Capítulo 45
2173palavras
2023-02-08 10:03
- Está me convidando para sair, Sabrina?
- Não... Estou convidando para tomar um sorvete comigo e minha filha, Guilherme.
- Pode me chamar de Gui... Não estamos na escola.

Melody chegou com a mochila nas costas. Eu abri os braços para ela vir no meu colo, no entanto ela foi para o colo do garoto, que disse:
- Você é pesada, Medy. Não sei como sua mãe carrega você como se fosse uma pena.
Ela gargalhou:
- É que eu como muita pizza.
- A parte boa é que perde calorias no futebol – ele acenou para a professora – Foi um privilégio acompanhá-la junto de sua turma, senhora Ducan.
- O privilégio foi nosso, Gui. – Ela abriu um sorriso, completamente derretida pelo garoto.

Ele fechou a porta e eu observei:
- Preferia levar Medy do que o hamster. Este bicho parece um rato.
- Mas não é. – Melody garantiu.
- Eu já expliquei tudo para ela, Medy. – Gui garantiu.

- Mamãe, ele não pode pegar sol.
- Gui já me falou isso também. O hamster não vai nem ver a luz do dia, eu prometo.
- Não é para tanto. – Gui começou a rir.
Quando chegamos no carro, Melody abraçou Gui e disse:
- Nunca mais vamos nos ver, Gui?
- Talvez isso aconteça... Mas não hoje. Porque sua mamãe me convidou para tomar sorvete.
Ela deu um gritinho histérico:
- Oba! Eu gosto de baunilha.
- Jura? É meu preferido também. Vai querer quantas bolas?
- Três.
- Três – confirmei – Porque não sei se sabe, Gui, mas eu sou mãe de uma formiguinha.
- Eu ouvi a respeito. – Ele abriu a porta e a pôs na cadeira, trancando o cinto, sem que eu precisasse explicar como fazia.
Conferi se estava bem preso e quando retirei meu corpo de dentro do carro, ele estava com os braços cruzados, rindo:
- Eu sei fechar o cinto, senhorita Rockfeller.
- Só fui me certificar. – Me dirigi até o outro lado do carro e abri a porta, pondo o animalzinho ao lado de Melody, no banco traseiro.
Sentei no banco do motorista e ele abriu a porta, sentando ao meu lado, sem rodeios:
- Quer apertar meu cinto? – Olhou-me de forma irônica, aguardando qualquer reação, fazendo meu estômago retrair.
Puxei o cinto sobre o corpo dele e afivelei. Quando fui retirar a mão, ele pôs a dele sobre a minha. Nos olhamos e Guilherme disse:
- Faz bem, Sabrina. Já que estou no seu carro, é responsável por mim.
- Eu...
Eu não consegui terminar a frases, porque nem tinha mais certeza do que ia dizer. Ele pegou minha mão e pôs sobre o volante, fazendo-me voltar do transe.
- Podemos ir na sorveteria perto da praça... O sorvete lá é ótimo. – Ele disse de forma tranquila, como se nada tivesse acontecido minutos atrás.
- Não... Eu conheço outra.
Mentira, eu não conhecia. Mas não iria com ele para a praça, exibi-lo em público ao lado da minha filha, num dia de semana, como se fôssemos íntimos.
Encontrei uma sorveteria aleatoriamente e estacionei o carro. Vi que tinha mesas na rua e desta forma poderíamos levar o hamster junto.
Sentamos numa das mesas na área externa. Estava anoitecendo e tinha bastante pessoas no local.
- Eu vou buscar os sorvetes. – Disse Gui, levantando.
- Não precisa, eu pego. – Levantei também.
- Nem pensar.
- Eu convidei.
- Faço questão, por favor... – Ele me encarou seriamente.
Sentei, sem contestar. O deixaria pagar os sorvetes.
Enquanto ele estava no interior da sorveteria, fazendo os pedidos, eu e Melody observávamos um garoto de no máximo quinze anos se exibindo com manobras de skate na calçada.
Guilherme retornou acompanhado de uma atendente, que trouxe as taças com os sorvetes.
- Três bolas de baunilha com confeitos coloridos. – Medy falou quase sem acreditar.
- Gostou?
Ela assentiu com a cabeça antes de provar uma farta colherada.
Na minha taça tinha três bolas também: duas de chocolate e uma de baunilha.
- Como sabe que eu gosto de chocolate?
- Posso ter dado uma espionada na sua vida, “professora”.
- Hum, isso não é legal, “aluno”. Aliás, acabou o seu voto de silêncio contra mim?
- Contra a professora não.
