Capítulo 51
2105palavras
2023-02-08 10:07
- Você não viu a entrevista dele na TV? Não negou quando o repórter perguntou. – Ela me olhou.
Fiquei um pouco apreensiva e senti um frio na barriga. Sim, havia me passado pela cabeça que ele não estaria sozinho, como eu, esperando pelo nosso reencontro. Mas também não achei que aquilo pudesse doer tanto em mim, mil vezes mais do que quando Mariane me confessou que dormiu com Colin.
O fato de “não negar” não significava sim. De tudo que li sobre ele, nada mencionava alguma mulher na sua vida.
Assim que passei pelo portão de entrada da área desportiva, me senti ainda mais nervosa.
As palmas das minhas mãos suavam e meu estômago doía.
O espaço era enorme, e não tinha teto, aberto na parte superior. O tamanho era de um campo de futebol e havia arquibancadas, para onde também foram vendidos ingressos. Embora as cadeiras fossem mais confortáveis para assistir ao show, eu queria era ser vista por ele.
O palco era quase de um ídolo de grande porte. Para quem estava começando a pouco tempo, ele estava indo muito bem. A J.R Recording pelo visto investia muito no novo talento. E eu lembrava quando meu pai havia dito que ele era “um artista de uma música só”. Eu sempre soube que ele era muito mais. E que seria famoso assim que fosse descoberto.
Agora eu estava ali, como uma formiga num formigueiro, tentando vê-lo de perto e me convencer de que Charles era real... E passou um dia pela minha vida.
POV CHARLES
- Quer mais um pouco de tequila? – Meu assistente perguntou.
- Sim... – Ergui a mão em direção a ele, sorvendo o líquido puro, de uma vez, sentindo o amargor na boca, a garganta queimando.
Meu celular vibrou. Vi o nome dela e o pus sobre a mesa do camarim. Me olhei no espelho, percebendo a forma como haviam feito o delineado nos meus olhos. Por vezes tentava decifrar se gostavam de mim ou da minha música.
- Charlie, já está meia hora atrasado. É bom entrar de uma vez. O público já está todo do lado de dentro. – Avisou o assistente de palco.
- Ok, estou indo.
Peguei a garrafa das mãos do rapaz e bebi no gargalo outro gole da tequila, com a sensação de ter posto fogo para dentro de mim. Aquela calça de couro preta era quente e me apertava. A camisa entreaberta me dava certo frescor, que era cortado pela jaqueta preta em couro.
Subi para a área do palco e respirei fundo, pegando minha guitarra. Sorri e fui diretamente para o microfone, interagindo com o público. Desta parte eu gostava. Me sentia a vontade com a plateia e tinha facilidade em agradá-los.
Embora tivessem me dito que estava lotado, eu esperava mais pessoas. Via certos espaços vazios tanto nas arquibancadas, quanto nos camarotes e lounges.
Comecei com “Garota Riquinha”, que era o hit preferido das fãs. Depois segui para as demais músicas que estavam no repertório, seguindo a ordem. Geralmente deixávamos “Começo de Algo bom” para o meio do show, pois era mais lenta. E sinceramente, aquela música acabava comigo, porque foi feita para ela. Quando eu voltava para o BIS, geralmente era “Começo de Algo bom” que eu cantava de novo.
Larguei a guitarra e peguei o violão, iniciando os acordes tão conhecidos, que doíam dentro do meu coração. Será que haveria pelo menos uma vez que eu tocasse aquela música e não lembrasse dela? Os olhos escuros, o sorriso sincero, o corpo perfeito, a pele macia...
Me entregaram uma banqueta alta e sentei, apoiando o violão na perna, concentrado em cada acorde. Ouvi os gritos da plateia e sorri, olhando na direção deles, empolgado. Será que algum dia aquela música chegaria até ela? Saberia a garotinha que “Começo de algo bom” foi feita no momento que nos despedimos, que o idiota aqui deixou o número dentro da jaqueta?
- “Você nunca sabe quando vai conhecer alguém
E todo o seu mundo, muda de uma hora pra outra completamente
Você apenas está andando quando de repente
Tudo o que você sabia sobre amor sumiu
E você descobre que tudo estava errado
E todas as minhas cicatrizes não parecem importar mais
Porque elas me levaram até você...”
