Capítulo 37
1883palavras
2022-12-13 12:15
Também não dei certo como atendente de lanchonete, nem caixa de supermercado. Yuna voltou para o turno do dia, enquanto eu me lamentava por não ser capaz de fazer nada que pudesse me render dinheiro a fim de sustentar minha filha.
- Eu sou um fracasso. – Falei para Do-Yoon, enquanto me jogava no sofá, triste.
- Não, não é. Vai encontrar algo que consiga fazer.

Yuna estava brava comigo nos últimos dias, certamente achando que eu estava fazendo de propósito, como se não quisesse me firmar num emprego.
Arrumei Melody e disse, enquanto a colocava no carrinho:
- Eu vou dar uma volta com ela na praça.
- Sim, é bom descansar a cabeça um pouco. Você está se cobrando demais, Sabrina.
- Do-Yoon, você não existe! – Abracei-o carinhosamente.
Quando o soltei, percebi que ele estava ruborizado.

- Me desculpe por tocá-lo desta forma... Mas é uma forma de carinho... E agradecimento.
Ele me encarou e em seguida veio na minha direção, colando a boca na minha, tentando um beijo íntimo completamente desajeitado.
Me afastei e disse, confusa:
- Do-Yoon... Eu... Nós não devemos fazer isso.

- Me perdoe, Sabrina. – Percebi o desconforto dele, que abaixou o olhar.
- Está tudo bem... Mas não me sinto confortável fazendo isso na frente de Melody. – Olhei para minha bebê, que sorriu divertidamente quando percebeu que eu a mencionava.
- Perdão....
- Somos amigos. Eu gosto muito de você e serei eternamente grata por tudo que fez e tem feito por mim. Você paga minha faculdade, tenta me ajudar a encontrar emprego... Cuida da minha filha de uma forma doce e gentil...
- Eu não sei o que deu em mim... Juro.
- Não sei se dei a entender que estava interessada em você... Mas não estou. Eu sou completamente apaixonada pelo pai de Melody... Ainda... Mesmo não tendo certeza se o verei novamente. Não sei se algum dia vou conseguir me envolver com outra pessoa. Você é um homem excelente e se pudesse eu gostaria de me apaixonar por você.
- Eu... Gosto de outra pessoa também.
O encarei, confusa.
- Mas... Tentei ver se eu poderia esquecer este sentimento que me consome.
Sentei no sofá, sem pressa em sair, na tentativa de ajudá-lo:
- Quem é ela?
- Uma colega de trabalho.
- Professora também?
- Sim.
- Já tentou... Dar dicas de que tem interesse nela?
- Não consigo... Fico completamente tímido quando estou perto dela. E tem a questão que somos amigos.
- Se é amigo dela, de certa forma não tem tanta timidez... Devem compartilhar coisas. Ela nunca lhe deu dicas de que sente algo por você?
- Não... Nunca.
- Convide-a para sair.
- Já saímos juntos.
- E por que não rolou nada?
- Eu... Não sei exatamente o que fazer.
- Mas você já teve outras namoradas, não é mesmo?
- Não... Me envolvi com uma garota nas férias, há uns anos atrás, mas na China, quando fui visitar meus parentes.
- E o namoro não deu certo à distância?
- Não... Porque eu sempre gostei de Lianna.
- Não voltou a ver a ex?
- A vejo sempre que vou para a China. Fazemos isso anualmente, Yuna e eu. Nossa mãe não quer que percamos contato com nossos antepassados e família. E minha ex casou.
- Quanto tempo ficou com ela?
- Duas semanas.
- Não chega a ser uma ex... Eu fiquei quatro anos com um rapaz. – Sorri.
- Não é só a inexperiência... Eu realmente gosto muito de Lianna.
- Tem que dar dicas para ela... Dos seus sentimentos.
- Há pouco tempo atrás tive sérios problemas com uma aluna do sétimo ano.
- O que ela fez?
