copo descartável com café. Os olhos eram claros, o tom dos cabelos levemente avermelhados, percebendo-se que eram tingidos. Usava uma calça jeans escura, justa e uma blusa com gola alta, que deixava sua aparência ainda mais refinada.
Eu nunca me achei feia, pelo contrário. Mas ela era digna de uma modelo de passarela, tamanha altura e peso muito bem distribuídos.
Entregou o copo para Guilherme e sentou-se na poltrona. Não consegui disfarçar minha curiosidade.
- Mãe... Esta é Sabrina Rockfeller. Ela é minha professora... E mãe da Melody. – Ele explicou.
Ela olhou na minha direção e disse, abrindo os lábios num sorriso forçado:
- Encantada, professora!
- Prazer. – Balancei a cabeça.
- Parente dos Rockfeller da gravadora? – Ela perguntou enquanto tirava o celular da bolsa, não olhando na minha direção.
- Não... – Me ouvi dizendo.
- Eu também sou Rockfeller. – Melody disse orgulhosa.
Mas a mulher não olhou na nossa direção, seguiu mexendo no celular.
- O nome dela é Kelly. – Guilherme disse, visivelmente sem jeito.
Agora eu entendia algumas atitudes do garoto. E também da avó, que o assumiu no lugar da filha.
- Você está vindo? – Ouvi a voz dela demonstrando irritação ao telefone.
Tentei não prestar atenção na conversa dela, mas era impossível, pois ela não fazia questão de esconder.
- Ponha no GPS, porra! Sabe o que é isso ou nunca ouviu falar? – esperou um pouco e completou – Já disse que meu filho sofreu um acidente de skate e vai passar a noite no Hospital. Eu vou ficar com ele porque minha mãe não está bem.
Sim, estava ali porque a mãe dela não estava em condições e não por causa do filho. Mulheres daquele tipo me repugnavam. Abri mão de tudo pela minha filha enquanto aquela tinha passado toda a responsabilidade de mãe para sua própria mãe.
Senti dó de Guilherme. Onde estaria o pai dele? O que tinha acontecido entre eles?
Não querendo continuar ouvindo aquela conversa e sabendo que tinha uma longa noite pela frente, perguntei para Melody:
- Que tal um chocolate quente?
- Acho muito bom. – Ela arregalou os olhos.
- Vou pôr marshmellows dentro. – Cochichei no ouvido dela, que sorriu e bateu palmas, com os olhinhos brilhando.
Levantei e olhei para Guilherme, que estava a me observar.
- Quer algo da cantina? – Perguntei.
- Chocolate quente com marshmellows. – Ele sorriu, comprimindo os lábios logo em seguida.
A mãe dele seguia no telefone.
- A mamãe já volta, ok? Qualquer coisa que sentir, peça para o Gui apertar a campainha para você. Eu volto em no máximo dez minutos. – Garanti.
- Tudo bem... – Ela me jogou um beijo.
- Cuide dela, por favor. – Pedi ao garoto, certa de que ele faria aquilo.
Sai pelo corredor, seguindo as placas indicativas até chegar na cantina do Hospital. Encontrei os chocolates quentes, mas não os marshmellows. Recebi os três copos numa caixa de papelão e segui pelo corredor, de volta ao quarto.
Quando dobrei, bati em alguém. Olhei para os copos, que por sorte não viraram.
- Me desculpe!
Aquela voz eu reconhecia em qualquer lugar. A ouvi por muitos e muitos anos da minha vida.
- Colin? – O encarei, confusa, o coração acelerado com o encontro inesperado.
- Por Deus... Você não mudou nada nestes cinco anos. Continua linda!
- O que você está fazendo aqui? – Ignorei o comentário dele.
- Estou... A trabalho.
- No Hospital ou em Noriah Sul?
- As duas coisas. – Ele sorriu, de forma simpática.
Estranho reencontrar meu ex-noivo, com quem estive prestes a casar, depois de tantos anos. Se naquela época eu já não sentia ódio dele pelo que tinha acontecido, agora menos ainda. Só um leve ressentimento. Afinal, eu poderia estar casada com ele. E sinceramente, eu era feliz com a minha vidinha de professora assalariada em Noriah Sul.
- Você continua o mesmo... Não mudou nem o corte de cabelo. – Sorri, balançando a cabeça, de certa forma feliz por encontrá-lo ali.
Cinco anos sozinha em Noriah Sul e um reencontro em menos de 12 horas com Charles e Colin, trazendo de volta o passado em tão pouco tempo.
- O que você faz aqui no Hospital? Está tudo bem com você?
- Minha filha caiu da escada... Quebrou a perna – sorri, sem jeito – Ela é muito travessa.
- Não consigo imaginar você com uma criança.
- Hum, mas imagine. E acredite, ela é linda e apaixonante.
- Eu imagino... Se for parecida com você, as duas coisas.
- Ela é a cara do pai. – Falei imediatamente.
- E... Vocês estão juntos?
- Em breve estaremos. – Me limitei a responder.
Ele me olhou sem dizer nada.
- Ainda está trabalhando na J.R Recording?
- Não... Você não soube o que aconteceu?
Arqueei a sobrancelha, curiosa:
- Não.