Enquanto as luzes iluminavam a plateia, imaginei ter visto a garotinha no meio da multidão e sorri. Não seria a primeira vez que ela se metia no meio das pessoas, fazendo eu não saber até que ponto era real ou coisa da minha cabeça.
Mas ela sempre desaparecia... Tão rápido quanto chegou, se desvanecendo no meio das pessoas reais.
Olhei novamente para meus dedos a tocar cada corda, tão decoradas que podia fechar meus olhos que eles continuavam a me obedecer. E tudo que eu via era ela no meu colo, naquela sacada minúscula, enquanto olhávamos a lua sobre o mar, torcendo para que o dia não amanhecesse nunca mais.
Direcionei minha visão para o público abaixo do palco e ela continuava ali, mesmo na parte menos iluminada. Balancei a cabeça repetidas vezes, tentando voltar à realidade e a vi vindo na minha direção, um meio sorriso no rosto, o olhar fixo no meu.
Usava minha jaqueta, uma blusa escura curta, que deixava aparecer parte da sua barriga. Sim, era um sonho... Eu não tinha como ver exatamente cada detalhe dela do lugar onde estava.
Ela levantou os braços, acenando. Fiquei confuso, tentando acompanhar a melodia, enquanto me dirigia para próximo dela.
Cheguei na parte onde acabava o palco e ela seguiu na minha direção, os braços levantados, tentando se aproximar.
Nossos olhos não se desviavam. E só tive certeza de que era real quando consegui ler os lábios dela, bem abaixo de mim, dizendo “El cantante... Achei você”.
Ninguém me chamava de “el cantante”... Só ela. Jamais falei sobre aquilo para nenhuma pessoa, porque era algo só nosso.
A minha voz não saiu mais. Larguei o vilão e meus braços foram em direção a ela. Os seguranças se aproximaram e gritei:
- Tragam-na para mim... Agora!
Foram os minutos que mais demoraram a passar na minha vida. Mas eu os vi erguendo-a na minha direção, junto dos gritos que ecoavam por todos os lados. Ninguém entenderia que não era uma fã... Era Sabrina... Minha Sabrina, que desapareceu por...
- Mais de cinco longos anos... – Falei em voz alta, sem conseguir desviar os olhos dela.
- Eu não acredito que estou aqui... Não pode ser verdade... – Vi as lágrimas descendo pelo rosto dela.
Passei o polegar na pele macia, umedecendo meu dedo com as lágrimas dela. Onde você esteve, Sabrina? Por que sumiu da minha vida tão repentinamente quanto apareceu? Por que está em Noriah Sul? Porra... Meu coração batia tão forte e minha voz não saía. Eu tinha mil coisas pra dizer para aquela mulher, guardadas por longos anos... E simplesmente fiquei ali, paralisado com a presença dela.
- El cantante... Você... Está famoso. – Ela sorriu.
- E você... Está linda.
Um segurança de cima do palco veio na nossa direção e pegou o braço dela:
- Posso retirá-la, senhor?
- Não! – Gritei, pegando-a nos meus braços, sentindo seu corpo junto do meu, o perfume que eu nem reconhecia mais.
Nada mais importava. Que o mundo explodisse... Eu só queria ela... Nada mais.
Enquanto saia do palco com Sabrina, os braços dela passando pelo meu pescoço, as lágrimas a molhar minha roupa, vi tantas pessoas ao meu redor que quase não conseguia andar.
Todos falavam ao mesmo tempo. E eu não ouvia nada... Só queria ela. A prenderia numa corrente e não a deixaria escapar jamais.
Ouvi alguém gritando no microfone que eu faria uma pausa de alguns minutos. Não... Eu não voltaria para o palco. Talvez nunca mais... Porque eu já havia encontrado o que procurei incansavelmente, acho que por toda a minha vida.
Tranquei a porta do camarim e a larguei, observando-a. Temi que minha voz tremesse a ponto de eu não conseguir me expressar.
- Eu... Vim devolver a sua jaqueta. – Ela brincou, os lábios trêmulos ao pronunciar cada palavra, os olhos vermelhos das lágrimas que não cessavam.
- Você não é um sonho, garotinha?
- Não... E você? – Ela tocou meu rosto e peguei sua mão, dando um beijo, os olhos não se afastando dos dela.
- Garotinha... Eu pensei em você todos os dias... – Me ouvi dizendo, a voz embargada de emoção.