- Rachel fez cartas para Lianna, em meu nome.
- Nossa... E... O que você fez quanto a isso?
- Até provar que não tinha sido eu que escrevi, tive muitos problemas. As cartas eram em tom... Erótico.
- O que leva uma garota do sétimo ano a fazer isso?
- Se você conhecesse Rachel Roberts saberia que ela não é uma menina normal. Aos quatorze anos ela é pura sensualidade e sexualidade.
- Não posso dizer nada. Comecei a namorar com quatorze anos.
- É uma menina problema.
- Adolescência é um problema – observei – Eu não tive uma... Estava com um compromisso sério, já pensando no futuro ao lado de Colin. Perdi toda esta fase.
- No caso de Rachel, ela não perde nada. Tem um namoradinho, inclusive os dois já foram suspensos por estarem fazendo sexo no banheiro da escola.
- Aos quatorze anos? – Me impressionei.
- Sim... E na escola.
- E... Chamaram os pais deles?
- A escola onde leciono é de elite. Os pais pagam e acham que tem todos os direitos.
- E tem?
- Infelizmente, sim. Tanto a mãe de Rachel quanto a avó de Guilherme não aceitaram a punição da escola e ameaçaram retirá-los dali, levando-os para outra instituição.
- Então a escola fez o que eles queriam. – Afirmei, sabendo bem com funcionava, pois estudei a vida toda naquele tipo de instituição, onde praticamente lambiam o chão que meu pai pisava.
- Exatamente.
- E o que foi feito com relação às cartas que ela escreveu em seu nome?
- Foi feito um registro escrito e chamaram a atenção dela.
- E Lianna, agiu como?
- Foi tranquila. Pedi desculpas e tentei fazê-la entender que a culpa não era minha.
- Realmente não era.
- Não.
- Rachel... – lembrei do nome – Já corrigi provas dela. Não é uma aluna que tira boas notas.
- Não mesmo. É uma menina que se acha dona de tudo e todos. E usa do poder da família para conseguir o que quer.
- E o garoto? É namorado dela?
- Vivem uma relação conturbada, mesmo tão jovens. Idas e vindas, relacionamento tóxico. Guilherme Bailey é o tipo de aluno que faz questão de ser reconhecido por seu péssimo comportamento. No entanto, as notas são boas.
- Guilherme Bailey... Eu já corrigi provas dele também. Escreve bons textos... Parece maduro para a idade. Quando eu leio as escritas dele, não parece que o jovem tem 14 anos.
- Ele tem 15. Ficou um ano longe da escola, pois morou com a mãe em outro país. Ela não o matriculou no exterior e o garoto perdeu um ano.
- Que mãe irresponsável.
- Sim... Mas Gui segue tirando notas boas... E tentando fingir que é um péssimo menino.
- Mas não é?
- Não, não é. Mas Rachel é uma menina difícil. Ambos são conhecidos por todos da escola, tanto alunos quanto professores.
- Casal popular. – Afirmei.
- Exato.
- Eu sinto muito por Rachel tê-lo envolvido nisso tudo. Mas ainda acho que deve se declarar para Lianna.
- Jamais eu conseguiria fazer isso.
- Convide-a para jantar... Faça a comida... Vai ser legal, você vai ver.
- Talvez um dia eu crie coragem.
Olhei no relógio:
- Eu vou indo... Quero que Melody pegue um pouco de sol.
- Vá... E me desculpe.
- Vamos esquecer isso, ok?
- Obrigado.
Andei até a praça. Não era tão perto, mas eu já estava acostumada com o trajeto, desde que Melody estava na minha barriga.
O sol estava fraco e a tarde com temperatura agradável, o que fazia com que tivesse bastante crianças usando o playground e famílias fazendo piquenique.
Passei um tempo debaixo de uma árvore frondosa, sentada, conversando com Melody e lendo histórias infantis para ela. Mesmo bebê, ela prestava atenção em tudo e reconhecia minha voz, sorrindo.