- Mas está falando comigo.
- Não... Aqui você é a Sabrina, mãe da Medy, minha garotinha preferida no mundo inteiro. – Ele tocou o nariz de Melody, que tentou piscar um olho, nos fazendo rir.
- Gui, aquele menino é bom no skate – Melody observou, com a boquinha suja de sorvete.
Guilherme pegou um guardanapo e limpou-a. Provou uma colherada do meu sorvete e disse:
- Seu chocolate é melhor do que o meu... Não entendo.
Pus a colher na taça dele e peguei sorvete, provando:
- Hum... Não me parece. – Comecei a rir.
Melody ainda estava encantada com o menino e o skate:
- Eu posso ter um skate?
- Isso é perigoso, Medy. – Observei.
- Não é não. E eu vou provar.
Dizendo isso, Guilherme levantou e foi até o garoto, pedindo o skate. Subiu sobre a tábua de rodinhas estilizada e começou a fazer várias manobras, deixando eu e minha filha sem piscar, completamente admiradas pela habilidade dele.
Quando terminou de se exibir, fazendo o skate girar várias vezes sob seus pés, ele recebeu aplausos dos presentes.
Assim que Guilherme sentou, perguntei:
- Mais alguma habilidade sua que eu deva saber?
- Sim... Tem uma que você precisa muito ver. Nesta eu sou bem melhor que no skate... E do que na Matemática. – Ele sorriu, sarcástico.
Fiquei ruborizada imediatamente.
- Posso ensinar você se quiser, Medy. – Ele ofereceu para a minha menina, enquanto eu tentava me recuperar da frase de duplo sentido.
- Posso, mamãe?
- Você pode ser o que quiser, Medy.
Ela derrubou sorvete na roupa e ele limpou rapidamente. Ok, habilidade com crianças ele tinha.
- Tem irmãos? – Perguntei.
Ele riu:
- Mal tenho pais... Que dirá irmãos.
- Tem jeito com crianças.
- Gosto de crianças, mas confesso que Medy chamou minha atenção de imediato: falante, curiosa, inteligente...
- Devem ser os olhos verdes dela. – Brinquei.
- Igual os do meu pai. – Ela se exibiu.
Ele ficou tenso e eu lembrei de Charles, o que sempre me fazia ficar estagnada e temerosa. Era como se ouvir o nome dele me fizesse ir devagar, esperançosa de que ele pudesse aparecer do nada.
Tomamos o restante dos sorvetes de forma silenciosa, cada um com seus pensamentos, inclusive a pequena Melody.
Quando terminamos, ele fez questão de pagar. Eu discuti que convidei e era meu dever fazer o pagamento. Mas achei fofa a forma como ele queria me impressionar.
- O deixo em casa? – Perguntei, quando entramos de volta no carro, já partindo dali.
- Não... Eu vou numa festa na casa de Rachel. – Ele disse seriamente, não olhando na minha direção.
Senti uma ponta de ciúme quando ele falou aquilo. Como assim iria na casa de Rachel, se ela o feriu com uma régua? Ele ainda tinha a marca acima da pálpebra.
- Espero que não se atrase para a aula amanhã. – Me ouvi dizendo e quase quis me matar ali mesmo.
- Vai me impedir de entrar, “Sabrina”? – ele riu – Tem chance de eu nem ir na aula, na verdade. Talvez Rachel queira que eu durma na casa dela.
Freei o carro e olhei para ele seriamente:
- Desce do carro.
- O quê?
- Desce do carro agora.
- Mas... Eu só fiz uma brincadeira.
- Saia agora. – Falei, entredentes.
Ele riu e disse:
- Sabe de uma coisa? Estou muito feliz em ser expulso do seu carro.
Arqueei a sobrancelha, confusa.
- Está com ciúme de mim. – Afirmou.
- Claro que não.
- Está sim – ele riu e piscou, virando para trás – Medy, tem ração na tigela dele. Quando acabar, tem que comprar mais.
- Está bem. – Ela estava com a gaiola no colo.
- Lembre dos cuidados que precisa ter... Para mantê-lo vivo, como seu animalzinho de estimação.
- Não vou esquecer. – Ela garantiu.
- Não esqueça também. – Ele olhou para mim.
- Acha que eu sou o que?
- Uma assassina de tartarugas e testemunha de assassinos de peixes? – Ele enrugou a testa.
- Suma daqui antes que eu não responda por mim.
Ele saiu correndo, se divertindo às minhas custas. Não, eu não me apaixonaria por aquele moleque. Eu tinha várias outras opções.