- Por que você sumiu? Por que não me esperou? Eu... Fui atrás de você... E o sol não havia se posto ainda... – ela limpou as lágrimas, emocionada, a respiração ofegante – Foi embora... E não me esperou.
- Se você soubesse tudo que aconteceu naquele dia, Sabrina... Eu mal consegui chegar lá. Acha que eu não teria esperado? Eu não teria ido embora, até que você chegasse, meu amor... – Toquei o rosto dela.
Eu tinha muito a falar. Mas não conseguia. Minha cabeça estava confusa a ponto de não pensar. O ar faltava nos meus pulmões, como se tivesse cantado e dançado horas sem parar. E meu coração batia mais do que o normal.
Peguei o rosto dela entre as minhas mãos e toquei com meus lábios os dela, sentindo a maciez de sua boca. Beijei o lábio superior e depois o inferior e em seguida pus minha língua dentro dela, sentindo a sua, doce, quente, molhada, entregue a mim.
Sentir os braços dela em torno do meu corpo de novo era como um sonho. A calma e doçura daquele beijo durou alguns segundos. Quando percebi, estava retirando a jaqueta dela (ou minha) e pegando-a pela bunda, fazendo-a sentar na mesa, de costas para o espelho.
Ela tirou minha jaqueta com habilidade, seus lábios desceram pelo meu pescoço, chupando-me, marcando-me como um dia a ensinei a fazer. Retirei minha própria blusa, enquanto as mãos dela passeavam pelo meu peito, ansiosas.
Eu não tinha certeza se queria só senti-la me tocando ou se desejava realizar todas as fantasias que tive com ela dentro de um camarim.
Sabrina jogou a pequena bolsa que trazia na transversal do corpo no chão. Nossas bocas se encontraram novamente enquanto as minhas mãos passeavam pelo corpo dela, sem seguirem um parâmetro, pois eu queria tocá-la por cada centímetro da pele macia e com a qual tanto sonhei.
Me afastei um pouco e vi a concha no pescoço dela, descendo num pequeno pingente de ouro, seguro na corrente que adornava seu pescoço.
Virei a parte de dentro na minha direção e vi as letras quase apagadas pelo tempo: C S.
Encarei-a e toquei seu colo, percebendo ela arrepiar-se. Retirei a blusa, observando seu corpo desnudar-se para mim. O sutiã preto que ela usava era simples, e tampava bem seus seios pequenos e perfeitos. Abri o colchete, deslizando-o para frente. A visão que eu tinha era da mulher da minha vida, usando uma concha que eu havia lhe dado há cinco anos atrás. Era ela... Sabrina estava ali... E toda nossa história não tinha acabado. Estava viva... Não só no meu coração, mas na concha que ela carregava. Sim, foi importante para ela. Eu não amei sozinho... Eu não sofri sozinho... Eu não procurei em vão...
Ela não tinha mais 18 anos. Os seios estavam levemente caídos... E por incrível que pareça, ainda mais apetitosos. Abocanhei um deles, enquanto abria minha própria calça, sentindo desconforto por meu pau estar latejando sob o tecido colado.
Sabrina era doce... E cheirava bem. Havia mudado o perfume, mas eu não tinha certeza qual era o novo aroma. Desci meus lábios pelo abdômen dela e deslizei a calça jeans para baixo, sem retirá-la do móvel. Ela apertou minha bunda com força e eu poderia gozar com o simples gesto daquela mulher.
Ela gemeu e parei tudo, encarando-a. Se ela soubesse o quanto sonhei com aquele gemido... Que eu havia feito uma música para o som que só ela emitia... Que tudo que eu compus ao longo de cinco anos foi pensado nela, cada letra, cada acorde, cada melodia...
- Nossa melodia... – ela disse, parecendo adivinhar meus pensamentos, novamente deixando as lágrimas invadirem seus olhos.
Beijei as lágrimas dela que caíam e disse:
- Sem choro... Chega de tristeza. Estamos juntos... Nos encontramos, garotinha.
- Mas... É a nossa Melodia... – Ela estava ofegante, ansiosa, tensa.
- Sempre vai ser. Eu sou completamente louco por você, garotinha.
Ajoelhei-me entre as pernas dela, deslizando a calça até seus tornozelos. Procurei a marca da queimadura e toquei, para ter certeza de que realmente era ela. Sorri, enquanto alisava o local:
- Encontrei a minha garotinha... – Beijei a cicatriz.