Quando o sol começou a se pôr, pensei em voltar. Mas mudei de ideia ao ver minha querida Min.
Min-Ji vinha mensalmente ver os filhos. E eu aproveitava este tempo para matar a saudade dela.
Abracei-a carinhosamente. Ela voltou-se para Melody, pegando-a no colo:
- Esta menina está cada dia mais linda. – Elogiou.
- Ela não tem nada a ver comigo. É a cara do pai, acredite.
- Vejo semelhanças com você quando era pequena.
Sentei novamente no banco e Min fez o mesmo, ainda com Melody nos braços.
- Eu soube que as tentativas de emprego não deram muito certo.
- Não mesmo, Min.
- Me diverti com cada demissão. Ri muito...
- Jura? – Comecei a rir.
- Mas sabemos que você precisa encontrar algo. – Ela ficou séria.
- Sim, eu sei.
- Ainda tem a possibilidade de aceitar o dinheiro da sua mãe.
- Nem pensar. Prefiro seguir dependendo de Do-Yoon e Yuna... E você.
- A senhora Calissa não superou sua partida.
- Mas também não veio atrás de mim. Olha o que eles estão a perder... Esta belezinha aqui. – Toquei os cabelos sedosos e escuros de Melody.
- Quando eles conhecerem esta menina, o mundo deles virá abaixo. O senhor Rockfeller se arrependerá do que fez, eu sei.
- Ainda assim, será tarde demais. Não sou capaz de perdoá-lo.
- Ah, minha querida. Esta vida é tão complicada. Seu pai tem culpa sim, mas não de tudo. Este homem que você encontrou no caminho é quase uma lenda... Um sonho.
Eu ri:
- Se a filha dele não estivesse aqui comigo eu também duvidaria que ele foi real.
- É como se vocês tivessem se encontrado simplesmente para terem esta menina – ela olhou para Melody – E só isso.
- Eu sinto que vou reencontrá-lo, Min.
- Espero que sim, querida.
- E... Mariane?
- Sua irmã está fazendo outra faculdade. E se saindo bem no trabalho na J.R Recording. Tem encontrado artistas bons, segundo seu pai.
- Ela sempre gostou de estar na J.R Recording. E meu pai nunca escondeu a preferência dele por ela.
- Não vejo desta forma. Pelo contrário, me parecia que você era a preferida.
- Sim... Enquanto eu não tinha vez, nem voz e namorava Colin Monaghan, que era o amor da vida “dele”. Fico a pensar se realmente odeio Mariane. Afinal, ela me livrou de Colin. E ao mesmo tempo, também não consigo odiar Colin. Acha que sou muito boazinha?
- Sabrina, você não odeia Mariane, porque ela é sua irmã... E levou isso de uma forma mais tranquila porque não gostava de verdade de Colin.
- Talvez... Seria diferente se ela se envolvesse com Charles, por exemplo.
- Creio que sim.
- Porque saber que ela dormiu com Colin me feriu, mas ao mesmo tempo penso que rompi com ele e conheci Charles, o amor da minha vida.
- Mariane segue sozinha. Eu ainda não consigo entender o que fez ela e Colin dormirem juntos naquela noite e depois nunca mais se reencontrarem.
- Não que a gente saiba, Min.
- Sim, tem esta questão. Mas não percebo nenhum tipo de ligação entre eles.
Na semana seguinte, Do-Yoon me disse, quando chegou em casa:
- Acho que arranjei um emprego para você.
- Jura? – fiquei empolgada – Onde?
- Aqui em casa. Ofereci seus serviços de aulas particulares para alunos com dificuldade em Matemática.
- Aulas particulares? – quase não acreditei – Como não pensei nisso antes, Do-Yoon?
- Acho que agora vai dar certo, Sabrina.
- Sim, vai dar – olhei para Melody – Mamãe arranjou um emprego, docinho... E desta vez é de verdade.