Tinha? Não, não tinha. Porque simplesmente eu não queria. Seguia estagnada, mesmo sabendo que precisava me livrar das lembranças daquelas noites quentes de verão.
Estacionei o carro no pátio de casa e virei para trás. Melody estava dormindo, a gaiola quase caindo dos seus braços.
Respirei fundo. Lá ia eu tentar manter mais um animal vivo. O que não se faz por um filho?
Sobre as lembranças daquelas noites com Charles... Eu tinha uma eterna. E ela se chamada Melody.
Na manhã seguinte, segui a rotina diária: tomar banho, vestir Melody, preparar os lanches, deixá-la na escola, organizar a casa e tentar não matar Solitário II e Hamster.
Quando cheguei na sala do terceiro ano, Guilherme estava lá, o olhar desnudando meu corpo por inteiro.
Cheguei a colocar uma saia naquele dia, na tentativa de provocá-lo ainda mais. Era na altura dos joelhos, mas ainda assim era uma saia. Usei uma camisa branca sem detalhes, com dois botões abertos na parte superior e um scarpin. Cabelos soltos, como sempre. Eu odiava prendê-los.
Antes que eu terminou a aula, o sino tocou para o intervalo. Eu iria pedir para continuarem até o final da explicação, mas todos já foram levantando, me ignorando por completo.
Virei-me para a mesa e comecei a guardar os meus materiais, compenetrada no que fazia.
Senti mãos quentes levantando minha saia e dei um sobressalto, olhando para trás e ficando com a boca a centímetros da dele.
- Guilherme... – Falei, com a voz falhando, enquanto olhava diretamente para a porta.
- Eu tranquei.
- Mas... Tem vozes... – Ouvi-me falando.
- Estão todos descendo... – Ele levantou meus cabelos, beijando meu pescoço, fazendo meu corpo arrepiar-se e a calcinha molhar.
Meu Deus, eu estava viva! Senti meu sangue ferver, como há anos não acontecia. Eu sabia que não devia, mas meu corpo precisava daquele toque.
Guilherme levantou ainda mais a saia e esfregou-se contra minha bunda. Senti seu pau duro sob a calça jeans e fechei os olhos, escorando as mãos sobre a mesa enquanto me empinava para trás, a fim de intensificar o toque, sem pensar em mais nada, só na sensação de prazer que meu corpo voltava a produzir, depois de tantos anos.
Ele apertou meus quadris com as mãos firmes e desceu os beijos molhados pelo meu pescoço, enquanto se esfregava com mais força.
- Diz que me quer... – Ele falou, entre um beijo e outro no meu pescoço.
- Não podemos...
- Diz... Por favor...
- Eu quero... – Me ouvi confessando, enquanto ele empurrou levemente minhas costas pra frente.
As mãos de Guilherme foram aos meus seios, sobre a blusa. Eu escorei meu peito na mesa. Ouvi o som do zíper dele descendo e disse:
- Não!
- Relaxa... Não vou comê-la aqui. – Ele garantiu.
- Não podemos... – Eu sabia que não devíamos, mas não fazia nada para impedir, porque meu corpo não me obedecia.
Senti seu pau na minha bunda. Ele começou a me foder, sem retirar a calcinha. Adentrava levemente na minha intimidade, tendo somente o tecido fino em renda que nos separava.
Levei minhas mãos à quina da mesa, apertando-a enquanto fechava os olhos, um sorriso leve no rosto. Foi então que a concha saiu de dentro da blusa, ficando pendida do meu pescoço, balançando enquanto Guilherme simulava uma boa foda.
Ela balançava, mostrando o S e o C já gastos com o tempo. E eu via um homem lindo com o olhar esmeralda sorrindo para mim, as duas mãos fechadas para eu escolher uma. Cheguei a sentir sua pele quando, com um sorriso, tocava a mão dele, olhando a concha que estava dentro nela.
Foi como se um filme passasse na minha cabeça: eu me desequilibrando na pista, ele me segurando, nosso primeiro olhar trocado. A transa no corredor do Cálice Efervescente. A forma como eu o segurava com força na moto. A tequila saindo da boca dele e entrando na minha, nossas línguas se encontrando, meu corpo banhado no espumante doce, o mar ao longe, eu sentada no colo dele falando sobre a dor que sentia antes mesmo da nossa despedida.
Senti as lágrimas escorrendo pelo meu rosto e fiquei gélida como um iceberg.
O que você está fazendo da minha vida, “el cantante”?
Nisso Guilherme me puxou, virando de encontro a ele e senti seus lábios nos meus, a língua pedindo passagem na minha boca, enquanto enroscava na minha, quente, doce, sexy...